TRADUÇÃO DA BIBLIA\ PARA A LÍNGUA INDÍGENA NO BRASIL HOJE



 

Autor: Cácio Silva

Pesquisa atualizada em 2014

No Brasil são faladas pelo menos 181 línguas indígenas, das quais 41 já possuem o Novo Testamento ou a Bíblia completa, como resultado do esforço de centenas de igrejas enviadoras, 10 agências missionárias, 80 tradutores e centenas de falantes nativos diretamente envolvidos no processo de tradução. A tradução de um Antigo Testamento geralmente é projeto distinto da tradução do Novo Testamento, ainda que da própria língua. Assim, podemos dizer que nas últimas seis décadas foram desenvolvidos 46 projetos de tradução, sendo 41 do Novo Testamento e 5 do Antigo, que resultaram consequentemente em 5 Bíblias completas (NT+AT) e 36 Novos Testamentos.

Tradutores 

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As 181 línguas indígenas e a tradução da Bíblia * 5 = Bíblias completas

 

Os 80 tradutores são oriundos de 7 diferentes países, 54 são casados, 25 solteiras e 1 solteiro. No total, foram 45 mulheres e 35 homens, sendo 79 evangélicos e um padre católico. Ou seja, quanto à nacionalidade 83,7% são estrangeiros, dos quais 65,6% são oriundos dos Estados Unidos da América. Quanto ao estado civil 67,5% são casados e quanto ao sexo 56,2% são mulheres. Portanto, os projetos de tradução até então concluídos foram efetivados na sua maioria por força missionária estrangeira, com uma participação relativamente equilibrada de missionárias solteiras e casais missionários. Felizmente, nos últimos anos a participação de brasileiros tem crescido, apesar de ainda tímida, e algo muito animador é um crescente envolvimento de indígenas traduzindo a Palavra para suas próprias línguas.

ORGANIZAÇÕES

Das 10 organizações missionárias envolvidas, 1 é internacional (SIL – Associação Internacional de Linguística) e as demais nacionais ou nacionalizadas: ALEM – Associação Linguística Evangélica Missionária, MNTB – Missão Novas Tribos do Brasil, MEVA – Missão Evangélica da Amazônia, MICEB – Missão Cristã Evangélica do Brasil, JAMI – Junta Administrativa de Missões (da Convenção Batista Nacional), JMN – Junta de Missões Nacionais (da Convenção Batista Brasileira), MCD – Missão do Cristianismo Decidido, APMT – Agência Presbiteriana de Missões Transculturais e a missão católica Salesiana (1 tradução, o NT Bororo). Entretanto, 34 dos 46 projetos de tradução foram gerenciados pela SIL, ainda que alguns em parceria com outras organizações, portanto, 73,9% é resultado de iniciativa ou coordenação estrangeira, o que é motivo de louvor a Deus pelo esforço em especial da SIL direcionado aos povos brasileiros. Há uma saudável tendência a parcerias, inclusive envolvendo agências internacionais, nacionais e indígenas.

TEMPO INVESTIDO NAS TRADUÇÕES

Contando da chegada do primeiro missionário tradutor ao campo até o momento da publicação, a média geral das 41 traduções de Novos Testamentos é de 28 anos de trabalho, incluídos os intervalos no processo de tradução por motivos como férias, licença por problemas de saúde, ausências do campo por proibições políticas e outras razões. O Novo Testamento mais rapidamente traduzido foi o Nheengatu (8 anos) e o de mais longo tempo foi o Bakairi (50 anos). Isto não reflete a habilidade ou inabilidade dos tradutores e sim outros elementos como a complexidade da língua, a disponibilidade de falantes nativos com facilidade em tradução e a quantidade de intervalos no processo. Desses Novos Testamentos, 3 são adaptações do Kaxinawa do Peru (25 anos), do Tukano da Colômbia (9 anos) e do Tenetehára-Guajajara para o Tenetehára-Tembé (20 anos).

Tempo

8 a 9 anos

11 a 19 anos

20 a 29 anos

31 a 38 anos

40 a 48 anos

50 anos

Traduções

2

8

12

12

6

1

TEMPO INVESTIDO NA TRADUÇÃO DOS 41 NOVOS

TESTAMENTOS

As 5 Bíblias completas representam esforços continuados às traduções dos respectivos Novos Testamentos. Contando do início efetivo da sua tradução até o momento da publicação, a média geral das 5 traduções de Antigos Testamentos é de 19,5 anos de trabalho, sendo o mais rápido do Tenetehára-Guajajara (11 anos) e o de mais longo tempo o Wai-Wai (28 anos). Somando-se à tradução dos respectivos Novos Testamentos, a média geral das 5 Bíblias completas é de 45,5 anos de trabalho, sendo a mais rápida a Guarani-Mbyá (29 anos) e a de mais longo tempo a Kaiwá (56 anos).

Todos esses números nos mostram que o trabalho de tradução bíblica para línguas indígenas tem sido árduo, exigindo muita perseverança, paciência e dedicação. Inclusive as adaptações, que no pensar de muitos é trabalho fácil, mostram-se como fortes desafios que demandam tempo, esforço e conhecimento da língua.

Troncos e Famílias Linguísticas

Com algumas exceções, as línguas indígenas se agrupam em famílias linguísticas e estas se agrupam em troncos linguísticos, sendo os maiores o Tupi e o Macro-Jê. Todos os principais troncos e famílias linguísticas indígenas já possuem traduções bíblicas, portanto, um bom caminho andado.


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População

População indígena

Os povos indígenas do Brasil são grupos marcadamente minoritários, sendo dois terços com menos de mil pessoas.

Basicamente todas as poucas línguas com mais de 5 mil falantes já possuem tradução, portanto, temos pela frente as muitas línguas com poucos falantes, o que é desafiador para missionários e igrejas, mas tão importante quanto traduções para grandes línguas.

População

 

Menos de 1 mil

1 a 5 mil

5 a 10 mil

Mais

de 10 mil

Tradução

11

20

3

7

As 41 traduções concluídas e as populações indígenas

A Palavra em mais de uma Língua

Desta forma, no vasto solo brasileiro, a Bíblia Sagrada é conhecida também como “Deusu JesusweTaeshu Yuba Bena Yuiniki, Hawe Unanuma” – “O Livro de Deus que, através de Jesus, nos deu novas notícias anos atrás” (Kaxinawa), “Deus Athi Kapapirani Hida” – “O Papel da Fala de Deus” (Paumari) e “Pahpãm Jarkwa” – “O Livro da Palavra Bem Respeitada do Pai de Todos Nós” (Ramkokamekrá-Canela). Deus é também conhecido como “Itukó’oviti” – “Criador” (Terena), “Nhanderuete” – “Nosso Pai Verdadeiro” (Guarani-Mbyá) e “Waptokwa Zawre” – “Nosso Grande Criador” (Xerente).

Desafios

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Temos notícias de 28 projetos de tradução em andamento, cerca de 20 projetos de análise linguística em desenvolvimento, aproximadamente 20 línguas com porções da Palavra já traduzidas e outras que não apresentam necessidade real de tradução, geralmente por causa do bilinguismo. O DAI-AMTB – Departamento de Assuntos Indígenas da Associação de Missões Transculturais Brasileiras concluiu (em 2010) que possivelmente 69 línguas apresentam necessidade real de tradução, sendo 31 ainda indefinidas e a avaliar, 28 carentes de projeto especial de oralidade e 10 reconhecidamente carentes de tradução.

Esse quadro apresenta os seguintes desafios:

– Análise sociolinguística para confirmação de necessidade de tradução.
– Análise linguística com descrição gramatical e elaboração de boas ortografias, pois sem ortografia não se domina a escrita e leitura.
– Alfabetização e letramento, pois sem domínio da leitura não se usa a Palavra escrita.
– Tradução do Novo Testamento ou narrativas chaves, pois sem a Palavra na língua do coração dificilmente se alcança maturidade na fé.
– Tradução do Antigo Testamento para as línguas que já possuem o Novo e demandam algo a mais.
– Tradução da Bíblia para desenvolvimento de projetos de oralidade para casos onde alfabetização e letramento se mostram inviáveis
– Ensino bíblico para empoderamento de lideranças locais e uso das Escrituras.

Agências missionárias estrangeiras e nacionais estão há décadas efetivamente empenhadas na tradução da Palavra para diferentes povos do Brasil. O recente movimento da AITE – Associação Indígena de Tradutores Evangélicos, via CONPLEI – Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas, vem arregimentando e envolvendo de forma objetiva dezenas de indígenas na tradução para suas próprias línguas. O momento pede um novo avanço da igreja brasileira frente aos desafios atuais, em um movimento conjunto de estrangeiros, nacionais e indígenas, até que “toda tribo, língua, povo e nação” conheça o Cordeiro Jesus.

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