A CHAVE PARA O PROBLEMA MISSIONÁRIO


(Este texto faz parte do capítulo 8 do livro " A Chave para o Problema Missionário", de Andrew Murray, publicado pela editora da Missão Horizontes).


Várias citações foram feitas no capítulo inicial, nas quais a principal responsabilidade para a solução do problema missionário era, de comum acordo, colocada sobre a liderança. Ao pastor pertence o privilégio e a responsabilidade do problema missionário no exterior.

Essas palavras, aparentemente endossadas por toda a conferência, apontam, em relação ao ministério, para u ma alta honra, uma falta grave, um dever urgente e a grande necessidade de buscar em Deus a graça de cumprir dignamente a sua vocação.
Não precisamos procurar distribuir proporcionalmente a responsabilidade entre o ministério e os membros da igreja. Todos concordam em que uma responsabilidade santa e pesada repousa sobre o ministério nesta questão. Que todos os ministros admitam e a aceitem sinceramente, preparando-se para viver nessa conformidade.
Qual a base em que essa responsabilidade se apóia? Os princípios subjacentes são simples, mas de inconcebível importância. Eles são quatro:
(1) As missões são a principal finalidade da igreja.
(2) A principal finalidade do ministério é guiar a igreja neste trabalho e equipá-la para ele.
(3) A finalidade principal da pregação para uma congregação deve ser treiná-la, a fim de fa zer com que ela cumpra o seu destino.
(4) E a finalidade principal de cada ministro com relação a isto deve ser preparar-se cuidadosamente para esse trabalho.
Ninguém deve pensar que essas declarações são exageradas. Elas podem parecer assim porque estamos muito acostumados a dar às missões uma posição subordinada em nossa igreja e seu ministério.
Precisamos voltar à grande verdade central, " o mistério de Deus", de que a igreja é o Corpo de Cristo, absoluta e exclusivamente ordenado por Deus para executar o propósito de Seu amor redentor no mundo. Assim como Cristo, a igreja só tem um objetivo, ser a luz do mundo. Da mesma forma que Cristo morreu por todo homem e que Deus quer que todos sejam salvos, assim também o Espírito de Deus na igreja só conhece este propósito: o evangelho deve ser levado a toda criatura.
As missões são a principal finalidade da igreja. Toda a obra do Espírito Santo na conversão de pecadores e edificação dos crentes, tem como seu principal obj etivo, equipá-los para a parte que cada um deve desempenhar para atrair o mundo devolta a Deus. O alvo da igreja não pode ser nada além daquilo que é o eterno propósito de Deus e o amor do Cristo agonizante.
À medida que aceitamos isto como verdadeiro, veremos que a finalidade principal do ministério deve ser preparar a igreja para essa tarefa.Paulo escreve: "(Deus) concedeu... pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos (o que esses santos têm de fazer) para o desempenho do seu serviço (o objetivo final desse trabalho dos santos), para a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4.12). Através do ministério, o ser viço amoroso dos santos, é que o corpo de Cristo será reunido e edificado. Os pastores e professores são dados para aperfeiçoar os santos para este trabalho de ministrar.
Uma Escola ou Classe de Treinamento para Professores é muito diferente de uma escola comum. Ela procura não só treinar cada estudante, a fim de que adquira conhecimento para si mesmo, mas também para que transmita esse conhecimento a outros. Cada congregação deve servir como classe de treinamento. Cada crente, sem exceção, deve ser "aperfeiçoado", ser cuidadosamente preparado para a tarefa de ministrar e fazer a sua parte no trabalho e oração para os que estejam perto ou distantes. Em todo o ensino de arrependimento e conversão, de obediência e santidade, feitos pelo pastor, este deve ser definitivamente seu objetivo final: chamar os homens para servirem a Deus na obra nobre, santa, cristã, de salvar os perdidos e restaurar o reino de Deus na terra. A principal finalidade da igreja será necessariamente o objetivo final do ministério.
De acordo com isto, segue-se, então, naturalmente, a afirmativa de que o principal objetivo da pregação deve ser preparar todo crente e toda congregação para desempenhar a sua parte em ajudar a igreja a cumprir o seu destino. Isto determinará a freqüência com que deve ser pregado um sermão missionário. Se apenas uma mensagem missionária for pregada por ano, é possível que o principal objetivo se ja obter uma coleta maior. Isto pode ser obtido sem que a vida espiritual se aperfeiçoe absolutamente.
Quando as missões tomam o seu lugar como o propósito principal da igreja em que existe realmente um espírito missionário, o ministro pode sentir a necessidade, vez após vez, de voltar ao assunto-chave, até que a verdade negligenciada, comece a dominar pelo menos alguns da congregação. É possível que, às vezes, embora n&atil de;o haja uma pregação direta sobre missões, todo o ensino sobre amor e fé, sobre obediência e serviço, sobre santidade e conformação a Cristo, possa ser inspirado por esta única verdade: devemos ser "imitadores de Deus e andar em amor, como Cristo nos amou, e se entregou a si mesmo como sacrifício por nós" (Ef 5.1,2).
Isto leva agora ao que, em vista da responsabilidade do ministro, é o ponto crítico -o objetivo principal de cada ministro deve ser preparar-se para esta grande tarefa. Ser professor numa Escola de Professores ou de Treinamento exige um preparo especial. Inspirar, preparar e ajudar crentes não é fácil.
Não basta ser um cristão sincero e ter tido treinamento no ministério. Trata-se de dar um espaço muito maior para as m issões em nossos seminários teológicos. Mas até mesmo isto pode ser apenas parcial e preparatório.
O ministro precisa preparar-se para combater com sucesso o egoísmo que se contenta com a salvação pessoal, o mundanismo que não cogita de sacrificar tudo ou sequer alguma coisa por Cristo, a incredulidade que mede o seu poder de ajuda ou de bênção pelo que sente e vê.
Ele, sem dúvida, precisará de um treiname nto especial para equipá-lo neste sentido, a parte mais elevada e santa da sua vocação.
Como o ministro pode preparar-se para cumprir a sua responsabilidade? A primeira resposta será, geralmente, pelo estudo. Muitas coisas pertinentes foram ditas sobre isto na Conferência, as quais são especialmente aplicáveis ao pastor, como representante e guia do seu povo.
Quantas vezes, no estudo da Bíblia ou na teologia, tudo é considerado simplesmente como um problema do intelecto, deixando o coração intacto. O indivíduo pode estudar e conhecer a teoria e a história das missões, faltando-lhe, todavia, a inspiração que esse conhecimento deveria dar. Estudar ciência com admiração, reverência e humildade é um grande dom - quanto mais isto é necessár io na esfera superior do mundo espiritual e especialmente neste ponto, o destino maior da igreja, "o mistério de Deus"!
Para estudar missões, precisamos de uma profunda humildade que tenha consciência da sua ignorância e não confie em seu próprio entendimento; da espera e da paciência reverentes, dispostas a ouvir o que o Espírito de Deus pode revelar; do amor e da devoção que se deixam dominar e guiar pelo amor divino para onde quer que Ele leve.
O que o pastor precisa estudar especificamente? Existem três grandes fatores no problema missionário.
(1) O mundo em seu pecado e miséria;
(2) Cristo em Seu amor agonizante;
(3) a Igreja como um elo entre ambos.
A primeira coisa é esta: estude o mundo. Descubra algumas das estatísticas que mostram a sua população. Pense, por exemplo, nos milhões de pessoas não evangelizadas que morrem todos os meses; despencando precipício abaixo e caindo nas trevas sombrias à razão de mais de uma a cada segundo. Ou pegue um livro que o coloque frente a frente com o pecado, degradação e sofrimento de algum país especial. Estude se us diagramas, seus mapas, suas estatísticas. Pare um pouco e pense se acredita no que leu, se sente as palavras lidas. Faça uma pausa, medite e ore, pedindo a Deus que lhe dê olhos para ver e coração para sentir essa miséria. Pense nesses milhões como seus semelhantes.
Olhe para a fotografia de um homem adorando uma cobra de pedra com uma reverência que poucos cristãos conhecem. Pense no significado disso até que não se esqueça mais. Esse homem é seu irmão. Ele tem, como você, uma natureza formada para adorar. Ele não conhece, como você conhece, o Deus verdadeiro. Você não se sente disposto a sacrificar tudo, até mesmo a sua pessoa, para salvá-lo? Estude o esta do do mundo, algumas vezes como um todo, outras em detalhe, até que comece a sentir que Deus te colocou neste mundo sombrio com o único objetivo de estudar essas trevas e viver e ajudar aqueles que estão morrendo nelas.
Se você sentir, às vezes, que isso é mais do que pode suportar, clame a Deus para ajudá-lo a olhar novamente e novamente, até que conheça a necessidade do mundo. Mas lembre-se sempre , o intelecto mais forte, a imaginação mais viva, o estudo mais cuidadoso, não pode dar a você a compreensão certa dessas coisas. Nada senão o Espírito e o amor de Jesus podem fazer você sentir o que Ele sente, e am ar como Ele ama.
Depois disso, vem a segunda grande lição: o amor de Cristo, morrendo por esses pecadores e agora ansiando para que sejam atraídos para Ele. Não pense que você já conhece esse amor agonizante, esse amor que pousa sobre cada criatura da terra e anseia por ela! Se quiser estudar o problema missionário, estude-o no coração de Jesus. O problema missionário é muito pessoal e se aplica a cada crente, mas é especia lmente aplicável ao ministro que deve ser o modelo e o professor dos crentes. Estude, experimente e prove o poder do relacionamento pessoal, a fim de que possa ensinar bem este segredo profundo da verdadeira obra missionária.
Junto com o amor de Cristo vem o Seu poder. Estude isto até que a visão de um Cristo triunfante, com todos os inimigos a Seus pés, tenha lançado a sua luz sobre a terra inteira. A obra de salvação dos homens é de Cristo, tanto hoje como no Calvário, tanto na conversão de cada indivíduo como na propiciação pelos pecados de todos. O Seu poder divino continua a obra em Seus servos e através deles. Ao estudar uma solução possível para o problema, em qualquer caso especialmente difícil, não deixe de fora a onipotência de Jesus. Com humildade, reverência e paciência adore a Ele, até que o amor e o poder de Cristo se tornem a inspiração da sua vida.
A terceira grande lição a ser estudada é: a Igreja, o elo entre o Salvador agonizante e o mundo agonizante. Aqui serão encontrados os mistérios mais profundos do problema missionário: que a Igreja seja realmente o corpo de Cristo na terra, com o Cabeça nos céus, tão indispensável para Ele quanto Ele é para ela! Que a Sua onipotência e o Seu amor remidor e infinito estejam ligados, para o cumprimento dos Seu s desejos, com a fraqueza da Sua Igreja! Que a Igreja tenha ouvido durante todos esses anos a declaração: As missões são o supremo objetivo da Igreja e mesmo assim se contente com um desempenho tão pobre! Que o Senhor esteja ainda aguardando para provar maravilhosamente como considera a Igreja uma só com Ele, e esteja pronto para enchê-la com o Seu Espírito, poder e glória! Que haja fundamento abundante para uma fé confiante em que o Senhor é capaz e está aguardando para restaurar a Igreja ao seu estado pentecostal, equipando-a, assim, para realizar a sua comissão pentecostal!
Em meio a este estudo surgirá a convicção mais clara de como a Igreja é realmente o Seu Corpo, dotada com o poder do Seu espírito, participando verdadeiramente do Seu amor divino, parceira abençoada da Sua vida e Sua glória. Essa fé será despertada se a Igreja se levantar e se entregar inteiramente ao Senhor. A glória pentecostal pode ainda voltar.
O mundo em seu pecado e miséria, Cristo em Seu amor e poder, a Igreja como o elo entre ambos - essas são as três grandes magnitudes que o ministro deve conhecer, se quiser dominar o problema missionário. Em seu estudo, ele pode usar as Escrituras, a literatura missionária, e livros sobre teologia ou sobre a vida espiritual. Mas a longo prazo, ele terá sempre de voltar à verdade: o problema é pessoal. Ele exige uma entrega completa e s em reservas de todo ser, passando a viver por esse mundo, por esse Cristo, por essa Igreja. O Cristo vivo pode manifestar-Se através de nós; Ele pode transmitir Seu amor em poder. Ele pode fazer nosso esse amor, a fim de que possamos sentir como Ele sente. Ele pode permitir que a luz do Seu amor caia sobre o mundo, para revelar a sua necessidade e a sua esperança. Ele pode proporcionar a experiência de quão íntima e real é a Sua união com o crente, e qu ão divinamente Ele pode habitar e atuar em nós.
O problema missionário é pessoal, devendo ser resolvido pelo poder do amor de Cristo. O ministro deve estudá-lo, a fim de aprender a pregar mediante um novo poder - missões, a grande obra, o fim supremo, de Cristo, da Igreja, de cada congregação, de cada crente, e especialmente de cada ministro.
Dissemos que a primeira necessidade do ministério, se quiser cumprir o seu chamado para as missões, é estudá-las. Mas quando começa a surgir a luz, e a mente se convence e as emoções são estimuladas, essas coisas devem ser imediatamente traduzidas em ação, caso não devam permanecer estéreis. E onde deve começar essa ação? Sem dúvida, em oração, oraç&atild e;o mais definida, pelas missões. Elas pode ser pelo despertar do espírito missionário na igreja como um todo, em sua própria igreja, ouem congregações especiais. Pode ser por algum campo específico. Ou talvez por si mesmo em especial, para que Deus dê e renove sempre o fogo missionário do céu. Qualquer que seja a oração, o estudo deve levar imediatamente a mais oração; caso contrário, o fruto talvez seja relativamente pequeno. Sem oração, embora possa haver aumento de interesse nas missões, mais trabalho e maior investimento, o verdadeiro crescimento da vida espiritual e do amor de Cristo nas pessoas, pode ser bastante reduzido.
Quando a vontade e o trabalho do homem são prioritários, a vida espiritual é fraca; a presença e o poder de Deus são pouco conhecidos. É possível haver pessoas que leiam livros missionários e façam fielmente contribuições liberais, embora haja pouco amor a Cristo ou oração pelo Seu reino. Você pode, por outro lado, ter pessoas simples, com condições de ofertar muito pouco, mas co m esse pouco elas dão todo o seu coração em amor e oração. O nível espiritual destas últimas é mais alto, pois o amor de Deus é o alvo supremo. Ninguém deve vigiar tão atentamente quanto o ministro para ver se o entusiasmo missionário que ele promove em si mesmo e em outros é, de fato, o fogo que vem do céu em resposta à oração de fé para consumar o sacrifício. O problema miss ionário é pessoal. O ministro que resolveu esse problema para si mesmo, também saberá guiar outros para encontrar a sua solução no poder constrangedor do amor de Cristo.
Que o mesmo possa despertar não só líderes, mas o povo de Deus como um todo para a responsabilidade que nos cabe!

(Autoria: Andrew Murray)

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