PREPARO MISSIONÁRIO - PARTE 1
A APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS POR
MISSIONÁRIOS
Tendo em vista o momento histórico em que vivemos,
Porque é necessário aprendermos a língua do povo a quem queremos
nos dirigir? Cursos de missiologia, e principalmente de antropologia e missões,
têm nos conscientizado da importância de apresentarmos o Evangelho de maneira
relevante nas diversas culturas.
Precisamos revelar às etnias não alcançadas o ato redentor de Cristo,
a vida nova e eterna que nEle temos de maneira que possam compreender, e sem exigir
que o comportamento resultante dessa revelação seja igual ao nosso, enquanto
apenas um comportamento culturalmente definido como apropriado.
Ora, como saberemos quais comportamentos são relevantemente
apropriados como conseqüência do evangelho sem uma longa exposicão à cultura e
um entendimento profundo da visão de mundo do povo? Isso só pode ser conseguido
se nos dispusermos a ouvir o que eles têm a dizer, o que implica em conhecer
bem sua língua.
Por isso, ao sairmos do Brasil, precisamos ir com uma atitude
formada de que temos muito a aprender. É essencial que nos lembremos que Deus
não somente ama o povo que deve ser alcançado, Ele já está presente em seu
meio, pelo simples fato de ser onipresente, e que é exatamente por causa desse
amor que Ele nos envia.
Não somos nós que levamos Deus a um povo, Ele já está lá, e
portanto é Deus que nos leva a eles. E esse mesmo Deus é quem vai nos capacitar
a enfrentar a tarefa de aprendermos a língua e compreendermos a cultura desse
povo de maneira a comunicarmos as boas novas de Seu amor por palavras e ações.
CAPACIDADE OU ESFORÇO
Todos nós somos capazes de aprender línguas e já provamos isso
pelo simples fato de que falamos pelo menos uma língua. É comum a idéia de que
crianças em todo o mundo, em condições normais, "aprendem a falar” em
aproximadamente dois a três anos. Apesar de continuarem seu desenvolvimento
linguístico até a adolescência, com uma média de dois a três anos já encantam
seus pais e os que com eles convivem com sua capacidade de expressão.
A maneira como esse processo de aquisição de língua se dá tem
sido motivo de um longo debate entre lingüistas, mas o fato é que é impressionante
a "facilidade" com que a maioria de nós aprendeu a se expressar quando
criança.
No entanto, quando chegamos à idade adulta e queremos aprender
outra língua, a coisa parece não ser tão fácil. Horas de estudo, listas de
palavras e regras gramaticais são memórias não tão agradáveis para muitos de
nós. Mas, se fomos capazes de aprender nossa própria língua, o que aconteceu
que temos tanta dificuldade de aprender outra?
Decerto muita coisa! Em primeiro lugar, como adultos, nossas
necessidades já são supridas, ou seja, se não aprendermos a outra língua e não
mudarmos de ambiente, continuaremos a sobreviver perfeitamente.
Em segundo lugar, nossa experiência de aprendizagem de segunda
língua se limita na maioria das vezes à escola e suas exigências.
Em outras palavras, nossa motivação que antes era a sobrevivência
foi muito diminuída. E língua que antes era um meio para o relacionamento com
outras pessoas foi reduzida a um objeto de estudo em sala de aula.
Acontece que motivação é exatamente a coisa mais importante na aprendizagem de línguas
e língua é muito mais do que uma "matéria de escola”!
Língua é e sempre será o vínculo que nos liga em sociedade, uma
ponte a outros seres humanos e suas idéias. Portanto não é a falta de capacidade que se evidencia
quando temos dificuldades com uma segunda língua, e sim a falta de uma motivação que gere
um esforço suficiente para que a aprendamos.
Embora existam pessoas com maior aptidão para a aprendizagem de
línguas, autores concordam que havendo motivação suficiente para nos
relacionarmos com um grupo, isto determinará mais do que qualquer outro fator
nosso sucesso ou não em aprendermos a sua língua.
APRENDENDO A OUVIR
A afirmação de que a motivação é o fator mais importante na
aprendizagem de uma língua é encorajadora. O missionário que vai a outra
cultura deve perceber logo a importância da língua como seu vínculo àquela
sociedade, o que o deveria motivar o suficiente a aprendê-la.
Porém, sem dúvida há outros fatores além da motivação envolvidos
no processo.
O primeiro fator que queremos mencionar é que precisamos aprender a ouvir. De acordo com Jean-Yvon
Lanchec, ao aprendermos a falar,
perdemos um pouco a capacidade de ouvir. Nossos ouvidos ficam
tão treinados a ouvir os tipos de som de nossa língua que não ouvimos bem os
sons de outras línguas.
Como exemplo, falantes do alemão ouvem bem os sons médios, mal
os sons agudos enquanto que falantes do espanhol ouvem muito bem os sons graves
e falantes do inglês ouvem bem os agudos.
O sotaque em outras línguas nem sempre é uma falha na produção,
quando uma pessoa está tentando falar um som que ouviu. Muitas vezes reflete a incapacidade
de ouvir bem e diferenciar os sons.
Como exemplo podemos citar que muitos brasileiros produzem o
"think” (pensar) do inglês da mesma maneira que produzem "sink”
(afundar), porque em português não temos o som do "th” dessa palavra do
inglês. Como o que ouvimos parece com o "s” inicial das palavras em português,
na hora de produzirmos, utilizamos o "s”.
Se às vezes nem conseguimos ouvir que há uma diferença, como
resolver esse impasse? Creio firmemente que duas coisas são essenciais: a
consciência de que, precisamos gastar muito mais tempo escutando atentamente e
a ampliação da nossa percepção de sons diferentes. Precisamos reaprender a
ouvir.
Como adultos participantes de diálogos na nossa cultura gastamos
muito tempo falando.
Quando chegamos a outra cultura temos de passar um bom tempo
calados, observando e aprendendo, o que é uma mudança de comportamento à que
temos de nos adaptar.
Para a ampliação de nossa percepção, deveríamos ser expostos à
fonética internacional de modo sistematizado, o que é possível através de um
curso de fonética.
Isso não quer dizer que vamos todos nos tornar professores de
fonética, mas sim que aprenderemos a ouvir as diferenças de modo a
identificá-las nas outras línguas.
Uma vez identificadas as diferenças, teremos de perceber quais
dessas diferenças são importantes na língua que queremos aprender. Diferenças
do tipo acima mencionado, "th” versus "s”, são importantes no inglês.
Sabemos disto porque se produzirmos um ou outro som estaremos
produzindo duas palavras completamente diferentes. Em linguística se diz que
são dois fonemas diferentes. Outras diferenças que precisamos aprender a
escutar são diferenças de ritmo e entonação.
Somente depois de aprendermos a ouvir é que seremos capazes de
conscientemente melhorar nossa produção desses sons.
Cabe aqui uma observação interessante: existe uma idéia de que
algumas
pessoas têm maior facilidade para aprender línguas. Um bom
ouvido para música às vezes é apontado como causa. Ora, o que é um bom ouvido
para música?
É a capacidade de reproduzir facilmente um som ouvido.
Parece-me, portanto, que além de uma facilidade de escutar
variações nos sons, é muito importante a habilidade de imitar sem inibições.
Pessoas que "pegam” o sotaque dos outros demonstram um desejo subconsciente de serem parte de um grupo e de serem aceitas via identificação, fatores que sem dúvida contribuem muito para aprenderem das pessoas sua língua bem como sua cultura.
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário, ele é muito importante para melhorarmos o nosso trabalho.
Obrigado pela visita, compartilhe e
Volte Sempre.