ENTREVISTA COM A MISSIONÁRIA DURVALINA BEZERRA

ENTREVISTA COM A MISSIONÁRIA DURVALINA BEZERRA - Bacharel em Pedagogia, mestre em Educação pela Universidade Mackenzie, vice-presidente da AME - Associação Missão Esperança, diretora do Seminário Betel Brasileiro em São Paulo e coordenadora-geral de Ensino do Instituto Bíblico Betel Brasileiro. O currículo profissional e ministerial de Durvalina Bezerra evidencia experiência e erudição, mas o conhecimento que a missionária busca ultrapassa o raciocínio humano e pode ser encontrado na passagem bíblica de Jó 28.28: "O temor do Senhor é a sabedoria e afastar-se do mal é o entendimento".

A senhora concorda com a opinião de muitas nações que veem o Brasil como um celeiro de missões?

 Há realmente um avivamento missionário? Na verdade, o Brasil passa por um mover do Espírito Santo. Alguns chamam isso de avivamento, mas eu prefiro dizer que é um mover do Espírito Santo. Por quê? A gente percebe o crescimento da Igreja evangélica brasileira. Mesmo que a gente saiba que dentro dos segmentos da Igreja há muitos grupos que nos entristecem com algumas práticas que não são tão bíblicas. Mas, na verdade, Deus está agindo. Porque se nós formos olhar a história, há 30, 40 anos, a Igreja brasileira não tinha presença na sociedade. Eu digo com muita certeza, porque quando meu pai se converteu, minha mãe foi contra. Naquela época ser crente era uma coisa deplorável. Então, houve um avanço! A Igreja evangélica está em todos os segmentos da sociedade, são cantores, artistas, políticos. Não quero tratar a questão de igreja A, B ou C, o mau testemunho que existe. Eu estou trazendo a questão de que há um mover de Deus e que a Igreja evangélica está crescendo no Brasil e disso não se pode duvidar. Agora, com esse crescimento, veio o movimento missionário brasileiro. Quando o Espírito Santo age, há um despertamento missionário. Porque a ordem do Espírito Santo é expandir o Reino de Deus como Igreja. É o Espírito quem convence o pecador do arrependimento, é quem convoca o crente para viver a vida cristã plena, é pelo Espírito Santo que os vocacionados são levantados para levar a Boa-Nova. Então, esse mover do Espírito Santo produziu o movimento missionário brasileiro. E isso tem sido percebido principalmente pelos países do primeiro mundo, países desenvolvidos, ou como queiram chamar. Então, esses países estão olhando para o Brasil, principalmente os da Europa, os EUA, a Austrália. Eles olham para o Brasil e dizem: "Algo novo está acontecendo". Porque nunca na história do Brasil foram enviados tantos missionários para fora. De toda a América Latina, o Brasil é quem tem mais missionários no campo, mais agências enviadoras e mais centros de treinamento missionário. Então, eles olham isso com espanto. Eu sou prova disso. Eu, quando estive na Austrália, três vezes pessoas diferentes chegaram para mim e disseram: "Eu gosto de ver você". E eu me surpreendi: "Mas por quê?". "Sabe por quê? Porque você me lembra o que Deus está fazendo no Brasil."

Mas o Brasil sabe disso? As igrejas brasileiras têm conhecimento dessa responsabilidade diante do mundo?

Nem todos. Esse despertar missionário tem acontecido sim, muitas igrejas brasileiras estão despertadas, fazendo conferências missionárias, o que antes não existia. O Dia de Missões, por exemplo. Se a gente for lembrar anos atrás, os batistas tinham o mês de missões, setembro, eles sempre foram mais despertados para a questão de missões. Mas hoje você tem o programa de missões, o domingo de missões em várias igrejas. Então, há um despertar. Agora é uma coisa notável que ainda existam muitas igrejas que não têm essa visão missionária, ainda não absorveram essa visão missionária como uma missão sua. E isso é uma verdade. Mas o 5º Congresso Brasileiro de Missões, que aconteceu em outubro (2009), demonstrou que está existindo um avanço, pessoas estão se interessando, às vezes nem parte do pastor, mas de um membro que está sendo despertado e por meio desse membro, com o apoio pastoral, a igreja começa a pensar o tema missionário.

Em sua opinião, a falta de conhecimento do papel missionário da Igreja é um grande empecilho para o "Ide" do Brasil?

Eu acho que isso traz um pouco de dificuldade para ser trabalhado, obstacula, pelo fato de que se não há o apoio da liderança fica mais difícil trabalhar. E alguns vocacionados, até pelo fato de não terem o apoio da liderança, buscam em outra igreja, em vez de trabalhar na sua igreja e orarem e buscarem esse despertar local. Assim, alguns saem e não promovem isso. Então, há maior dificuldade enquanto a liderança ainda não tem a visão. Mas eu creio que um ponto primordial, eu poderia chamar assim, o quê da questão, é que muitas lideranças não foram ensinadas. Na maioria dos seminários missões não é uma matéria enfática. Ela está às vezes em apenas um semestre letivo. E por isso os pastores e os líderes não se despertam. Eu não ponho culpa nos líderes pelo fato de que a maioria deles não recebeu, eu digo para você com convicção, orientação, informação. Não foram educados pela missiologia, só pela teologia. Forma-se só o teólogo, o que dificulta o trabalho da missão na Igreja.

Depois de tantos anos de ministério e lutas no caminho, o que a motiva?

O que me motiva é o amor a Jesus. Eu amo o Senhor, eu quero servi-lo para sempre. Eu gosto de me lembrar daquele escravo que quando chegava na porta da cidade poderia ter a liberdade, porque havia chegado o ano da libertação. Está lá em Levítico, ele poderia ficar livre, porque chegara o sétimo ano, o sétimo ano era o ano da liberdade. Mas ele chegava na porta da cidade, furava a orelha e dizia: "Eu não quero ser livre". Então, é isso que eu quero, servir a Jesus para sempre (emocionada).

Como o Betel iniciou um trabalho missionário no sertão nordestino?

O Betel nasceu no sertão com duas missionárias canadenses que vieram para o Brasil evangelizar. Agora pense, sair do Canadá, de Toronto, e vir evangelizar no sertão nordestino. Depois desse tempo de evangelismo, essas missionárias fundaram a escola. Só que era Instituto Bíblico Betel até 68. A partir daí o Betel tornou-se Instituto Bíblico Betel Brasileiro, porque a missão saiu e a liderança ficou com uma brasileira que foi aluna do Betel e era professora na época. Então Dna. Lídia Almeida de Menezes assumiu a liderança, e o Betel tornou-se Betel Brasileiro há 40 anos.

E como atua hoje o Instituto Betel Brasileiro?

O Betel trabalha com quatro colunas. Porque Instituto Bíblico Betel Brasil, antes Instituto Bíblico Betel, já tem mais de 70 anos. Agora o Brasileiro tem 40. O Betel Brasileiro, por causa do crescimento, tornou-se uma agência enviadora. Nós temos missionários em várias partes do mundo, uma obra eclesial, não porque eu quis plantar igreja, mas porque quis evangelizar. Só que ao evangelizar surgiram os núcleos querendo discipulado. E aí surgiram as igrejas. Hoje nós somos também uma obra social. Trabalhamos com 11 escolas de Ensino Infantil e Fundamental. Por que um trabalho social? Porque nós estamos em duas aldeias, somos a única escola das aldeias de Benfica (PB) e São Francisco (PB), evangelizadas pelo Betel. Então, o nosso trabalho de educação e ação social chama-se DASBB. Está associado ao evangelismo porque o nosso compromisso é levar Jesus às crianças e consequentemente aos pais, às famílias. Porque quando a escola é aberta, todos os professores são evangélicos, a direção é evangélica, educação cristã é matéria. Nós usamos os eventos, dia dos pais, dia das mães, a Páscoa, datas comemorativas, para evangelizar. São eventos em que a Bíblia tem a proeminência. Não confundindo a educação com uma catequese. De jeito nenhum. Não existe catequese. Existe a educação cristã, da Bíblia trazida como livro da sabedoria de Deus na educação. Então, a nossa escola tem tido essa graça de unir o conhecimento do Ensino Fundamental ao conhecimento bíblico.

O que você pode dizer para um missionário em campo ou para uma pessoa interessada pela obra missionária, que deseja saber quais são as características de um obreiro aprovado pelo Senhor?

Primeiro a convicção da chamada. Eu acho que sem a convicção da chamada, a pessoa está no lugar errado. A convicção da chamada é algo que o Espírito Santo dá no interior. É a primeira coisa, eu tenho de ter convicção: foi Deus quem me chamou. Não é porque meu pastor achou que eu tenho dom para isso, estimulou; pode acontecer pelo estímulo do pastor, isso é bom, mas não pode ser isso o que defina. Não é porque a família orienta: "Vai ser um pastor". Eu quero muito, me consagrei para Deus. Isso é a convicção interior, que o Espírito Santo dá. Chamada é obra de Deus. É um ato da ação da vontade soberana de Deus. Ele é quem escolhe. A Bíblia diz isso: "Não fostes vós que me escolhestes...". A primeira coisa que eu digo é a chamada. A segunda coisa que é imprescindível é compromisso. Se eu me dedico a essa obra, eu tenho de me comprometer. Então eu não posso fazer as coisas de qualquer jeito. Nesse compromisso com Deus está a doação da vida integralmente; eu não posso me dedicar pela metade. Deus não aceita oferta partida. Dedicação absoluta para Deus. Isso significa abnegação, e abnegação é você fazer por amor, voluntariamente, não é visar resultados, buscar retorno financeiro, não é galgar cargos e ofícios. Então, eu digo isso para toda liderança, seja ela missionária, pastoral, seja qual for o ministério: se você é chamado por Deus, deve ter compromisso de uma vida abnegada. E abnegar-se é o compromisso de dizer: "Eu estou aqui para me doar para o que Deus quiser". Porque não se faz ministério sem doação de vida.

ENTREVISTA PUBLICADA NA REVISTA POVOS, Nº 13.

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