POVOS NÃO ALCANÇADOS NO BRASIL
A REALIDADE INDÍGENA
Por Héber Negrão
EXISTEM POVOS NÃO ALCANÇADOS NO
BRASIL?
Muitas vezes o uso constante de
algumas expressões acaba por nos distanciar do peso de seu real significado.
Isso acontece quando nos referimos corriqueiramente às Escrituras como “Palavra
de Deus” sem de fato considerarmos que neste livro o próprio Deus fala com seu
povo, usando suas próprias palavras.
O mesmo ocorre com o termo “Povos Não
Alcançados” tão usado na missiologia e diluído na prática diária da igreja. De
tanto ouvirmos essa expressão nos últimos anos acabamos por não assimilar de
fato que ainda hoje existe povos que nunca ouviram falar de Cristo e de seu
amor.
Um bom exemplo de Povo Não Alcançado
é a tribo isolada que foi avistada no final de 2016 denominada tribo MAITÁ, por
um fotógrafo que sobrevoava a floresta amazônica, próximo à fronteira do Acre
com o Peru.
Por causa de uma tempestade seu
helicóptero precisou fazer um desvio de rota. Foi quando ele se deparou com um
aldeamento no meio da mata. “Depois da chuva, a gente voltou e viu umas malocas
feitas de palha. A gente estava voando muito rápido, mas vimos plantações e
decidimos voltar. Encontramos a tribo e eu comecei a fotografar”.
Apesar do sobrevoo de apenas sete
minutos o povo – identificado como Índios do Maitá – se assustou com a
aproximação da aeronave e passou a disparar várias flechas para tentar
afugentá-los.
O curto tempo foi suficiente para
algumas observações da tribo. Um sertanista da Fundação Nacional do Índio
(FUNAI) que também estava na viagem identificou que aquela aldeia é composta
por aproximadamente 300 pessoas; as mulheres usam saiotes de algodão tecido e
os homens são carecas da metade frontal da cabeça e tem o cabelo comprido na
parte de trás; os índios são altos e foram identificadas plantações de milho,
banana, mandioca e batata. No sobrevoo não foram detectados nenhum objeto ou
quaisquer outras características que mostram alguma influência ou contato com
pessoas da cidade.
Os Índios do Maitá são considerados
isolados, mas a FUNAI já tinha conhecimento de sua existência e localização
desde 2008. Um fator que torna difícil seu contato é a floresta extremamente
densa e seu constante deslocamento.
Segundo o sertanista eles mudam de aldeia a cada 5 anos: “Eles ficam em uma aldeia e depois mudam ela para dois ou três quilômetros adiante” informa.
POVO SAPANAWA – TEVE SEU PRIMEIRO
CONTATO COM NÃO-INDÍGENAS EM 2014
Outro exemplo de Povo Não Alcançado
no Brasil é o povo Sapanawa. O belíssimo documentário “Primeiro Contato:
Tribo Perdida da Amazônia”, dirigido por Angus Macqueen e disponível na
Netflix, registra o primeiro contato deste povo com os não indígenas na
fronteira do Brasil com o Peru em junho de 2014. Um ano depois desse primeiro
contato toda a tribo – composta por 35 pessoas ao todo – veio se estabelecer em
terras brasilis.
É espantoso o fato de que ainda hoje, em plena segunda década do século XXI ainda exista povos isolados e, consequentemente, inalcançados com a mensagem do evangelho. Mais espantoso ainda é ver alguns cristãos se apropriando do discurso da academia, defendendo o isolamento e o não-contato com indígenas como os do Maitá, valorizando seu status quo em detrimento de seu destino eterno.
NÚMEROS
Segundo uma pesquisa realizada pelo
Departamento de Assuntos Indígenas (DAI) da Associação de Missões
Transculturais do Brasil (AMTB) e publicada em 2010, das 340 etnias indígenas
reconhecidas em nosso país 27 delas são completamente isoladas e 10 são
parcialmente isoladas. Além disso ainda há outras 35 etnias que estão em risco
de extinção (por terem menos de 35 indivíduos).
Apesar deste texto focalizar a
necessidade de evangelização entre povos indígenas isolados, não quero dar a
entender que estes são os únicos povos não alcançados no Brasil. O 7º Congresso
Brasileiro de Missões a AMTB apresentou a realidade dos 8 povos menos
alcançados no Brasil.
Os povos indígenas – que encabeçam
esta lista – incluem não apenas indígenas isolados, mas também etnias que já
foram contatadas de alguma forma. Segundo a pesquisa do DAI-AMTB das 340
etnias existentes no Brasil, 121 delas são pouco ou não evangelizadas. Destas,
74 tem acesso viável, com permissão para entrada ou possibilidade geográficas
de alcance. O que faltam são cristãos dispostos a servir ali.
A pesquisa do DAI-AMTB identificou a
necessidade de se levantar 500 novos missionários para completarmos a
tarefa da evangelização indígena no Brasil. Esse número não parece ser difícil
de alcançar se considerarmos a quantidade de igrejas evangélicas em nosso país.
Outros povos menos alcançados em
nosso Brasil são os ribeirinhos que contam com um número de 37 mil comunidades,
mas ainda faltam 10mil serem alcançadas com o Evangelho. Dos 700 mil ciganos da
etnia Calon presentes no Brasil, apenas mil são crentes no Senhor.
Ainda tem cerca de 6mil assentamentos
de sertanejos sem presença evangélica. O Brasil recebe imigrantes de cerca de
100 países e destes, 27 são países fechados ao evangelho.
Dos 9 milhões de surdos existentes no
Brasil, apenas 1% deles se declara cristão. Ainda há uma categoria diferenciada
de não alcançados em nosso país. A categoria socioeconômica: os mais ricos dos
ricos e os mais pobres dos pobres.
“Em alguns Estados brasileiros há
três vezes menos evangélicos entre os mais ricos e os mais pobres do que nos
demais segmentos socioeconômicos”.
A TAREFA É URGENTE
A
verdade, porém, é que a igreja brasileira só vai entender a urgência da sua
tarefa missionária se conseguir olhar para os “Povos Não Alcançados” da
perspectiva do próprio Cristo. “‘Fazei discípulos de todas as nações’, disse
Jesus. Como Senhor do céu e da terra, Jesus estava mais consciente da absoluta
magnitude de ‘todas as nações’ do que qualquer um de seus discípulos poderiam
estar. A partir do Antigo e Novo Testamentos, sabemos que Deus não ficará
satisfeito até que os confins da terra tenham ouvido a boa-nova de sua
grandiosa obra de redenção e que Jesus tenha discípulos entre todos os povos”.
• Héber Negrão é paraense, mestre em Etnomusicologia e casado com Sophia. Ambos são
missionários da Missão
Evangélica aos Índios do Brasil (MEIB)e da Associação
Linguística Evangélica Missionária (ALEM). Residem em Paragominas
(PA) e trabalham com o povo Tembé.
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