OS DESAFIOS DO SERTÃO NORDESTINO

 


“EU NÃO SOU CRENTE, GRAÇAS A DEUS!” 

Autor:  Pastor Sérgio Ribeiro.

JUVEP. João Pessoa, Paraíba.

 

Recentemente visitei um povoado cearense no município de Mauriti e ao dialogar com um nativo que conversava animadamente com sua família na calçada de casa (cena tão saudável, mas incomum nas médias e grandes cidades do país), perguntei: 

- “Aqui no povoado existe algum crente?”

- Ele respondeu enfaticamente: “Graças a Deus aqui não tem crente. Eu não sou crente, graças a Deus e nunca me arrependi de não ser crente”. 

O Sertão Nordestino continua sendo o maior desafio missionário monocultural da Igreja Evangélica Brasileira, apesar do significativo avanço do Evangelho nos últimos anos, principalmente na última década. 

IR ALÉM 

Quando começamos a evangelizar o Sertão (1980) a presença evangélica não alcançava 2% da população, nos anos 90 eram 336 municípios nordestinos com menos de 1% de cristãos evangélicos, a maioria no Sertão.

De acordo com a estimativa da Missão Juvep, baseada na análise dos dados do Censo realizado em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população sertaneja é composta por 7% de evangélicos.

Mas, é possível enxugarmos em 20% esse número, se considerarmos as seitas que o IBGE identifica como evangélicas.

Assim, chegamos a 5,6%. Pela graça de Deus, o Sertão já não é tão pouco evangelizado quanto antes, pois a Igreja segue avançado nas caatingas e nos cristalinos da região, mas a carência de evangelização, discipulado e plantio de novas igrejas ainda é enorme. O desafio do Sertão urbano quanto ao plantio de igrejas está, prioritariamente, nos 196 municípios com até 5% de evangélicos.

Na zona rural estimamos que exista pelo menos 6 mil povoados sem igrejas evangélicas, mas constatamos que a presença de crentes está avançando pouco a pouco.

É possível encontrar um, dois ou mais irmãos que residem em povoados rurais sem assistência espiritual, igreja próxima ou mesmo doutrinamento, mas que testemunham de sua fé em Cristo e todos na comunidade sabem que ele ou ela é “da lei dos crentes”, expressão comum na região.

Nesse tempo encontramos com mais facilidade igrejas sertanejas, com boa liderança, pastores maduros e comprometidos com a sã doutrina, sejam elas históricas ou pentecostais. Esses irmãos convivem com dificuldade e a falta de recursos, comum à maioria das instituições e cidadãos que vivem na região.

Tendo em vista o fortalecimento do Reino de Deus nesse contexto, ressaltamos duas ações estratégicas:

Os esforços para o plantio de igrejas urbanas e rurais e o apoio (de diversas formas, oferecido com humildade) às igrejas já existentes.

É fundamental que elas sejam mais bem capacitadas e fortalecidas para cumprir a tarefa da evangelização do Sertão Nordestino e cada vez mais devem se conectar com a obra missionária mundial, pois há muitos sertanejos, que se bem preparados, poderão se tornar excelentes missionários transculturais. 

OUTROS DESAFIOS DA REALIDADE SERTANEJA 

O Nordeste possui os piores índices sociais do Brasil e no Sertão a situação é ainda mais alarmante. Na área da educação detém a maior taxa de analfabetismo; na saúde alcança os maiores índices de mortalidade infantil e ocupa os últimos lugares em disponibilidade de leitos e Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) do

Sistema Único de Saúde (SUS). O trabalho infantil também faz parte dessa triste realidade. 

EDUCAÇÃO 

Muitas escolas no Sertão sofrem com estruturas precárias e com parte do corpo docente mal qualificado. É comum que professores e diretores sejam contratados por interesses políticos e eleitoreiros, não por capacidade técnica e vocação.

Certa vez ouvi uma conversa entre duas jovens e uma delas reclamava que havia sido contratada para ensinar inglês, apesar de não ter a qualificação necessária. Ela estava em pânico.

A evasão escolar é um problema crônico agravado em períodos de seca. Na zona rural as dificuldades aumentam e em casa, muitas vezes, as crianças não conseguem ajuda para fazer os deveres escolares, o que gera desânimo e paulatino desinteresse pelos estudos. O reforço escolar, o apoio aos vestibulandos, programas de apoio aos professores e implantação de boas escolas são ações necessárias. 

MERCADO DE TRABALHO 

O mercado de trabalho no Sertão é delicado, pois a agricultura além de sofrer com as constantes secas é predominantemente de subsistência e pouco diversificada. Há grandes latifúndios e muitos deles são improdutivos. O parque industrial é reduzidíssimo, quase inexistente em grande parte da região. Na maioria das cidades a prefeitura é a principal empregadora, o comércio e o setor de serviços são limitados.

A desigualdade e concentração da renda, a falta de uma política de desenvolvimento para a região e a negligência política em buscar soluções são alguns dos problemas que imobilizam, em parte, a economia sertaneja e deixa o mercado de trabalho num estado de crônica estagnação.

Em tempos de prolongada estiagem a ociosidade masculina aumenta significativamente, o que favorece a inclinação do homem sertanejo para o alcoolismo. Este que é um dos principais problemas sociais na maioria das cidades da região.

É difícil acreditar em uma grande e rápida mudança política e na melhoria do caráter de nossos governantes, resta acreditar que algo novo pode acontecer, por meio da oração e ação da Igreja do Senhor.

Ressoa em nossos corações, o lamento do Sertão, QUEM ME VALERÁ? 

Os projetos de iniciativa cristã voltados para a geração de renda, empreendedorismo, qualificação e ocupação de mão de obra são necessários. Empreendedores cristãos devem elaborar e implantar projetos economicamente viáveis na região e beneficiar muitas famílias. 

ONDE CONCENTRAR ESFORÇOS?  

Diante de tantos desafios onde vamos concentrar nossos esforços?

Minha sugestão é que cada segmento da Igreja, direcione seu esforço em favor de um Sertão diferente.

Promovendo a justiça social, a melhoria da qualidade de vida e principalmente invista na plantação de novas igrejas.

A prioridade deve ser dos municípios menos evangelizados e da zona rural, como o povoado de Mauriti.

A esperança para um Sertão diferente, mais justo e próspero, está na Igreja do Senhor. Vamos arregaçar as mangas e colocar nossos pés nas estradas empoeiradas.

A Igreja Brasileira deve cumprir o seu papel, plantando mais igrejas, enviando mais missionários sertanejos para o mundo e desenvolvendo mais ações cristãs de transformação comunitária.

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 Pastor Sérgio Ribeiro

 Fonte: juvep

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