CAUSAS DE ESTRESSE ENTRE OS MISSIONÁRIOS
Por medo de perder o apoio ou por vergonha, muitos adoecem e não buscam ajuda.
Por
Lorraine Oliveira
O
estresse faz parte da vida dos seres humanos. De acordo com o Ministério da
Saúde, trata-se de uma atitude biológica necessária para a adaptação a
novas situações. É uma reação natural do organismo a um estímulo, e gera alterações emocionais e físicas – há liberação
de uma complexa mistura de hormônios e substâncias químicas como adrenalina, cortisol e norepinefrina
(também chamada de noradrenalina).
Situações contínuas, recorrentes e/ou agudas de estresse, contudo,
podem levar ao esgotamento físico e emocional, reduzindo (ou até eliminando) a
capacidade laborativa de uma pessoa. Quando esses fatores estressores estão
ligados a situações de trabalho desgastantes, pode ocorrer a Síndrome de
Bornout ou Síndrome do Esgotamento Profissional, distúrbio psíquico registrado
no grupo 24 do Cid-11 (Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). Adiante foram relacionados
sintomas para os quais devemos atentar.
Já
foram feitos estudos com diversas classes de profissionais, principalmente
aquelas cujas atividades exigem envolvimento interpessoal direto e
intenso: professores, enfermeiros, agentes penitenciários, religiosos etc. No
entanto, ainda é pequeno o número de estudos com missionários, um grupo cujo
trabalho reúne inúmeras dificuldades, agravadas pelo fato de os obreiros
transculturais viverem em locais isolados (na maior parte dos casos), sem o
apoio necessário. O missionário frequentemente muda de terra e de cultura,
deixando para trás amizades e estruturas sociais já estabelecidas. Além
disso, muitas vezes vive em ambiente hostil, como áreas de conflito nas quais
há até risco de vida.
O
presente estudo identifica fatores preponderantes que levam esse grupo ao
estresse, bem como sugere algumas formas de reduzir o estresse entre os
missionários.
Como
parte do presente estudo, foi feita uma pesquisa de campo de 2016 a 2018 com
oito cuidadores de missionários, a maioria brasileiros, em contextos
transculturais. Por meio dela, identificaram-se quais são as queixas mais
frequentes entre os missionários: falta de suporte financeiro apareceu em
62,5% dos relatos; falta de apoio da igreja, em 50% dos casos. Outros fatores
apontados foram: dificuldade de relacionamento com a equipe, expectativas não
atingidas e problemas de saúde. Com respeito a barreiras observadas na
relação cuidador-missionário, 62,5% dos cuidadores responderam que o medo de
se abrir e, por consequência, perder o apoio era o principal obstáculo a ser trasposto.
Além
da investigação de campo, pesquisa bibliográfica
sobre o tema em âmbito
nacional e internacional com registros dos últimos 30 anos identificou alguns estudos
importantes. O realizado pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira em 2016, por exemplo, traz a
percepção de 146 missionários sobre pontos
de estresse no campo. A seguir estão alguns dados desse estudo.
·
Vida emocional foi considerado o
fator que mais gera estresse no âmbito pessoal.
·
Ainda no âmbito pessoal, ritmo de
trabalho intenso foi citado por 47,5% dos participantes, e dificuldade em
praticar exercícios físicos regularmente, por 65,2%.
·
Na dimensão financeira, controle e
administração dos recursos (orçamento pessoal ou familiar) apareceu em 55,6% das
respostas.
·
No aspecto familiar, tempo de
qualidade com o cônjuge e os filhos foram os itens mais citados: 55,3 e 35,8%
respectivamente.
·
No âmbito do trabalho, relacionamento
com a liderança local, denominacional ou equipe missionária foi apontado como
fator de estresse em 40,9% das respostas.
·
Em relação à agência missionária, o item sustento financeiro e
benefícios
(salário, convênio
médico, aluguel, encargos sociais) foi citado em 40,9% dos casos.
·
Quanto à igreja enviadora, o tópico
mais apontado foi acompanhamento e pastoreio da família, presente em 34,3% das
respostas.
Outro
estudo – este realizado pelo Ministério Oásis, um centro de aconselhamento
cristão – buscou identificar os principais motivos de os missionários
procurarem tratamento psicológico. O artigo “A luta com as crises diversas”,
de Bacheler, foi escrito a partir dos dados coletados (MEER, 2011, p. 145161).
A investigação incluiu 118 missionários, e, nas respostas, as queixas
principais eram conjugais (54%) e pessoais (27%); elas incluíam autoimagem
negativa, síndrome do ninho vazio, questionamento do chamado ministerial, luto
por morte de um membro da família, problemas sexuais ou falta de perdão. Em
terceiro lugar apareceu crise ministerial (citada por 23% dos missionários),
manifestada pelo desejo de mudança
de ministério, de agência,
de campo geográfico ou de função. No entanto,
durante o processo de aconselhamento, o terapeuta identificou como causas mais
frequentes para os transtornos os conflitos não resolvidos com a equipe e a
liderança do trabalho.
Fonte:
Martureo
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