IGREJA x VOCIONADO PARA MISSÕES



O FOCO MISSIONÁRIO

Pastor: Luís Fernando Nacif Rocha

Dentre as diversas atribuições ministeriais, da qual gosto muito, é conversar sobre o trabalho missionário transcultural com os vocacionados – aqueles que se sentem chamados por Deus para cruzar barreiras políticas, geográficas, culturais e religiosas e ir pregar as boas novas de Jesus Cristo.
Alguns chegam com uma convicção madura, com uma boa consciência do preparo demandado e do que vão enfrentar no campo. Outros, entretanto, são movidos por uma idealização romântica do que são missões e da figura do missionário. Eles quase se imaginam um “Indiana Jones evangélico” no meio de selvagens canibais.
Apesar de algumas vezes nos depararmos com casos clássicos desse romantismo imaturo, há outra questão que também ameaça o trabalho missionário:
A IMATURIDADE DA IGREJA ENVIADORA.
Continuamente essa igreja age como um banco de dados missionário, contentando-se em apresentar uma extensa lista de missionários parceiros, mas sem ao certo saber por que estão no campo e o que realmente estão fazendo.
Em sua maioria, as igrejas locais são medidas pela quantidade de membros que têm. Assim os conselhos ou departamentos de missões muitas vezes são medidos pelo número de missionários transculturais em seus quadros.
Antes de dizermos quantos missionários temos no campo, algumas perguntas devem ser feitas:
O que o missionário está fazendo no campo?
Quais são seus objetivos e quais são os objetivos da igreja ao enviá-lo?
Ele tem preparo suficiente e adequado para a tarefa proposta em seu projeto?
Foram-lhe dadas condições para executar o que se espera dele?
É impossível reduzir um trabalho missionário a somente uma tarefa. Contudo, ao considerarmos que o objetivo maior da missão é a expansão do Reino de Deus, todas as tarefas deveriam ter um foco comum: plantar igrejas cristocêntricas que tenham o DNA multiplicador da plantação de igrejas.
O trabalho social, o socorro aos necessitados, a intercessão missionária e a construção de estruturas de apoio, como escolas e creches. Tudo deve cumprir um propósito maior: a formação de comunidades contextualizadas e que andam com as próprias pernas, que adoram ao Senhor Jesus e fazem Seu nome conhecido.
Como igreja local enviadora, esse cuidado não pode ser deixado para uma avaliação posterior do trabalho que os missionários estão fazendo, mas deve se fazer presente já na fase de preparação dos vocacionados.
Ao conversar com aqueles que se acham chamados para o trabalho transcultural, costumo perguntar o que eles pretendem fazer no campo. De modo geral, certa surpresa brota na face do candidato, que responde: missões, é claro! Reagem assim, como se a pergunta fosse um tanto sem sentido.
Entretanto, como acontece no ministério pastoral, o trabalho transcultural pode ser facilmente perdido em uma infinidade de pequenas tarefas que ocupam a agenda do missionário de tal forma que, ao final do dia, muito foi feito, mas pouco foi realizado.
O obreiro fica cansado de correr de um lado para o outro, mas pouco avança no objetivo principal de plantar uma igreja. Um perigo maior passa a rondar o projeto quando, após oito ou dez anos no campo, o missionário olha para trás e vê que suou muito a camisa, mas pouco produziu de concreto, gerando um sentimento de frustração e desânimo.
Acredito que boa parte do problema se encontre no início de nossa caminhada, no preparo do candidato a missões, ainda na vida ministerial da igreja. Consideramos que dar aula de escola bíblica para crianças, servir em um ministério de resgate de drogados ou tocar no louvor da igreja são experiências ministeriais suficientes para colocar o vocacionado no trilho do preparo transcultural. Todos esses ministérios são importantes, mas deveriam ser considerados como portas de entrada para uma experiência ministerial maior e mais completa.
É importante que o missionário que vai trabalhar na plantação de igrejas ganhe experiência com plantação de igrejas, antes de ser enviado para o campo. Ainda que ele vá integrar uma equipe maior, com atribuições específicas de acordo com seus dons e talentos, é crucial que a consciência do objetivo central esteja pulsando no coração e na mente do missionário.
Parte do problema também reside na liderança missionária da igreja local. Como foi mencionado, somos motivados e, muitas vezes, movidos por números. Ficamos contentes por saber que temos um grande número de missionários, e a igreja se alegra quando esses números são divulgados nos púlpitos.
A quantidade de missionários enviados é, sem dúvida, algo bom, mas a qualidade dos projetos é um fator que deve receber igual atenção. Fazer missões com consciência e intencionalidade é muito mais significativo do que espalhar missionários sem critérios pelo mundo.
Cada campo tem suas particularidades, e plantar uma igreja em Angola não é feito da mesma forma e com os mesmos desafios que uma plantação de igreja no Curdistão.
Entretanto, todos os esforços devem apontar para a mesma direção. Em alguns lugares, as estratégias vão utilizar construção de escolas, creches ou abrigos; em outros, um ministério de esportes ou com profissionais e empresas abrindo o caminho.
Apesar de não ter como limitarmos as possibilidades de servir ao próximo em amor nas inúmeras culturas, a condição de igreja local enviadora requer que entendamos que todas essas estratégias devem contribuir para o propósito conjunto da plantação de igrejas.
Como na história do homem que trabalhava na construção dizendo que assentava tijolos enquanto seu colega dizia que construía uma catedral, devemos implantar em nossos missionários a plena consciência de que eles não só exercem seus dons ministeriais, mas expandem as fronteiras do Reino a partir da formação de novas igrejas.
A liderança da igreja local que está enviando o missionário precisa, mais do que nunca, deixar de assistir ao processo à meia distância, apenas contabilizando o tamanho de seu quadro de missionários. 
Precisamos nos tornar agentes dessa expansão do Reino, preparando nossos  ocacionados com o melhor que nós temos, dando-lhes condições para executar seu melhor. Assim, juntos, vamos celebrar os resultados, dando a devida glória ao nosso Senhor Jesus.
Luís Fernando Nacif Rocha
Pastor de missões da Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte – MG

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