TODOS SÃO CHAMADOS E CONVOCADOS, L - ÓGO TODOS SÃO MISSIONÁRIOS?

 

 

UMA VEZ QUE TODOS SÃO CHAMADOS E CONVOCADOS, PODEMOS DIZER QUE TODOS SÃO MISSIONÁRIOS?

 

Ora, ninguém pode dizer “sim” ou “não” com absoluta segurança hermenêutica, já que as palavras “missão” e “missionário” não se encontram na Bíblia, no Novo Testamento Grego.

Aparece, sim, a palavra “missão” em dois versículos da Bíblia, em algumas versões em Português. Em Atos 12.25, por exemplo, quando Barnabé e Saulo voltam de Jerusalém para Antioquia, a Bíblia Sagrada Almeida Século 21 diz: “E, havendo concluído sua missão (grifo meu), Barnabé e Saulo voltaram de Jerusalém, levando consigo João, também chamado Marcos”. Mas ali, a palavra “missão” é a tradução da palavra diaconia, do grego, de onde vem nossa palavra “diácono” que significa “serviço”.

Esta passagem não indica, portanto, que a palavra “missão” esteja no Novo Testamento.

O outro texto onde a palavra “missão” aparece é 1Timóteo 2.15, falando da missão de mãe ao dar à luz filhos. Ali algumas versões dizem: “cumprindo a sua missão de mãe” e outras dizem: “dando a luz filhos”. O texto grego traz a palavra teknogonias (junção das palavras teknon filho’ + gonias, que vem de gune ‘mulher’). Assim, este também não serve para a nossa análise.

O que nos resta, então? Resta fazer uma análise da palavra “missão” a partir do Latim, pois foi depois que a Bíblia foi traduzida para essa língua que o costume de chamar os “enviados” de missionários, começou a ser usado e se internacionalizou.

No Latim, a palavra “missão” é missio e “missionário” vem de mittere, que significa “enviar”. Ora, a palavra “enviar”, é muito comum no Novo Testamento Grego, já que ali ela é expressa pela palavra apostello, muito conhecida nossa, de onde vem a palavra “apóstolo” que significa justamente “enviar”.

Assim, podemos dizer, com segurança, que, se a palavra “missionário” não se encontra na Bíblia, o seu significado permeia toda a Escritura, do Gênesis ao Apocalipse.

É por isso que a maioria dos estudiosos dos dons espirituais colocam a palavra “missionário” como um dom (ou uma função) e a associa à palavra apóstolo, para se referir a pessoas que recebem o dom e a chamada de Deus para iniciar o trabalho em campos ou em situações pioneiras, seja nas circunvizinhanças da igreja, seja em campos distantes, seja em qualquer outro lugar no reino de Deus.

Buscando ainda o sentido das palavras “missão” e “missionário”, vejamos como o Dicionário Aurélio as define:

MISSÃO: “FUNÇÃO OU PODER QUE SE CONFERE A ALGUÉM PARA FAZER ALGO; ENCARGO, INCUMBÊNCIA.

2. Função especial da qual um governo encarrega diplomata (s) ou agente (s) junto a outro país; comissão diplomática.

3. O conjunto das pessoas que receberam um encargo religioso, científico, etc.

4. Ofício, ministério.

5. Obrigação, compromisso, dever a cumprir.

6. Prédica ou sermão doutrinal.

7. estabelecimento, instituição ou instalação de missionários para pregação da fé cristã.

8. Os missionários”

MISSIONÁRIO: “AQUELE QUE MISSIONA; PREGADOR DE MISSÕES.

2. Propagandista, defensor, propugnador.

3. Relativo ou pertencente às missões.

Vamos tentar aclarar um pouco mais a ideia, falando de missionário no sentido “Geral” e “Específico”, como vimos fazendo até aqui com o assunto da vocação.

Vamos dizer que num sentido geral, todos os crentes são missionários porque todos têm uma missão a cumprir, seja em campos missionários, seja no contexto de suas igrejas, seja em suas profissões seculares.

Mas, no sentido específico, em que alguém deixa sua cidade, seu estado, seu país, ou deixa sua profissão, seu ganha-pão, para servir a Deus em outro lugar ou numa outra situação, de forma definida, esse alguém é missionário. Os demais que continuam exatamente onde estão, fazendo o que sempre fizeram, continuam sendo chamados e vocacionados, sim, no sentido geral, comprometidos que são com o seu testemunho cristão, mas não é próprio chamá-los necessariamente de missionários.

Vamos dar alguns exemplos: Imaginemos três moças, todas elas com a profissão de professora em escolas públicas, todas com aptidão para trabalhar com crianças e todas da mesma igreja.

Vamos dizer que uma delas decida trabalhar com as crianças da igreja nos horários convencionais, e faça isso sempre, com muito amor e carinho e com muita dedicação, mantendo, contudo, sem alteração, sua função de professora pública, seu estilo de vida, etc. etc.

Essa irmã estará certamente cumprindo a sua vocação geral, usando o seu dom no contexto da igreja e é, indubitavelmente, uma obreira do Senhor.

Mas, não seria próprio chamá-la de missionária, necessariamente, não obstante à sua dedicação ao que faz.

A outra, entretanto, percebe logo os problemas enfrentados pelas crianças nas várias escolas públicas da cidade e decide formar uma associação para ajudar essas crianças.

Vê que o trabalho irá exigir seu tempo integral, de modo que se demite da sua função de professora pública para se dedicar exclusivamente à associação.

Incontinente, sua igreja decide adotá-la, dando a ela um sustento correspondente ao seu salário de professora pública (que, por sinal, aqui entre nós, não seria muita coisa…).

Essa irmã não pode ser considerada simplesmente como uma pessoa crente que usa os seus dons e talentos no contexto de sua igreja. É evidente que ela está fazendo e iniciando muitas coisas novas:

Primeiro, ela está iniciando um novo movimento fora das fronteiras de sua igreja, está colocando novos fundamentos na Educação, em termos de Comunidade, em termos de Município, e está sendo uma pioneira naquela iniciativa cristã.

Segundo, ela passa a ser uma espécie de embaixatriz de sua igreja, na comunidade. Esta é uma missionária em todos os sentidos da palavra.

A terceira tem a sua classificação mais fácil ainda de se definir, porque irá receber o chamado de Deus para trabalhar com crianças num Lar de Crianças no interior do Brasil, a qual será também, certamente, adotada pela igreja.

Outro exemplo: A igreja tem um missionário que trabalha num certo país, fora do Brasil. De vez em quando ela manda uma equipe formada pelos membros da igreja para colaborarem, de alguma maneira, no trabalho do missionário.

Ficam lá uma semana, duas, um mês, e depois voltam, cada um para o seu lugar e para a sua função anterior. Daí, eles passam a chamar todos os membros da equipe de “nossos missionários” e passam a dizer que a igreja está fazendo missões, através deles.

Bem, que eles estiveram num campo missionário por um tempo e deram cada um a sua colaboração, de alguma maneira, é verdade; que eles viram e experimentaram as coisas que existem por lá, também é verdade; que eles fizeram seu papel de crentes dedicados, não há dúvida, mas chamá-los de missionários, não seria apropriado.

Alguns de meus filhos (tenho sete) tiveram a oportunidade de exercer ministério na aldeia onde trabalho: Alberto ensinou violão, Sílvia ensinou flauta doce, Daniel e sua esposa Monique deram o curso “Casados Para Sempre” e Suely, com seu esposo Tércio, ministraram várias palestras para casais. Mas nenhum deles sequer pensou, de si mesmo, que fosse um missionário.

Outro exemplo ainda: A igreja tem um grupo que gosta de fazer trabalhos sociais. Eles visitam Lares de Crianças, em sua própria cidade, distribuem brinquedos e usam da oportunidade para pregarem o evangelho para as crianças.

Eles fazem isso com muito amor e carinho e com muita dedicação, é claro. Você acha que eles estão apenas cumprindo sua vocação e chamada geral, estão apenas usando os seus dons e talentos no contexto da igreja para abençoar as pessoas da comunidade, com seu trabalho social, ou você acha que eles podem também ser chamados de missionários? Deixo com você a resposta…

Continuando com essa ideia, a gente até poderia dizer que chamar todos os crentes de missionário, esteja certo ou errado, isso não faria mal a ninguém. Sim, mas seria muita ingenuidade pensar assim… Veja na próxima postagem o que a concepção “todos são missionários” pode causar.

 

 

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