A IGREJA NA RETAGUARDA MISSIONÁRIA

Missionária Durvalina Bezerra - Seminário Betel BrasileiroO intercessor deve estar consciente de que sua participação é essencialmente necessária e estratégica para o bom desempenho daqueles que se dedicam ao trabalho missionário, seja no campo, seja na base. Como também é parte decisiva na vitória da “falange das mensageiras [e dos mensageiros] das boas novas” (Sl 68.11) e na conquista do reino eterno. Para comprometer-se nesse serviço sagrado, o intercessor deve saber como fazer a retaguarda.

ORAÇÃO COMPROMETIDA, é assim que classificamos a intercessão da retaguarda. Isso significa compartilhar a luta, ser participante ativo, colocar-se diante de Deus em favor do missionário para causar efeito no seu trabalho. É assumir a posição do militante, e não apenas orar quando sentir vontade ou para cumprir o programa de intercessão da igreja.

O apóstolo Paulo revela a necessidade de haver uma retaguarda para o combate missionário. Em vários textos, podemos encontra-lo pedindo intercessão, como aos Romanos: “Rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor” (Rm 15.30). Os intercessores formam o batalhão que dá o suporte espiritual para os guerreiros irem à linha de frente. Esse texto traz a idéia de corporação, ou seja, uma associação de pessoas do mesmo credo, sujeitas às mesmas regras e com os mesmos direitos e deveres. É assim que somos como igreja e é assim que devemos encarar a grande comissão.

ORAÇÃO INTERCESSÓRIA é caracterizada pelo esforço de impedir a atuação do opositor e favorecer o servo do Senhor, Ela é feita com zelo e intenso desejo de ver o missionário fortalecido, superando os obstáculos e erguendo o pendão do evangelho sem esmorecer. Enfrentar o campo missionário é se deparar com oposições. Paulo estava indo a Roma e sabia dos adversários e das adversidades que estavam à sua espera. Daí pede que haja luta em oração para que lhe favorecesse obter êxito em sua missão.

A Palavra de Deus confirma esse sentido. Quando Davi e seu exército lutaram contra os amalequitas e voltaram vitoriosos com os despojos, o rei fixou como estatuto e direito em Israel a seguinte norma: “Qual é a parte dos que desceram à peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes iguais” (1Sm 30.24). Aplicando esse texto, podemos concluir que, na obra de Deus, o trabalho é cooperativo. Assim, o trabalho do missionário e o do intercessor são um só combate, e o valor do serviço é o mesmo; por isso, a justa recompensa é atribuída igualmente a ambas as partes.

PORQUE É IMPORTANTE A RETAGUARDA?

Porque somos uma corporação, um exército em combate pelo reino eterno. O missionário de campo e de base, todo aquele que está no batalhão, precisa de cobertura espiritual. A retaguarda são guerreiros de oração, pessoas levantadas pelo Espírito Santo para acompanhar aqueles que estão sendo usados tanto para dar o suporte no trabalho administrativo, como para os que estão na linha de frente para a anunciação das boas novas do evangelho.

Durante o ministério de Charles Finney, vários intercessores, levantados por Deus, acompanhavam suas viagens e pregações. Eles enchiam de oração cada cidade onde ele ia pregar, até saturar aquela atmosfera com a presença divina, criando ali um ambiente propício à recepção da Palavra de Deus. Vários guerreiros se tornaram parceiros no ministério de Finney durante o reavivamento nos Estados Unidos. Destacamos Abel e Nash: estes recebiam tantos fardos de oração pelos perdidos, que “agonizavam em oração por muitas horas para que o poder de Deus operasse a salvação entre o povo.” Milhares se convertiam com a pregação de Finney porque, antes, os corações foram trabalhados pelo poder da oração.

COMO FAZER A RETAGUARDA PARA O MISSIONÁRIO

1) O intercessor abre portas para o missionário. A intercessão precede a pregação. O missionário Paulo sabia que a sua missão era pregar, portanto ele precisava que as portas fossem abertas à pregação. “Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à Palavra” (Cl 4.3). Porta aberta significa oportunidade para a pregação do evangelho, tanto nos paises que proíbem a entrada de missionários como naqueles que têm liberdade religiosa. Paulo era consciente de que pela oração as portas seriam abertas. O que ele queria era oportunidade para espalhar o evangelho onde quer que fosse: seja no templo, de casa em casa, no ambiente de trabalho, na prisão, em viagens, quando oportuno ou não (At 20.20; 2Co 6.4-5; 2Tm 4.2).

A igreja antiga expandiu-se rapidamente porque não esperava pelo culto público para levar alguém a Cristo. É comprovado que o método evangelisticos mais eficiente consiste no testemunho e na abordagem pessoal. Como o evangelho já teria se espalhado, se os missionários estivessem mais atentos e soubessem aproveitar as oportunidades do dia-a-dia. O apóstolo Paulo nos exorta: “Aproveitai as oportunidades” (Cl 4.5).

Conheci uma missionária que trabalhou vários anos na Etiópia, na década de 1970, e perguntei-lhe sobre as oportunidades que teve entre aquele povo tão sofrido. Ela disse-me: “Ah, eu fui como enfermeira da Cruz Vermelha, meu serviço era cuidar dos doentes.” Quantas oportunidades perdidas!

O missionário deve viver sob o peso da responsabilidade de anunciar as boas novas. Paulo lamenta: “Ai de mim se não pregar o evangelho” (1Co 9.16). Ele vivia atento para as oportunidades. Demorou-se em Éfeso e se justificou: “Uma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu” (1Co 16.9). A intercessão valeu!

2) O intercessor encoraja o missionário a ser intrépido. Pregar a Palavra, todo ministro deve saber. Afinal, ninguém deve ser consagrado e enviado sem a preparação adequada. Paulo era um grande teólogo e filósofo e tinha recebido dos céus revelaçõs como nenhum outro, mas dependia da oração para a pregação e não se intimidava de pedir. “[Orem] também por mim, para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho” (Ef 6.19). Paulo era consciente de que só pela ação do Espírito Santo poderia usar a palavra certa para a pessoa certa, de forma que alcançasse o ouvinte levando-o a convencer-se da verdade.

Paulo buscou lugar nas orações dos irmãos para saber como manifestar o mistério de Deus, “para que eu o manifeste, como devo fazer” (Cl 4.4). O como fazer só pode ser efetivo pela oração. Não é bastante saber pregar, usar as regras da hermenêutica e da homilética, levar em conta o auditório, a cultura e aplicar os princípios de contextualização do evangelho. É necessário saber usar essas ferramentas no poder e na dependência do Espírito Santo.

Ser ousado na Palavra quando se tem liberdade religiosa é bem diferente da postura que se deve ter num país fechado, quando o missionário é vigiado e até proibido de expor a sua fé. A dimensão e a forma do testemunho mudam, mas persiste a necessidade de ser intrépido! Saber como falar na suficiência daquele que nos comissionou, e certamente haverá frutos que glorificarão a Deus.

3) O intercessor ergue as mãos para obtenção da vitória. O Antigo Testamento registra um episódio, dentre muitos, que confirma a necessidade da oração para conquistar vitória. Quando Israel lutava contra os amalequitas, as mãos de Moisés erguidas em oração no monte garantiam a vitória. Foi necessária a ajuda de Arão e de Hur, que sustentaram firmes as mãos de Moisés até o pôr-do-sol. Com as mãos levantadas prevalecia Israel, com as mãos abaixadas prevalecia Amaleque (Ex 17. 8.16). Parece tão simples, um ato humano, físico, será que toda estratégia do comandante nada valeria? A estreza e o esforço dos soldados, o treinamento dos guerreiros não contavam? O que Deus queria ensinar a Israel era que todas as conquistas deviam depender dele! A efetivação da sua vitória era determinação dele! Não cabia à nação a glória da sua força. As possibilidades de Israel vencer não estavam na organização do seu exército nem no número dos seus combatentes. O Deus de Israel é homem de guerra! O Senhor dos Exércitos é o seu nome!
A retaguarda é formada por aqueles que sobrem ao monte e ficam de mãos erguidas enquanto a batalha é travada no vale. Sabemos que Deus nos fala por metáforas. Monte, na Bíblia, significa oração; vale, significa luta; mãos levantadas referem-se à intercessão vitoriosa e mãos abaixadas denotam descanso e derrota.

O nosso Comandante não mudou, o comando do seu povo ainda lhe pertence. Isso não anula o empenho, a garra, a organização e toda instrumentação do exército do Senhor. A responsabilidade humana nos convoca ao preparo e ao esforço, como bons combatentes.

Quando Pedro e João foram presos e ameaçados pelas autoridades, “uma vez soltos, procuraram os irmãos [...] e unânimes levantaram a voz em oração” (At 4.23-24). Eles sabiam aonde ir, porque estavam certos da existência de intercessores agindo em oração para a garantia da vitória. “Pedro estava guardado no cárcere; mas havia oração incessante a Deus po parte da igreja a favor dele” (At 12.5). Ao ser livre da mão de Herodes, Pedro tem um endereço certo: a casa de Maria onde muitos estavam orando (At 12.12). Os primeiros missionários tinham a igreja que os sustentava em oração.

Se, de fato, a igreja assumisse o ministério da intercessão, os missionários permaneceriam mais tempo no campo de batalha e seriam mais vitoriosos. Os missionários podem ter a coragem de sair ao campo sem primeiro formarem uma boa retaguarda? Ter segurança de descer ao vale sem que existam mãos levantadas no monte?

4) O intercessor favorece a frutificação do trabalho. Quando Paulo pede oração aos coríntios (1Co 1.11), apresenta a oração como uma rede de benefícios. Seus efeitos alcançam: quem ora – o intercessor, lquem é o alvo da oração – o missionário (ministro de Deus), e quem recebe os efeitos da oração respondida – o poo (os convertidos), fruto do ministério missionário. Esses convertidos darão graças pelos intercessores que com suas orações beneficiam o missionário, o qual faz a mensagem salvadora chegar até eles.

É interessante lembrar, como vimos anteriormente, que a oração começa em Deus que induz e inspira o intercessor a orar, e termina em Deus, quando o produto da oração glorifica a Deus em ações de graças. A oração é um círculo fechado.

Paulo diz: “Para que, por muitos, sejam dadas graças a nosso respeito” (2Co 1.11). A tradução de Rutherford é: “Para que haja um oceano de faces erguidas enquanto amplas ações de graça se elevam para Deus a nosso favor.” O missionário, o líder espiritual, deve estar ciente de que o resultado do seu trabalho não é proveniente apenas de sua preparação, consagração ou carisma pessoal, mas da força conjunta daquela parte do corpo de Cristo que labuta a seu favor.

O intercessor, por sua vez, deve crer que a resposta de suas orações faz a multidão vir a Cristo. “Ó tu que ouves as orações, a ti virão todos os homens “ (Sl 65.2). Não foi após os cento e vinte orarem que veio a grande colheita e, num só dia, três mil se converteram (At 1.14; 2.41)?

Quando se trabalha entre povos resistentes ou em área de risco, é mais difícil ver os resultados e é necessário mais tempo de semeadura, mas isso não significa que não haja resposta. A produção pode ser a cem, a sessenta ou a trinta por um, mas haverá, “porque a Palavra não voltará para mim vazia [...]; prosperará naquilo para que a designei” (Mt 13.8; Is 55. 11). “A oração facilita o avanço do evangelho. Projetado pela energia da oração, o evangelho nunca é lento nem tímido.”

Wesley Duewel, missionário da OMS Internacional, conta que, nos primeiros vinte e cinco anos de trabalho na Índia, abria uma ou duas novas igrejas por ano. Então, indo de férias para os Estados Unidos, em 1964, Deus o levou a pedir por mil intercessores, que orassem quinze minutos por dia pelo seu ministério na Índia. O resultado foi a abertura de vinte e cinco novas igrejas a cada ano, com um total de 25.000 crentes. “Mil guerreiros de oração unidos, orando pela colheita, foi o segredo!”

O produto do serviço será na proporção das respostas das orações. Quanto mais oração, mais resultados!

1. Sustenta o missionário na vida pessoal. Não podemos esquecer que o missionário é uma pessoa com as mesmas necessidades de cada um de nós. Por isso, precisamos:

a) Encoraja-lo na luta pessoal, fortalece-lo nas tentações, nas privações, nas tomadas de decisões particulares. Precisamos crer que, mesmo ausentes e distantes, podemos estar presentes em espírito, através da ligação que a oração faz (1 Co 5.3). Impressiona-me o relato seguinte Saul perseguia a Davi e determinou mate-lo. Logo, Davi fugiu para o deserto de Zife. E o texto diz: “Então se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi para Davi, e lhe fortaleceu a confiança em Deus” (1Sm 23.16). Pela oração é possível romper a distância e nutrir a confiança. Escrevendo aos filipenses, Paulo ratifica esta verdade: “Porque estou certo de que isto mesmo, pela vossa súplica e pela provisão do Espírito de Jesus Cristo, me redundará em libertação” (Fp 1.19). No exercício sacerdotal, o Senhor Jesus revela que a intercessão não é apenas um ato de expressão diante de Deus, mas é oferecer-se a si mesmo para beneficiar o outro. “A favor deles eu me santifico a mim mesmo” (Jô 17.19).
b) Interceder pelo sustento do missionário. Esta é uma área que tem trazido muitas dificuldades para a obra missionária e provocado desistências ou retorno antecipado de alguns. Principalmente quando a nossa moeda se desvaloriza frente ao dólar, os missionários sofrem. Não é justo que eles se disponham a ir ao campo, entrar no processo de aculturação, entregar-se ao trabalho árduo, e nós, a igreja que fica, não os suprimos com uma manutenção digna. Supliquemos pela igreja para que cumpra o seu papel no sustento dos enviados e pelas agências que viabilizam o envio. Pelo missionário, para que desenvolva experiências de fé e sabedoria no uso do dinheiro. Ao lembrar deles em oração, sintamos a sua luta, principalmente nos primeiros meses, na aprendizagem da língua e da nova cultura. Para estabelecer-se, se é casado estabelecer a família, providenciar a educação para os filhos etc.
c) Orar pelo pastoreio do missionário. seja pela igreja, pela agência, pela equipe no campo, que Deus faça-lhes provisão de assistência emocional e espiritual. O cuidado pastoral previne da queda e de maiores conflitos.
d) Orar pela saúde do missionário e de sua família. Há lugares em que não existe assistência médico-hospitalar. Precisamos pedir proteção para a saúde, recursos para o tratamento e pedir pela cura divina. O Senhor saberá como atender-nos.
e) Orar pela família do missionário. É um grande desafio sair ao campo com filhos pequenos ou adolescentes, imergi-los em uma nova cultura para aprendizagem de uma nova língua e enfrentar todas as pressões de um novo estilo de vida seguindo a vocação de seus pais. Há muitos casos de desestruturação emocional e psicológica. Precisamos interceder para que os pais sejam sábios em acompanhar os filhos nesse processo de integração na vida ministerial e que os filhos sejam guardados por Deus, conscientes da sua participação na vocação da família.


(Texto extraído do Livro "A Missão de Interceder - Oração na Obra Missionária" de Durvalina B. Bezerra. Diretora do Seminário Betel Brasileiro. Ed. Descoberta Ltda)

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