A EFICÁCIA DA ORAÇÃO NO CUIDADO MISSIONÁRIO

“Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21)
Como seguidores do Senhor Jesus, tendo-o por nosso supremo exemplo, queremos compreender a maneira com que ele se utilizou do exercício da oração como forma de cuidar de si mesmo e manter-se fiel ao Pai e aos objetivos da missão a que foi enviado.


A ORAÇÃO ENTENDIDA COMO UM ESTADO DE PRESENÇA VENCE A SOLIDÃO.


O cristão se fortalece com a presença divina percebida mediante a vida de oração. Deus nos proporciona um estado de sua presença que vence a solidão humana.
Como homem o Senhor Jesus enfrentou lutas e necessitou de cuidados como qualquer enviado. A sensação da solidão foi vencida pela continua presença do Pai na sua vida: “Aquele que me enviou está comigo, não me deixou só...” (Jo 8.29). Jesus vencia a solidão pela conversa constante com o Pai. Os evangelhos registram que ele sempre buscava um lugar onde pudesse estar a sós com o Pai. Para isso, despedia as multidões e subia o monte a fim de orar (Mt 14.23). A oração era uma prática pessoal, que Ele ensinou, dizendo: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mt 6.6). A solidão pode ser vencida nesses momentos de comunhão intima com Deus, quando a alma interage com a pessoa divina e em intimidade com o Senhor usufrui a sua presença.
Creio que o tempo gasto diariamente perambulando pela presença de Deus é um grande antídoto para o esgotamento e outras enfermidades decorrentes do estresse, quando gastamos tempo com Deus, somos capazes de fazer como se diz em 1 Pedro 5.7 [...]. Descobri o grande livramento que vem ao entregar conscientemente os nossos fardos a Deus.

A oração comunitária é indispensável, freqüentar as reuniões de oração é salutar, mas nada substitui a oração a sós com Deus. É necessário o momento solitário, porque ali abrimos a alma para expressar o que ninguém mais precisa ouvir. Quem nos entende perfeitamente senão o nosso Pai? Quem conhece as incoerências da nossa alma senão o divino Criador? Nesses momentos solitários, não devemos ser interrompidos por ninguém nem buscar companhia. Deve-se fugir às interferências, a exemplo de Moisés, que costumava tomar a tenda e armá-la para si, fora do acampamento, e lhe chamava a tenda do encontro. E quando Moisés entrava na tenda, o Senhor falava com ele “face a face, como lquem fala a seu amigo” (cf. Ex 33. 7-11). Esse é um tempo de concentração reservado para a alma entrar em profunda comunhão espiritual, usando uma linguagem que só os céus podem discernir.
Esse momento de enlevo espiritual e comunhão profunda experimentaram os grandes homens de Deus em toda a história do Cristianismo. É nesse tempo de comunhão que se dá a percepção mais profunda e a interiorização da presença do Ser divino na perspectiva singular e pessoal daquele que, ao se encontrar com Deus, percebe-se a si mesmo no ser de Deus. É nessa hora que o céu desce à terra e a terra é céu. Há uma interação entre o divino e o humano. Há uma comunicação aberta cuja linguagem perpassa o código da comunicação humana. Cientistas dos E.U.A fizeram experiências com pessoas em oração e descobriram em certo momento de êxtase que o cérebro alcança um nível que ultrapassa o plano comum da humanidade.
O Senhor Jesus sempre se sentia na presença do Pai, ele tinha o Pai em constante presença pela oração. A mente e o coração estavam sempre ligados ao Céu. Foi refletindo nesse modo de orar que pode entender a ordem paulina: “Orai sem cessar” (1 Ts 5.17). O Senhor Jesus veio revelar o Pai, ele nos ensinou a nos ver na face do Pai pela oração, numa relação constante. Ele nos deu exemplo, pois sua relação com o Pai pela oração deve ser seguida. Jesus fazia da oração um estilo de vida. A oração era a atmosfera da sua alma.
O missionário e pastor Ronaldo Lidório fez uma pesquisa com os missionários que estão em campo transcultural e constatou que a solidão é um grande desafio que os afeta e que eles precisam superar. Isto acontece não só com os solteiros, mas também com os casados, mesmo com os que trabalham em equipe, pelo fato de estarem longe dos seus familiares, numa cultura diferente, não podendo se comunicar na língua da alma, sua primeira língua, pelo distanciamento geográfico de seu povo, seus usos e costumes etc. Um agravante deste sentimento de solidão é a falta do senão da presença de Deus pela oração.
Com que freqüência temos estado na presença de Deus em oração? Não estou me referindo àquela prática que temos como dever cristão, orações já programadas, repetidas. Desfrutar a presença de Deus é tornar a oração um diálogo e desenvolver os sentidos e relacionar-se com Deus como um pai amoroso. A salmista expressa essa verdade: “Fiz calar e sossegar a minha alma, como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo” (Sl 131.2). É uma relação de dependência e confiança: “Como os olhos dos servos estão fitos nas mãos dos seus senhores e os olhos da serva na mão de sua senhora, assim os nossos olhos estão fitos no Senhor nosso Deus” (Sl 123.2).
O prazer da presença divina enche o coração de satisfação, faz suspirar a alma com desejo interno de desfrutar a presença que abriga, acolhe e preenche o vazio interior. É experimentar a existência num estado de presença, como o salmista que declara: “O Senhor, tenho-o sempre à minha presença; estando ele à minha direita, não serei abalado” (Sl 16.8). É suspirar por Deus para encontrar nele o sentido e a plenitude da vida.

Texto de autoria da Missionária Durvalina Bezerra, publica no Livro “Perspectivas do Cuidado Missionário... paginas 185-188. Editora Betel Publicações. João Pessoa, PB 2011.

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