MISSÕES TRANSCULTURAIS - O QUE ISSO SIGNIFICA?

  

   

O QUE É MISSÕES TRANSCULTURAIS?

 

 

Para se chegar ao ponto focal da definição que se busca acerca de Missões Transculturais, se faz necessário que o aluno estabeleça os conceitos acerca de CULTURA e TRANSCULTURAÇÃO. 

Acerca do primeiro termo, conforme estudamos anteriormente  CULTURA “... é o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade". 

Os evangelistas interculturais tem de ser eficientes no aprendizado de ambas as coisas, pois são a base da evangelização dos grupos étnicos ainda não alcançados. É por isso que usamos a expressão "aprendizado da língua e da cultura". 

O aprendizado de uma cultura (aculturação) nunca é completo nem adequado sem um bom aprendizado da língua 

O aprendizado de uma língua tampouco é satisfatório sem um bom aprendizado da cultura. 

Na realidade, JESUS FOI O PRIMEIRO EVANGELISTA INTERCULTURAL!!! Não hesitou em vir do céu deixando a glória e o esplendor que ali desfrutava. Leia atentamente Fp 2.7-8, e observe que Jesus esvaziou a si mesmo de sua glória divina e assumiu a atitude de servo em corpo humano. Aculturou-se na sociedade hebraica e comunicou sua mensagem primeiramente aos judeus.  O aprendiz da língua e da cultura pode até mesmo ser um  pregador talentoso e respeitado, mas quando entra em outra cultura, deve humilhar-se a si mesmo como Jesus o fez, assumindo três novas atitudes: a de APRENDIZ, a de SERVO e a de NARRADOR. 

TRANSCULTURAÇÃO:

Transculturação é o "processo de transformação cultural caracterizado pela influência de elementos de outra cultura, com a perda ou alteração dos já existentes". 

Partindo destas premissas, chegamos ao termo MISSÕES TRANSCULTURAIS: 

O prefixo “trans deriva-se do latim e significa “movimento para além de” ou “através de”.  Portanto, em linhas gerais, MISSÕES TRANSCULTURAIS é transpor uma cultura para levar a mensagem universal do Evangelho. A mensagem do Evangelho não pode se restringir a uma só cultura, mas deve ter alcance abrangente, em todos os quadrantes da terra, onde quer que haja uma etnia que ainda não a tenha ouvido.  

DIFERENÇAS CULTURAIS:

Visto que o evangelista tem de aprender a passar pela rede intercultural a fim de evangelizar outra cultura, é importante compreender o que constitui essa rede. Podemos dividir essas diferenças em sete categorias: 

 

§  Cosmovisão (conceito do universo);

§  Sistema de valores (o que é bom ou mal dentro dos padrões de um povo);

§  Normas de conduta (forma de comportamento aceita);

§  Formas lingüísticas (principal barreira à evangelização intercultural);

§  Sistema social (estrutura cultural e social de um povo. Classes, castas, religiões, seitas),

§  Formas de comunicação (dificuldades encontradas pela existência de vários dialetos numa só cultura impedindo o estudo de uma só língua) e;

§  Processos cognitivos (toda cultura forma um conjunto de conhecimentos aceitos como verdades. Esses conhecimentos podem ser enfocados ao nível de sua cosmovisão ou poderão simplesmente ser conhecimentos restritos a pequenos grupos).

             

Todo evangelista intercultural deve conhecer essas sete categorias de diferenças culturais. Em cada um desses aspectos deve-o procurar aprender, continuamente, mais e mais acerca do povo que deseja evangelizar. 

Para muitos africanos, a dança é o instrumento principal de transmissão de valores, idéias, emoções e história. Consideram-na como uma de suas mais importantes formas de comunicação. 

Missionários enviados à África têm cometido sérios erros de julgamento quanto ao significado da dança africana. Inúmeras situações transculturais  existem fora do alcance do missionário e este precisa de preparo transcultural para a divulgação do evangelho entre estes povos.

 O missionário deve estar psicologicamente preparado para qualquer diferença transcultural e não se  escandalizar se for beijado por um homem, se estiver em um país que adote este costume, como na Rússia, na França ou em países árabes. 

O missionário deve conhecer e respeitar os costumes do povo da cultura alvo, senão sua missão poderá falhar. Conforme abordado anteriormente, os gestos do povo podem Ter significados diferentes em cada cultura. Podem ser considerados obscenos ou ofensivos em um país e noutro não.

 Estes são importantes detalhes que fazem a diferença e podem complicar o trabalho do missionário. Falta-nos espaço para outros exemplos, porém, em suma o  missionário não pode se deixar levar pela atitude chamada ETNOCENTRISMO que é uma tendência a ver a nossa própria cultura como a maneira universal de comportamento. 

Isto acontece porque somos tão inconscientes de como nossas vidas são guiadas pela cultura e idioma, e de repente, descobrimos que é mais difícil do que pensávamos aceitar uma outra cultura. Embora reconhecendo o que possa ser considerado comportamento apropriado em outra cultura, apegamo-nos ao que consideramos "normal" e  "natural".  Achamos que a nossa maneira de fazer as coisas é  "superior" ou "correta".

             O MAIOR COMPROMISSO DO MISSIONÁRIO É COM OS PRINCÍPIOS BÍBLICOS, estes, sim, podem exercer influência e alterar situações contrárias à fé cristã, que serão resolvidas no próprio contexto cultural sem que seja necessário importar ou adaptar "modelos" de outros contextos culturais. O modo de se expressar ou vivenciar os princípios do Evangelho varia de uma cultura para outra. 

Missionários idôneos saberão distinguir entre comportamentos que são apenas expressões dos princípios bíblicos e os princípios propriamente ditos, que são imutáveis. 

Vimos que o conhecimento cultural nos é transmitido desde a infância até o momento em que morremos. A cultura não é estática, mas está em constante processo de mudanças que acontecem lentamente. Porém há ocasiões em que a cultura muda quando um missionário leva o Evangelho e o povo assimila conhecimentos novos mudando, muitas vezes, sua maneira de vida. Com o tempo, um número cada vez maior de pessoas adotam essa nova conduta cristã, tornando-a normal entre o povo.

             

Mas, não podemos nos esquecer que o trabalho do missionário não é “levar estereótipos de uma cultura para a outra, mas é, no dizer Larry Pate a “proclamação do Amor de Deus, que ultrapassa as   fronteiras culturais, raciais e lingüísticas. Ele deseja que todos – pigmeus da África ou os homens de negócios da Ásia – tenham a oportunidade  adequada de seguir a Cristo".  

Os missionários transculturais devem estudar com muito cuidado a estrutura social dos grupos étnicos aos quais Deus os chamou. Como hóspedes entre esses povos, devem aprender a fazer a obra até onde seja possível através destas estruturas. Usando esse conhecimento (transcultural) ao planejar a estratégia de trabalho, alguns missionários tem tido bastante êxito entre esses povos. 

Não é o Evangelho que se curva à cultura, mas esta se curva ao Evangelho. Isto é fazer missões transculturais. 

É preciso descobrir o "approach" de cada cultura,  ou seja, os seus pontos de aproximação para comunicar de maneira adequada as verdades do Evangelho, como fez Paulo entre os atenienses. Este é, na Bíblia Sagrada, um caso típico de missões transculturais. 

 

COMO APRENDEMOS A CONHECER E RESPEITAR A NOVA CULTURA?

Em primeiro lugar, precisamos analisar, cuidadosamente, a nova cultura.

·       Precisamos compreender as tradições da nova cultura.

·       É importante entendermos a maneira como as pessoas pensam na nova cultura.

·       Não devemos rejeitar práticas culturais que não compreendemos.

·       É bom perguntar, para os missionários experientes, como eles lidam com certas questões culturais.

·       Amizade com obreiros nacionais ajuda a compreendermos melhor as convicções culturais;

·       Aprender bem a nova língua é o portal para a entrada na nova cultura. Isto ajuda na comunicação eficiente do evangelho de Jesus Cristo.

·       Diaconia aplicada (ajuda aos pobres, assistência espiritual e pastoral aos queridos que perderam um parente, aos sofridos e perseguidos) abre as portas do coração de todas as pessoas.

·       Visitas às casas dão uma boa impressão dos costumes da nova cultura.

·       Presentes mútuos ajudam a criar amizades.

·       Expressar respeito pelas tradições e costumes da nova cultura.

 

Isto significa para o missionário de hoje que ele deve desenvolver uma atitude honesta e crítica de sua própria tradição e se adaptar, humildemente, à nova cultura. Desta maneira ele experimentará as diferenças culturais como dádiva divina, como desafio que às vezes dói, mas que também complementa de forma enriquecedora.  

O viver e pensar de maneira diferente ou estranha implica prontidão para o aperfeiçoamento construtivo da própria cultura. Às vezes, o que se recomenda é buscar ajuda de crentes maduros. Em outras oportunidades, não teremos respostas adequadas.

Precisamos ter humildade para respeitar coisas que pessoalmente praticaríamos de modo diferente. A igreja nacional ou indígena tenta viver a fé cristã no seu contexto cultural. Aspectos culturais que têm sua origem no mal ou serão abandonadas pela igreja ou serão reinterpretados por que o Espírito de Deus habita nesta nova comunidade.

Por outro lado, quando a igreja não amadurece, sob a orientação da Palavra de Deus e do Santo Espírito, ela estará aberta a todos os tipos de sincretismo. As igrejas devem se empenhar em enriquecer e transformar a cultura local para a glória de Deus. 

Aqui fica uma ADVERTÊNCIA: O missionário transcultural não pode ficar na expectativa de que ele vai conseguir, de imediato, mudar a mentalidade do povo ao qual vai pregar. Não fica bem tomar atitudes drásticas como alguns gostam de fazer. Matar vacas na Índia, um animal divinizado pelos hindus, ao invés de livrar o país da ira de Deus, vai, ao contrário, provocar a expulsão imediata do pretenso missionário. 

É preciso contar, antes de tudo, com o momento adequado e a estratégia certa para ensinar as verdades bíblicas, esperando que a diferença ocorrida com Moisés e Arão se manifeste. O poder de convencer é do espírito Santo. Os dons espirituais são muito importantes neste caso, principalmente o de discernimento de espíritos. São ferramentas de primeira mão no campo missionário. 

O QUE É BÍBLICO, EXTRA BÍBLICO E ANTIBÍBLICO 

Afirmamos que a cultura abarca, também, as crenças de uma sociedade, às quais, muitas vezes, colidem com a fé cristã. Mais adiante, falamos sobre a importação de "modelos" de outros contextos culturais, observando que as situações contrárias às nossas convicções espirituais devem ser resolvidas no próprio contexto cultural, à luz dos princípios bíblicos. 

Qual deve ser a bússola para guiar o missionário em casos como estes? Ele precisa Ter em mente três parâmetros para encontrar a resposta correta. Em outras palavras, ele precisa discernir o que é bíblico, extra bíblico e antibíblico. 

à O que é BÍBLICO reporta-se àqueles costumes que, mesmo diferindo de uma etnia para outra, como foi mencionado reiteradas vezes no decorrer da lição, expressam com a mesma  grandeza e se nenhuma distorção os princípios da Palavra de Deus, que são imutáveis e têm caráter universal. 

à O que é EXTRABÍBLICO relaciona-se com aquelas áreas nas quais a Bíblia não interfere especificamente, a favor ou contra, dependendo da consciência de cada um para julgar o que é lícito e o que não é lícito. A Palavra de Deus não determina as cores das roupas que devemos usar e nem o melhor tipo de calçados para os nossos pés. São, portanto, questões extra bíblicas. Aqui prevalecem o bom senso e a orientação do apóstolo Paulo: (veja 1 Coríntios 10.23). 

à O que é ANTIBÍBLICO refere-se àquelas situações que colidem frontalmente com a fé cristã, exigindo do missionário um posicionamento decidido, mas ao mesmo tempo prudente, no sentido de encontrar a estratégia correta para mudar esse tipo de circunstâncias; É preciso graça de Deus, discernimento espiritual e aguardar o tempo certo, pois nem tudo se muda da noite para o dia. 

Exemplo disso é a poligamia em países africanos, tradição que passa de geração para  geração e que demanda da parte do missionário não entrar em choque para que as portas não se fechem, mas em Ter atitude decidida para influenciar a mudança de comportamento, sempre à luz dos princípios bíblicos e doutrinários. 

OS PRINCÍPIOS BÍBLICOS SÃO IMUTÁVEIS, MAS OS COSTUMES MUDAM. 

Vamos avançar um pouco mais nos exemplos. Como você observou, no Brasil o abraço é uma forma adequada de saudação, além do cumprimento com as mãos. Entretanto, em países como a Coréia e o Japão o usual é uma ligeira flexão à pequena distância. Um brasileiro mais afoito poderá causar sérios constrangimentos, caso deseje impor o abraço como "modelo bíblico" para coreanos e japoneses e vice-versa.   

ACULTURAÇÃO 

Missionários não conseguem esconder sua herança cultural, seu país de origem, suas raízes, seu modo de pensar e viver ou educar seus filhos. Ninguém exigiria isto. 

O que se espera do novo missionário é que ele se adapte, que ele conviva, aprenda e se comunique com os cidadãos nacionais como se fosse um deles. Este processo de adaptação cultural se chama, na antropologia, assimilação ou aculturação. 

Diante da realidade da aculturação existem duas possibilidades: ou o novo missionário nega que vive numa cultura diferente e experimenta um choque cultural dramático que, na pior das hipóteses, pode custar sua própria vida, ou ele aceita o fato da estranheza, do novo, do ser diferente, acaba aprendendo e assimilando, sem rejeitar a sua identidade de origem. 

CONCLUSÃO 

Para concluir, fiquemos com o exemplo de Jesus que não obstante inserir-se na cultura judaica, "jamais se mostrou prisioneiro dela, quando revelava exageros". Veja o que escreveu o autor, em obra recente: "Sempre que fosse preciso tomar uma atitude que contrariasse costumes estranhos já arraigados na consciência do povo, Jesus não hesitava em fazê-lo. 

Foi assim em relação ao divórcio. Enquanto a lei de Moisés o previa em circunstâncias bem mais amplas (Deuteronômio 22.1-4), o que tornou comum entre os judeus, Jesus o restringiu  apenas a casos de adultério (Mateus 5.31-32; Mateus 19.1-9). No contexto deste último capítulo, o Senhor indiretamente condenou as instituições sociais da poligamia e do concubinato, tão em voga no Antigo Testamento e cujos resquícios ainda perduravam.

 O homem, em qualquer cultura ou parte da terra, sempre será um pecador necessitado da misericórdia divina. Não importa o conceito que tenha do mundo, não importa as suas crenças, práticas e costumes. O importante é que precisa ser avisado urgentemente que, mesmo na cultura dele, corre sério risco de perder a salvação caso rejeite a mensagem de Cristo. 

Nós, servos do Senhor, temos a obrigação de avisá-lo de maneira inteligível, na concepção que tem do mundo e na língua que lhe é comum, sentindo que o Cristianismo irá melhorar sua cultura, e não anulá-la ou substituí-la.

 

 

 

 


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