COMO ORAR PELA IGREJA PERSEGUIDA
COMO ORAR PELA IGREJA PERSEGUIDA?
Por: Délnia Bastos
Para nós, que vivemos em contexto de
“não-perseguição”, não é muito fácil interceder de forma correta pelos cristãos
perseguidos. A realidade parece ser tão distante da nossa e nem mesmo sabemos
qual é exatamente o pedido de oração deles.
Antes, eu orava com extrema compaixão, com pena
mesmo, e pedindo a Deus que os livrasse de tanto sofrimento e perseguição.
Hoje, depois de conhecer alguns cristãos perseguidos, mudei meu jeito de
interceder. Compartilho aqui alguns pontos que tenho aprendido:
Devemos interceder pelos cristãos perseguidos
não como se eles fossem “coitadinhos”, mas como pessoas dignas, que se sentem honradas por participar dos
sofrimentos de Cristo.
Há muitas passagens bíblicas que mostram isso.
Vejamos o trecho da Primeira Carta de Pedro, escrita em contexto de intensa
perseguição ao evangelho (1 Pedro 4.12-16)1:
”Amados, não se surpreendam com o fogo que surge
entre vocês para os provar, como se algo estranho lhes estivesse acontecendo.
Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que
também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria. Se
vocês são insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês, pois o
Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vocês. Se algum de vocês
sofre, que não seja como assassino, ladrão, criminoso, ou como quem se
intromete em negócios alheios. Contudo, se sofre como cristão, não se
envergonhe, mas glorifique a Deus por meio desse nome”.
Devemos pedir por intrepidez, coragem, sinais e poder – não necessariamente por livramento, segurança e
tranquilidade. A passagem escolhida para ilustrar isso é a oração feita pela
igreja primitiva, logo que Pedro e João saíram da cadeia (Atos 4.29-31):
Agora, Senhor, considera as ameaças
deles e capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente.
Estende a tua mão para curar e realizar sinais e maravilhas por meio do nome do
teu santo servo Jesus. Depois de orarem, tremeu o lugar em que estavam
reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a
palavra de Deus.
Que Pedro e João transformados! Não mais pediram que
caísse fogo do céu sobre os seus perseguidores... Nem mesmo pediram o
cessar-fogo, mas que fossem fiéis e ousados debaixo do fogo cruzado da
perseguição ao nome de Jesus.
Devemos interceder crendo na soberania de Deus, que usa o sofrimento e a perseguição para os
seus desígnios de alcançar mais pessoas com a sua maravilhosa graça. Paulo
compartilha com Timóteo que, apesar de estar preso, a palavra de Deus não está
algemada (2 Timóteo 2.8-10):
Lembre-se de Jesus Cristo, ressuscitado dos
mortos, descendente de Davi, conforme o meu evangelho, pelo qual sofro e até
estou preso como criminoso; contudo a palavra de Deus não está presa. Por isso,
tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação
que está em Cristo Jesus, com glória eterna.
A sabedoria humana não consegue entender os
propósitos de Deus. Mas, como disse Tertuliano, “o sangue dos mártires é a
semente da igreja”. Ramez Atallah, diretor da Sociedade Bíblica do Egito2, escreveu que há uma grande chance de que o governo egípcio
se torne ainda mais radical. Mas, como um cristão egípcio, ele não se preocupa
muito com isso, e até acredita que os cristãos darão um testemunho muito mais
eficaz, caso a perseguição aumente. Ele tem certeza de que a fé será ainda mais
depurada e haverá mais conversões, apesar (ou por causa?) do sofrimento mais
intenso.
Devemos interceder de forma inclusiva.
É interessante que na área de perseguição, os
cristãos estão todos no “mesmo balaio”: ortodoxos, católicos e protestantes.
Eles são igualmente perseguidos em locais em que radicais de outra religião são
a maioria e a presença cristã os incomoda de variadas formas. Por isso, devemos
incluir todos eles em nossa intercessão.
O relatório de 2010 sobre ações anticristãs,
produzido pela Associação Evangélica da Índia, descreve de forma cronológica as
ações contra protestantes (de diferentes matizes) e católicos no país.
(Trata-se de um impressionante relatório de 27 páginas, contendo dados de ações
de violência e intimidação aos cristãos em 18 estados3)
A Agência Fides4 revelou que em 2010 foram assassinados 23
agentes pastorais católicos no mundo. O dado surpreendente é que o continente
americano foi o campeão, com a morte de 15 destes agentes: 10 sacerdotes, 1
religioso, 1 seminarista e 3 leigos.
DEVEMOS TRANSFORMAR A INTERCESSÃO EM AÇÕES
PRÁTICAS.
A maior necessidade dos cristãos perseguidos é
de encorajamento – por meio de orações, sim, mas também por meio de ações
simples, como:
-Escrever cartas de encorajamento;
- Assinar listas e abaixo-assinados, destinados
a autoridades responsáveis pela integridade física dos cristãos e cidadãos de
um modo geral (há outros grupos religiosos no mundo, não-cristãos, perseguidos
por radicais de religiões majoritárias);
- Prestar advocacia mais ampla, na defesa dos
direitos humanos também na área religiosa;
- Contribuir financeiramente com a igreja
sofredora;
- Ir viver no meio deles, para encorajá-los e
servir à igreja nacional.
Há várias organizações que podem ser procuradas
para nos ajudar a ajudar5. Que Deus nos ensine a orar e a agir como convém
em favor dos nossos irmãos da igreja sofredora.
Notas
(1) As citações bíblicas foram retiradas da Nova
Versão Internacional (NVI).
(2) www.bsoe.org
(3) HOWELL, Richard (Secretário Geral da Evangelical Fellowship of India): "Religion, politics and violence: a report
of the hostility and intimidation faced by Christians in India in 2010."
New Delhi, India, 2010.
(4) Em
Notícias CNBB - nº18 (2113) - 08 a 14/05/2011.
(5) No Brasil, a organização mais conhecida e que
faz um trabalho muito importante é a Missão Portas Abertas (www.portasabertas.org.br). A Associação de Missões Transculturais
Brasileiras pode indicar outras organizações (www.amtb.org.br).
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Délnia Bastos é casada, mãe de três filhos e dirige uma
agência de missões transculturais.
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