A TAREFA MISSIONÁRIA DA IGREJA LOCAL
Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? Como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas! Rm 10.14-15
O conhecido texto bíblico nos desafia
a considerar a tarefa que o Senhor concedeu a igreja para executar. Deus quer
ser adorado por todos os povos e desde a eternidade planejou isso, como podemos
identificar que no cumprimento da promessa que fez a Abraão, todos os povos da
terra seriam abençoados (Gn 12.3).
A promessa paulatinamente vem se
cumprindo e o Evangelho alcança mais e mais nações. Não obstante, estatísticas
apontam que cerca de 40% dos habitantes do planeta nunca ouviram falar de
Jesus, de sua glória, de seu amor, da salvação que nele há.
Por sua soberania e poder, Deus
poderia fazer-se conhecido de toda a terra em curto espaço de tempo, sem
auxílio humano, porém ele não quis assim. O Senhor constituiu a igreja e é a
ela que concedeu o privilégio de trabalhar para que sua glória seja anunciada
em toda a terra.
Em diálogo com o apóstolo Pedro,
Jesus garantiu, “edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela” (Mt 16.18), o que nos confere segurança na execução da
tarefa.
A igreja é constituída pelos salvos
que creem em Cristo como suficiente salvador, que o amam, servem-no, buscam
santificar-se e obedecer aos seus mandamentos. Um desses está registrado Mc
16.15, sendo bem conhecido: “ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda
criatura”. E desde a assunção de Jesus aos céus, seus discípulos se lançaram à
tarefa que continua até nossos dias, o que nos permite afirmar que a história
da igreja é a história de missões.
Em cada lugar que há igreja
estabelecida, a obediência ao “ide” é válida. Quando a igreja cumpre o “ide”,
Deus é glorificado porque pessoas conhecem-no e o adoram e a terra vai se
enchendo de sua glória.
O pastor norte-americano Tim Dearborn
enfatiza o privilégio que Deus concede a sua igreja de tomar parte no projeto
que ele elaborou de ser glorificado por todos os povos. A missão é,
primordialmente, de Deus e a igreja é participante, sendo dependente de sua
direção e de seu poder para executá-la.
Dra. Barbara Burns que atua como
missionária no Brasil há décadas, comenta que sua paixão e formação
missionárias foram despertadas, cultivadas e incentivadas por sua igreja local,
quando ainda era adolescente. Foi sua congregação em Denver (EUA) que investiu
nos adolescentes e nos jovens, treinando-os para irem aos povos. A experiência
dessa mulher que é uma referência em missões no país, aponta que a tarefa
missionária da igreja local é assaz relevante. É ali que tudo inicia!!
A igreja local, em um grande centro
ou em uma pequena cidade, é fundamental porque é nela que observamos as etapas
do trabalho missionário: conscientização, intercessão, ação, sustento, envio e
cuidado. De início, a conscientização é o instante em que os cristãos vão
compreendendo o significado das missões em diferentes contextos, conhecem os
fundamentos bíblicos que a norteiam, recebem informações a respeito dos campos
e das atividades desenvolvidas por um missionário e, paulatinamente, vai
aprendendo a amar e se envolver (Mt 22.37-40).
À medida que isso ocorre, os cristãos
são incentivados a interceder objetiva e especificamente pelo envio de
obreiros, por uma família missionária, por um lugar, por um povo, pelos
desafios, pelas necessidades, por um projeto a ser iniciado ou em
desenvolvimento, pelo livramento e fortalecimento (físico e espiritual) do
missionário e outras demandas. É a prática da oração que marca a vida cristã
que enquanto louva e adora, roga ao Senhor da seara que envie mais
trabalhadores (Mt 9.38).
A intercessão já é uma ação que se
soma a outras como contribuição financeira constante; contato com missionários
nos campos por cartas, mensagens ou redes sociais; visitas aos lares, aos
hospitais e outras instituições de apoio e assistência social, evangelismo nas
casas, nas ruas e praças; viagens missionárias de curto prazo e outras. E nesse
processo, vai se identificando vocacionados, selecionando possíveis
missionários que podem sair das quatro paredes e serem enviados, os
colaboradores que irão atuar em frentes de mobilização e de apoio.
Cada vez mais comprometidos com
missões – do outro lado da rua ou do oceano – os cristãos compreendem que
precisam investir, inclusive sacrificialmente, para a expansão do Reino de
Deus.
(Rm 10.14-15) Juntos como igreja
passam a apoiar a seleção, o treinamento, o envio e o sustento de missionários.
Com uma secretaria ou departamento de missões, arrecadam donativos, dinheiro e
equipamentos úteis para assegurar que o “ide” será cumprido, que o projeto será
aplicado e que o vocacionado tenha as condições necessárias para manter-se de
modo digno. É pertinente ressaltar que para ser enviado, o vocacionado é aquele
comprometido com sua comunidade e já pratica missões onde está, sendo fiel,
obediente a Deus e sua palavra e à liderança.
Com a aprovação pastoral e da igreja,
o vocacionado é enviado não como agente replicador da sua denominação em outras
paragens, mas como propagador de boas novas, assim como Paulo e Barnabé foram
enviados (At 13.1-3).
Durante o tempo que seu enviado
estiver no campo, o sustento e acompanhamento financeiro, afetivo e espiritual
da igreja local são imprescindíveis, dados os desafios na inserção e
contextualização na nova realidade, as oposições (sociais e espirituais) que
poderá enfrentar, as emergências que podem ocorrer, além da alegria por
compartilhar as vitórias alcançadas. A comunicação deve ser constante tanto por
via remota como é aconselhável visitas in loco que
fortalecem os vínculos cordiais e fraternos e são uma demonstração do apreço, do
cuidado e de companheirismo.
Nas etapas acima esboçadas,
reforça-se a relação da igreja local e a obra missionária. A ordem de Jesus é
para cada cristão, mas este não existe deslocado. Ele é parte do corpo, o corpo
de Cristo que é a igreja e é nessa comunidade, fincada em um determinado local
(com características, hábitos e costumes peculiares) que atua. A plantação de
igrejas é uma das principais estratégias missionárias porque é na igreja local
que aprendemos de Jesus, de sua glória, de seu imenso amor, de seu plano de
salvação, de sua promessa de retorno para arrebatar os seus, que trocamos
experiências com os domésticos da fé, que manifestamos os frutos do Espírito,
que trabalhamos pelo bem comum. E a igreja plantada irá se reproduzir em uma
nova, como planta que ao ser cultivada, floresce e frutifica, gerando outras e
outras. Iniciar-se-ão pequenas, irão se desenvolver e se tornarão viçosas até o
Senhor da seara encerre o cultivo, proceda à colheita e recompense os
trabalhadores pelo serviço prestado.
*Este
texto nasceu dos diálogos e aprendizado com os missionários André Lopes
Wanderley e Dra. Barbara Burns que atuam na Missão JUVEP. Agradecemos pela
partilha, pela oportunidade de conhecer seu trabalho, pela inspiração e
incentivo em perseverar na tarefa missionária até o “último povoado” do
Nordeste e do planeta.
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Colunista: Sandra Mara
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