DESAFIO MISSIONÁRIO - RELACIONAMENTOS
MISSÃO É RELACIONAMENTO
MISSIONÁRIA FALA SOBRE SUA PRIMEIRA
ATIVIDADE TRANSCULTURAL E ENFATIZA O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
* Por Rafaela A. de Souza
Há um novo cenário nas missões
brasileiras. Novas estratégias estão sendo introduzidas e a visão do
missionário está sendo reconfigurada. Com a criação de centros de treinamento,
a preparação do missionário está mais completa, e este é capacitado com
ferramentas eficientes para resolver as mais diversas situações que possam
ocorrer no campo.
Na entrevista a seguir, a jovem
missionária Nayara Kênia Silva fala sobre a identidade do missionário no século
21 e a importância do relacionamento no campo.
Nayara tem 30 anos e nasceu em Natal,
Rio Grande do Norte. É professora de dança e missionária da Igreja do Nazareno
da cidade. Em 2016, participou do Vocare e, no ano seguinte, iniciou o
curso de missão integral no Centro Evangélico de Missões.
Nayara participou de sua primeira missão transcultural em outubro de 2018,
quando serviu em projetos de alcance a crianças em vulnerabilidade social no
Quênia.
Quando se fala em missão no Brasil
lembra-se da chegada dos portugueses missionários no país com o objetivo de
catequizar os povos indígenas. Qual é a identidade do missionário no século 21?
Hoje, nós entendemos que a missão vai
além de algo que se pode oferecer para às pessoas. Me refiro ao
assistencialismo, pois, durante muito tempo, fez-se missões oferecendo educação
e saúde em algum país ou etnia específica.
Hoje em dia, existem os profissionais
em missões. A gente
tem o exemplo na Bíblia do Apóstolo Paulo: ele foi um missionário que levantava
seu próprio sustento, quando necessário, fazendo
tendas. E agora, mais especificamente, profissionais em missão são os
missionários do século 21. Eles estão entrando em países para atuarem
profissionalmente como empresários, nutricionistas, médicos e professores,
entre outras profissões. Estão dentro de hospitais, escolas, empresas e atuam
na comunidade desenvolvendo o ministério através do relacionamento.
Entende-se hoje que a missão não é
simplesmente oferecer algo às pessoas e tchau. É no relacionamento
com elas que é possível ensinar a bíblia e mostrar quem é Jesus.
COMO É A FORMAÇÃO MISSIOLÓGICA DESSE
MISSIONÁRIO MODERNO?
É algo que se propagou com a criação de
centros de treinamentos denominacionais e interdenominacionais, e também é uma
demanda urgente. Por muito tempo, acreditava-se que missionário era aquele que ia
para outra cultura apenas com o conhecimento bíblico. Hoje em dia já não é
assim. Entende-se a importância do conhecimento bíblico, que é fundamental, mas
entende-se também a necessidade do conhecimento missiológico. Ou seja: o
entendimento sobre antropologia, fenomenologia, história da missão, entre
outras coisas.
Muitos jovens se envolvem nas ações
evangelísticas dentro da igreja, e isso é maravilhoso. Mas, a partir do momento
que ele tem a certeza de que vai estar indo para outro lugar, a preparação é
fundamental para que ele não se machuque no campo e não desconstrua o que Deus
está fazendo naquela cultura.
ALÉM DA FORMAÇÃO MISSIOLÓGICA, O QUE
MAIS É NECESSÁRIO?
Indico para qualquer pessoa que deseja
estar em missão fazer uma graduação e, se puder e tiver mais tempo, fazer um
mestrado, um doutorado. Se no âmbito trabalhista hoje querem as melhores
pessoas, então pra estar em missão eu tenho que ser muito bom, muito bem
preparado no que faço. Eu não vou ser um missionário porque eu não dei certo em
outra coisa, eu vou ser um missionário porque tenho convicção do meu chamado e
sou tão bom na minha profissão que quero entregá-la totalmente para servir as
pessoas.
O MISSIONÁRIO EM TEMPO INTEGRAL DEDICA
SUA VIDA À MISSÃO. VOCÊ PENSA EM CONSTRUIR FAMÍLIA?
Sempre sonhei em ter família, mas eu
entendi que constituir uma família não era a minha missão principal. Estar no
centro da vontade de Deus é realmente o que eu quero, desejo cumprir a missão
dele para mim, em família ou não.
QUAIS FORAM SEUS PRINCIPAIS DESAFIOS EM
SUA PRIMEIRA MISSÃO TRANSCULTURAL?
O Quênia foi colonizado pelos
britânicos, eles receberam o inglês como o idioma oficial. Mas uma segunda
língua também foi estabelecida, o suaíli, por ser um idioma local de uma das
maiores etnias dentro do Quênia, a etnia Massai Mara.
O idioma foi uma das minhas
dificuldades na experiência transcultural. Eu ministrei aulas, discipulado,
desenvolvi atividades com jovens e crianças, tudo isso me comunicando em
inglês. Eu tive uma supervisora americana e outra queniana que falava quatro
idiomas. Ela me ajudou muito.
COMO FOI SEU RELACIONAMENTO COM AS CRIANÇAS QUENIANAS?
Foi muito gostoso estar com elas. As
crianças são muito abertas e foram as minhas melhores professoras. Foi tão
interessante como a gente se relacionou, que às vezes eu nem terminava de falar
e eles já entendiam o que eu estava querendo dizer. Algo que me marcou foi
compreender a necessidade de falar o “idioma-mãe”.
A maioria das crianças falam suaíli.
Então, quando eu falava “Oi, tudo bem?” em suaíli, e elas me ouviam falando no
idioma delas, o brilho no olho aumentava. Elas se abriam mais facilmente. Era
mais fácil achegar-me a elas. Mesmo que fosse com uma simples conversa, até
aprendi a contar de 1 à 10 em suaíli com elas.
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* Rafaela A. de Souza é estudante de
comunicação e jornalismo
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