CLAMOR DA ÁFRICA POR MISSIONÁRIOS
Quase mil grupos etnolinguísticos
africanos ainda não conhecem como boas-novas.
Em 1895, cinco homens foram ao Quênia
apresentar o evangelho de Jesus Cristo, onde montaram a primeira base da Africa
Inland Mission (AIM), que no Brasil tem o nome de Missão para o Interior da
Africa (Miaf), uma agência missionária cristã internacional voltada aos povos
africanos.
Hoje, a África tem uma população de
1,36 bilhões de pessoas [1] (16,7% da população mundial) em seus 54 países
baseados nas Nações Unidas. Os que se declaram cristãos são a maioria
(59%). O continente precisa, então, de mais missionários? Paulo
Feniman, diretor executivo da Miaf na América no Sul (ele também serve como
presidente da AMTB - Associação de Missões Transculturais Brasileira), responde
a essa e outras perguntas nesta entrevista que concedeu ao Martureo após uma viagem
ao continente africano agora em 2021.
Martureo - Ouvimos com frequência que o cristianismo é uma religião do Sul
global. A África precisa de mais missionários?
Paulo Feniman (PF) - Sonho com o dia em que não precisemos mais enviar missionários
transculturais à África por ela ter uma igreja autóctone madura e com recursos
suficientes para levar o evangelho de Jesus a toda a população. Hoje,
contudo, apesar de a maioria se declarar cristã, há 988 grupos etnolinguísticos
classificados como não alcançados pelo Projeto Joshua. Isso representa 388
milhões de pessoas, ou seja, 28,4% da população africana. Além disso, a
liderança autóctone da igreja no continente carece de treinamento, precisa
amadurecer em alguns aspectos, especialmente em relação à sua força e visão
missionária. É um desafio enorme que a igreja global precisa
abraçar. Precisamos, sim, enviar mais missionários à África.
Martureo - A Miaf tem algum alvo em relação ao envio de mais missionários?
PF - Por
conta da pandemia da Covid-19, revimos nosso planejamento para os próximos anos
recentemente. Pretendemos enviar 300 novos missionários para os povos
africanos até 2024: 75 no próximo ano, 100 em 2023, e outros 125 em 2024. É um
alvo ousado. Nós, da América do Sul, seríamos responsáveis por enviar 10% desses novos trabalhadores transculturais, ou seja, mais
30 missionários
até
2024. Hoje, temos 60 missionários sul-americanos, entre casais e solteiros, na África pela Miaf, então seria um
crescimento de 50%. A boa notícia é que já temos 13 sul-americanos em vias
de ser enviados.
Martureo - O prazo de 3 anos, considerando o ano de 2024, não seria muito
curto para o preparo de um obreiro transcultural?
PF - A
Miaf não tem estrutura para o preparo dos candidatos; orientamos,
indicamos instituições como seminários e centros de treinamento em
missões. De qualquer forma, estamos falando de cristãos que, de alguma
forma, já iniciaram sua jornada rumo ao campo. Há muitos que têm um chamado
transcultural, estão hoje em cursos de missões ou mesmo teologia ou já o
concluíram, mas não discerniram em que lugar servirão e quando partem. Há
também aqueles que já têm um campo em mente, um chamado específico, mas ainda
não estão vinculados a alguma agência, estão em fase de definição. Mas é
viável alguém começar agora o preparo e estar apto para ser enviado em um prazo
de 3 anos.
Martureo - E quanto ao aprendizado do idioma do campo?
PF - A forma como trabalhamos sempre
leva em conta a necessidade do aprendizado do idioma local. Mesmo em
países africanos de fala portuguesa, como Moçambique ou Angola, existem como
línguas, como dizemos, do coração. O primeiro ano no campo leva em conta
um mergulho tanto na cultura como no idioma. Como organização, estamos
atentos às mudanças e tendências, mas alguns valores permanecem em nossa
organização, como ter no campo transcultural pessoas chamadas pelo Espírito
Santo e forma por uma igreja local. Também valorizamos ministérios de
longo prazo, principalmente quando se trata de plantação de igrejas, bem como
parcerias com ministérios locais já mencionados.
Martureo - O que a Miaf considera um tempo adequado para um ministério
transcultural na África?
PF -Hoje
em dia um projeto de 2 anos pode ser considerado algo de longo prazo por
muitos, mas nós não vemos dessa forma, principalmente quando se trata de
plantar uma igreja entre um grupo etnolinguístico não alcançado e
independente-la com uma liderança autóctone saudável, madura , com visão
missionária. Mergulhar em uma cultura, aprender um idioma, estabelecer correção
genuínos leva anos, senão décadas. O termo de compromisso padrão entre um Miaf
e um missionário é de 4 anos, mas sempre temos em vista que, após o primeiro
ciclo de 48 meses, esse termo será renovado. Contudo, também enviamos cristãos
para atuar em projetos de menor prazo, como 1 ano, 6 meses ou mesmo semanas. Um
ministério local pode requisitar ajuda específica - um professor de teologia,
por exemplo - por período determinado.Um missionário ou unidade missionária
pode solicitar ajuda para realizar uma escola bíblica de férias para crianças,
ou um mutirão de saúde. Em geral, os obreiros de curto prazo apoiam projetos já
tomados, seja de igrejas autóctones parceiras, seja em locais em que há uma
equipe transcultural já atuando.
Martureo - O modelo da Miaf é o tradicional, em que o missionário é
sustentado pela igreja enviadora?
PF -Isso
depende do chamado, do perfil do missionário, do país em que ele vai atuar, da
necessidade do local etc. Temos missionários integralmente sustentados pelas
igrejas enviadoras, e cremos que, em muitos casos, o trabalho só será possível
dessa forma. A Miaf tem também missionários que são empreendedores e que atuam
com Business as Mission (BAM) [Negócios como Missão]; outros são fazedores de
tendas, como um médico cujo sustento vem 90% do trabalho que realiza. Mas como
um médico atua em um país nas ilhas do Oceano Índico sem receber ajuda
financeira de outros cristãos? Não é possível, ele não consegue se manter ali
com sua profissão. Há casos em que não apenas o missionário precisa do sustento
da igreja local, mas o tipo de trabalho que realiza depende do custeio dos
cristãos da igreja global. As vezes,um missionário precisa distribuir
medicamentos, ou cestas básicas, ou insumos agrícolas, ou abrir poços,
dependendo de onde e como está atuando.
Martureo - A situação socioeconômica da África, o continente mais pobre do
mundo, é um fator para a igreja mandar mais missionários para lá?
PF - A
realidade socioeconômica não é um fator em si, mas deve ser considerada em
termos de planejamento, estratégia, orçamento etc. Por exemplo, como falar de
Cristo em Madagascar para pessoas em situação de fome extrema? Se sonhamos
com uma igreja africana envolvida na missão de Deus, ela precisa ter as
condições plenas de fazer isso, deve ser sustentável. Da forma mesma,
quando se envia um missionário para uma Europa secularizada, deve-se atentar
para o custo de vida de uma família ali. E, claro, não nos esqueçamos que
o verdadeiro evangelho transforma estruturas injustas.
Martureo - Em que países a Miaf atua?
PF - O
foco são os africanos não alcançados, tanto é que, além de na África, onde
estamos presente em mais de 25 países, há trabalhos com africanos na Europa,
Estados Unidos, Canadá e até mesmo no Brasil. Rompemos com a questão
geográfica. Mas, claro, há ainda quase mil grupos etnolinguísticos não
alcançados na África, e temos equipes em diversos países nas regiões norte,
central, leste e sul. (É possível verificar o mapa com os países nos quais
a Miaf atua aqui.)
Martureo - Se pode estimular quem está discernindo em que lugar servir na
África a considerar alguns lugares em específico, quais seriam?
PF - Madasgascar,
Mali, Marrocos, Tunísia e o Chifre da África como um todo: Somália, Djibuti,
Etiópia e Eritréia.
Martureo - A África de 2021 está muito diferente da de décadas atrás?
PF -Faz
20 anos vou sistematicamente à África e acompanho diferentes ministérios ali.
Chamam a atenção o grande êxodo rural, ou seja, como pessoas migrando para os
grandes centros, e como a conectividade, os celulares, passaram a fazer parte
da vida das pessoas. Isso traz várias fontes para toda estrutura ministerial.
Os conflitos civis por questões de terra atreladas a disputas de poder
permanentes: há 17 focos atualmente no continente, o que também influencia o
trabalho missionário. Tragédias naturais assolaram alguns países como
Moçambique e Madagascar recentemente. A região árida do Quênia, ao norte, sofre
com incêndios, acabei de receber um vídeo com imagens chocantes. Apesar de a
época colonial, oficialmente, ter ficado para trás, ainda encontramos muita
exploração dos recursos naturais da África por países estrangeiros sem
critérios.
Martureo - Se alguém quiser se candidatar para fazer parte da equipe de
missionários da Miaf, quais os canais de contato?
PF - Pode
ser por meio do site da Miaf ou pelo WhatsApp (43) 3027-3703, nesse número você
pode falar diretamente com nossa equipe de recrutamento.
Fonte: Martureo
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário, ele é muito importante para melhorarmos o nosso trabalho.
Obrigado pela visita, compartilhe e
Volte Sempre.