AVIVAMENTO MISSIONÁRIO. O QUE É ISTO?
AVIVAMENTO
E MISSÕES
Gedeon José Lidório
Júnior
Não eram mais que dez
horas da noite; estava frio, ventava e o escuro fazia o fogo que crepitava na
fogueira no meio da mata ficar ainda mais vivo. Lembro-me bem desta fogueira,
numa mata, ao sul de Minas Gerais em um acampamento de estudantes de teologia;
estava sozinho olhando a fogueira e pensando em como o fogo queimava e consumia
a madeira, nas vidas que aquecia e da escuridão que iluminava.
Hoje, lembrando dessa
fogueira ainda sinto o calor provocado por suas chamas e penso no calor de
homens e mulheres que desejam ser mais santos, de justos buscando justiça, de
filhos sedentos do amor do Pai, de servos querendo tão somente servir e todos
entregando tudo: vida, família, bens, saúde, vontade, para ver implantado o
reino de amor de Jesus, sua legítima e última vontade – “sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos
confins da terra” (Atos 1.8) – isto é missões.
Os ciclos de avivamento
e os movimentos missionários Ronaldo Lidório traz em seu livro Plantando
Igrejas uma observação importante sobre o Espírito Santo e Missões, dando
alguns tópicos sobre esta ligação clara entre os avivamentos históricos e os
movimentos missionários.
Vejamos:
Fruto de um avivamento, a partir de 1730
John Wesley durante 50 anos pregou cerca de 3 sermões por dia, a maior parte ao
ar livre, tendo percorrido 175.000 km a cavalo pregando 40.000 sermões ao longo
de sua vida.
Fruto de um avivamento, em 1727 a Igreja
moraviana passa a enviar missionários para todo o mundo conhecido da época,
chegando ao longo de 100 anos enviar mais de 3.600 missionários para diversos
países.
Fruto de um avivamento, em 1784, após ler
a biografia do missionário David Brainard, o estudante Wiliam Carey foi chamado
por Deus para alcançar os Indianos. Após uma vida de trabalho conseguiu
traduzir a Palavra de Deus para mais de 20 línguas locais e sua influência
permanece ainda hoje.
Fruto de um avivamento, em 1806 Adoniram
Judson tem uma forte experiência com Deus e se propõe a servir a Cristo, indo
depois para a Birmânia, onde é encarcerado e perseguido durante décadas, mas
deixa aquele país com 300 igrejas plantadas e mais de 70 pastores.
Hoje, Myamar, a antiga Birmânia, possui
mais de 2 milhões de cristãos. Fruto de um avivamento, em 1882 Moody pregou na
Universidade de Cambridge e 7 homens se dispuseram ao Senhor para a obra
missionária e impactaram o mundo da época.
Foram chamados “os 7 de Cambridge”, que
incluía Charles Studd (sua biografia publicada no Brasil chama-se “O homem que
obedecia”). Foi para a África, percorreu 17 países e pregou a mais de meio
milhão de pessoas. Fundou A Missão de Evangelização Mundial (WEC International)
que conta hoje com mais de 2.000 missionários no mundo.
Fruto de um avivamento, em 1855 Deus falou
ao coração de um jovem franzino e não muito saudável para se dispor ao trabalho
transcultural em um país idólatra e selvagem.
Vários irmãos de sua igreja tentavam
dissuadí-lo dizendo: “para que ir tão longe se aqui na América do Norte há
tanto o que fazer?” Ele preferiu ouvir a Deus e foi.
Seu nome é Simonton (1833-1867) que veio
ao nosso país e fundou a Igreja Presbiteriana do Brasil.
Fruto de um avivamento, em 1950 no
Wheaton College cerca de 500 jovens foram chamados para a obra missionária ao redor
do mundo. E obedeceram. Dentre eles estava Jim Elliot que foi morto tentando
alcançar a tribo Auca na Amazônia em 1956.
A partir de seu martírio houve um grande
avanço missionário em todo o mundo indígena, sobretudo no Equador. Outro que
ali também se dispõe para a obra missionária foi o Dr Russel Shedd que é
tremendamente usado por Deus em nosso país até o dia de hoje. ” (LIDÓRIO, 2007,
pg 101 e 102) Olhando para este simples pano de fundo histórico sobre
movimentos missionários ligados a avivamentos históricos, podemos construir um
ponto de inserção do assunto Avivamento e Missões e olharmos para a Bíblia,
principalmente a textos já visitados, para dali extrairmos conceitos e práticas
vivenciais para o dia a dia do povo missionário de Deus: a igreja! Construindo
uma missiologia através da leitura teológica de textos já conhecidos Atos.
Olhando o texto em Atos, desde o seu
início enxergamos que o escritor procurou trazer a mente dos seus leitores
aquilo que era a vontade de Jesus ao falar com seus discípulos seu último
discurso, ou deixar sua última vontade, para que se lembrassem do que ele tinha
ensinado durante todo o tempo em que estivera com eles. É necessário entender
que fazemos parte de um movimento histórico, cristocêntrico, vivencial e
dinâmico, onde os fatos ocorridos desde o início da era cristã trazem um
transfundo histórico extraordinariamente rico, onde se estabelecem os
princípios que subjaz a obra de Cristo na terra, na continuidade da vida no
meio da sua igreja; o fato de que o personagem principal do cristianismo não é
a igreja, mas o seu criador, que também é o conteúdo do próprio evangelho que
deve ser pregado e vivido é marcante.
– Jesus deixa sobre si mesmo o peso e a
responsabilidade para com os eventos e deixa claro que é ele quem constrói a
sua igreja; mesmo tendo ele subido aos céus, sua mensagem continua viva e
eficaz através da vida da sua igreja.
– Jesus continua presente no meio e
através das ações de amor e perseverança do seu corpo na terra;
Ao olharmos para a igreja nestes dois mil
anos que passaram enxergamos o dinamismo que esta comunidade tem, pois, mesmo
tendo passado por tantos confrontos, conflitos e dores Cristo permanece vivo
através dos seus no decorrer dos séculos.
– ele continua construindo sua igreja!
Quando se olha para esta igreja, que está sendo construída por Jesus é
necessário enxergar o próprio Jesus.
– o seu corpo manifestado continuamente
através de pessoas em toda a face da terra que são chamadas pelo seu nome. Atos
1 Fazendo e ensinando.
A igreja é missionária na sua essência e
se não for assim perde o propósito de ser igreja – ou seja, não é nada mais que
um ajuntamento social, onde homens e mulheres se reúnem para satisfazer as suas
próprias necessidades e não para glorificar o nome de Deus.
No princípio do livro de Atos, Lucas dá
um molde textual de como ele enxerga na vida de Cristo na terra – segundo
Ronaldo Lidório, em seu livro Atos: a história continua (LIDORIO: 2008, não
publicado) Lucas escolhe com grande esmero as palavras iniciais do seu segundo livro
justamente para demonstrar isso – expõe que a frase: “Escrevi o primeiro livro
ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a
ensinar" indica através das expressões gregas para “fazer” (poiein ) e
“ensinar” (didaskein ) interpoladas por “te kai” (e) apontam para um Jesus que
fazia e vivia antes de ensinar levando-nos a pensar que a ortopraxia (a forma
como vivemos, nossa prática cristã) deve preceder ou homologar a nossa
ortodoxia (aquilo que cremos). Este sutil sumário pode ter estado na mente de
Lucas como proposta estrutural do texto quando os eventos de prática vivencial
quase sempre precediam as afirmações doutrinárias ou propostas teológicas,
sendo em todo o livro de Atos apresentada uma Igreja que vivia Jesus e, por
vivê-lo, pregava quem Ele era. O texto tem uma conformação gramatical onde o
verbo “começou” (erzato) indica uma ação que começou a fazer e continua fazendo
(o verbo está em uma voz contínua). Jesus, que esteve vivo, fez e ensinou, continua fazendo
ainda hoje através de sua igreja, o seu corpo na terra. Confirmando o
comissionamento da Igreja Após sua ressurreição há um período de 40 dias até a
ascensão dele mesmo aos céus. Esse é um período de confirmação e de meditação
entre os discípulos, esperando cada dia uma nova aparição do Jesus ressurreto,
então acontece que estando ele no Monte das Oliveiras sobe ao céu perante suas
vistas – antes disso, porém ele transforma o seu ensino de três anos para os
discípulos em uma das afirmações sintéticas mais fortes para a vida da Igreja.
Jesus tivera que responder para seus discípulos que não formara sua igreja para
se preocupar com tempos ou épocas (Atos 1.5ss) e então no versículo 8 Lucas
introduz a continuidade do assunto utilizando a expressão grega “alla"
(mas) que poderia ser traduzida da seguinte forma: “apesar do não entendimento
da parte central do meu ensino (fala sobre o Reino de Deus) vocês serão
revestidos com poder” – este poder é “dynamis” – poder do Espírito Santo de
Deus – seu poder criador, seu poder preservador, seu poder transformador é
agora um poder comissionador, onde a ênfase não recai sobre quem recebe o
poder, mas sim que o poder pertence ao Espírito Santo e que ele revestirá sua
igreja não apenas para proclamar o evangelho, mas para ser testemunha viva
deste evangelho. Algumas vezes enxergamos neste texto um Espírito que
comissiona a igreja para falar, mas é pouco provável que o Espírito Santo iria
proporcionar uma ação tão limitada ao seu próprio poder, ele, porém, tem gerado
testemunhas e não somente capacitado sua igreja para pregar ou anunciar de modo
audível – a ênfase do texto não recai sobre a mensagem (pregação do evangelho),
mas na transformação de homens e mulheres em testemunhas que viverão no seu dia
a dia e como disse muito bem Francisco de Assis: “Pregue o evangelho em todo o
tempo. Se for necessário, use palavras”.
Deste modo um avivamento não poderá ser forjado ou forçado, pois ele é de Deus e ele vem para nos transformar em pessoas tão parecidas com Jesus o quanto possível, portanto, há de se enxergar Cristo através do seu poder em nós e através de nossas ações práticas.
- fazendo; após isso é claro que falaremos, portanto, ensinaremos, cumprindo assim o mesmo molde textual de Jesus indicado por Lucas no primeiro versículo do livro de Atos. É aqui que entra a questão do avivamento.
– fomos chamados para FAZER (ser alguém parecido com
Cristo) antes de ENSINAR (pregar o evangelho).
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