O QUE É TREINAR MISSIONÁRIOS?

 

  

Sugerimos para este estudo o princípio da capacitação do Espírito Santo, “a inspiração”. Precisamos recuperar (parece estranho dizer) a natureza espiritual do preparo missionário. Não digo espiritual no sentido meramente místico, mas espiritual no sentido da transformação do caráter e da vida do missionário, do seu ser. De quem ele é? Ele é a estampa de Cristo Jesus, a imagem de Cristo Jesus na sua vida.

Vejamos algumas definições da palavra “treinar”. O verbete “capacitar” significa tornar capaz, ou habilitar, como na sentença: "os longos anos de estudo capacitaram-no para as recentes descobertas". Capacitar é convencer, persuadir, como na frase: "não foi sem dificuldade que o Coruja logrou capacitar a velha de que não devia fugir a semelhante obséquio". O verbete “treinar”, por sua vez significa: tornar apto, destro, capaz para determinada tarefa ou atividade, habilitar, e adestrar. O verbete “habilitar” significa: tornar hábil, como na sentença: "era incapaz, mas a experiência habilitou-o".

Significa também preparar ou dispor, como na sentença: "sua condição de eremita habilitou-o à dura vida de privações"; "sua ambição o habilitou para a luta".

O verbete “preparar” significa: dispor com antecedência, aprontar, arranjar, previnir como na sentença: "o chefe do cerimonial preparou a recepção" ou "a cozinheira preparou o almoço". Também significa planejar com antecedência, premeditar, e pôr em condições de atingir um objetivo. O espírito da preparação, do planejamento se exemplifica na vida do apóstolo Paulo. Num dado momento ele tentava ir para a Ásia, duas vezes, mas o Espírito Santo o impedia. Foi assim que recebeu a visão da Macedônia e plantou logo em seguida aquela famosa igreja, cheia de alegria, do coração do apóstolo Paulo, a igreja de Filipos. Entretanto, nada em Atos 16 indica que Paulo estava fora da vontade de Deus por ter planejado e tentado ir para outro lugar. A impressão que temos é que, pelo contrário, ele estava tentando, e nesta tentativa sua, Deus era capaz de dirigi-lo, e de redirecioná-lo. Quero sugerir alguns princípios baseados nos meus anos de Ensino. Primeiro, quanto ao treinamento acadêmico ou teórico versus o treinamento prático. As palavras “acadêmico” e “teórico” são surpreendentemente ainda mau vistas no nosso meio. Há bastante mau entendimento a seu respeito. Pensa-se que se quiser falar alguma coisa boa sobre o treinamento missionário, basta falar que precisamos ser práticos e úteis, e parece que resolveu o problema. Não é bem assim. Simplesmente não existe nem teoria sem prática, quanto menos prática sem teoria. O que pode existir é teoria que não elabore as consequências práticas, o que não é bom. E pode existir prática que esconde a sua base teórica. Mas não existe teoria sem prática, nem prática sem teoria. O que falta frequentemente no preparo missionário é a explicitação da relação entre a teoria e a prática, através, por exemplo, de estudos de caso. Isto sim, às vezes damos teoria sem explicitar qual é a relação disto com a prática. Mas o problema não é de estar dando teoria. Isto é uma distinção importante.

Quanto mais aplicações um determinado assunto gera, mais embasamento teórico é necessário. Eu vou repetir: quanto mais as aplicações de um determinado assunto, mais embasamento teórico é necessário. Quanto menos aplicações, menos precisa de embasamento teórico. Por exemplo, os nossos cursos técnicos são geralmente altamente práticos com pouca teoria, porque as aplicações pressupõem parâmetros limitados de procedimentos, de recursos e de técnicas industriais. Portanto, não precisa de tanta teoria, porque as aplicações são limitadas.

Por outro lado, o preparo missionário necessita de um alto grau de embasamento teórico devido às múltiplas variações de aplicações, não só a diversas culturas, como também dentro de diversos ministérios e estilos de ministérios por organizações de envio. Então, embasamento teórico é altamente importante. Se está faltando alguma coisa - e acredito que está mesmo - falta explicitar qual é a relação desta teoria com possíveis aplicações.

Segundo, quanto à relatividade do treinamento formal. Ao reparmos que há diversos modelos de preparo que surgem ao longo da história bíblica, reconhecemos que o nosso modelo também é relativo.

A escola, o fenômeno "a escola" é relativo. Há outros meios, e é bom que dentro da escola, dentro da educação ocidental haja uma busca constante por outros modelos. Então, não devemos exagerar de modo algum dizendo que a solução é a escola, ou novos currículos, ou o acréscimo de mais uma matéria - coitados dos alunos! Estas são perspectivas da nossa cultura, do nosso tempo, mesmo com uma abrangência muito larga, mas que são apropriadas para nós, entretanto não absolutas. Ao mesmo tempo, isto mostra a necessidade do treinamento formal. E quanto a isso, eu queria sugerir alguns princípios, quatro princípios para dar orientação ao treinamento formal. O primeiro é o princípio da especialização e da cooperação. É justo, por um lado, que esperamos que haja formação espiritual dos alunos através a igreja local. Ao mesmo tempo, precisa haver uma manutenção desta formação espiritual ao longo do tempo em que uma escola ou um centro ou uma agência missionária está treinando aquela pessoa. O segundo é o princípio do treinamento vitalício. Precisamos ver o preparo missionário não como um período de um ou dois anos antes de ir para o campo missionário. Precisamos ver o preparo como um compromisso da vida toda e tentar entender quais as implicações disto em termos da cobertura que agências e centros de preparo podem dar. É preciso haver mais investimento no processo de acompanhamento, de avaliação.

O terceiro princípio é o princípio da concentração ou do enfoque de assunto e tempo para se habilitar. É um princípio menor: o enfoque em uma tarefa de cada vez. Isto é a base do sistema modular de ensino. Creio que já é um sistema melhor que o sistema em que o aluno tem que estudar 8, 9, 10, até 12 matérias de uma só vez. O sistema modular já é, a meu ver, um melhoramento. Para aqueles que nunca experimentaram, eu recomendo. Ao mesmo tempo, faço isto com uma certa reserva, porque o sistema modular é comumente confundido com o conceito do curso intensivo. E não é a mesma coisa. O conceito modular de ensino é o procedimento de estudar uma disciplina de cada vez. O conceito de curso intensivo é fazer tudo rápido no tempo mínimo possível. O sistema modular facilita a aprendizagem por permitir o enfoque da atenção numa disciplina de cada vez. O sistema intensiva massificar e prejudica não permitindo o tempo necessário para assimilar novas idéias e praticar novas habilitações. É mera conveniência burocrática das escolas. O quarto princípio é o princípio de excelência. Não me refiro necessariamente ao nível acadêmico. Não estamos falando necessariamente em graus que se colam. Não é isso. Confundimos na nossa sociedade diplomas com excelência. A excelência, às vezes, é a disposição de repetir todo o seu curso de seminário, quando percebe que outro lugar possa fornecer uma formação melhor. Conheço pessoas que têm feito isto. Isto é um alto padrão mesmo! Voltando à nossa pergunta, o que é o treinamento missonário, eu diria que é, ao mesmo tempo, a capacitação pelo Espírito.

Nosso alvo é a transformação não só do conhecimento, mas de lealdades familiares, institucionais e sociais. É a transformação que gera habilidades e sensibilidades. Precisamos de um despertamento pelo cultivo da espiritualidade. Precisamos entender, mais uma vez, o que é a espiritualidade cristã, a vida íntima com Deus.


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