EVANGELIZACÃO E MISSÕES URBANAS
EVANGELIZAÇÃO URBANA NOS MOLDES DE
JESUS
Um autor afirmou: “evangelizar um mendigo dizer a outro
mendigo onde conseguir alimento”. Segundo os entendidos, “nunca, em dois mil
anos, foi tão fácil evangelizar. Nunca foi tão fácil levar pessoas à conversão e
à fé cristã. Porém, a igreja precisa usar a metodologia adequada”.
Os missiólogos afirmam que não pode haver nenhum esquema
uniforme de evangelização. O que está dando certo em uma determinada igreja não
quer dizer que dará certo noutra. Assim, pode se dizer que o trabalho de
evangelização urbana executado pela igreja nunca será ou estará completo. Nesse
sentido, haverá sempre necessidade de descobrir as realidades desconhecidas e
repensar os métodos, técnicas e estratégias utilizadas nesse processo.
O cenário urbano registrado pelo evangelista João é um
protótipo ou um modelo de evangelização urbana que funciona. Jesus havia
deixado a Judeia, ao Sul, e seguido para-a Galileia, ao Norte, quando sentiu
que era necessário passar por Samaria, cidade que ficava entre as duas regiões,
v. 4. Ao meio-dia, junto ao poço de Jacó, na cidade de Sicar, travou um longo
diálogo com uma mulher samaritana que viera buscar água. E como resultado de
sua estada nesse lugar, muitas pessoas foram ter com ele, para ouvir a palavra
de Deus, v. 30.
O evangelismo pessoal aplicado por Jesus foi dinâmico e
transformador. A pecadora de Samaria ficou convencida de seus pecados e
tornou-se uma testemunha de Jesus. Dentre os diversos aspectos
bíblico-dogmáticos vistos neste texto na atitude evangelizadora nos moldes de
Jesus, destacaremos alguns deles.
PRÁXIS DA NECESSIDADE – V. 4
O texto diz que “era-lhe necessário passar por Samaria”.
Está evidente que ele foi movido por uma intuição própria. Quer dizer: ninguém
lhe disse nada, mas a página da história de uma mulher seria escrita a partir
do momento em que ele pressentiu que era necessário fazer essa trajetória,
ainda que a rota normal dos judeus fosse dar a volta, seguindo o vale do Rio
Jordão para o Norte, até a Galileia.
Podemos chamar este fato de práxis da necessidade ou da
compaixão. Mas o que é práxis? Seria a “ação criativa e transformadora do povo
de Deus na história, acompanhada de um processo profético e da reflexão crítica
que objetiva tornar a obediência cristã ainda mais efetiva”. Em outras
palavras, é ação da igreja em atenção à necessidade alheia – especial-mente do
pecador.
A Bíblia ensina que Jesus andou na práxis da compaixão e
do amor. Ele sentia a necessidade do povo. A história de muita gente foi
escrita por suas atitudes criativas e práticas. Certa ocasião ele olhou para
uma multidão e sentiu grande compaixão por ela: “E Jesus, saindo, viu uma
grande multidão e, possuído de íntima compaixão para com ela, curou os seus
enfermos”, Mt 14: 14. Se a igreja quer que sua evangelização urbana seja
autêntica e transformadora, Jesus dá a receita: “Tenho compaixão desta gente”,
Mt 15: 32. Sim, não há como evangelizar sem sentir que é necessário passar
pelas samarias atuais. Este pré-requisito leva a igreja a perceber que a história
de milhares de pessoas que vivem sem Jesus precisa ser mudada.
MUDANÇA DE PARADIGMA – V. 9
Judeus e samaritanos não se falavam em hipótese alguma.
Era uma rixa antiga. “Os judeus chegavam ao extremo de desencorajar a tentativa
de fazer prosélitos dentre os samaritanos […]”. O pedido de Jesus: “dá-me de
beber”, deve ter sido considerado pela mulher como uma atitude tolerante, pois,
de imediato, ela respondeu: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que
sou mulher samaritana”. Tanto é que a conversa delongou e o plano de salvação
foi exposto por Jesus.
No entanto, esse incidente contrariava o comportamento
judeu-samaritano (porque os judeus não se comunicavam com os samaritanos), vv.
7 e 9. Na verdade, o comportamento ético-cristão de Jesus fala claramente de
mudança ou alteração de paradigma.
Uma cena desta hoje seria, provavelmente, manchete de capa
de revista ou jornal. Ou, na perspectiva religioso-evangélica, mereceria
disciplina ou castigo. Porém, o interessante para Jesus não era manter a tradição
de uma religião, mas cumprir com a missão de seu Pai e favorecer ao Reino de
Deus, Lc 19: 10.
O paradigma “explica como é o mundo e nos ajuda a predizer
seu comportamento. É a forma como você percebe esse mundo. Por exemplo: ele
está para você da mesma forma como a água está para o peixe. O peixe não sabe
que está dentro dela até que o tirem para fora”. Isto se aplica à vida cristã.
Às vezes, diga-se de passagem, certos conceitos dependem do paradigma. A
maneira como se interpreta uma situação é, às vezes, relativa e pode ser até
mesmo, individualista. Porém, Jesus foi além das circunstâncias do relativismo
ou individualismo. Ele precisava passar por Samaria, para evangelizar uma
pecadora.
Contexto urbano – v. 18
O contexto diz respeito à cultura – aos valores, ideias e
sentimentos – de um determinado povo. Também diz respeito às classes sociais, à
religião ou religiões. O contexto revela quais são as características que são
próprias de uma determinada cidade. Isto ensina que evangelização e contexto precisam
andar de mãos dadas. Então, para se usar um determinado tipo de técnica ou
método na evangelização é preciso conhecer o contexto, o ambiente em que se vai
trabalhar.
Neste caso, Jesus conhecia o contexto da cidade de Sicar.
Ele conhecia o modo de vida desse povo. Foi em razão disso que em sua conversa
com a Samaritana, ele quer usar o método indutivo, ou seja, ele começou a
conversação partindo do particular para o geral – do problema pessoal para a
solução. Os argumentos usados por ele foram tão convincentes que a mulher
abriu-lhe o coração: “vai, chama o teu marido e vem cá. A mulher respondeu: não
tenho marido. Disse-lhe Jesus: disseste bem: Não tenho marido, porque tiveste
cinco e o que tens agora não é o teu marido”, vv. 18 e 19.
A igreja precisa conhecer o contexto urbano ou onde se
localiza. Saber quais os tipos de pessoas existentes na cidade. Quais as suas
preferências e necessidades básicas. Identificar os focos de convergência da
juventude, pois “Deus chama a igreja para o seu contexto particular, como um
instrumento da sua graça e salvação, desenvolvendo e realizando a missão como
um processo criativo e transformador”.
Por fim, vale dizer que a
evangelização urbana da igreja nos moldes de Jesus não tem nada a ver com a
inovação e comprometimento com os padrões de uma sociedade, mas, simplesmente,
com a integridade e contextualização de sua mensagem no cumprimento de sua
missão cristã, Mc 16: 15.
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