MISSÕES = RESPONSABILIDADE DE TODOS NÓS

 



A IGREJA LOCAL, RESPONSÁVEL PELA MISSÃO

Erwin Kräutler


"Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade que me foi imposta, Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho"  (1Cor 9,16)

O que se entende por "missão"? O que é "missão"? Muitos livros foram escritos neste século e nos passados sobre este tema. Mas existe um minúsculo que afirma toda a verdade sobre o assunto.

"Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu. (Dom Helder Câmara)


É parar de dar volta ao redor de nós mesmos como se fôssemos o centro do mundo e da vida.

É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior.

Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros.
É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo."

"A Igreja peregrina é por natureza missionária. Pois ela se origina da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai". Em outras palavras: a Igreja deixa de ser evangélica se não for missionária. "Enviada por Deus a todos os povos para ser sacramento universal de salvação, por exigência íntima de sua vocação e obedecendo ao mandato do seu Fundador (Mc 16,16), esforça-se por anunciar o Evangelho a todos os povos".
 

O CAMINHO DA IGREJA MISSIONÁRIA  

A história de nossa Igreja, desde seus primórdios, é a história de sua missionariedade. Não há poder neste mundo que possa frear seu ímpeto de levar a Boa Nova até os confins do mundo.

Tudo começou "ao raiar do primeiro dia da semana" (Mt. 28,1), quando "Maria Madalena e a outra Maria" foram ao túmulo. As mulheres receberam a notícia alvissareira de que o Corpo de Jesus não se encontrava mais na "tumba talhada na rocha" (Lc 23,52): "Ele não está aqui, pois ressuscitou!" (Mt 28,6) E "elas, partindo depressa (...) Correram a anunciá-lo aos seus discípulos" (Mt 28,8). São Marcos nos conta que Maria Madalena "foi anunciá-lo àqueles que tinham estado em companhia dele e que estavam aflitos e choravam (Mc 16,10). Pelo Sim de uma mulher, Maria, Deus inicia sua maravilhosa obra salvífica, enviando o seu Filho. Foi também através de uma mulher, de outra Maria, que se inicia o anúncio pascal que atravessará os séculos. "É verdade! O Senhor ressuscitou!" (Lc 24,34) tornar-se-á o "querigma apostólico" até os nossos dias. O primeiro anúncio "Ressuscitou" coube às mulheres (Lc 24,1-10).

No dia da ascensão, Jesus, ao despedir-se de seus apóstolos, dá-lhes um último recado: "O Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força. Sereis, então, minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judea e Samaria, e até os confins da terra" (At 1,8). 

Cinqüenta dias depois da Páscoa cumpre-se a promessa do Senhor. Até então os discípulos se reuniram, "estando fechadas as portas (...) por medo dos judeus" (Jo 20,19; cf. Jo 20,26). Pentecostes escancarou as portas para o mundo inteiro. O medo passou, dissiparam-se as dúvidas, cessou a angústia. 

A primeira comunidade cristã deixou de reunir-se às escondidas. Pedro, na noite da condenação de Jesus, negou três vezes conhecer o Senhor e chegou até "a maldizer e a jurar" que não tinha nada a ver com o Mestre: "Não conheço esse homem de quem falais!" (Mc 14,66-72). Este mesmo Pedro se dirige agora a seus compatriotas e exclama: "Homens de Israel! (...) Jesus, o Nazareno (...), vós o matastes, crucificando-o pela mão dos ímpios. Mas Deus o ressuscitou!" (At 2,22-23). 

Homens e mulheres "de todas as nações que há debaixo do céu" (At 2,5), ouvindo as palavras vigorosas de Pedro "Saiba, portanto, toda a casa de Israel, com certeza: Deus constituiu Senhor a Cristo, a esse Jesus que vós crucificastes" (At 2,36), sentiram o coração traspassado" (At 2,37). Entenderam a pregação do "galileu" como se falasse em seu próprio idioma. O anúncio destemido e o testemunho convincente de Pedro no Dia de Pentecostes surtiu efeito: "Naquele dia foram agregadas mais ou menos três mil pessoas" (At 2,41). O Espírito Santo fez nascer a Igreja!

Os galileus não deixaram mais de anunciar a Boa Nova e seu testemunho convenceu o povo: "Aderiram ao Senhor fiéis em número cada vez maior." (At 5,14) Mas, dar testemunho tem seu preço. 

Nos Atos dos Apóstolos lemos como Pedro e João foram advertidos pelas autoridades religiosas e políticas de Jerusalém. "Ordenaram-lhes que, de modo algum, falassem ou ensinassem em nome de Jesus" (At 4,16). 

Os dois apóstolos, "simples e sem instrução" (At 4,13), não se deixaram intimidar e responderam: "Julgai vós mesmos, se é justo diante de Deus que obedeçamos a vós e não a Deus! Quanto a nós, não podemos calar sobre o que vimos e ouvimos! (At 4,19-20). Ressoaram em seu coração as palavras do Mestre aos fariseus que, na entrada messiânica de Jesus em Jerusalém, ficaram furiosos diante da aclamação do povo: Se eles se calarem, as pedras gritarão" (Lc 19,40). 

Mais tarde Pedro e os outros apóstolos são lançados na cadeia pública, Tiago é decapitado (At 5,18; 12,2). O sangue derramado de Estêvão que "viu os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus" (At 7,56) é a semente da conversão de Saulo. Paulo, o apóstolo das gentes, nunca mais se desviou do "Caminho" (At 9,2), aceitou todo tipo de sofrimento por causa do nome do Senhor (cf. At 9,16; 2Cor 11,23-28), pois "anunciar o Evangelho" tornou-se a paixão de sua vida. Bastava-lhe a graça divina. (cf. 2Cor 12,9).

Filipe vai a Samaria anunciar "a palavra da Boa Nova" (At 8,4). Samaria é a primeira região "além fronteiras". Pedro vai a Cesaréia e entra na casa de um centurião da corte itálica (At 10,1) e se dá conta de que "Deus não faz acepção de pessoas, mas que, em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça, lhe é agradável" (At 10,34-35). 

Depois do Concílio de Jerusalém, "cheios de coragem", Paulo e Barnabé declaram: "Nós nos voltamos para os gentios" (At 13,46). Inicia-se a grande epopéia da evangelização que não parou até os dias de hoje: Icônio, Antioquia, Licaônia! Paulo passa por Trôade, onde teve uma visão: "um macedônio, de pé, dirigia-lhe este pedido: ‘Vem à Macedônia, socorre-nos!’" (At 16,9). Na Macedônia, o Evangelho chega à Europa. 

Foi em Filipos que Deus "abriu o coração" de Lídia, "para que ela atendesse ao que Paulo dizia" (At 16,14). Foi em torno desta mulher que surgiu a primeira comunidade cristã européia. Paulo vai a Tessalônica e explica que era preciso que Cristo sofresse e depois ressurgisse dentre os mortos. E Cristo (...) é este Jesus que eu vos anuncio" (At 17,3). 

Uma multidão de "adoradores de Deus e gregos, bem como não poucas mulheres" (At 17,4) se deixam convencer. Paulo está; no areópago de Atenas e prega "O que adorais sem conhecer, isto venho eu anunciar-vos" (At 17,23). Depois funda a igreja de Corinto. "Cada sábado, ele discorria na sinagoga, esforçando-se por persuadir a judeus e gregos" (At 18,4). Mais tarde encontra-se em Éfeso e fala "com intrepidez, expondo e tentando persuadir sobre o Reino de Deus." (At 19,8) É a "parresia", a "intrepidez", a "coragem", a "firmeza", o "destemor", a "audácia" que caracteriza todo anúncio dos primórdios da Igreja. O último versículo do último capítulo (At 28,31) do segundo livro de Lucas se refere à "parresia", como se o autor sagrado nos quisesse dar a chave para o verdadeiro entendimento dos Atos dos Apóstolos.

O outrora perseguidor da Igreja é perseguido, é ameaçado de morte, é processado. Apela para César. "Caesarem appellasti? Ad Caesarem ibis" (At 25,12) retruca o procurador Festo. E via Malta, Siracusa, Régio, Pozzuoli, Paulo chega a Roma.

 


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