O MISSIONÁRIO SEGUE EM FRENTE...


Vida dura é a do missionário. Vida incompreendida. Vida ingrata. Sem amigos duradouros, sem laços, sem direito. Vida difícil de ser vivida. Desde o início ele já pode contar com a reprovação da maior parte das pessoas que o rodeiam. Quando começa a compartilhar da sua visão com os da sua casa, com os amigos, irmãos da igreja e até com os seus pastores, o que ouve são palavras desmotivadoras, desanimadoras, que os tentam fazer desistir. “Quem pagará seu seminário?”. “Quem vai te sustentar?”. “Ta pensando que fazer missões é fácil?”. “E sua família?”. “E seus estudos?”. “E seu futuro?” são as frases que ecoam ao seu redor. “Será sempre um missionário?”. Ou seja, “um vagabundo que vive a custa dos outros?”. Mas o missionário segue em frente...






Depois vai falar com a sua liderança para revelar seu chamado e pedir a sua ajuda. “Estamos em construção, o irmão não está vendo?”. “A nossa igreja não acredita neste tipo de obra missionária, porque se pensarmos nos povos do mundo, quem ganhará as pessoas do nosso bairro?”. “É, meu irmão, vamos orar, não é?”. “Missões é invencionice de quem não tem o que fazer na vida”. Mas o missionário segue em frente...





Chegando a agência missionária começa a enxergar coisas que não gostaria que ali existissem. “Temos de mobilizar e levantar dinheiro para a nossa agência”, “não querendo falar das outras, mas a nossa agência é melhor do que todas as demais”. “Você está aqui para ser treinado no seu caráter, por isso pegue meus sapatos e vá engraxá-los, pois eu sou o diretor desta agência e você é só um menino”, “Sua mensalidade está atrasada e nos queremos avisá-lo de que se não houver pagamento este mês você será mandado embora”. “Se você não tem dinheiro para pagar seu treinamento, foi o diabo que o enviou para cá”. Mas o missionário segue em frente...





Quando enfim chega ao campo, encontra uma situação completamente diferente para a qual foi treinado. Agora de nada adianta tantas “Sofia” e “gias”. Aqueles sermões que ele pensava que iria pregar com os três pontinhos da homilética usando profundamente a hermenêutica e mostrando sua fluência nas línguas originais não servem para o lugar onde se encontra. Mas o missionário segue em frente...


Depois de algum tempo ele começa a ter saudades de sua casa. Começa a se lembrar de sua família. Seu querido pai, sua amada mãe e seus irmãos. Lembra-se das brincadeiras e dos momentos de conversa com sua bondosa mãe, que tanto o aconselhava. Vem-lhe a mente que seus pais não estão tão novos e que pode acontecer algo terrível. Eles podem deixar este mundo, e o missionário não estará lá para segurar nas mãos de seu pai ou de sua mãe nos últimos instantes de vida. Um sentimento profundo rasga-lhe o peito e o faz chorar desesperadamente. Mas o missionário segue em frente...






Se ele é casado, o trabalho no campo exigirá tanto dele que ele começará a ter de renunciar tempo com a sua família para atender às necessidades da obra. E isso lhe trará cobranças duras. Talvez sua esposa não o entenda. Seus filhos não o enxerguem com bom olhos. “Por que você sempre tem tempo para os irmãos e não tem tempo para a sua família?”. “Por que você escolheu uma vida tão difícil para nós?”. “Por que o senhor não veio para o campo sozinho com mamãe e nos deixou na casa da vovó?”. “Este chamado é seu e não nosso”. Mas o missionário segue em frente...






Qual é sua garantia de futuro? Qual seu seguro de vida? Qual sua previdência? Qual seu plano de saúde? Nada. Não existe nada de segurança na vida do missionário. Ele não sabe onde vai terminar os seus dias. Não tem condições de fazer nenhum tipo de poupança, pois o que recebe de salário mal da para pagar suas despesas, e quando sobra alguma coisa tem de repartir com os irmãos da igreja que também passam por sérias dificuldades e ele, como homem de Deus, não pode negar-lhes a ajuda. Sem casa própria, com um carro velhinho, barulhento e sem nenhum conforto, com uma casinha simples e moveis recatados. Mas o missionário segue em frente...




Quando lhe chega a idade avançada, retorna do campo para o seu pais de origem. Ninguém o espera em sua chegada. Não existem comitivas nem faixas levantadas dizendo que ele é bem-vindo. Não consegue se habituar na igreja. Não entende o porquuê de muitas coisas, entre elas a politicagem nua e crua na luta pelo “poder sagrado”. Brigas no púlpito pelo lugar mais alto, por mais proeminência, mais espaço, mais importância. O missionário irá procurar o ultimo lugar do púlpito e ali se sentará para tentar cultuar ao Senhor naquele ambiente de culto ao próprio eu. Mas o missionário segue em frente...




E em seu funeral? Bem, no seu funeral aparecerão os parentes e poucos amigos. Pois sua vida foi totalmente fora daquele lugar. Ele derramou sua vida em outros países, no meio de tantos povos diferentes. Lógico que se lembrarão disso no sermão que será pregado. Lembrarão o seu esforço e sua coragem. Os seus familiares chorarão. Mas os olhos e os ouvidos do missionário já não estarão abertos para receber estas homenagens. Mas o missionário segue em frente... para onde???




Sim, o missionário seguirá em frente, pois do outro lado do rio ko seu Senhor o espera. E existe grande festa. Todos o estão esperando. Os seus companheiros de fé que ele nunca viu, de tempos diferentes, outras eras, mas agora parecem íntimos e pessoais. Sim, o missionário segue em frente. Lá está o Bom Mestre que o guiou e nunca o desamparou em todos os momentos de sua vida. O missionário pode ver o lsorriso nos lábios d’Ele. Esperem, estou ouvindo algo saindo daquela boca santa. “Vinde, bendito de meu Pai, possuí a terra”. Existe um kgrande banquete preparado e sabe quem está convidado? O missionário. Que alegria está em seu rosto agora. Você está vivendo algumas dessas situações? Sim, amigo, eu também já vivi algumas e estou vivendo outras. Mas sabe de uma coisa? Vale a pena continuar em frente...



Autoria: Arieuston Gomes Netto, Missionário da SEMAD - Publicado na Revista Povos nº 13 Ano 4 pagina 40.

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