APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS
Autor: Ronaldo Lidório
O aprendizado de línguas,
juntamente à tradução da Palavra, é uma área de gritante necessidade de atenção
em nossos cursos de formação de obreiros transculturais. Primeiramente pela
óbvia necessidade do obreiro transcultural aprender uma nova língua para
sobreviver, se relacionar e expor o evangelho, enfim: comunicar-se. O segundo
motivo possui uma gravidade extra, e também histórica. Quando pensamos sobre o
grupo que identificamos como PNAs (Povos Não Alcançados) surge uma pergunta
crucial: “Porquê os PNAs permanecem não alcançados ainda em nossos dias ?”
Seria pela falta de conhecimento etnológico: quem eles são, quantos são, onde
estão e como chegar até eles ?
Na verdade o motivo circula ao
redor de barreiras humanas. Fala-se que 80% dos povos considerados não
alcançados já eram bem conhecidos mais de 10 anos atrás e constavam na lista de
diferentes agências e juntas missionárias ao redor do mundo. Se ainda
permanecem não alcançados, isto deve-se à existência de barreiras que os mantém
dentro de uma retoma quase intocável. Estas barreiras são lingüísticas,
antropológicas, missiológicas, políticas, geográficas, religiosas e
espirituais.
Pela seleção natural quanto aos
povos a serem alcançados ao longo das décadas, os que permanecem não alcançados
neste fim de milênio podem ser considerados o ‘remanescente mais difícil’.
Grande parte destes PNAs já sofreram algum tipo de tentativa de contato
missionário ou exposição do evangelho no passado, sem sucesso, colocando-os na
categoria de ‘mais difíceis’ em algum nível, e muitos deles a nível
lingüístico.
Um exemplo simples poderia ser
dado quanto às tribos ao norte de Gana na África. Aquelas que permanecem não
alcançadas são nitidamente as que possuem línguas mais complexas, são
culturalmente mais isoladas, influenciadas pelo Islã ou habitam regiões
geograficamente mais isoladas. As mais resistentes ao evangelho, direta ou indiretamente,
formam hoje o seleto grupo de PNAs e isto coloca um peso extra na
responsabilidade de formar hoje a força missionária.
Quando falamos sobre Aprendizagem
de Línguas estamos tratando sobre um ponto vital na comunicação missionária. Em
média o missionário que envolve-se com um grupo pouco evangelizado fora do
nosso país necessitará, no mínimo, de aprender duas novas línguas: a primeira
delas chamamos de ‘básica’ (inglês, francês, árabe etc) que será usada para se
estabelecer em um novo país onde habita o grupo alvo; a segunda delas chamamos
‘missiológica’ e é justamente a língua ou dialeto do grupo alvo. Em muitas
circunstâncias o grupo alvo pode usar mais de uma língua ou dialeto criando
novas ramificações.
Há portanto grande necessidade de
investirmos a nível linguístico-prático na formação de nossos obreiros
transculturais: enfatizar um bom curso de aprendizagem de línguas; expô-los à
uma segunda língua, desafiá-los a romper a barreira da adaptação lingüística,
ensinar-lhes fonética, fonologia, morfologia e conceitos de tradução da
Palavra, mesmo que informal e para transmissão verbal do evangelho. Enfim,
dar-lhes as ferramentas.
Formação missiológica ou
Treinamento missionário ?
Gostaria de concluir propondo
fazermos uma diferenciação curricular entre formação missiológica e treinamento
missionário.
Uma diferença inicial e a mais
visível seria de Objetivo. A primeira tem como alvo formar missiólogos,
pensadores dos princípios que regem a missão, entre os quais estão muitos
pastores e vários professores de missões além de executivos de agências
missionárias. Estes precisam compreender, visualizar e traçar estratégias. Já o
Treinamento missionário tem como alvo aqueles que em um certo momento ver-se-ão
na linha de frente face a face com um povo, nação, grupo social ou etnia com os
quais precisarão se relacionar passando por todo o processo de interação social
com a finalidade de, após muitas fronteiras serem cruzadas, propor-lhes o
evangelho. Estes também precisam compreender, visualizar e criar estratégias
mas é necessário ir além. Precisam de ferramentas práticas com as quais
trabalhar. Não basta saber da existência de línguas foneticamente complexas, é
necessário aprender como articulá-las; não basta conhecer os exemplos clássicos
de diferenças culturais, é preciso conhecer o método de mapeá-las; não é
suficiente apenas o conhecimento missiológico de exposição temática do
evangelho, é preciso saber como fazer. O treinamento missionário precisa ir
além da formação missiológica da mesma forma que um médico, além de anos de estudo
e conhecimento precisa realizar a ‘residência médica’ e se especializar antes
de estar hábil a ir ao campo de trabalho.
O missiólogo se satisfaz quando
encontra a resposta da sua pergunta, mas o missionário precisa testar a
resposta no campo e vê-la funcionar. Os que precisam de formação missiológica
tem os olhos voltados para a sistematização enquanto os que procuram um treinamento
missionário atentam para a aplicabilidade.
É necessário caminhar. Implementar e traduzir para a realidade das nossas escolas de missões os desafios que conhecemos. Seja na formação de missiólogos ou no treinamento missionário que seja visto em nós, missões brasileiras, o genuíno caráter de Cristo. Isto revelará que não apenas conhecemos o caminho, mas também andamos por ele. Deus nos abençoe.
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