MISSIONÁRIAS SOLTEIRAS
COMO
TENHO VIVIDO A REALIDADE DE MISSIONÁRIA SOLTEIRA?
Texto de autoria da Miss: Antonia Leonora van der Meer
No início da vida missionária, trabalhei como
solteira entre estudantes da Aliança Bíblica Universitária do Brasil
(ABUB), em várias regiões do Brasil. Estava em contato com muitos amigos,
homens e mulheres, e sentia-me valorizada e feliz. Podia usar minha
criatividade em várias atividades e publicações.
Depois entendi que Deus me chamava para servir em
Angola. Lá, ajudei a começar o ministério estudantil. Era uma realidade muito
diferente. Mulher solteira não havia ali. Uma moça deveria se casar antes dos
25 anos e só era vista como adulta depois de ter um bebê. Por um tempo,
questionei a sabedoria de Deus em me enviar a um país onde mulheres
praticamente não tinham influência na igreja.
Mas eu estava em outra categoria, era missionária.
Assim, comecei a ser respeitada, tornei-me amiga de muitas famílias e jovens
desejosos de conhecer a Jesus e crescer na fé. Fui enviada sozinha. Conheci
alguns brasileiros durante uma visita anterior. Um dos grandes desafios foi
encontrar um lugar para morar: as cidades estavam abarrotadas de pessoas que
fugiam das guerras no interior. Deus me ajudou de forma inesperada e consegui
um lugar excelente, tomando conta de um apartamento.
Mas logo todos os meus amigos brasileiros viajaram.
Aí me senti mais sozinha. Felizmente, acabei me integrando na igreja e fui
convidada para ajudar em um acampamento de jovens, a princípio visitando como
preletora. Eu disse que preferia ficar no acampamento e conviver com os jovens.
Ficaram preocupados, porque não havia as “condições necessárias”. Respondi que
podia viver nas mesmas condições deles. Ficaram felizes e, a partir daí,
tornei-me pessoa chave nos acampamentos.
Também sentia satisfação no ministério de visita às
vítimas de guerra nos hospitais. Eram pessoas solitárias e muito sofridas. Uma
palavra amiga, uma leitura bíblica, uma oração, um ouvido atento, significava
muito para eles. Era uma luta, mas me enchia de alegria e fiz amizades
profundas com crianças e adultos. Essa amizade fazia doer bem menos as saudades
da família, especialmente na época do Natal.
Contudo, também precisava de pessoas amigas, com
quem pudesse abrir o coração e confessar minhas dificuldades. Deus proveu por
meio de algumas amigas brasileiras e estrangeiras. Além disso, amizades
verdadeiras com pessoas angolanas me ajudaram na adaptação cultural.
Sempre pensei que, voltando ao Brasil, recuperaria
as amizades, além do vínculo com a família. Mas não imaginava o quanto seria
duro esse retorno; não sabia nada sobre choque reverso. Foi uma fase muito
difícil. Percebi que várias pessoas com quem tentava me abrir não compreendiam
o que se passava comigo. Porém, Deus me deu novas amizades preciosas, as quais
ajudaram a me sentir em casa, a voltar a ter alegria na vida, a perder a
insegurança e a desorientação.
Essa caminhada pessoal influenciou o meu desejo de
produzir o livro Solteiros,
Mas Não Solitários, lançado recentemente com a contribuição de vários autores.
Minha oração é que o livro seja uma ferramenta preciosa tanto para solteiros
quanto para pessoas que atuam no cuidado de pessoas solteiras. Afinal, Jesus
também foi solteiro – e não solitário – e teve um ministério muito frutífero.
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Fonte: Artigo originalmente
publicado na edição 370 da revista Ultimato, você pode lê-lo também neste link.
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