A URGÊNCIA DE DEUS NA REALIZAÇÃO DE MISSÕES

 


PODERÍAMOS IR MAIS RAPIDAMENTE

Por Rick Leatherwood


 

Há uma natureza urgente no caráter de Deus? Vejamos. Deus diz a Abraão para sair, deixar, deixar, deixar e ir, tudo em um só versículo, Gn 12:1. Então em Ex 14:1, Deus diz a Israel para voltar, naquela hora mesmo! Jesus disse: “O Reino de Deus é assim… quando o fruto já está maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa” Mc 4:26-29. “A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos.

Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” Mt 9:37,38. Sem dúvida há muitos, muitos mais versículos que revelam a urgência de Deus.

Para desenvolver o subtítulo um pouco mais, podemos perguntar: poderíamos ir mais rapidamente para fazer discípulos de todas as nações? “Mas”, você diz, “fazer discípulos leva tempo”. Sim, leva. Mas leva anos? Leva uma vida inteira? Ou leva uma habilidade básica fundamental aliada a uma decisão? Jesus disse: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos” Jo 8:31. Mas é muito difícil permanecer em Sua palavra se você não consegue ler. E a verdade é que mais da metade das pessoas no mundo no ano de 2022 não sabe ler. O que temos feito? O mundo foi à lua e mais além e inadvertidamente deixou mais da metade das pessoas do mundo na pobreza abjeta e analfabeta.

Para aplicar isso ao contexto de missões, vejamos a pergunta novamente. “Que temos feito?” Na edição de janeiro de 2021 da revista da Missão Fronteiras, escrevi: “Há um ponto cego nas missões de hoje. Passaram por cima do fator da alfabetização como característica essencial para fazer discípulos em todas as nações”. Tenho um amigo que é um excelente plantador de igrejas e trabalha em uma das áreas mais difíceis e perigosas do mundo. Ele e sua esposa são nacionais bem capacitados em seu país e plantaram mais de 40 igrejas em quatro idiomas diferentes. Uma de suas ferramentas chave para o discipulado é o folheto de histórias bíblicas cronológicas que preparei e traduzi ao maior dos grupos linguísticos desse irmão. Ao perguntar a ele como iam as coisas, disse: “Os livros de histórias da Palavra de Deus que você nos deu são excelentes para fazer discípulos, se o aluno pode retornar para casa e voltar a ler as histórias. Mas os crentes analfabetos carecem da confiança para tratar de contar as histórias a outros para o evangelismo”.

Embora muitos missionários que usam a narração de histórias para fazer discípulos entre os estudantes orais possam não estar de acordo comigo, creio que há um limite em relação a quanto se pode discipular uma pessoa analfabeta no século 21 se a expectativa é que ela se lembre de 60-100 histórias durante um longo período de tempo. 

Em junho de 2021, eu estava realizando uma Oficina de Treinamento de Professores (TTW, pela sigla em inglês) na Libéria, treinando crentes e pastores sobre como ensinar alfabetização. Para reforçar a importância do que estaríamos fazendo, perguntei: ‘Quantos de vocês participaram do seminário de contadores de histórias que minha esposa e eu ensinamos aqui há 14 anos?” Várias pessoas levantaram as mãos. Então eu perguntei: “Quantos dos alunos orais que fizeram o curso com você se lembrariam de todas essas histórias hoje?” Um pastor levantou a mão com a resposta óbvia: “Nenhum”.

“Estou de acordo com você”, eu disse, “Além de ensinar a contar histórias, quão mais à frente e quão melhor poderia ser a vida dessas pessoas agora se eu tivesse começado as aulas de alfabetização fazendo TTW naquela época, para que você e outros crentes alfabetizados pudessem ensinar a ler e escrever? E o surpreendente é que a metodologia que lhe apresentaremos hoje (desenvolvida pela Literacy Evangelism International) permite que um adulto aprenda a ler e escrever sua língua em apenas quatro meses!” Parece impossível?

Seis meses depois, em dezembro de 2021, minha esposa e eu retornamos à Libéria e estávamos no meio de outra oficina de treinamento de professores de três dias em Monróvia, quando nossos líderes perguntaram se podíamos deixar um ex-aluno falar. Depois ouvimos o testemunho de uma mulher de 49 anos chamada Priscilla, que nunca havia ido à escola e que há seis meses era totalmente analfabeta. Mas depois de passar por nosso curso de alfabetização, ela agora sabe ler e escrever. Priscilla então nos leu a história de Pedro ressuscitando Dorcas dos mortos, em Atos 9. Essa foi uma passagem bastante apropriada que ela havia selecionado como uma mulher que estava morta para ser capaz ler, apenas seis meses antes. Teve que parar algumas vezes enquanto lia para olhar uma palavra de perto antes de ler essa palavra e continuar. Era uma mulher muito doce. Perguntamos a ela o que ela iria fazer agora e ela disse que quer se tornar professora assistente em uma de nossas próximas aulas e ir para a universidade. Foi um momento lindo e nós acenamos com a cabeça, maravilhados. Nossos líderes, então, nos disseram que havia outros como ela que também haviam aprendido a ler.

Um pastor missionário nos EUA começou a observar mais de perto o que defendíamos e enviou um e-mail a alguns de seus trabalhadores de campo, perguntando a eles o que achavam. Um missionário que trabalhou com alunos orais respondeu: “Oh, isso (ler) não importa”. Quando o pastor da missão me enviou a nota, eu dei uma resposta de uma palavra. Uma só palavra. “Sério?” Entretanto, essa resposta de uma palavra parecia dizer muito quando as luzes se acenderam em sua mente. Ele nos convidou a conduzir um TTW de três dias para obreiros de curto prazo de sua igreja que vão ao campo para que possam treinar crentes nacionais naquele país que sabem ler e escrever como ensinar seus irmãos analfabetos a ler e escrever para que também nós possamos viver a vida abundante que Jesus veio para nos dar.

O que estamos vendo é um modelo de como podemos acelerar os movimentos para concluir a Grande Comissão, ao implementar aulas de alfabetização para crentes e não crentes que ainda não sabem ler e escrever. Dessa forma, o discipulado pode ser mais abrangente, sustentável e transformador, pois os novos leitores e crentes podem começar a ler a Bíblia por si mesmos. 

A outra característica chave é que após passar por uma Oficina de Treinamento de Professores, essa metodologia é tão simples que os alunos podem rapidamente se tornar professores. Depois, as aulas de alfabetização são ministradas por crentes nacionais em uma estratégia chamada “evangelização do vizinho próximo”. Você provavelmente nunca pensou que a alfabetização fosse uma estratégia de evangelização. Eu também não. Agora vejo a alfabetização como uma das mais poderosas e piedosas metodologias evangelísticas disponíveis para nós hoje. Tomo emprestado de meu artigo na revista da Missão Fronteiras, de janeiro de 2021:

Há muitos temas no mundo das missões hoje em dia. Um que não é mencionado com frequência é a baixa autoestima de talvez 400 milhões de homens, que são chefes de família e ainda não sabem ler. João, o Batista, clamou: “Todo vale será aterrado”. O que você acha que ele quis dizer? Creio que este versículo poderia ser interpretado como que, através de João, Deus está falando de pessoas com baixa autoestima que precisam ser erguidas, assim como toda montanha de orgulho precisa ser abaixada. Portanto, digamos que um homem analfabeto está no mercado onde ele ouve falar de uma aula de alfabetização que está começando, na qual ele pode aprender a ler sua linguagem comercial em apenas quatro meses. Duas horas por dia à noite, depois do trabalho, cinco dias por semana, durante quatro meses e a vida desse homem pode ser mudada por completo. E o que esse homem pode fazer depois disso? Pode voltar para casa e reunir a família ao seu redor e começar a ler para eles: “No princípio Deus criou os céus e a terra”. Algumas pessoas argumentarão que o melhor para as pessoas é ouvir a palavra de Deus em sua língua materna. Sim, isso é verdade. Assim, como esse homem aprendeu a ler em sua língua comercial, ele pode então traduzir a palavra oralmente para sua língua materna. Então, usando sua língua materna, esse homem começa a conduzir sua família em uma discussão sobre a passagem que acabou de ler para eles em sua língua comercial. A estima desse pai aos olhos de sua esposa e filhos e de sua comunidade acabou de se elevar às alturas. Esse homem aprendeu a ler e tem uma nova vida”.

Normalmente uma classe terá de 15 a 20 alunos – uma classe em Ruanda teve recentemente 38 alunos! O diretor da escola do Quênia e de Ruanda, que havia passado por nosso TTW e que conhece bem a cultura, selecionou o aluno adulto mais velho (mais de 60 anos) para manter a ordem e a concentração em uma classe tão grande. O respeito aos mais velhos funcionou, como a cultura estipula. Em vez de encolher, a classe cresceu de 38 alunos para 43 alunos (todos adultos) e atualmente está entrando em seu último manual (livro de exercícios) com 40 dos alunos já começando a ler! Aleluia. Nove dos alunos não eram crentes e sete desses nove passaram a ter fé em Cristo.

Apenas um pouco mais, então, sobre como é o evangelismo de alfabetização. Essa é uma imagem de crentes nacionais alfabetizados, que foram discipulados e que querem servir ao Senhor passando por uma TTW e ministrando aulas de alfabetização para aqueles que podem ser de diferentes grupos étnicos, mas que falam a mesma língua comercial. Todos os dias, durante duas horas, cinco dias por semana, durante quatro meses, estudantes de alfabetização da(s) tribo(s) vizinha(s) vão às aulas e estão frente a frente uns com os outros, e frente a frente com seu professor, que está ensinando a eles um dos aspectos mais importantes da vida, habilidades fundamentais. E o que está acontecendo? O que está acontecendo é um vínculo e o desenvolvimento de uma relação que pode levar à salvação e ao discipulado. De fato, quando os alunos começam a ler, eles inevitavelmente terão que agradecer a seu professor cristão que tomou tempo para amar o próximo como a si mesmo. É essa metodologia simples, reprodutível, e a oportunidade de evangelismo relacional, que torna esta metodologia tão convincente, envolvente e bem-sucedida. Pergunte à Priscilla.

Espero que minha defesa do uso de línguas comerciais não desanime ninguém, mas, pelo contrário, revele como o meio de línguas comerciais na alfabetização pode ajudar a facilitar um MOVIMENTO mais rápida rumo à conclusão da Grande Comissão. Afinal, o Novo Testamento foi originalmente escrito em uma língua comercial. Talvez haja uma urgência da parte de Deus.

 

Fonte: missionfrontiers.org

    

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