PREPARO MISSIONÁRIO
O candidato ao trabalho missionário deve se
preparar para o contato com outra cultura.
1.
O apóstolo Paulo era de Tarso, uma cidade
universitária da época. O convívio dele flutuava entre duas culturas: a judaica
e a gentílica grego-romana. Ele não apenas conhecia bem as duas culturas, como
fazia parte delas.
2. Embora Paulo seja um padrão para o trabalho transcultural, só houve dois
lugares visitados por ele que eram considerados primitivos.
3. Um desses lugares foi a ilha de Creta. Ele mesmo
não começou aquele trabalho. Provavelmente, foram João Marcos e Barnabé na
famosa separação das equipes missionárias. Paulo nem mesmo trabalhou em Creta,
mas enviou Tito. E teve uma passagem muito rápida por ali. Até que ele quis
ficar uns 4 meses, mas a tripulação do navio que ia para Roma não quis e quase
naufragaram (At 27.7-23). Mesmo assim, os cretenses tinham costumes de piratas,
mas foram colonizados pelos gregos há 1500 anos antes de Cristo.
4. Outro campo missionário transcultural para Paulo foi a ilha de Malta. De
fato, este foi o único lugar que Paulo visitou que podemos afirmar que se tratava
de cultura diferente da cultura judaico-grego-romana que Paulo tão bem
conhecia.
5. Não foi uma visita programada, nem uma viagem missionária. Mas foi o
resultado do naufrágio daquele navio cheio de prisioneiros.
6. Por um lado podemos dizer que Paulo chegou acidentalmente (naufrágio), mas
por outro lado devemos crer que foi a providência divina que o lançou
ali.
7. A chegada de Paulo na ilha de Malta serve de
inspiração e modelo para o trabalho missionário indígena.
8. A começar pelo acesso, chegar até à ilha de Malta era um desastre (At
27.41-28.1). Os trajetos para alguns trabalhos missionários indígenas são
sofríveis (Exemplo: Foz do Içana).
9. O trabalho transcultural antes de tudo é um
contato com uma outra realidade. Para o missionário recém-chegado pode não
parecer real, mas é que a realidade é um tanto diferente da realidade que ele
está acostumado.
Proposição: O candidato ao trabalho missionário deve se preparar para o contato
com outra cultura. A estadia de Paulo na ilha de Malta dá um vislumbre do
contato do missionário com o campo de trabalho futuro.
I. O contato com bárbaros - v.2
1. Há uma forte campanha para evitar termos como
estes, mas sempre existiram culturas de costumes primitivos, menos
desenvolvidas em relação ao desenvolvimento normal do mundo. São os chamados
“povos isolados”.
2. Os gregos apelidaram esses grupos de bárbaros,
pois como não falavam grego, a língua oficial, tudo o que falavam aos ouvidos
dos gregos soava como “bar bar”, como uma criança articulando as primeiras
sílabas.
3. O termo se generalizou até chegar aos nossos tempos. A discriminação não
está propriamente no termo, mas em considerar-se mais humano do que esses
povos.
4. Alguns povos isoladas são bravos. O saudoso
missionário Abraão Koop, da Missão Novas Tribos dizia que os Paacas Novos
receberam os primeiros missionários com flechas. Assim foi com a tribo Sawi na
Papua Nova Guiné, cuja história é relatada no livro “Senhores da Terra”.
5. Os primeiros missionários da New Tribes Missions
foram mortos pelos índios Ayoré da Bolívia. As cinco viúvas continuaram o
trabalho e viram os assassinos de seus maridos se converterem.
6. Antes da Missão Novas Tribos, três ingleses
vieram para o Pará fazer contato com os Kaiopó. Os três foram mortos. Foi
escrita a história, não traduzida para o português, desses três jovens. O livro
se chama “Os três Freddys”, pois tinham o mesmo nome e a mesma convicção. Isto
foi em 1927.
7. Nem todos os bárbaros, ou povos isolados, são
hostis. Os missionários das Novas Tribos se preparam para um contato difícil
com os Zo’é (na época os Poturu). Para a surpresa de todos o contato foi
pacífico. Mais hostis foram os antropólogos que expulsaram os missionários da
tribo.
8. O contato com os bárbaros da ilha de Malta foi tão
pacífico que eles nem queriam os pertences das pessoas, mas pelo contrário,
cuidaram deles e de suas necessidades físicas (v.2).
9. O missionário terá, portanto, contato com
pessoas de verdade, amigos de verdade, mas de costumes e maneiras de civilização,
às vezes, totalmente diferentes para ele.
II. O contato com animais peçonhentos – v.3
1. É impossível negar a realidade de que o
missionário encontrará cobras no campo. O Brasil é um país tropical e tem as
mais belas e perigosas variedades de cobras. Em Minas Gerais ver cobras é
comum; em Mato Grosso matar cobras é comum; no Amazonas ver e matar cobras é
inevitável.
2. Daniel Royer, professor no Instituto Missionário
Shekinah, em 1988: “Se o medo dominar a pessoa, ele deixará de comer milho por
medo de cobras”.
3. Todos os missionários já foram protegidos de
picadas de cobra sem mesmo o saberem. Não existem só as cobras que vemos;
aquelas que passam antes de nós ou aquelas que chegam depois de nós, também são
reais. Os anjos protegem os missionários, também, das cobras. Criancinhas são
protegidas por eles muitas vezes. Se algum missionário ou filho for picado não
significa que os anjos dormiram, mas que Deus por alguma razão quis que aquilo
acontecesse.
4. Índios são picados por cobras. Os missionários
já foram picados por cobras. Ambos são humanos e as cobras não fazem distinção.
5. O missionário Bill Moore entregou ao Senhor sua
filhinha de cinco anos. Uma surucucu foi o instrumento de Deus para levar a
criança. Élden, filho do missionário Coy, foi picado por cobra.
6. Os animais peçonhentos, insetos perigosos e
outros animais são uma realidade do trabalho missionário. O missionário terá
contato com esses bichos.
III. O contato com as crendices do povo – v.4-6
1.O missionário poderá ser visto, às vezes, como um intruso e coisas erradas
que, porventura, acontecerem na tribo podem ser atribuídas à ira dos espíritos
sobre o povo por causa do missionário (v.4).
2.A tribo Maku guarda o costume milenar de proibir
que mulheres vejam o rosto do homem que usa máscara em uma de suas
festividades. A penalidade para tal ato é abrir uma grande cova, entrar toda a
aldeia dentro e colocar fogo para que todos morram. Os missionários não estão
isentos de serem a “maldição” e tampouco estariam livres da penalidade.
3. Outros exemplos — Índios que se abaixam na canoa
ao chegar perto de uma montanha com um filete de água. Explicação: É a urina de
um demônio que escorre pela montanha.
Índios que saem para o meio da selva uma vez por
ano e depositam alimento em cima de uma pedra. Explicação: Alimentando os
espíritos que poderiam fazer mal à aldeia.
Na China os velhos são venerados e depois de mortos
adorados e invocados {ver NIDA, pg.41} .
Já os esquimós exterminam os velhos, colocando-os
numa jangada e mandando para as águas gélidas para morrerem {ver NIDA,
pg.41} .
Muitas culturas não toleram o segundo gêmeo e matam
apaziguando os maus espíritos.
4. Os povos estão cheios de crendices. Os nativos
da ilha de Malta receberam bem Paulo, mas ao ser picado pela cobra viram-no
como um assassino sendo perseguido por forças sobrenaturais.
5. Todo missionário aprende a desenvolver um estudo
de cultura chamado “Os Universais”. Cada aspecto da cultura deve ser observado
e anotado pelo missionário. Mas ao começar a anotar as crendices o missionário
logo vê que a tarefa é imensa. As crendices deles vão de um extremo para o
outro. No caso dos maltenses Paulo ou era um homicida ou um deus (v.5-6).
6. O missionário deve ficar atento, pois este é o contato mais sério e difícil
dos povos explicarem. É o contato com suas crendices.
IV. O contato com chefes de aldeia – v.7
1. O missionário deve se apressar em fazer um bom contato com chefe da aldeia.
Isto não significa que será o líder da igreja, mas para ter liberdade de
trabalho o missionário precisa ter a aprovação do chefe.
2. Paulo foi bem recebido e ganhou três dias de
hospedagem com o chefe da aldeia (v.7).
3. O candidato à obra missionário precisa aprender a respeitar as autoridades
desde já, pois seria o fim de seu ministério se não aceitasse a autoridade de
um chefe de aldeia e ultrapassasse as suas instruções. É um contato que precisa
de treinado desde já. Aprender a obedecer sem questionar.
V. O contato com doentes – v.8-9
1. O candidato ao trabalho missionário indígena faz coisas que dificilmente
faria em nossa sociedade. Nem mesmo seria prudente e legal, ou seja, tratar dos
doentes.
2. O curso de enfermagem será muito útil, mas nem todos podem ser enfermeiros.
A equipe ideal é aquela que tem pessoas com várias habilidades.
3. Mas de qualquer forma, os doentes são uma
realidade para o missionário. O amor pelos perdidos deve se estender para o
cuidado com a sua saúde. As coisas mais básicas para nós são incomuns para
muitos índios. Por exemplo: fazer um índio tomar comprimidos por 15 dias. Ou o
missionário aplica injeções ou cuida do índio como cuidaria de um filho: acorda
para dar remédio e faz uma escala para levar o tratamento até o final.
4. Agora multiplique isto por 100, 150, 200 ou mais pessoas. E quando a aldeia
é acometida por uma epidemia? E quando há casos em que é necessário pagar um
vôo de emergência? Lembre-se que a Missão não custeia remédios e nem viagens. E
não poucas vezes o missionário presenciará a morte de crianças e adultos. Outras
vezes será acusado pela morte deles por tirar do curandeiro para tratar com
remédios.
5. O candidato deve desenvolver a prática da oração pelos enfermos e deixar de
pensar só em si. Paulo teve contato com um doente na ilha de Malta (v.8-9).
Lembre-se que Paulo era doente e estava indo para a prisão e saído de um
naufrágio, mas no momento não estava se lamentando, porém, pensando nos
outros.
6. Um contato certo que o missionário terá de
enfrentar, é o contato com doentes e alguns deles com doenças contagiosas.
VI. O contato com a honra – v.10
1. Talvez o contato mais perigoso que o missionário terá de enfrentar não é com
índios bravos, com cobras, com as crendices, com o chefe ou com doenças
contagiosas, mas o contato com a honra.
2. A humildade precede a honra, mas é possível uma
outra ordem. Quando missionários não são humildes o suficiente para receber
honras, pode ser a ruína deles.
3. Achar que pessoas não viveriam sem o nosso trabalho é a pior arrogância do
missionário, pois com tal atitude ele está menosprezando os seus companheiros
de ministério e a Deus que lhe dá capacidade para trabalhar.
4. Paulo foi honrado pelos maltenses e até recebeu oferta deles. Mas Paulo
chegou naquela ilha por causa de um naufrágio, foi usado por causa da misericórdia
de Deus e saiu dali com as honras que deveriam ser devolvidas a Deus assim que
entrasse de volta para a embarcação.
5. Cuidado com o contato com a honra. Quando o missionário fica mais conhecido,
ele deve manter a mesma atitude humildade daquela com a qual começou a sua
carreira.
CONCLUSÃO:
1. A vida do missionário é uma vida de contato. Os contatos são reais, porém,
uma realidade diferente da sua própria.
2. O contato com povos primitivos (bárbaros). O contato com animais perigosos
(cobras). O contato com as crendices do povo. O contato com chefes de aldeia. O
contato com doentes (e doenças contagiosas). O contato com a honra.
3. O preparo missionário ajudará a amenizar o choque desses contatos e a
dependência de Deus fará possível esses contatos.
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{NIDA} Costumes e Culturas – Uma introdução à Antropologia Missionária –
baseado na obra de E.A. Nida – 1954 – 2a edição em português 1988 – Edições
Vida Nova
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