PARABOLA DO SEMEADOR
A MISSÃO DO SEMEADOR
Por: Ruben Celeti
Quando a Parábola do Semeador é usada
como exemplo para incentivar missões, geralmente faz-se isso sob o viés de uma
interpretação do texto de Mateus 13 muito específica.
Nela, somos encorajados a semear a boa
semente enquanto o Espírito Santo faz sua obra convincente nos diferentes
caminhos, pedras e espinhos dos corações dos ouvintes. E, caso a semente caia
em terra fértil, a colheita pode render 30, 60 ou até 100 vezes mais. Cremos nessa verdade: levamos
conosco a boa semente do Evangelho, que nos capacita a semear graça e o amor de
Deus na vida das pessoas. Somos chamados a participar dessa seara e da obra do
Semeador.
É possível que foquemos nessa explicação e entendimento — de semear a boa semente enquanto Ele realiza Sua obra — justamente por Jesus ter explicado essa parte da parábola aos seus discípulos.
Focamos na boa semente que
levamos, acreditando que não temos muito o que fazer em relação ao solo e ao
terreno nas quais as sementes cairão. Esperamos e até oramos para que ela caia
em terra fértil.
Comecei a procurar uma explicação para o porquê de um semeador, com todo seu conhecimento, habilidade e comprometimento, simplesmente jogar sementes pelo caminho. Eles não fazem isso. O semeador passa por um processo longo e cansativo de limpar o terreno, arar a terra e aguar as plantas até que estejam crescidas.
Se compararmos com outros textos das escrituras, temos uma compreensão mais completa da Parábola do Semeador. Jeremias 4:3 explica: “Assim diz o Senhor ao povo de Judá e Jerusalém: ‘Lavrem seus campos não arados e não semeiem entre espinhos'”. Para aqueles que estavam ouvindo a parábola, todo o trabalho necessário antes do semear já estava implícito naquilo que Jesus explicava.
Se aplicarmos isso ao trabalho social ou à “diakonia” da igreja, não é diferente. A fome desesperadora leva pessoas a semearem pelo caminho simplesmente e, muitas vezes, interpretamos os cenários ao nosso redor como desesperadores.
Começamos a semear ajuda humanitária/
trabalho social em toda direção na expectativa de que um pouco caia em terreno
fértil. Ajuda humanitária e socorro imediato são importantes, mas tornam-se um
investimento contraproducente de tempo e dinheiro se o trabalho fica somente
nisso.
Certamente há situações que exigem
ajuda humanitária, mas a maioria requer transformação e desenvolvimento
comunitário que só é possível por meio de uma completa mudança de cosmovisão.
Os velhos espinhos e arbustos de religião falsa e sincretismo devem ser
removidos. O coração deve ser revirado e amaciado. E finalmente a boa semente
pode ser plantada. Por isso, cometemos erros metodológicos em
nosso trabalho missionário ou de desenvolvimento.
Um deles é o que já abordamos, quando
colocamos muita ênfase nos tipos de solo (ou nos corações de quem escuta a
mensagem). Assim, tendemos a nos isentar de qualquer responsabilidade no
processo. Temos a boa semente e, até certo ponto, estamos livres do
comprometimento, excelência, empenho ou sacrifício pessoal – a boa semente já é
boa o suficiente.
O segundo equívoco acontece porque nós,
no ocidente, adoramos números e nos esforçamos tanto em produzir 30, 60, e 100
vezes mais plantas que acabamos negligenciando o ciclo completo que envolve
preparação, plantio, crescimento, colheita, até chegar ao ponto de plantar
novas sementes. Assim que novas plantas germinam, contamos quantas são e
fazemos marketing como se fossem uma comunidade crescida, já produzindo e dando
frutos. Esse padrão de pensamento leva a um complexo de salvador e ao
investimento em trabalho de ajuda humanitária que gera muitos números – e é
extremamente útil para levantar recursos –, mas gera mais danos e pouca
transformação a longo prazo.
Por isso, promover desenvolvimento é
tão desinteressante. Primeiramente, os semeadores só podem plantar sementes uma
vez que eles estão preparados, quando seus próprios corações estão prontos.
De acordo com Oswald Chambers, “Quando
as necessidades de Deus em nós foram atendidas, só então Ele abrirá o caminho
para que cumpramos suas necessidades em outro local”. Deus precisa primeiro
arrancar pela raiz nosso complexo de salvador e nosso orgulho antes de poder
nos usar. Esse processo é doloroso e humilhante, mas é o processo que Deus usa
para refinar nosso caráter.
O segundo motivo para ser tão
desinteressante praticar desenvolvimento é que não há adoração dos números. O
verdadeiro semeador compreende que a germinação é um milagre. Ele deve
diligentemente fazer sua parte, mas é o Espírito Santo que faz brotar a vida em
cada coração.
Além disso, e muito honestamente, o
processo de semear corretamente tende a demorar demais para que os resultados
sejam vistos durante uma vida.
Somos comissionados a ir e fazer
discípulos (semear a boa semente), mesmo que formos tentados a simplesmente
lançar sementes por aí e culparmos o terreno pelo sincretismo, secularização e
dureza de coração.
Desenvolvimento verdadeiro é o processo de discipulado por meio de uma mudança na cosmovisão que leva a viver o Reino na comunidade local. É lento e requer sacrifício, mas é o que Jesus nos chamou para fazer a longo prazo, a darmos um passo além de uma ajuda imediata e pouco transformadora.
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