PENSAMENTO MISSIONÁRIO DO APÓSTOLO PAULO - 2 PARTE




PARTE  2

A FILOSOFIA MISSIONÁRIA DE PAULO

Russell Phillip Shedd (In memorian)

 

Dr. Shedd apresentou estes estudos em 2 Coríntios 2 a 6 na Consulta Missionária da APMB, AMTB e ACMI em outubro de 1995 em Águas de Lindóia. Com muita bondade ele concordou em escrevê-los para o benefício dos leitores desta revista.

O desafio do Dr. Shedd, e das Escrituras que ele tão habilmente explica, deve nos levar à pergunta: "Os alvos do nosso treinamento missionário têm algo a ver com os ensinamentos e modelos bíblicos?"

Temos objetivos e métodos coerentes com os que podemos ver claramente operando na vida e no ministério do Apóstolo?

Estas lições nos tocam? Levam-nos a transformação? Vamos deixar que Deus fale conosco através da Sua Palavra aqui apresentada.

 

A INVENCIBILIDADE DO MINISTÉRIO (2.14-17)

 

Nossa palavra "triunfo" chegou ao português diretamente do latim. Foi transliterada para o grego thriambeuein que denotava, para os romanos, uma procissão de vitória.

A maior honra que um general romano podia receber do estado era de ser convidado para ir a Roma, para um desfile de reconhecimento supremo. Os candidatos eram limitados.

Só podia ser um general, comandante supremo. Em sua campanha teria que pacificar a região inimiga e as tropas ficarem livres para voltar para casa. O general inimigo teria perdido pelo menos 5,000 soldados numa batalha. O território romano teria que ser estendido às custas do inimigo estrangeiro.

Uma vez cumpridas todas as exigências, o imperador ordenava o desfile triunfal. Na procissão entravam oficiais do estado, senadores e outros generais. Marchavam tocadores de trombetas, seguidos por carregadores de espólios, quadros e modelos de itens tirados do inimigo.

(Quem visita Roma hoje pode ver algo semelhante no arco de triunfo de Tito que celebra a vitória sobre os judeus na guerra de 66-70 a.D.).

Caminhava na procissão um touro branco que era sacrificado eventualmente em gratidão aos deuses romanos que agraciaram a vitória.

Entravam na procissão também sacerdotes, balançando censórios espalhando um perfume de incenso aromático. Juntavam-se músicos para deleitar os acompanhantes e estimular as emoções.

Em enormes filas andavam os presos capturados e destinados ao mercado de escravos. As conquistas romanas tomaram o império, dos dias de Paulo, numa sociedade dividida. Mais da metade era composta de escravos.

Finalmente, chegava o general, juntamente com sua família, em pé, num carro puxado por quatro cavalos de rara beleza.

Em seguida, marchava o exército orgulhoso que lutara sob seu comando na guerra vitoriosa. (Note a discussão de Colin Kruse. 2 Coríntios, Introdução e Comentário. S. Paulo: Ed. Vida Nova, 1994, pp. 95,96).

Este termo, "triunfo", aparece somente duas vezes no Novo Testamento. Além deste texto, o encontramos em Colossenses 2.15, onde Paulo queria expressar a vitória total sobre os inimigos dos altos escalões da hierarquia demoníaca. Jesus Cristo despojou os principados e potestades, "publicamente os expôs ao desprezo, triunfando sobre eles na cruz". Foi especificamente na morte cruel da cruz e na ressurreição que Cristo "tomou cativo o cativeiro"(Ef 4.8). Assim forçou Satanás a entregar o seu direito (exousia, comp. Mt 28.18) e preparou o caminho para a proclamação do evangelho a todas as nações (vv. 19, 20; At 1.8).

A gratidão que Paulo sentia (2Co 2.14) se fundamentava na realidade da vitória que Deus operou na pessoa de Cristo. "Sempre nos conduz", aponta para o fato que, uma vez que Cristo morreu vicariamente, a vitória sobre o inimigo foi garantida. Tudo que acontece na historia é apenas uma complementação do triunfo na cruz. Por isso o apóstolo usa a palavra, "sempre", indicando claramente que não há derrotas no contexto missionário. Na batalha contra Satanás há baixas, feridas e retrocessos, mas nunca derrotas. Deus é soberano e onipotente. Tudo que Ele planeja e decide ocorre (Ef 1.11). Não são as emoções que Paulo tem em vista, mas a realidade.

"Por meio de nós manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento" (v. 14), expressa a visão missionária de Paulo. Onde quer que ele e seus companheiros viajassem, Antioquia, Éfeso, Tessalônica, Filipos, Corínto, poderia se cheirar a fragrância da vitória de Cristo.

Nesta expressão Paulo refere-se a pregação do evangelho que divulga "o conhecimento de Deus" onde não fora conhecido.

Os missionários, como os incensórios dos sacerdotes romanos, exalam um aroma sacrificial. "Nos somos para com Deus o bom perfume de Cristo". É o perfume de Cristo, morrendo na cruz, que emana dos missionários. A personalidade de Paulo e seus colegas estão fundidas, ou incorporadas no "Corpo" de Cristo. Portanto, o cheiro é o mesmo que emanou da cruz (Ef 5.2). Os sacrifícios missionários não devem ser distinguidos claramente do sofrimento de Cristo, ainda que não tenham nenhum valor vicário (Cl 1.24). O importante é não se esquecer que Cristo se identifica com seus obreiros (At 9.5). A vitória de Cristo é partilhada conosco.

A metáfora que Paulo emprega para descrever a disseminação das boas novas é sacrificial (osme euodia representa o "suave cheiro" do sacrifício no Antigo Testamento, cf. Gn 8.21). Destarte, mesmo sendo o bom perfume de Cristo, são os missionários que têm esse aroma "para com Deus" (v. 15). O sacrifício que Paulo sofre é oferecido a Deus. Tem o efeito de separar alguns para vida e outros para morte. A reação dos ouvintes mostra que os que estão "sendo salvos" (grego, tempo presente) e os que "estão perecendo" (grego) escolhem já o seu destino. Podem mudar de direção e destino, mas não é fácil.  O cheiro do sacrifício nas narinas dos que perecem é de morte cada vez mais certa ("de morte para morte"). Naqueles que estão sendo salvos é de vida que se confirma cada vez mais ("vida para vida").

Tudo isto leva Paulo a sentir a seriedade do ministério de evangelização. Conquanto o que está se passando nas vidas dos ouvintes é provocado pelo "bom cheiro de Cristo", nenhuma culpa paira sobre nós.

Mas se nós criarmos algum impedimento (mau cheiro?), que o evangelho não requer e não comporta, colocamo-nos no banco dos réus.

Por isso, Paulo pergunta, "Quem é suficiente para estas cousas?" (v. 16). Em algumas linhas, mais para frente, o apóstolo escreve: "Não que por nós mesmos sejamos capazes de pensar alguma cousa, como se partisse de nós; pelo contrario, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança ..." (3:5,6).

Em contraste marcante, existem obreiros ("tantos outros") que têm outra motivação e alvos distintos. Seus interesses giram em tomo de vantagens financeiras. Hipocritamente querem divulgar um cheiro próprio que não tem nada a ver com a cruz. São "mercadejadores" da palavra, vendendo a mensagem a ouvintes iludidos, como quem vende vinho com água no mercado (o significado do original, v. 17).

Os que sinceramente buscam o bem dos ouvintes e a glória de Deus, exercem seu ministério "em Cristo", isto é, identificados com Ele, debaixo de sua tutela e poder. A pregação de Paulo e sua equipe é proclamada "na presença de Deus". Ele vê tudo e dá assessoria, mostrando seu agrado ou descontentamento.

A sinceridade (grego, eilikrineias) da equipe missionária autêntica recebeu de Deus sua comissão e autorização. Por isso, Paulo questiona radicalmente a origem da comissão dos "falsos apóstolos" (11.13) que se auto-comissionam. Sem o envio da parte de Deus (Rm 10.15), eles agem na carne. Os seus sucessos são humanos porque militam segundo a carne (cf. 10.3

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