AMÉRICA - QUINHENTOS ANOS DE EVANGELIZAÇÃO
QUINHENTOS ANOS
DE EVANGELHO
O Espírito de Deus suscitou em todos os séculos missionárias e missionários,
cristãs e cristãos apaixonados, que consagraram sua vida à causa do Evangelho,
percorreram terras, atravessaram mares, na busca incansável da grande meta: que
"toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus
Pai" (Fl 2,11).
Quantos missionários e missionárias tornaram-se "mártires" no mais estrito sentido da palavra: anunciaram e testemunharam sua fé até o ato extremo de derramar seu próprio sangue.
Jesus falou a língua aramáica. O letreiro, fixado na cruz, já estava escrito em
outros idiomas: hebráico, latim e grego (cf. Jo 19,20). O Novo Testamento não
está mais redigido na língua da Terra Santa, mas sim em grego. São Jerônimo
traduz o original para o latim. Mas o "Limes Romanus" também não foi
limite ou fronteira para o Evangelho.
Começa outra época. Os "bárbaros" são evangelizados. Os irmãos Cirilo
e Metódio, naturais de Tessalônica, vão aos povos eslavos. Patrício evangeliza
a Irlanda. Como escravo aprendeu a língua dos habitantes da "ilha
verde". Irlanda não guarda o tesouro encontrado, a pérola preciosa, para
si mesma, mas irradia o seu verdor, enviando missionários ao continente de onde
antes recebeu a Boa Nova.
O Evangelho continuou a percorrer o mundo. No final do século XV abrem-se novos
horizontes. A Europa descobre que entre Lisboa e a "terra do sol
nascente" existe outro continente. As naus e caravelas que singravam o
"mar tenebroso", no intúito de alcançar as Índias orientais por um
caminho mais curto, acabaram de ancorar diante de um "Novo Mundo".
Quando a 12 de outubro de 1492, às duas da madrugada de uma esplêndida noite de
luar, Rodrigo de Triana, marinheiro das caravelas que "Pinta", gritou
a plenos pulmões diante da ilha Guaraní; "Tierra, tierra!", junto com
todos os pecados dos conquistadores, suas perversidades e ambições
inescrupulosas de ganhar terras e ouro e escravizar povos inteiros,
encontrava-se a bordo um livro que conta a história de um Deus que é "rico
em misericórdia" (Ef 2,4) e "quer que todos sejam salvos e cheguem ao
conhecimento da verdade" (1Tim 2,4).
Os relatos e cartas dos primeiros missionários são comoventes. Parecem ser a
continuação das Epístolas de São Paulo. Os sofrimentos dos pioneiros da
Evangelização no continente americano não foram menos intensos que as
tribulações do Apóstolo das Gentes: "Somos atribulados por todos os lados,
mas não esmagados; postos em extrema dificuldade, mas não vencidos pelos
impasses" escrevia Paulo aos Corintios (2Cor 4,8).
Passagens semelhantes encontramos na história de missionários pioneiros de todas as ordens que aportaram aqui no intúito de continuar a missão dos primeiros discípulos de Jesus. É óbvio que eram filhos de seu tempo. Se analisarmos o seu empenho do alto das cátedras do final do século XX, sem dúvida descortinamos nos missionários de então erros muito graves. É uma realidade histórica que culturas milenares desapareceram.
Os missionários vieram ao "Novo Mundo" ("novo" do ponto de vista europeu) com categorias e critérios ocidentais e implantaram uma Igreja de rosto europeu, com a roupagem do velho continente. O termo "Inculturação do Evangelho" não constava do vocabulário eclesiástico daquela época e, muito menos, foi meta da empreitada missionária engendrar uma evangelização "a partir" das culturas autóctones.
Mesmo assim, impressiona a "parresia", a paixão, o ardor, o fervor que motivaram mulheres e homens a levar adiante a ingente tarefa de anunciar e testemunhar a Boa Nova, arriscando sua vida, sendo perseguidos, processados e exilados ou derramando seu próprio sangue por causa do Reino de Deus. Quem pode negar que foi "a Caridade de Cristo" que os compeliu (cf. 2Cor 5,14) a consagrar-se à Evangelização e doar-se até as últimas conseqüências (cf. Jo 13,1).
Vivemos em outros tempos e a nossa Igreja cresceu na compreensão do mandato do
Senhor. A antropologia e a experiência missionária ensinaram-nos a reconhecer
em todas as culturas mediações possíveis para uma nova evangelização. Falamos
hoje da inculturação do mensageiro e da mensagem como pressuposto da partilha,
da participação, da compreensão e da solidariedade.
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