FINANCIANDO MISSÕES




Inglaterra, século XVIII. Um sapateiro e pregador leigo chamado William Carey sente-se chamado para o trabalho transcultural na Índia. Após muito trabalhar, Carey conseguiu comprar as passagens e embarcar para o sul da Índia numa viagem de 5 meses de navio, juntamente com sua esposa Doroty e cinco filhos, o menor com apenas 3 meses de vida. Permaneceu trabalhando naquele país durante 41 anos, traduziu a Bíblia inteira para o bengalês, sânscrito e marathi e o Novo Testamento para várias outras línguas; fundou escolas cristãs, foi usado na conversão de grande número de hindus e na formação de várias Igrejas, além de discipular muitos pregadores nativos.

Sem dúvida ele impactou a Índia com a mensagem do evangelho. Porém, nestes 41 anos de trabalho o que poucos sabem é que ele e sua família tiveram tempos críticos: doenças, mortes, fome e falta de um teto onde dormir; e isto pela falta de sustento financeiro por parte das inúmeras Igrejas inglesas. Entretanto foram as ofertas de duas idosas viúvas e sua capacidade de “fazer tendas” por onde passava que garantiu sua sobrevivência e ministério.

Hoje ele é chamado de “o pai das Missões modernas”, porém durante a sua vida, foram apenas poucas pessoas que reconheceram em seu entusiasmo a vontade de Deus em alcançar aquele país.


PRINCÍPIOS BÍBLICOS

Certa vez, durante uma palestra sobre Missões numa pequena Igreja um presbítero se levantou com bastante sinceridade e disse:

“Isto tudo é impressionante, porém nossa Igreja é pequena demais para participar. Nós não temos muito dinheiro”.

1) A questão central não é quanto se tem para dar (se somos ricos ou pobres), mas a disposição de dar. No Antigo Testamento o dízimo estava em evidência e não creio que 10% do muito eram diferentes de 10% do pouco para Deus. O próprio Jesus olhando para a oferta da viúva pobre ressaltou esta diferença (Mc. 12:41-44).

A Obra missionária não está baseada na abundância mas na disposição de darmos mediante o que temos.

2) O pré-requisito para um envolvimento financeiro é um envolvimento pessoal com a obra financiada. Falando dos crentes da Macedônia, Paulo registra:

“Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários... e não somente fizeram como nós esperávamos, mas deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor...” (2Co 8:3,5).

O compromisso com o Senhor e a visão da obra a ser realizada deve dar-se antes de qualquer envolvimento financeiro. Enviarmos dinheiro para Missões sem estarmos envolvidos com tal obra não é o ideal de Deus.

3) Quanto se deve dar talvez esteja elucidado em dois textos:


- Em Atos 11.29 a Igreja de Antioquia deu “conforme o que possuíam” (ou “conforme as suas posses”) ou seja: de acordo com o que tinham eles ofertavam. Sem dúvida este princípio deve nortear também nossas contribuições.

- Em 2 Co 8.3 Paulo registra que os crentes macedônios deram “na medida de suas posses e mesmo acima delas” (ou “mais além das suas forças” – tradução livre). Isto indica que, pela intensa necessidade da situação eles se dispuseram a dar até mais do que suas posses possibilitariam. Um passo de fé.

4) Padrões gerais de sustento no Novo Testamento.


É necessário entendermos também que missionários de tempo integral necessitam de sustento. Sem dúvida os missionários informais que fundaram a Igreja em Antioquia possuíam sustento próprio; porém tomaremos o molde de Paulo.

- Ele e Barnabé foram enviados pela Igreja de Antioquia (At 13.1-4) e esta deve te-los sustentado.

- Paulo narra que recebeu também ajuda da Igreja de Filipos (Fp 1:5; 4:15-18) e também de outras Igrejas na Macedônia (2 Co 8: 1-3).

- Ele incentivou a Igreja de Corinto a fazer o mesmo (2 Co 8.6) e também pensava que a Igreja de Roma pudesse ajuda-lo em seu trabalho na Espanha (Rm 15: 22-24).

5) A quem sustentar


Creio que as Igrejas locais devem sustentar obreiros que tenham primeiramente “ministrados” à Igreja, ou seja, compartilhado com a Igreja sobre suas convicções ministeriais, sua vocação e chamado como também de suas expectativas do campo. Vemos evidência disto na vida do apóstolo, pois ao retornar de sua primeira e segunda viagem missionária ele passou algum tempo com a Igreja que o enviara, narrando o que Deus estava fazendo através dele (At 14. 27 28; 18: 22,23).

Vemos também em Atos 13: 1-3 que Paulo l”ministrava” à Igreja antes de ser enviado pela mesma ao campo gentílico. Também quando pensou em ser ajudado pela Igreja romana em seu ministério na Espanha escreveu expressando que tencionava antes ministrar à Igreja (Rm 1:11-13).


6) Vocação acima do sustento

Devemos porém ter em mente que aqueles que são realmente vocacionado para a obra do Senhor se envolverão com tal obra sendo sustentados pelos irmãos ou tecendo seu próprio sustento quando este faltar. Paulo ganhou seu sustento também fazendo tendas (At 18: 2-4; 2 Ts 3: 7,8) o que também leva-nos a crer na importância do missionário ter algum preparo em cursos técnicos ou universitários.

PADRÕES GERAIS DE SUSTENTO MISSIONÁRIO EM OUTROS PAÍSES

Há alguns exemplos contemporâneos que gostaria de narrar afim de que víssemos o que tem sido feito em nossos dias para propiciar o sustento missionário.

1) No noroeste africano as pequenas Igrejas tribais plantam campos de arroz coletivamente. Quando 5 ou 6 campos são plantados eles separam o melhor deles para “Missões”. O arroz produzido aquele campo é vendido e enviado a crentes que habitam em outras tribos com o intuito de levar até ali o evangelho.
2) No sul da Índia há o costume de famílias de missionários serem “adotadas” por um grupo de famílias de uma determinada região que os sustentam de acordo com o seu padrão médio de vida.
3) Na China vários crentes separam uma árvore em seu pomar, um dia de trabalho por semana ou uma galinha em seu galinheiro onde o lucro é destinado ao trabalho missionário.
4) Na Indonésia algumas aldeias criaram o “dia da oferta” e todos naquele dia trazem parte da colheita afim de enviarem e sustentarem seus missionários.
5) Em Portugal uma pequena Igreja no Porto desenvolve um projeto escolar no templo ajudando a comunidade local e destinando o lucro para o sustento de projetos missionários nacionais e transculturais.
6) Algumas Igrejas coreanas defendem que, havendo fidelidade nos dízimos, a Igreja local ver-se-á sempre em condições de sustentar condignamente a obra missionária proposta.

SUGESTÕES PRÁTICAS ÀS IGREJAS ENVOLVIDAS COM O SUSTENTO MISSIONÁRIO

1) Reservar espaço no boletim da Igreja para a cotação do dólar ou da moeda na qual é feita remessa do sustento missionário a fim de conscientizar a comunidade sobre o montante a ser enviado;
2) Conscientizar a Igreja que a contribuição financeira é parte do seu envolvimento com a obra transcultural; a intercessão, correspondência, interesse e apoio também fazem parte deste envolvimento.
3) Separar alguns minutos nos cultos para o “espaço missionário” onde serão lidas cartas e relatórios dos missionários com os quais a Igreja se envolve e também manter a Igreja informada sobre estes e outros campos:

- Localização e população;
- Grupos étnicos e línguas;
- Religião e numero de cristãos;
- Barreiras para o evangelismo e meios de alcançá-los;
- Presença de missionários ou agências missionárias;

4) Fazer um Mural para “Missões Transculturais” e além de cartas e circulares de missionários com os quais a Igreja está envolvida mantenha regularmente ali um resumo informativo sobre campos necessitados e também um resumo das principais notícias internacionais da semana (jornais/telejornais) afim de que a Igreja entenda que modificações políticas, guerras, fomes, secas, aberturas políticas etc., alteram profundamente o trabalho missionário em tais regiões.

5) Lançar desafios específicos à Igreja com respeito ao envolvimento financeiro com tal obra. Lembrar que uma Igreja não precisa necessariamente sustentar sozinha um missionário, mas pode contribuir com parte do seu sustento. É melhor votar algo que possa arcar com fidelidade.

6) O sustento de missionários não é a única forma de a Igreja envolver-se com missões transculturais. Há também outras como:

- Envio de Bíblias na língua nativa para povos sem acesso à Palavra;
- Envio de revistas e livros evangélicos às Igrejas em países com dificuldades na área de literatura;
- Envolvimento com projetos específicos no campo transcultural como construção de seminários, clínicas, escolas etc. além de sustento de projetos com tempo limitado como projetos de férias e outros.
(O texto é produção do Rev. Ronaldo A. Lidório e está publicado no Livro ENTRE TODOS OS POVOS. Programa de Formação Missionária para você e sua Igreja Local. Editora Fronteira).

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