PREPARO PRÉ CAMPO MISSIONÁRIO
A IMPORTÂNCIA DO PREPARO MISSIONÁRIO
2zPor Florencio Moreira de Ataídes
Bacharel em teologia pelo Seminário
Presbiteriano Renovado e mestre em missiologia pelo CEM - Centro Evangélico de
Missões
Neste texto, o apóstolo Paulo dá algumas orientações ministeriais ao seu bom discípulo e amigo Timóteo acerca de seu relacionamento com Deus e sua Palavra. Paulo enfatiza a necessidade da continuidade do trabalho por meio do ensino a outros discípulos, quando diz: "E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros" (2Tm 2.2).
Observamos que Paulo está preocupado com a continuidade de seu ministério após a sua morte e, por isso, admoesta Timóteo para que transmita todo o conselho de Deus a homens fiéis e esses, por sua vez, transmitiriam a outros, e assim por diante.
Paulo
seguia o exemplo de Jesus, demonstrando coragem e disposição em investir tempo
com seus discípulos, a fim de prepará-los para uma obra que deveria ser
expandida. Jesus nos deu um grande exemplo em como preparar pessoas, ficando
três anos com os seus discípulos, ensinando-os dia a dia, até que pudessem
levar adiante a obra de Deus.
O resultado desse investimento é que todos os
discípulos (com exceção de Judas, é claro) tornaram-se missionários e, por
conta disso, o evangelho chegou aos cantos mais longínquos da terra. Esses
discípulos, seguindo o exemplo do Mestre, plantavam igrejas e faziam
discípulos, preparando-os para que dessem continuidade à missão de pregar as
boas-novas a toda criatura.
Infelizmente,
com o passar dos tempos, a Igreja deixou de se preocupar com o ministério -
principal motivo do seu chamado, que é a proclamação do reino de Deus,
considerando-o secundário. Para o exercício do ministério, de acordo com o que
Deus deseja, a Igreja precisa ter discípulos devidamente preparados, imbuídos
de uma visão correta de sua missão. A Igreja deve ter a consciência de que
jamais realizará o projeto de Deus se não investir no preparo daqueles que são
chamados.
Há
algum tempo, pouco era dito sobre a capacitação, principalmente de
missionários, mas estudos recentes têm mostrado a urgente necessidade de um bom
preparo, a fim de evitar transtornos no campo, inclusive o retorno prematuro
dos missionários.
Existe uma corrente de pensamento que alega que o preparo
missionário não é necessário. De acordo com essa linha de pensamento, é fácil
falar de Jesus com quem não temos nenhum tipo de relacionamento ou vínculo; ou
seja, com um desconhecido. É só falar de Jesus! A consequência, ao longo da
história da Igreja, tem sido perdas irreparáveis de obreiros que abandonaram a
obra de Deus por não suportarem as pressões e outros reveses do campo
transcultural.
No
campo, o missionário enfrenta muitos problemas, como, por exemplo, costumes
diferentes, língua, cultura, estresse, depressão, desânimo, além da saudade da
família ou país, entre outros fatores. Sem o devido preparo, tudo isso será
insuportável.
As agências missionárias do Brasil têm se preocupado cada vez
mais em preparar adequadamente os candidatos à obra missionária, evitando-se,
assim, o seu retorno prematuro.
A capacitação visa preparar o candidato para a complexa tarefa de
adaptação cultural e comunicação eficaz do evangelho em outra cultura. Quando
há um bom preparo, o missionário, além de estar ciente dos possíveis choques,
consegue fazer uma contextualização correta para comunicar a Palavra de Deus
com fidelidade, evitando o sincretismo ou o transporte de sua cultura para o
povo em meio ao qual está trabalhando.
Está provado que, quanto melhor o preparo, menor o perigo de retorno
prematuro e outras consequências desagradáveis ao campo, à agência, à igreja
enviadora e ao próprio missionário. Adotar novos costumes é extremamente
estressante e gera crise em qualquer pessoa, e essa crise, por sua vez, é
comparada à mesma que um soldado experimenta quando vai à guerra. Em razão
dessa situação estressante, é preciso que ele tenha uma âncora, pois, caso
contrário, perderá facilmente o referencial e fracassará.
Segundo Taylor, em média 5% dos missionários voltam prematuramente e,
infelizmente, o Brasil é um dos países que possui a maior taxa de retorno
prematuro do mundo, ou seja, 8,5%. A principal causa é a falta de preparo. Esse
problema faz parte das causas evitáveis e as agências missionárias podem
contribuir para diminuir esse índice investindo num bom preparo de seus
candidatos ao campo missionário.
As desistências acontecem porque o missionário não aguenta as pressões
do campo e aqueles que não foram treinados ficam evidentemente em desvantagem.
Por quê? Entre vários motivos, isso ocorre pela falta de consciência das
dificuldades que vai enfrentar. Como praxe, as escolas de missões preparam os
candidatos em várias áreas:
Espiritualmente: investimento no
crescimento e relacionamento do aluno por meio da oração, do jejum e da leitura
bíblica, por entender que estes quesitos são imprescindíveis na vida do
missionário.
Relacionamento: aprender a viver
em comunidade é fundamental para o desenvolvimento do trabalho missionário
bem-sucedido. É importante que o aluno aprenda a viver em comunidade, pois,
ali, ele é confrontado e resolve seus conflitos. Isso é necessário para que
conheçamos as pessoas que irão para o campo. Se o candidato tem dificuldades em
relacionar-se, precisa ser tratado antes de sair, pois, no campo, pode gerar
vários problemas.
Psicologicamente: as escolas
trabalham o lado psicológico dos candidatos visando conscientizá-los das
dificuldades que enfrentarão e, por meio do pastoreio do missionário, dá o
acompanhamento específico para ajudá-lo a superar os possíveis traumas e outros
problemas.
Culturalmente: o problema do
choque cultural tem sido a causa de muitos retornarem do campo. Na escola, ele
vai ser conscientizado das dificuldades que pode enfrentar e como lidar com o
choque que, inevitavelmente, em maior ou menor proporção, ocorrerá.
A doutora Antonia Leonora van der Meer diz: "O preparo cultural do
missionário é a chave para uma boa adaptação, integração no campo e o bom êxito
do seu ministério" (revista Capacitando, p. 25). A preparação não elimina
automaticamente os problemas de adaptação, mas diminui o impacto dos mesmos,
deixando o missionário mais sensível à realidade.
Mas, quando começa o preparo do missionário? Na igreja, evidentemente,
mas continua com o curso teológico e a escola de missões. A igreja local deve
cumprir o seu papel de preparar e indicar pessoas qualificadas para estudarem e
serem enviadas ao campo. Raramente, pensa-se na igreja como um lugar de
preparo, no entanto, ela deve ser o primeiro seminário do missionário, depois,
sim, o preparo formal. A igreja não pode se esquivar do papel de educação
cristã, preparando os seus membros para desempenhar o ministério (Ef 4.12).
O candidato à obra missionária precisa ter maturidade espiritual e
emocional, e, acima de tudo, compromisso com Deus. É imprescindível que o
candidato conheça bem a Palavra de Deus e tenha forte convicção do chamado de
Deus para a sua vida. Deus não chama missionários simplesmente, mas servos que
estejam dispostos a dedicarem-se inteiramente a Ele.
Amado leitor, você tem um chamado de Deus para a sua vida e quer que Ele
o use na sua obra? Então, "procura apresentar-te a Deus aprovado, como
obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja bem a palavra da
verdade!" (2Tm 2.15).
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Referências bibliográficas:
ADIWARDANA, Margaretha N. Missionários: preparando-os para preservar.
Londrina/PR: Descoberta Editora, 1999.
TAYLOR, William D. Valioso demais para que se perca. Londrina/PR:
Descoberta Editora, 1998.
TOSTES, Silas. Missões brasileiras em resposta ao clamor do mundo. João
Pessoa/PB: Betel Publicações, 2009.
REVISTA Capacitando para missões transculturais, nº 6, 1998.
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