TEOLOGIA E MISSÕES

 




RELEVÂNCIA DA TEOLOGIA E MISSIOLOGIA PARA 

A IGREJA HOJE

Por Gedeon J Lidório Jr

 

 

Introdução

Vivemos em um tempo onde os questionamentos quanto às estruturas eclesiásticas e ‘para[1]eclesiásticas’ tendem serem mais ácidos, mais críticos na sua base e menos esclarecedores. De um lado, vemos uma Igreja que não se cansa de ‘inovar’ e escolas de teologia de outro muitas vezes tão conservadoras que não respondem às indagações que a Igreja faz.

A igreja pode fazer perguntas que questionem a validade de vários cursos de teologia ao mesmo tempo em que os cursos de teologia podem indagar sobre as práticas de diversos seguimentos eclesiásticos.

O Prof. Antonio Carlos Barro, em uma das reuniões pedagógicas da Faculdade Teológica Sul Americana (Londrina, PR) nos alerta ao afirmar que a igreja faz uma pergunta séria às escolas de teologia, que é: nós realmente precisamos de vocês? Isto deve nos motivar não somente a responder à pergunta, mas a fazer uma

análise profunda do que tem sido a prática de educação em nosso contexto acadêmico – deve gerar mais perguntas e uma delas é sobre a relevância da teologia e da missiologia para a Igreja nos dias de hoje, pois é para isso que fomos criados, ou seja, os seminários, as escolas de teologia e missiologia têm o seu sentido na clara percepção de ajudar a igreja no entendimento da sua missão e como cumpri-la com eficiência, eficácia e de maneira que glorifique o nome de Deus.

:Há alguns perigos existentes nesse processo em que escolas de teologia vivendo em meio a críticas (sem fazer também uma autocrítica...) distanciem-se da Igreja – um destes perigos é que ao plantar novas comunidades a Igreja defronta-se com um cenário onde a Missão da Igreja está não associada à Missão de Deus, a Missio Dei e ocorre quando a Igreja segue sua:

1 Coordenador Geral de Educação a Distância e Professor da FTSA www.gedeon.lidorio.com.br

2 própria agenda, de plantio ou crescimento, por motivações próprias e não bíblicas. Não para a glória de Deus, mas para a glória da igreja. Não para alcançar os perdidos, mas para fortalecer a denominação. Não para exaltar Jesus, mas para exaltar os seus líderes – e nós, escolas de teologia e missiologia que podíamos ter ajudado a transformar esta visão nos tornamos nulos na influência por causa do distanciamento causado por uma visão ácida e crítica que não constrói pontes, mas barreiras.

Ronaldo Lidório afirma em seu livro Plantando Igreja o seguinte: “Inquieto-me ao ver uma atual verdade nas antigas palavras de Cirenius, teólogo bizantino, quando afirmou que a Igreja sofrera (já naquela época!) a tentação de desenvolver a sua personalidade e perder a sua finalidade” (2008, p. 36).

Fundamentação Tanto na igreja como na escola há um muitas vezes há um descaso para com a orientação teológica prática e a contextualização da teologia e da missiologia, produzindo teologia e a missiologia que não fala da realidade, mas parece feita a partir de gabinetes, de escritórios, dentro das paredes institucionais e não ao responder questionamentos vindos da prática no meio do povo, diferente em muito da própria configuração do ministério de Cristo, como relata Lucas no livro de Atos, capítulo 1.

Vejamos: Lucas inicia o livro propondo uma retrospectiva da vida de Jesus, possivelmente enfatizando os pontos principais da biografia utilizando a estrutura helenista de literatura onde primeiramente um sumário do texto anterior é apresentado antes que um novo capítulo pudesse ser aberto.

O versículo um começa com a menção: "Escrevi o primeiro livro ó Teófilo" onde a expressão ''protos', usada para 'primeiro' em lugar de 'proteros' indica uma clara divisão de tempo e propósito entre os dois volumes escritos por Lucas: o Evangelho e Atos.

O Evangelho apresentaria a pessoa de Jesus enquanto o livro de Atos desvendava a face de uma Igreja em profunda expansão.

Teófilo, membro da elite romana, poderia tanto ter uma forte influência apologética entre os magistrados quanto poder político na estratégia de César. Em Lucas 1:3 Teófilo é tratado como "excelentíssimo", o mesmo título usado para Félix e Festo em Atos 23.26 e 26.25 os quais eram procuradores romanos com poder político localizado, mas não há evidências textuais do real motivo de Lucas em lhe endereçar estes escritos. www.gedeon.lidorio.com.br

3 “... o que Jesus começou a fazer..." traz enfaticamente o verbo 'erzato' (começou) como (aoristo contínuo) indicando que não se trata apenas daquilo que foi feito no passado, mas aponta para tudo aquilo que Jesus 'começou a fazer e continua fazendo'. Em linguagem moderna 'erzato' funciona como um 'link', um elo entre a biografia do Mestre no Evangelho e a eterna presença do Senhor na Igreja que nascia em Atos.

Funciona também como um grito de alerta para os incrédulos: Jesus está vivo, presente e continua a fazer. 'Erzato... poiein' (começou a fazer) é uma sentença também encontrada em literatura grega referindo-se a alguém que, tendo encerrado com impactante vitória uma campanha armada contra uma cidade envia um arauto à cidade vizinha preanunciando que ela seria a próxima a ser conquistada.

A força desta expressão mostra que a campanha continua e que a força é a mesma, que o cansaço não impede que tudo seja feito novamente; e quem sabe ainda mais. Aponta para Jesus o qual, após nascer, viver, morrer e ressuscitar no Evangelho segundo Lucas, continua a fazer em Atos. É o Senhor presente que preanuncia: Eu continuo a fazer. 'Te kai' (e) intermedia os verbos principais do versículo um: "fazer e ensinar" e faz com que a posição destes dois termos não seja mudada. Parece certo afirma que a posição dos verbos (fazer vindo antes de ensinar) é uma estrutura onde o contrário seria danoso ao texto.

Sendo assim podemos ver que Lucas aqui estabelece um modelo ao redor da pessoa de Jesus mostrando que Ele primeiramente 'fazia' antes de 'ensinar', não o que ele fazia no sentido mais restrito, mas o texto envolver a vida que Cristo vivia como autenticadora daquilo que ele pregava, que sua vida precedia sua doutrina, que seu caráter homologava sua teologia. Ao pregar sobre o relacionamento com Deus de forma não institucional ele mostrava com sua vida que isso era uma realidade; ao falar sobre o dar sua face a outro que o fere ele mostrou claramente o padrão próprio que seguia e que fazia com que suas palavras soassem com sentido. Ele vivia aquilo que pregava e pregava aquilo que vivia! Quantas vezes, porém existe um verdadeiro abismo que separa aquilo que somos daquilo que crê nosso coração. Conseguimos crer em profundas e tremendas verdades sem experimentá[1]las em nossa vida. Ao mesmo tempo achamos ser possível apenas viver verdades sem que haja aprofundamento no conhecimento a respeito dela e que esta mesma verdade, estabeleça[1]se através de uma análise profundamente cultural, antropológica e Bíblica, sem que necessariamente esta verdade seja uma prática de nossa vivência. www.gedeon.lidorio.com.br

4 Lucas quer mostrar, dentre outras coisas que Jesus possuía uma maneira de entender a união entre a prática (‘poiein’ – fazer) e o ensino (‘didaskein’) apontando que ele vivia antes de ensinar, fazendo-nos pensar que a ortopraxia (a maneira como vivemos) deve preceder ou homologar a nossa ortodoxia (aquilo que crê nosso coração).

Este sumário ortoprático pode ter estado na mente do autor como proposta estrutural para tudo o que ele narra no livro. Implicações Olhando para isso podemos vislumbrar um abismo entre aquilo que vive a Igreja na sua prática vivencial cristã e o que se ensina em muitas escolas de teologia e missiologia e precisamos urgentemente responder questões como as do artigo “Interrogar a igreja é vital para o nosso futuro” do Prof. Antonio Carlos Barro.

De um lado pergunta: Por que seminaristas estão desacreditados da Igreja?

Por que não se ensina mais sobre Missões nos seminários?

Por que os seminários não incentivam a leitura da Bíblia?

Por que o número de seminaristas tem decrescido?

Por que os pastores não incentivam o estudo teológico? Por que os seminários estão distantes da igreja?

Por que teologia é sinônimo de frieza espiritual?

Do outro lado questiona: Por que tantos líderes fracassam?

Por que tantos líderes são auto suficientes?

Por que tantos líderes são soberbos?

Por que os pastores lêem pouco?

Por que pastores são ativistas?

Por que a liderança não é serva?

Porque os pastores não promovem novas lideranças?

A Igreja do futuro precisará de pastores?

Quem treinará novos pastores e líderes?

Qual o papel da teologia na igreja do futuro?

A mensagem cristã será coerente com a realidade do mundo moderno?

Olhando para o texto da Capacitação Missiológica que ministro juntamente com meu irmão, Ronaldo Lidório, enxergo alguns grandes perigos na missiologia que fazemos, tanto em Igrejas como nos seminários e faculdades teológicas: Dos resultados substituírem o caráter no perfil do obreiro. O equívoco da valorização dos frutos em detrimento do coração piedoso e crente. A carnal tendência humana de definir ação missionária a partir dos resultados e não da intimidade com Deus colocando o caráter daqueles que servem como peça substituível quando há resultados numéricos. Um organismo vivo precisa crescer, expandir-se e ser mantido saudável, mas para que isso aconteça é www.gedeon.lidorio.com.br

5 necessários encararmos que o caráter na vida do obreiro cristão não é peça negociável neste processo – crescimento sem ética, sem valorização dos princípios e valores cristãos não glorifica a Deus e, portanto, não faz parte dos planos dele para sua Igreja, nem devem fazer sobre nós, aqueles que são chamados para preparar vidas para servir melhor o reino Deus. De a capacidade humana substituir a procura por dependência de Deus.

O perigo de supervalorizarmos as nossas estruturas no que tange a logística, conhecimento, preparo acadêmico e capacitação em detrimento da prática de viver, trabalhar e sonhar tendo, sobretudo no coração a incrível convicção de que nós dependemos de Deus. Patrick Johnstone diz que “quando o homem trabalha, o homem trabalha. Quando o homem ora, Deus trabalha” (1998, p. 1) mostrando-nos a estreita relação entre nossa vida ministerial e a dependência de Deus em oração. Nada substitui a oração no ministério cristão, porque afinal, sem oração nós é que fazemos a obra. Das estratégias certeiras substituírem o compromisso com a Palavra no crescimento da Igreja e expansão da obra missionária. Nem tudo que dá certo é necessariamente bíblico e íntegro. Por vezes somos levados a escolher entre um rápido crescimento e um caminho mais lento, porém íntegro. Nosso tempo é de velocidade. Procuramos soluções que nos façam ter mais tempo livre. Às vezes me pergunto pra que ter mais tempo livre, pois o tempo que se ‘libera’ por causa de tecnologia eu encho com mais trabalho, mas afazeres e então me vejo sempre correndo, sempre querendo desenvolver melhores estratégias que me façam realizar melhor aquilo para o que fui chamado a fazer e muitas, mas muitas vezes mesmo, podemos atropelar a integridade em busca de soluções mais rápidas. Que Deus nos abençoe nestes momentos e façamos a escolha da integridade. Do zelo teológico se divorciar da prática missionária. É o outro lado da mesma moeda. De desenvolvermos um ensino teológico sem ligação com a Igreja, sua vida e dinâmica. Sem ligação com o pastor, suas necessidades e desafios. Sem ligação com a missão, a evangelização e plantio de igrejas. Uma saudável prática Sul Coreana poderia ser de grande ajuda na prevenção deste mal. De levar os teólogos a transitarem pelos desafios práticos da igreja e da missão, participando da sua vida, bem como trazer pastores e plantadores de igrejas para um cenário interativo nas salas de aula e cursos de reciclagem nos centros teológicos. www.gedeon.lidorio.com.br

6 É necessário, portanto sermos uma escola envolvida diretamente com o movimento missionário, que é quem tem se dedicado ao cumprimento da Missão de Deus de forma integral.

É necessário criarmos cursos práticos de formação ministerial e missionária, que ajudem os obreiros cristãos a transitarem melhor em meio às controvérsias religiosas e espirituais que vivemos nos dias de hoje. É necessário desenvolver um caráter integral na vida daqueles que estão debaixo de nossa responsabilidade de formação, não somente voltado para evangelismo, missões, plantação de igrejas, mas também unidos com uma ação social (diaconia) consistente e que envolva a justiça.

Que o Senhor nos ajude, tanto a seminários como a igrejas a viver em consonância com a Missão de Deus.

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Bibliografia citada JOHNSTONE, Patrick. The Church is Bigger than you think. Fearm: Christian Focus, 1998 

LIDÓRIO, Ronaldo A. Plantando Igrejas. São Paulo: Cultura Cristã, 200


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