QUAIS SÃO OS ALVOS DO NOSSO TREINAMENTO MISSIONÁRIO - PRIMEIRA PARTE
A
FILOSOFIA
MISSIONÁRIA DE PAULO
Russell Phillip Shedd (In
memorian)
Dr. Shedd apresentou estes
estudos em 2 Coríntios 2 a 6 na Consulta Missionária da APMB, AMTB e ACMI em
outubro de 1995 em Águas de Lindóia. Com muita bondade ele concordou em
escrevê-los para o benefício dos participantes daquele evento missionário.
O desafio do Dr. Shedd, e das
Escrituras que ele tão habilmente explica, deve nos levar à pergunta:
"Os alvos do nosso
treinamento missionário têm algo a ver com os ensinamentos e modelos
bíblicos?"
Temos objetivos e métodos
coerentes com os que podemos ver claramente operando na vida e no ministério do
Apóstolo?
Estas lições nos tocam?
Levam-nos a transformação? Vamos deixar que Deus fale conosco através da Sua
Palavra aqui apresentada.
INTRODUÇÃO
Todas as divergências entre
metodologias e alvos missionários devem ser submetidas a um exame bíblico. Não
significa que os missionários do Novo Testamento não erraram, mas que
reconhecemos que os primeiros missionários receberam direcionamento específico
do Espírito Santo, segundo Atos.
Paulo diz que a Igreja é
fundada sobre os apóstolos e profetas (Ef 2.20), indicando que os métodos
praticados e alvos almejados não surgiram de mentes humanas, mas no coração do
Senhor.
Paulo acrescenta em sua carta
aos Coríntios que ele alicerçou a Igreja sobre o único fundamento que é Jesus
Cristo (1Co 3.10, 11).
Para executar esta obra tão
significativa, recebeu graça particular (v. 10). Ninguém poderá lançar outro
fundamento sem contrariar o propósito de Deus.
A igreja de Roma, que não foi
plantada por um apóstolo, deveria receber de Paulo um "dom (Charisma)
espiritual (pneumatikos)" (Rm
1.11).
Qualquer que fosse a carência
das igrejas que não receberam a orientação dos apóstolos e profetas, fica claro
que Paulo e seus colegas não promoveram um movimento missionário independente
(cf. At 8.14, 15). Não podemos avaliar perfeitamente a importância do gesto de
estender a destra da comunhão a Paulo por parte das colunas da igreja de
Jerusalém (Gl 2.9).
Creio que Paulo reconhecia
que o endosso da igreja mãe em Jerusalém acrescentaria crédito a seu ministério.
Mas provavelmente Paulo não teria desistido da obra, se não tivesse recebido
esse aval. A argumentação toda de Gálatas parece apontar nessa direção.
Paulo demonstra sua filosofia
de trabalho em vários textos nas epístolas e Atos. Como não temos espaço
ilimitado, parece-nos válido restringir nossas observações principalmente a uma
parte de 2 Coríntios (2.14 - 6.3).
Na defesa do seu ministério
contra obreiros pouco escrupulosos, Paulo põe em relevo alguns princípios
missiológicos como, por exemplo, sua confiança no Senhor quando confronta
perseguição e forças contrárias. Paulo mantinha sua visão firme no fim.
A Vinda de Jesus resolverá os
maiores problemas que o missionário enfrenta.
A graça é central, mas não é
uma graça sem compromisso.
A mensagem e o mensageiro se
identificam.
Em toda parte deparamos com a
motivação do amor de Cristo.
Espírito triunfante sem triunfalismo caracteriza a missiologia paulina.
UM TRIUNFALISMO AMBÍGUO (1.8 - 2.14)
A profunda gratidão que Paulo sentia após dez anos de trabalho árduo missionário focaliza a soberania divina. “Graças, porém, a Deus que sempre nos conduz em triunfo", não quer dizer que tudo que ele teve que enfrentar tenha sido agradável ou resultado em sucessos imensuráveis. "Porém" (v. 14) nos adverte que a vitória que Paulo celebra não se ganha sem pagar um alto preço.
1. Em Éfeso uma sentença de morte foi pronunciada contra Paulo (1.9). Ele enfrentou feras numa luta que, ainda que não fosse literal, deve ter sido ameaçadora (1Co 15.32). "Dia após dia morro" (1Co 15.31; cf. 2Co 4.11), revela até que ponto sua vida estava sempre sob ameaça. Paulo encarava o ódio, que colocava sua vida em risco, como normal para a carreira de um missionário.
2. O triunfo, que Paulo reconhecia, não excluía problemas seríssimos no cuidado das igrejas. A própria igreja de Corinto desafiou a liderança de Paulo de uma maneira desrespeitosa.
3. Paulo teve que se defender da acusação que o tachava de mentiroso (2Co 1.17-21).
O sucesso do triunfo não garantia que Paulo recebesse elogios da parte dos membros da igreja. Comentavam alguns acerca da sua pessoa: "As cartas, com efeito. . . são graves e fortes, mas a presença pessoal dele é fraca, e a palavra desprezível" (10.10).
Por não ter cursado uma escola superior de retórica, nem ter a pretensão de escrever grego clássico para impressionar seus ouvintes e leitores, os coríntios o desprezaram. Evidentemente, para Paulo, o missionário não tem que ter o poder da palavra em vez do poder do Espírito (1Co 4.20). Ele menciona que sua pregação não consistia em "linguagem persuasiva nem de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder" (1Co 2.4). Adulação e elogios não fazem parte do triunfo constante a que Paulo se refere.
4. Sucesso não deve ser sempre esperado no ministério pioneiro. Paulo decidiu visitar a igreja de Corinto para resolver algum problema, mas não foi bem sucedido (cf. 2Co 13.1). Aparentemente, o apóstolo foi insultado de maneira baixíssima.
5. Sentiu-se forçado a voltar para Éfeso e escrever a "carta severa" que não foi incluída no cânon do Novo Testamento (2Co 2.4). Custou muitas lágrimas. Ficou angustiado ao relembrar o que acontecera. Mas, evidentemente, a maioria da igreja aplicou a disciplina sugerida por Paulo (2.6). O arrependimento da parte da igreja e também do infrator incentivou Paulo a ordenar que a igreja o perdoasse e comprovasse seu amor. Tratar assim o membro que provocou a crise evitaria maiores investidas satânicas contra a igreja (vv. 8-11).
6. Triunfo não significa que Satanás não consegue vantagens sobre a Igreja. Deve-se conhecer os seus desígnios para poder levantar uma defesa eficaz (v. 11). Impecabilidade não é uma característica do povo santo de Deus e nem faz parte necessária do triunfo de Deus.
7. Também não faz parte desse triunfo escapar das pressões e desequilíbrio emocional. Nada é mais evidente do que a profunda emoção conflitante que acompanhava as relações que Paulo experimentou com os coríntios (e, outras igrejas). Derramou lágrimas copiosamente. Quando chegou até Trôade não pôde aproveitar a grande porta aberta para pregar (2.12). Ficou tão agitado e intranquilo que deixou Trôade para ir ao encontro de Tito, que traria notícias da igreja de Corinto (v. 13). Um ministério invencível não exclui a possibilidade de nervosismo.
Ainda que seja difícil imaginar uma situação mais
constrangedora e frustrante, o apóstolo afirma que "Deus em Cristo sempre
nos conduz em triunfo" (v. 14). "Somos mais do que vencedores por
meio daquele que nos amou" (Rm 8.38). Estas duas frases devem ter sido
escritas dentro de um prazo de apenas seis meses (outono e inverno de 56-57
a.D.).
Lê-se nas entrelinhas o amor que Paulo sentia pelos "filhos" na fé. A responsabilidade de cuidar deles, de exortá-los, visitá-los e encorajá-los é evidente em todo lugar. Com razão ele expressa esta preocupação comovente na carta aos gálatas, "Meus filhos, por quem de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós" (4.19). Poderiam ter muitos tutores (professores de Bíblia e religião), mas somente um pai "pois eu pelo evangelho vos gerei em Cristo Jesus" (1Co 4.15).
Missionários que conseguem
sentir algo do amor paterno e materno que Paulo sentiu podem desenvolver um
grande ministério transcultural. Mesmo sendo judeu, ele colocou de lado seus
escrúpulos farisaicos para se dar, corpo e alma, ao trabalho de gerar e servir
a família de Deus.
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário, ele é muito importante para melhorarmos o nosso trabalho.
Obrigado pela visita, compartilhe e
Volte Sempre.