DESAFIOS DA IGREJA NO CAMPO MISSIONÁRIO
O SOFRIMENTO NO CAMINHO MISSIONÁRIO DA IGREJA.
Fp 1.12-18
Frequentemente recebo mensagens de irmãos, que
me chegam de várias regiões do Brasil, perguntando sobre as provações e os
sofrimentos que passamos no campo missionário, como se a vida e o trabalho
missionário fossem compostos apenas de problemas, provações e perseguições.
Ou como se viver o cristianismo aqui no Brasil
fosse uma realidade totalmente oposta à do campo missionário, como se fosse
livre de pressões e perseguições. Ou como se aqui não fosse necessário tomar
decisões profissionais, pessoais, familiares e ministeriais com base na ética
cristã.
Até que é fácil entender esse conceito, porque já se tornou
convencional que a obra missionária sempre se relaciona diretamente com
terríveis privações, com perseguições satânicas e com o capeta de olhos vermelhos
esbugalhados e fedendo a enxofre, espetando a gente com aquele garfo imenso que
ele segura.
Bom, de certa forma, muitos missionários são
responsáveis por manter esse conceito, contando histórias que abastecem esse
imaginário fantasioso sobre missões que muitos de nós temos.
Nesse sentido, o texto de filipenses nos ajuda a entender um pouco
melhor a relação que há entre o sofrimento cristão e a obra missionária. Mas
veja bem que estou me referindo ao sofrimento dos “cristãos” e não
exclusivamente ao sofrimento dos “missionários”.
O conceito central aqui é que todos os
cristãos, inclusive os que servem nos campos missionários, passam por
privações, sofrimentos e dores por se manterem fiéis aos princípios da palavra
de Deus, a exemplo do próprio Jesus Cristo que aceitou o sofrimento da cruz
para tornar concretos os planos eternos do Pai de redimir e salvar os seres
humanos.
A carta aos filipenses foi uma das cartas que Paulo escreveu
quando estava preso em Roma e é importante lembrar que sua prisão não foi por
motivos de criminalidade, ou seja, ele não foi preso por haver cometido um
crime.
Foi acusado e preso pelo ciúme dos lideres
religiosos dos judeus que não queriam que ele pregasse a Cristo e que criaram
um grande alvoroço em Jerusalém, atiçando o povo contra Paulo, lançando mão
dele e começando a linchá-lo em praça pública, até que as forças militares
romanas o impediram (At 21.27-36).
Três anos depois, ainda detido, foi levado
para Roma onde ficou em uma prisão domiciliar por mais dois anos por haver
apelado a Cesar.
Diante disso, encontramos alguns elementos no texto lido que nos
ajudam a compreender melhor a relação entre o sofrimento cristão e o caminho
missionário da igreja no mundo:
1. O SOFRIMENTO COMO UMA PLATAFORMA MISSIONÁRIA (1.12-13):
No texto lido, Paulo toca em um assunto que
muitos hoje consideram delicado: A SUA PRISÃO.
Como um apóstolo ou um cristão pode ser preso?
Ele fala abertamente de sua prisão em Roma e de que perspectiva ele via e
entendia esse seu sofrimento.
Ele estava preso em Roma por haver anunciado o
evangelho; era, sem dúvida, uma dura provação para quem entregara a vida a
Cristo e ao serviço missionário. Talvez perguntasse o porquê daquela provação.
Não seria melhor se houvesse ficado em Tarso vivendo sua vida como os demais
irmãos?
Entretanto, Paulo aprendeu a ver a ação de Deus em todas as
situações. No caso particular de sua prisão, ao invés de pensar que estaria
melhor em Tarso ou em qualquer outro lugar longe daquela desconfortável e
complicada situação de prisioneiro, concluiu que através do que lhe ocorrera a
obra da evangelização estava progredindo.
O “progresso do evangelho”, na visão do
apóstolo, não estava condicionado pelo sucesso do número de conversos ou pelo
sensível crescimento nas arrecadações. Antes, o “progresso do evangelho” era
lido por Paulo pelo prisma do sofrimento da prisão e das decorrentes limitações
humanas.
Via o “progresso do evangelho” na medida em que os pretorianos (a
guarda do palácio) e todos os demais servidores e moradores do palácio tomavam
conhecimento da verdadeira razão de seu encarceramento. Paulo encontrava em
suas limitações humanas o caminho para a evangelização.
Paulo aprendeu a ver o caminho de Deus entre as provações e dores
humanas, principalmente em sua própria situação de vida. Como ele, podemos
rever nossos próprios caminhos como missionários e como cristãos, encontrando
em nosso dia a dia (com suas dores, limitações e provações) formas de
evidenciar às demais pessoas o valor de Cristo e sua salvação em nossas vidas.
Em meio a uma sociedade (igreja também?) que busca ansiosamente a
chave do sucesso e da felicidade humana, tomar e padecer a cruz de Cristo (Mc
8.34-38 e par) e segui-lo vida a fora, tornando com amor o evangelho evidente
aos seres humanos, poderia ser o “progresso do evangelho” de que o texto fala e
que Deus espera de todos os seus filhos.
2. O Sofrimento Como Uma Motivação Missionária (1.14):
O principal resultado que o apóstolo Paulo
encontrou ao ver a ação de Deus através de seu próprio sofrimento enquanto
estava aprisionado em Roma, é que a grande maioria dos irmãos se sentiram
motivados pelo próprio Deus a anunciarem a palavra sem medo e com maior
determinação ao verem o encarceramento injusto de Paulo.
A motivação não fora meramente circunstancial, devido a prisão de
Paulo. A prisão foi o veículo histórico que naquele momento Deus usou para
despertar a vocação e revigorar a determinação da igreja para a evangelização.
Da mesma forma, Paulo não usou seu sofrimento
na cadeia como um recurso persuasivo para que a igreja se envolvesse mais com
seu ministério. Quem tirou o medo (e todas as razões perfeitamente elaboradas)
do coração dos crentes e deu-lhes maior determinação em pregar foi o próprio
Deus.
É somente Deus quem pode motivar o seu povo
(missionários incluídos, obviamente!) para uma obra de evangelização e ensino
consistente da palavra.
Entretanto, a motivação dada por Deus, no caso do texto, veio
através do sofrimento de Paulo ao ser encarcerado justamente por pregar o
evangelho. Ao olhar para o sofrimento, para as provações e para as dificuldades
impostas pelo mundo incrédulo ao evangelho de Cristo e aos seus seguidores (Jo
15. 18-26), devemos desviar nossos olhos das circunstâncias que nos limitam e
amedrontam e fixar nosso olhar (mente e coração) na dádiva graciosa da vida
concedida por Deus (Hb 12.2) e, assim, seguirmos nossa vida dando os frutos de
boa obra que agradam e glorificam ao nosso Deus (Cl 1.10-14).
Os sofrimentos e as dificuldades trazidos pelo mundo incrédulo em
decorrência da fiel pregação do evangelho podem variar dependendo da época
histórica, do lugar ou da filosofia predominante.
Mas precisamos aprender a vê-los não como
elementos que nos amedrontam e nos fazem retroceder, mas como vitórias a
conquistar.
A maioria daqueles irmãos foram motivados pelo Senhor ao verem e
sentirem o sofrimento de Paulo, o seu medo se foi e a sua determinação cresceu.
De igual forma, nós hoje precisamos encontrar em Deus, mesmo em meio a
sofrimentos e provações, a verdadeira força para seguir adiante na proclamação
da palavra e do evangelho de Jesus Cristo.
3. OS SOFRIMENTOS COMO PREJUÍZOS MISSIONÁRIOS (1.15-18):
Paulo acabara que dizer que sua prisão servia
como plataforma de missão e que a maioria dos irmãos estavam motivados no
Senhor a pregar a palavra pelo sofrimento do apóstolo (1.12-14).
Em relação a isso, Paulo reconhece que também
haviam motivos e sentimentos opostos entre os irmãos em relação à sua prisão e
à evangelização, o que indicava um nível de sofrimento que compromete a missão,
pois se tratavam de sentimentos de inveja e ira egoístas entre os irmãos.
Uns pregavam porque sentiam inveja e rivalidade, enquanto outros
proclamavam de boa vontade. Os que proclamavam de boa vontade o faziam por
amor, tendo claro em suas mentes que o apóstolo havia sido destinado por Deus,
para defender o evangelho.
Os que pregavam sentindo inveja e rivalidade
com Paulo, o faziam motivados por uma inveja egoísta, pela ambição egoísta e
sem nenhuma sinceridade, não por motivos puros. Na verdade, estes supunham que
ao pregar assim poderiam infligir um maior sofrimento a Paulo, aumentando a
dureza da circunstância que ele já sofria na prisão. Hoje em dia, um tipo de
sofrimento que causamos a nós mesmos por falta de compromisso com Deus poderia
ser a crescente falta de credibilidade da igreja como instituição e dos
cristãos como pessoas diante da sociedade.
Embora todos esses contrastes de sentimentos e motivações puros e
impuros estivessem, e continuam estando, muito presentes entre todos os irmãos
que anunciam a palavra de Deus, Paulo não se deixou afetar por eles. Estava bem
consciente de que o que realmente importa no caminho missionário da igreja, e
que devemos assumir é que Jesus Cristo seja, de fato, anunciado ao mundo
independente dos conflitos de motivações e de sentimentos entre nós.
Nesse sentido, entretanto, é fundamental observar que as
diferenças mencionadas no texto e que pouco importam no resultado da
evangelização do mundo são diferenças nas motivações e sentimentos pessoais.
Não se tratam de diferenças nos conceitos quanto à verdade do evangelho e da
palavra de Deus.
Ou seja, o que estou tentando dizer é que o
conteúdo bíblico-teológico da evangelização do mundo não é o que está em jogo
aqui. Este conteúdo conceitual, ao que o apóstolo faz referência quando diz que
estava preso por haver sido destinado por Deus para defender o evangelho de
Jesus (1.16), sim, deve ser protegido. Na verdade, Paulo reconhece que os
irmãos que pregavam Cristo por amor o faziam por saber dessa verdade.
Diante disso, é importante manter e defender o conteúdo da fé e
nos alegrar com o fato do evangelho ser pregado a todo o mundo, mesmo que há
sentimentos e motivos contrastantes entre todos os cristãos. Sabendo disso,
também nos cabe uma séria revisão dos sentimentos que nos motivam a pregar,
visto que os que anunciam o evangelho de Jesus Cristo devem fazê-lo por um
profundo amor, gratidão e boa vontade.
CONCLUSÃO
No caminho missionário da igreja os diversos tipos de sofrimentos
são inevitáveis, pois o mundo sempre se opõe aos valores e aos princípios da
palavra e do reino de Deus. Que perseguições e sofrimentos a igreja e os
cristãos sofrem hoje quando se consagram à vida missionária de levar o
evangelho a todos os demais seres humanos do mundo?
ALGUMAS SUGESTÕES:
a) denúncias, prisões e extradição (Marrocos)
b) prisões, torturas e morte (Turquia)
c) igrejas invadidas, destruídas ou queimadas (Uzbequistão)
d) desinteresse e total apatia em relação à fé (Europa)
e) exclusão da fé ao âmbito privado e pessoal (Europa)
f) a completa separação entre a fé e a ética (Brasil, Europa)
g) nominalismo (USA, Europa e agora crescente no Brasil)
h) o estabelecimento de una fé pluralista e sem absolutos
Estas e outras perseguições e sofrimentos, que variam de acordo
com a época histórica e o contexto social, religioso e filosófico, sempre
seguirão a igreja em seu caminho missionário.
Devem ser vistos como desafios e não como
impedimentos; como disse Cristo: “neste mundo vocês terão aflições; contudo,
tenham ânimo! Eu venci o mundo” (Jo 16.33)
Rev. Carlos del Pino
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