ENTENDA O CORAÇÃO DE UM MISSIONÁRIO
O CORAÇÃO DE UM MISSIONÁRIO
Autor: Paulo Henrique
Grande parte dos missionários procuram passar para os irmãos e igrejas
somente as bençãos, frutos da Fidelidade e Bondade de Deus, bem como das
orações dos irmãos.
Mas, em poucas vezes, os missionários sentem-se a vontade para abrirem
seus corações e compartilharem também outros sentimentos, como tristezas e
decepções.
Existem vários motivos para que isso aconteça, mas quero analizar apenas
alguns aspectos que partem de idéias erradas de irmãos e igrejas com relação a
pessoa do missionário.
Primeiro, alguns pensam que o missionário é um super-homem (ou
super-mulher) e que caso ainda não seja deve ser, e como tal não tem
necessidades emocionais, espirituais ou físicas. Expor os sentimentos do
coração, na visão destes, é sinal de fraqueza ou falta de fé.
Segundo, alguns pessam que o missionário é um pobre coitadinho, e o
tratam como o assim fosse. Abrir o coração, na visão destes, é somente a
confirmação de que um missionário é um pobre coitadinho da vida.
MAS O QUE A BÍBLIA FALA A RESPEITO DISSO?
A Bíblia mostra de maneira muito clara que o missionário não é um
super-homem (ou super-mulher) e nem um pobre coitadinho, mas sim um servo do
Deus Vivo e Verdadeiro chamado e vocacionado por Deus para uma missão que Ele
mesmo designou. É um embaixador de Deus!
Mas, ainda assim um ser humano, com sentimentos e emoções como também
foram muitos grandes servos de Deus na Bíblia.
A Bíblia é um livro maravilhoso, e mostra não somente os grandes feitos
de homens e mulheres usados por Deus mas também seus sentimentos e até falhas.
Muitas vezes pensamos que eles foram pessoas especiais, super-homens e
super-mulheres, mas na verdade não eram. Eram pessoas tão comuns como eu e
você, e que fizeram grandes coisas pelo simples fato de obedecerem a Deus.
Era Deus a sua fonte de fortaleza e sucesso! Mas, ainda assim tinham
também suas fraquezas e falhas, frutos de sua natureza humana. A completa
perfeição só alcançaremos nos céus (Ef 4:13).
Dentre estes homens e mulheres que foram grandemente usados por Deus
estão: Abraão, Elias, Paulo e muitos outros. Mas longe de serem super-heróis e
eram homens a nossa semelhança, como está escrito a respeito de Elias e se
aplica a todos outros. “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e,
orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre
a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto.”
(Tg 5:17,18).
Elias é um exemplo que mesmo depois de grandes vitórias, podem acontecer
momentos de decepção.
Depois da grande vitória sobre os profetas de Baal, a rainha Jesabel
intenta matar Elias e ele foge para o deserto e debaixo de uma árvore mostra-se
decepcionado e pede a Deus para morrer.
Mesmo Abraão, conhecido pela sua fé, demonstrou certa incredulidade quando
descendo ao Egito disse que Sara era sua irmã, temendo que alguém o matasse por
causa da beleza de sua esposa (Gn 12:11-13).
Paulo, o grande apóstolo e que escreveu quase que a totalidade dos
livros doutrinários do NT, teve os mesmos sentimentos que os atuais
missionários e em diversas ocasiões abriu seu coração mostrando seus
sentimentos, tão humanos quantos os nossos.
São do apostólo Paulo as seguintes palavras: “Que tenho grande tristeza
e contínua dor no meu coração.” (Rm 9:2); “Porque em muita tribulação e
angústia do coração vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que vos
entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos
tenho.” (2 Co 2:4).
Com estes exemplos não quero menosprezar a nenhum desses grandes homens
de Deus, mas destacar que eles tinham os mesmos sentimentos que qualquer um de
nós.
Eles não só riam, mas também choraram; não só tiveram fé para realizarem
grandes obras para Deus, como também em alguns momentos demonstraram certa
incredulidade diante de algumas dificuldades; não só consolavam, mas também em
alguns momentos precisavam do consolo. Eram homens como nós, com fraquezas e
limitações, mas que ousaram confiar em Deus e obedecê-Lo, e é nisto que está o
segredo de suas vidas.
O próprio Jesus no Getsêmani, poucas horas antes da crucificação abre
seu coração para seus discípulos nos momentos que antecediam o calvário: “Então
lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e
velai comigo.” (Mt 26:38).
Como estes grandes servos de Deus do passado, os missionários atuais
também tem sentimentos e emoções.
O missionário sente alegria quando as almas vem para Cristo, mas também
sente tristeza quando apesar de todo esforço e sacríficio ele não vê as almas
se convertendo;
Quando mesmo perseverando na semeadura ele não vê a semente caindo em
terra boa;
Quando ansiando por cartas com palavras de apoio, incentivo e
encorajamento dos irmãos e igrejas do seu país, estas não chegam e as poucas
cartas quando chegam não trazem encorajamento e sim apenas pedidos de
relatórios; quando apesar de terem deixado tudo por Cristo e para servir na
obra missionária, algumas vezes, não são tratados com a dignidade que merecem e
infelizmente são vistos por alguns como, alguém que tem de ficar a mendigar e a
comer das milhas que caem dos grandes banquetes de certas igrejas que relegaram
à obra missionária apenas o resto; além de muitas outras coisas que poderiam
ser acrescidas aqui.
Um outro problema na hora do missionário abrir seu coração, e porque
talvez poucas pessoas realmente entenderão o que ele está sentido.
Não é fácil para uma outra pessoa que não tenha experimentado as mesmas
condições (ou próximas) entender muitas vezes os sentimentos e necessidades de
um missionário.
Seria algo parecido como tentar explicar uma dor de dente para alguém
que nunca na vida sentiu dor de dentes. Dentre os muitos diferentes aspectos ou
situações estão:
1. SOLIDÃO
Principalmente em culturas
totalmente diferentes (incluindo a língua) o que dá uma sensação para alguns de
se estar perdido, como um peixe fora d’água;
2. SAUDADE
Num nível mais elevado da
palavra e que pode envolver pessoas, lugares, língua e até comidas, dentre
outras;
3. DIFERENÇAS CULTURAIS
Que vão além da maneira de
vestir, mas também inclui a maneira de pensar e ver as coisas (cosmovisão) de
uma maneira totalmente diferente ao que estamos acostumados.
E muitos outras situações, que podem incluir: problemas financeiros, de
saúde, burocráticos (Governo do país onde se está), etc.
,Estes são apenas alguns dos fatores que com certeza contribui para que
muitos missionários não se sintam com liberdade para abrir seus corações, pois
em muitas vezes, ao invez do encorajamento o que recebem é imcompreenções,
desabafos e até repreenções.
Infelizmente existem muitos bravos soldados feridos, e outros que estão
carregando recentimentos e amarguras em seus corações por não terem encontrado
pessoas com que pudesse abrir seus corações, apenas ouvirem-nas… apenas as
entenderem… apenas estar do lado… apenas ser amigo! Que remédio celestial!
Algumas vezes fico pensando se o apostólo Paulo teria sido o que foi sem
o apoio, incentivo e encorajamento que recebeu de Barnabé (chamado filho da
consolação ou encorajamento) no início de sua fé cristã.
Um estudo mais profundo demonstra como foi importante, mais do que imaginemos a principio, a influência de Barnabé na vida e ministério de Paulo.
Que Deus levante mais Barnabés, que tenham o coração disposto a ouvirem,
entenderem, que estejam ao lado e que ministrem consolação e encorajamento para
os missionários de hoje.
Graças a Deus pelos Barnabés atuais, irmão e igrejas, que tem
verdadeiramente sido usados por Deus para ministrar consolo e encorajamento
para os missionários e com os quais os missionários podem abrir sem reserva
seus corações.
Particularmente, quero agradecer ao meu pastor, também amigo e
companheiro, a todos amados irmãos em minha Igreja, a todas igrejas e irmãos
que nos apoiam com tanto amor e carinho, bem como a todos os Semeadores Missionários com
Paixão pelas Almas, por serem verdadeiros Barnabés para nós: para mim, para
minha esposa e para meu filho. Nós amamos a todos vocês e queremos dizer que
são realmente importantes para nossas vidas e ministério!
“Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus.” (Rm 15:5).
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