A GRANDE COMISSÃO

 






A IGREJA E A GRANDE COMISSÃO

Que a Grande Comissão foi dada à igreja, é ponto pacífico. Porém, tal qual a chamada geral, a Grande Comissão pressupõe que a igreja é composta por pessoas dotadas. Pessoas que receberam, cada uma delas, os seus dons espirituais através dos quais servir a Deus, tanto quanto pressupõe também o envio de missionários.
Em Atos 1.8, por exemplo, “Mas recebereis poder quando o Espírito Santo descer sobre vós; e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra.”, a parte sobre receber o poder do Espírito Santo e a incumbência de ser testemunha de Jesus Cristo, se aplica a todos, tanto aos que ficam em Jerusalém como aos que vão para a Judéia, Samaria e Confins da Terra. Mas, o deslocamento geográfico, a partir de Jerusalém, ou mesmo da Judéia e Samaria, não tem como se aplicar a todos indistintamente. Não dá para a igreja mandar toda a sua membresia para os confins da terra. Ela só pode fazer isso através do envio de missionários.

Quando a igreja de Antioquia enviou Paulo e Barnabé para os gentios, por exemplo, ela estava cumprindo essa parte da Grande Comissão indo aos “gentios de longe” nas pessoas daqueles dois missionários.

Em Mateus 28.19,20 temos, em complementação, a tarefa de “fazer discípulos” tarefa essa expressa nas palavras de Jesus: “ensinando-lhes a obedecer a todas as coisas que vos ordenei;’”. Ora, fazer discípulos implica em dom de ensinar.

Se tomarmos 2Timóteo 2.2, a tarefa fica um tanto mais específica, porque o discipulador, ali, está sendo incumbido de ensinar outros que tenham também o dom de ensinar outros, formando, assim, uma cadeia de pessoas com dom de ensino: “O que ouviste de mim, diante de muitas testemunhas, transmite a homens fiéis e aptos para também ensinarem a outros’” Essa conjuntura, implica, no mínimo, que o missionário é um que precisa ter o dom de ensino.
Em outras palavras, uma igreja que não leva em conta os dons espirituais de sua membresia e não exerce a prática de enviar missionários, não tem como cumprir a Grande Comissão.

Em nossa experiência como casal, no campo missionário, Gudrun e eu, aprendemos logo quais eram os dons que cada um tinha e os que não tinha. Gudrun tinha muitos dons que eu não tinha e vice-versa.

Ela não tinha jeito algum para ensinar e discipular, mas ensinou muitas irmãs Xerente a ler e escrever em sua própria língua como também cuidou dos enfermos com sua profissão de enfermeira. Eu costumava brincar com ela dizendo: Um missionário não precisa saber nada de enfermagem, basta ele se casar com uma enfermeira. Ela retrucava: Uma missionária não precisa saber nada de Linguística, basta ela se casar com um linguista. Assim, juntamos nossos dons e deu para fazer o trabalho, pela graça de Deus.

SITUAÇÕES EM QUE UMA CHAMADA ESPECÍFICA E UM TREINAMENTO ADEQUADO SE FAZEM NECESSÁRIOS

Quando se fala de chamada específica, não se está falando necessariamente em missões no Exterior, missões nos Sertões do Brasil, missões longe de casa, etc. A chamada pode ser bem doméstica, dentro dos contornos da igreja. Chamada específica é para se trabalhar com pessoas específicas, grupos específicos, situações específicas, seja perto, seja longe. Deixem-me descrever as várias situações onde uma chamada específica, acompanhada de seus respectivos dons e de um treinamento apropriado, se faz necessária:

Transpondo barreiras geográficas, linguísticas e culturais, com povos de línguas ágrafas – Indígenas do Brasil e demais grupos étnicos minoritários ao redor do mundo;

Transpondo barreiras geográficas, linguísticas e culturais, com povos escolarizados – Trabalhos no Exterior em qualquer um dos países conhecidos;

Transpondo barreiras geográficas, no Brasil, e enfrentando diferenças regionais em termos de língua e costumes – Ribeirinhos do Amazonas, Quilombolas,

Comunidade de Pescadores, certas comunidades sertanejas mais isoladas e até municípios menos evangelizados;

Transpondo barreiras de herança histórico/cultural/religiosa tradicionais – Imigrantes estrangeiros como japoneses, italianos, pomeranos, judeus, árabes ciganos e outros (entre os ciganos os missionários estão também traduzindo a Bíblia para a língua Calon);

Transpondo barreiras religiosas radicais – comunidades espíritas, esotéricas, católicas tradicionais e outras;

Transpondo barreiras de experiência de vida e de “mundos” inteiramente diferenciados – Pessoas portadoras de necessidades especiais como surdos, autistas, pessoas com síndrome de Down e outros;

Transpondo barreiras de desvio de comportamento social – dependentes químicos, alcoólatras, presidiários e outros;

Transpondo barreiras de classes sociais e profissionais – artistas de rádio e televisão, profissionais liberais, desportistas, estudantes, empresários, militares, favelados, meninos de rua e outros;

Transpondo barreiras de faixas etárias – crianças, adolescente, jovens, adultos, idosos.

Agora, se você quer evangelizar sua família, seus vizinhos, seus colegas de classe, seus colegas de trabalho, as pessoas da cidade com as quais você tem livre comunicação, você não precisa de uma chamada específica. Você já está chamado e convocado para isso, a partir da sua conversão. Para melhorar sua proficiência, talvez fosse bom ler algum tratado de “como ganhar pessoas para Cristo”, por exemplo, ou fazer um curso de Discipulado, assistir alguma conferência ou encontro sobre o assunto, etc. Mas, fique atento. Se você se sair bem no evangelismo caseiro é “perigoso” que o Senhor o chame, de forma específica, para um trabalho mais definido em sua seara. Deus não costuma chamar aqueles que não estão fazendo nada. Ele sempre chama pessoas ocupadas e aquelas que já demonstraram interesse pela promoção do seu reino aqui na terra.

Não tenha, entretanto, complexo, por não ter sido chamado para ser missionário. Nem pense que você, sendo fiel ao seu dom e servindo a Deus de coração no contexto de sua igreja, no contexto da sua profissão, na sua comunidade, é menor do que os missionários. Deus não olha o homem pelo lado de fora ele olha pelo lado de dentro. “o homem olha para a aparência, mas o SENHOR, para o coração (1Samuel 16.7c). Aqueles que servem ao Senhor, fielmente, no lugar onde Deus os colocou, seja perto ou longe, terão todos o mesmo galardão: “Quem concordaria com isso? A parte dos que ficaram com a bagagem será a mesma dos que foram lutar; todos receberão partes iguais”. (1Samuel 30.24)

No Velho Testamento, nem todos podiam ser sacerdotes, levitas, profetas e reis. Mas o número de destacados entre os fies, é enorme. É fácil vir à mente nomes como Abel, Enoque, o próprio Noé, Ló, Ana, Rute, a moabita, e Raabe, a meretriz, que acabaram entrando na lista dos antepassados na genealogia de Cristo, Ester, e tantos outros mais. No Novo Testamento, também a lista é grande: Os irmãos Maria, Marta e Lázaro, Nicodemos e José de Arimateia, Dorcas, Priscila e Áquila e os demais da enorme lista de Paulo no capítulos 16 de Romanos: Febe, Epêneto, Maria, Andrônico e Júnias, Amplíato, Urbano, Estáquis, Apeles, Aristóbulo, Herodião, Narciso, Trífena e Trífosa, Pérsides, Rufo, Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Filólogo, Júlia, Nereu e Olimpas. Todos esses serviram a Deus com seus dons, bens e talentos e foram tão honrados como os especificamente chamados tanto no Velho Testamento como no Novo.

Além disso, é preciso considerar que nem todos os que são chamados, são chamados para ser missionário. Há muitas outras chamadas. Chamada para pastor, chamada para evangelista, para professor, para ministro de musica, etc. A regra é que “todos os missionários são chamados, mas nem todos os chamados são missionários”. Eu costumo dizer, em minhas palestras sobre Vocação e Chamada, que o elemento chamado de modo específico, tem, na verdade, duas chamadas: Uma que acontece no tempo eterno, quando ele está ainda no ventre materno (ou antes), e outra que acontece no tempo e no espaço, como foram os testemunhos de Jeremias e Paulo, por exemplos, conforme os versículos já citados de Jeremias 1.5 e Gálatas 1.15,16.

Se o Senhor, contudo, o chamar, não tenha medo nem diga que não tem dom ou capacidade. Essa é a parte que cabe a ele. Também não precisa ter reserva de ir colaborar em qualquer campo missionário mesmo que seja por pouco tempo, conquanto que seja para fazer aquilo para o qual você tem certeza de que tem os dons apropriados. Lembro-me de uma moça que passou apenas algumas semanas entre os Xerente trabalhando com as crianças de lá. Ela era tão dotada para isso que as crianças da aldeia e até mesmo os adultos nunca mais se esqueceram dela.

Para concluir, veja, a seguir, como Deus chama os seus escolhidos e como é Ele quem se responsabiliza pela chamada, tanto quanto se responsabiliza pelo seu êxito e sua realização.

AS CARACTERÍSTICAS DA VOCAÇÃO E CHAMADA ESPECÍFICA

Nominal:
Quando Deus chama uma pessoa para um fim especial, ele costuma chamar sempre pelo nome, de modo inconfundível, e não admite substitutos. Quando Deus chama Abraão, Ló não serve; quando chama Jacó, Esaú não serve; quando chama Moisés, Arão não serve; quando chama Samuel, Eli não serve; quando chama Davi, Saul não serve; quando Deus chamou Barnabé e Saulo, na igreja de Antioquia, mesmo que a igreja fosse procurar outros, dos muitos bons que havia lá, não serviriam.

Específica:

Quando Deus chama alguém, ele diz por quê. Nem sempre ele diz o lugar, mas o motivo da chamada fica sempre bem claro. Deus chamou Abraão para ser o pai de uma grande nação; chamou Moisés para tirar o povo de Israel da escravidão do Egito; chamou Davi, para ser o rei de Israel, e assim por diante.

Soberana:

Deus chama quem ele quer. O esperado, segundo a cultura de Israel, seria Deus chamar Esaú, já que ele era o primogênito, mas Deus chamou Jacó. “…o mais velho servirá ao mais moço”. (Gênesis 25.23c). Quando Jesus subiu ao monte para orar e escolher, em seguida, os seus doze apóstolos, ele chamou, para subirem com ele, os que ele mesmo quis. (Marcos 3.13)

Coerente:

Coerente com os dons espirituais, com as habilidades pessoais, com a função no corpo de Cristo. “Não deixes de desenvolver o dom que há em ti, que te foi dado por profecia, com a imposição das mãos dos presbíteros” (1Timóteo 4.14)

Auto capacitadora:

Moisés: (Êxodo 3.10-12; 4.10-12) “… Eu nunca fui bom orador…” (4.10b) “… Respondeu-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem?…” (4.11a) “… Certamente eu serei contigo… ” (3.12a)

Gideão: (Juízes 6.11-16) “Então o anjo do SENHOR apareceu a Gideão e disse: O SENHOR está contigo, homem valente.” (v.12) “… Ah, meu senhor, com que livrarei Israel? A minha família é a mais pobre em Manassés, e eu sou o menor na casa de meu pai.” (v.15). “O SENHOR virou-se para ele e lhe disse: Vai nesta tua força e livra Israel das mãos dos midianitas. Não sou eu que estou te enviando?” (v.14)

Jeremias: “Então eu disse: Ah, SENHOR Deus! Eu não sei falar, pois sou apenas um menino. Mas o SENHOR me respondeu: Não digas: Sou apenas um menino; porque irás a todos a quem eu te enviar e falarás tudo quanto eu te ordenar” (Jeremias 1.5-7)

Paulo: “Não que sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se viesse de nós mesmos, mas a nossa capacidade vem de Deus.” (2Coríntios 3.5)

A vitória, pois, é nossa! Deus pôs um Estandarte na mão dos chamados: “EU SEREI CONTIGO”!

Que o Senhor o abençoe em sua decisão

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Nota: Os textos bíblicos citados nesse artigo são da versão “A Bíblia Sagrada Almeida Século 21”

Por Rinaldo de Mattos


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