DOIS MIL ANOS DE MISSÕES


A única maneira de ajudar ao homem permanentemente é transformando a sua natureza através do Evangelho de Cristo.
Mas, desde o Pentecoste até hoje o avanço missionário visando alcançar esse alvo, não tem andado continuamente, mas como a maré que vai e vem. Muitos fatores têm influenciado as “ondas missionárias”, sendo que os dois principais são: o estado espiritual da igreja e a ferocidade do inimigo (os “gigantes” da terra). Nossa atitude diante destes desafios deve ser a mesma adotada por Josué e Calebe quando frente aos gigantes de Canaã, disseram: “como pão os podemos devorar; O Senhor é conosco; não os temais!” (Num: 14.9).

IMPÉRIO ROMANO
A grande expansão dos primeiros séculos não é atribuída a um só homem, mas sim, a uma multidão de testemunhas vivas. Inicialmente espalhadas pela perseguição em Jerusalém e depois por várias perseguições vindas dos imperadores romanos. Apesar das esporádicas perseguições; a PAX ROMANA, as boas estradas protegidas pelos soldados romanos, a língua grega universalmente utilizada, e a presença dos judeus em quase todas as partes do império facilitaram a expansão do Evangelho. Com a decisão do imperador Constantino de adotar o Cristianismo, o número de “cristãos” quadruplicou. Houve vantagem ou não? O império decaia, a imoralidade reinava, e insegurança assolava os corações, mas a firmeza dos crentes em face à morte, a pureza das suas vidas, a certeza da vitória do seu ressurreto rei Jesus Cristo, e a união de amor entre si tão patente ao mundo, fizeram com que muitos se convertessem a Cristo. Há paralelos entre a situação delem e a de hoje; por isso, muitos missiologos crêem que em breve haveremos de presenciar o maior avanço missionário jamais visto na história do mundo (não de missionários, mas sim, de “igrejas locais”) do mundo inteiro mobilizando-se em missão.
A superficialidade da conversão de muitos, parece evidente quando consideramos a vitória quase instantânea das forças de Maomé (570-632). A igreja desapareceu do norte da África; Espanha e Portugal foram invadidos; A “TERRA SANTA” FOI TOMADA E CHEGARAM ATÉ A Índia. Como crêem em um só Deus, odiaram os cristãos que adoram um Deus TRINO. As “CRUZADAS” (1095-1272) tentativas por parte dos ditos “cristãos” de libertar a terra santa das mãos muçulmanas – alimentaram esse ódio, pois o ditado popular da época foi: “o único muçulmano que presta é um muçulmano morto”. Até hoje a simples menção da palavra “cruzada” faz os muçulmanos perder a calma. Eram esses os séculos mais negros na historiado Cristianismo, pois o contato pessoal com Deus, efetuado pela pregação dos apóstolos e daqueles que os seguiram foi quase totalmente perdido. As religiões pagãs, inclusive o Islamismo, e a corrupção na igreja extinguiram aos poucos o conhecimento e gozo do contato pessoal... Até que os místicos redescobriram a possibilidade de contato pessoal e direto com o Deus vivo, no período entre os séculos XI e XIII. Foi uma linha divisória na história e talvez Francisco de Assis (1182-1226) fosse o maior deles, pois com ele algo novo penetrou a vida espiritual da igreja. A humildade, mansidão, amor e compaixão pelas almas (muçulmanos) revelam o espírito de um verdadeiro missionário.

A BÍBLIA E A REFORMA
A “nova” possibilidade de contato pessoal com Deus resultou num interesse crescente por Sua Palavra, e com a descoberta da imprensa as traduções de Wiclif, Lutero e outros começaram a ser espalhadas e a iluminar as trevas da ignorância quanto ao caminho da salvação, que até aí, reinavam. Com o retorno à Palavra de Deus esperar-se-ia um grande avanço missionário, mas as esperanças foram frustradas. Nos dois séculos depois da Reforma (1517), o catolicismo romano alastrou-se de forma impressionante ao passo que o protestantismo ficou preso aos países europeus que aderiram os princípios da Reforma. Por quê?

a) Lutero e outros reformadores acharam que a comissão de Cristo foi dada exclusivamente aos apóstolos, e que, devido à iminência da Sua volta, eles deviam trabalhar na pátria;

b) O protestantismo vinha formulando a sua teologia, e as conseqüentes lutas internas não permitiram avanço;

c) Houve guerra contra a igreja Católica romana (A contra-reforma);

d) Quando Lutero rejeitou a igreja romana, rejeitou tudo, inclusive as Ordens que foram responsáveis pela expansão missionária (Dominicana, Franciscanos, Beneditinos, etc.). Consequentemente a igreja protestante ficou sem veículo de missões – uma junta ou uma sociedade missionária.

e) Os reis protestantes não apoiavam financeiramente a obra missionária, como faziam os reis católicos.

f) Os países protestantes não eram as nações marítimas da época e não mantinham contato com as nações pagãs, para sentirem compaixão por elas.

Nesta, nossa época de reforma ou renovação espiritual, precisamos vigiar para que doutrina errônea, briguinhas denominacionais, visão limitada, falta de colaboração financeira e ignorância do estado espiritual do mundo, não venham a entristecer o Espírito de Missões. Devemos salientar, porém que o Jesuíta, Francisco Xavier (1506-1552) implantou a cruz romana em 52 reinos e batizou mais de 1 milhão de “convertidos”. De fato, a obra dele foi superficial, pois nunca dominou idioma orientar algum e muitas vezes nem intérprete tinha. Manifestou grande ardor e fervor, zelo absorvente pela gloria de Deus e paixão abnegada pelas almas dos homens. Pregava um Evangelho de sacramentos e cerimônias e era obcecado por números. Foi fanático ou fervoroso discípulo de Cristo?

AVIVAMENTO E MISSÕES
O cristianismo da reforma muito se dedicou à polêmica e apologia, mas o Pastor presbiteriano de nacionalidade alemã FILIPE SPENER (1635-1705) queria ver uma renovação no primeiro amor do novo testamento, com a ênfase antes nas virtudes cristãs: amor, oração, experiência espiritual interior, que no dogma intelectualmente correto. Promoveu um movimento nos lares que enfatizava a conversão pessoal, santidade, comunhão fraternal e testemunho ao mundo. Este movimento “pietista”, com a sua própria universidade em Halle (Alemanha) foi o ponto de partida do alcance missionário
Moraviano, que enviou os seus primeiros 2 missionários para o campo em 1732. Durante os próximos anos foram 2.170 a vários campos estrangeiros, chegando a igreja moraviana a ter 1 missionário para cada 60 membros. Hoje, em geral, lha 1 por 3.000 em nossas igrejas! Foram os primeiros protestantes a por em prática a idéia de que a evangelização dos povos é a responsabilidade numero 1 da igreja. O espírito de SACRIFICIO e de estar contente com pouco para si e muito para a causa do Senhor foi o segredo das suas realizações. A igreja custeava a IDA do missionário ao campo, e ele mesmo tinha que trabalhar para se sustentar, normalmente permanecendo na pátria adotada até à sua morte.

Neste período não podemos esquecer de mencionar DAVID BRAINERD, jovem missionário enviado aos índios americanos. O poder de Deus pousou sobre ele de tal maneira que, ao andar pelas florestas, os índios pegavam nas rédeas do seu cavalo, implorando que os explicasse como ser salvos. Qual o segredo do poder? Oração!

O PAI DE MISSÕES MODERNAS
Após anos de oração, nos países dos dois lados do Atlântico, o jovem professor, sapateiro, botânico, lingüista e pesquisador GUILHERME CAREY escreveu o livro – “Uma Pesquisa nas Obrigações de Cristãos Utilizarem Meios para a Conversão dos Pagãos” que, junto com seu sermão baseado em Isaias 54.2-3 com o tema: “Tentar grandes coisas para Deus e esperar grandes coisas de Deus”, preparou o caminho para a formação em 1792 da “Sociedade Batista Particular para a Propagação do Evangelho entre os Pagãos”, sendo que ele mesmo foi o primeiro missionário à Índia. Eis algumas coisas feitas por ele durante seus 40 anos de serviço missionário:

1) Traduziu a Bíblia, ou porções dela em 37 idiomas.
2) Estabeleceu uma gráfica, para a produção e distribuição da Bíblia.
3) Fundou um colégio, para preparar obreiros nacionais.
4) Com outros, conseguiu a abolição do costume pagão “SATI” – a cremação da viúva com o seu falecido marido.
5) Ajudou na formação de outras missões na Índia, Birmânia e nas Índias Ocidentais.
6) Foi nomeado professor de sânscrito e bengali, no colégio do governo e utilizou sua renda anual para financiar a obra missionária.

Sobretudo, porém, o avanço foi conseqüência da nova vida, ou seja, do avivamento que levou centenas de pessoas a se oferecerem ao serviço do Senhor através das centenas de Sociedades e Juntas missionárias que surgiram. É o século de tais gigantes missionários como: Henrique Martyn, Robert Moffatt, David Livingstone, João Paton e Carlos Studd (leia: O homem que obedecia). Houve tanto avanço pelo evangelho que nasceu a teoria do PÓS-MILENISMO. Pareceu que o evangelho tornava o mundo, e que o Reino de Deus estabelecer-se-ia na terra. As duas grandes guerras mundiais e o advento das bombas atômicas e hidrogênica, estraçalharam essa esperança e obliteraram a teoria pós-milenial.

SÉCULO XX
O grande fato do nosso século é duplo: a presença da igreja em quase todos os países do mundo e a formação de células de oração nos lares, como nos dias do movimento pietista. Os países do ocidente que outrora dominavam 95% do mundo, já não possuem mais colônias. O alvo de evangelização, da obra missionária atual; não é mais as nações pagãs, mas sim, o quarto mundo – o mundo de todos os incrédulos em todos os seis continentes. As nações em desenvolvimento, do terceiro mundo, estão se levantando para a evangelização mundial, e com elas “este gigante adormecido”, Brasil. Mas lembremos que jamais poderemos trabalhar como “cabeças” do povo, e sim, como servos e irmãos. Procedendo dessa maneira cremos que estaremos ao limiar do maior avanço missionário, jamais visto na história do Cristianismo.

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