A IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO MISSIONÁRIA ANTES DE PARTIR PARA O CAMPO
A
CAPACITAÇÃO É VITAL PARA CHEGAR AOS GRUPOS DE PESSOAS NÃO ALCANÇADAS
Por Brooks Buser
Hoje em dia, em grande parte do
mundo, pode-se comprar e voar sem licença em um determinado tipo de aeronave.
Essas aeronaves são geralmente chamadas de ultraleves, quase sempre pequenas,
leves, lentas e fáceis de operar.
Para aqueles que estão
procurando uma alternativa mais econômica que os leve ao ar, os ultraleves são
uma ótima opção. No entanto, para voar no exército, serão necessários pelo
menos seis anos até que se esteja autorizado a pilotar um avião de combate. A
responsabilidade e as consequências são muito maiores e, por isso, o
treinamento é obrigatório, rigoroso e sério.
Preocupa-me que a igreja
evangélica esteja enviando pilotos de ultraleves para os lugares mais
desafiadores da face da terra e não consegue entender por que os resultados são
tão ruins.
Permitam-me propor três razões
pelas quais a capacitação prévia ao campo é não apenas necessária, mas também
uma responsabilidade para as igrejas e os aspirantes a plantadores de igrejas
transculturais.
Não é todo
mundo que foi feito para ser um plantador transcultural de igrejas.
Ao pesquisar algumas
estatísticas da aviação militar para este artigo, recordo que os militares não
aceitam todos os que estão dispostos ou entusiasmados com a aviação. Há limites
de idade, pontos de referência em educação, normas de saúde e as competências
que se devem dominar. Mas nada disso surpreende a quem está familiarizado com a
aviação militar. Claro, o que mais poderíamos esperar daqueles a quem foi
confiada uma responsabilidade tão grande?
É aqui que a semelhança com o
trabalho missionário de linha de frente começa a mudar. Aqueles com “corações
dispostos”, que amam o Senhor Jesus, às vezes não deveriam ir para o campo
missionário. [1]
Muitos que são encarregados dos
não alcançados têm carência em uma área crítica, que mais tarde os derrubará em
seu ministério. Somente por meio de um treinamento sério antes de sair ao campo
e de pesquisa de antecedentes é que podemos descobrir estas coisas. E quando
descobrirmos essas coisas, louvemos a Deus! É muito melhor para a igreja local,
para os colegas de campo, e especialmente para o indivíduo descobrir antes de
ir para fora que isto pode não ser para eles. Nosso serviço à causa de Cristo e
Seu povo, salvando alguém da dor de deixar o campo prematuramente (e das
consequências que isso traz), faz facilmente valer a pena os nove meses
adicionais [2] necessários para descobrir isso.
Nem todo cristão que quer ser
um missionário é qualificado para ser um plantador transcultural de igrejas, e
isso está perfeitamente bem e é até mesmo esperado. Em nosso zelo para ver
cumprida a Grande Comissão, devemos assegurar-nos de enviar aqueles que estejam
capacitados, avaliados e equipados para os desafios únicos que enfrentarão.
As diferenças
entre pré-campo e em campo são significativas.
Um tópico que ouço com
frequência em relação ao treinamento é “Lá você conseguirá”. Quer se trate de
capacitar-se para aprender um idioma ou para compreender a metodologia de uma
determinada agência missionária, muitas coisas estão sendo colocadas na bandeja
“lá”. O problema é que uma vez “lá”, o nível de estresse aumenta
exponencialmente, há poucos treinadores qualificados com tempo para treinar, e
a pressão para produzir resultados é bastante forte.
Uma das coisas mais
interessantes que está surgindo no trabalho missionário hoje em dia é a quantidade
de missionários de boas igrejas, boas escolas bíblicas e bons seminários que
estão sendo absorvidos por metodologias pragmáticas baseadas na velocidade.
Quando se realizam as autópsias teológicas/metodológicas (lembre-se que todas
as metodologias de missões são apenas o resultado de teologias), isso se reduz
a dois fatores principais:
(1) antes de partir, não foram
ensinadas a eles, explicitamente, as metodologias que provavelmente
encontrariam (boas e más); e
(2) seu treinamento
metodológico foi feito por aqueles que atuam no campo e os convenceram de
alguma versão de que “é assim que se faz aqui”. Não querendo ser um problema,
ou ouvindo e vendo que eles estavam na dramática minoria, aceitaram.
JC Ryle em sua obra-prima,
Santidade, diz daqueles que olham para o passado como um guia para o futuro:
“O que é avisado, está
avisado”. [3]
Um bom treinamento anterior ao
campo precisa envolver algum tipo de vacina para nossos plantadores de igrejas
da linha de frente para que possam reconhecer erros e armadilhas que causaram
tantos tropeços. Termos que soam inofensivos ou mesmo bons (discipulado baseado
na obediência, estudos bíblicos de descoberta, caminhadas de oração, pessoa de
paz, contextualização) precisam ser explicados e sua base bíblica, examinada.
Nem tudo o que acontece no
estrangeiro em nome de Cristo é bom. Algumas práticas são boas, outras são
fracas, algumas são neutras e outras são ruins. Nossos membros devem conhecer
as categorias, termos e argumentos bíblicos de cada um antes de entrar nesse
mundo.
As habilidades
especiais requerem uma formação especializada.
Um avanço encorajador no mundo
do trabalho missionário é que cada vez mais igrejas estão assumindo a
responsabilidade por seus membros envolvidos em missões.
As organizações para-eclesiásticas
têm seu lugar, mas que nunca se diga que elas tomam o lugar da igreja local. O
mandato da Grande Comissão é dado à igreja e a ninguém mais.
Dito isto, ainda não encontrei
uma igreja que tenha experiência e capacidade para ensinar fonética, antropologia
aplicada, como criar filhos da terceira cultura, pré-evangelização
intercultural, linguística, casamento e criação de filhos com alto estresse,
teologia do sofrimento, ou negócios por meio de ONG em países de acesso
restrito. Habilidades especiais requerem uma formação especializada e, para ter
acesso e ministrar entre os últimos grupos linguísticos não alcançados do
mundo, serão necessárias habilidades especializadas.
Além dessas habilidades
necessárias, é necessário observar e medir certos intangíveis. Uma boa
capacitação missionária antes de ir ao campo deve ser capaz de avaliar a ética
de trabalho de uma pessoa, sua capacidade de trabalhar em equipe, a força do
matrimônio/solteirice, o nível de disciplina e a capacidade de perseverança.
O objetivo não é dar um polegar
para cima ou para baixo nestas áreas, mas deixar a igreja local saber como seu
candidato é medido nestas áreas-chave e permitir que eles tomem a decisão sobre
a idoneidade de seus membros para a tarefa.
Um bom treinamento prévio ao
campo funciona em conjunto com a igreja local, nunca usurpando o papel dado por
Deus à igreja, mas ajudando-a de maneira especializada.
Somente pela graça de Deus é
que a Grande Comissão será cumprida. Mas as igrejas podem multiplicar sua
efetividade para chegar a estes últimos locais, por meio do treinamento prévio
e pesquisa de antecedentes para aqueles que buscam alcançar os lugares mais
difíceis.
[1] Este é um grande
artículo sobre porque nem todos são missionários.
https://founders.org/2020/08/11/i-disagree-with-spurgeon/ (em inglês)
[2] Isto está utilizando o
marco de tempo que a Radius desenvolveu para capacitar adequadamente os
trabalhadores de UUPG-Unreached, Unengaged People Groups (Povos Não Alcançados
e Não Engajados).
[3] JC
Ryle, Santidade: sua natureza, obstáculos, dificuldades e raízes, (Banner
of Truth, 2014), pág. 207
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Brooks e sua
esposa Nina se graduaram no Christian Heritage College. Brooks trabalhou como
diretor financeiro de uma multinacional holandesa antes que ele e sua esposa
fossem desafiados pela palavra de Deus a levar o evangelho a um grupo étnico
não alcançado.
Em 2003 se
mudaram para ficar entre o povo yembiyembi e passaram os 13 anos seguintes
trabalhando entre ele. Puderam desenvolver um alfabeto, ensiná-los a ler e a
escrever em seu próprio idioma pela primeira vez, traduzir todo o Novo
Testamento e grandes porções do Antigo Testamento e ensinar por meio da
narrativa bíblica até que surgiu uma igreja. Em 2016, os presbíteros estavam
instalados, a igreja estava forte e eles regressaram aos EUA. Em 2017, Brooks
foi nomeado presidente da Radius International.
Fonte: Radius International
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