IGREJA LOCAL E MISSÕES
TEOLOGIA DO CHAMADO EM ANTIOQUIA
Nesse
texto quero começar com uma afirmativa bem usual entre nós: “Missão” é
projeto de Deus. É Ele quem toma a iniciativa de salvar o mundo manchado pelo pecado
com o objetivo de estabelecer o seu reino neste mundo e sobre toda a sua
criação.
Percebe-se
que muitos compreendem que a missão é da igreja, como se essa, num sentimento
de posse, usasse a Deus para a salvação do mundo. No entanto, sabemos que a
missão é de Deus, o qual concede à igreja o privilégio de ser parceira na
consecução desse projeto.
Seguindo
esse entendimento, podemos afirmar que a missão de Deus tem uma igreja que,
segundo David Bosch, passa de remetente para remetida, por estar a serviço de
alguém que é maior do que ela. Portanto, a missão de Deus cria e envia a igreja
ao mundo, visando à transformação e à salvação do mundo e implantação
definitiva de seu reino.
Na missio
Dei, o próprio Deus torna a igreja um instrumento privilegiado de sua missão.
Para David Bosch, a missão da igreja deverá ser o serviço à missio Dei, ou
seja, representar a Deus no mundo e, diante do mundo, apontar para Deus.
Podemos
concluir que a missão de Cristo em seu aspecto kerigmático e martírico acontece
dentro da nossa história e do nosso mundo. Não fomos criados para fugir deste
mundo e do nosso tempo, mas, sim, para redimi-los em Cristo. Ser enviado por
Deus é ser enviado para dentro do nosso mundo e da nossa história.
CHAMADOS DO MUNDO PARA CUMPRIR UMA MISSÃO
(JOÃO 17.18,19).
Quem é o
que chama? Quem foi chamado para essa missão? O que se espera da igreja?
Ao lermos o evangelho de João 17.18,19, podemos extrair
inicialmente duas coisas importantes:
A PRIMEIRA DELAS É ONDE A
NOSSA MISSÃO TEM DE SER REALIZADA.
O
termo missão vem do latim e significa mandar
ou despachar. Diante disso, surge uma pergunta:
“a quem (ou para onde) somos mandados?” A resposta é:
“ao mundo”. O mundo que refere-se às pessoas, à humanidade, às gentes
possuidoras de filosofias, artes e cultura, dentre outras coisas. É nesse mundo
étnico-cultural e plural que a missão deve ser realizada.
Portanto,
existe uma inquietação prevalecente a ser examinada, que é o abandono que o
povo evangélico
fez da cultura. Sabe-se que o pecado está intrinsecamente ligado a cultura, mas
nem tudo que é cultural é pecaminoso. Como a missão da igreja acontece no
mundo, os cristãos não devem está afastado de onde ele existe.
O que
significa estar no mundo como um cristão?
Obviamente que não quer dizer ser como o mundo; nem
significa também abandonar as nossas convicções de fé, antes, que devemos conviver e aproximar-nos das pessoas de
maneira a influenciá-los com o Evangelho.
A SEGUNDA COISA QUE
OS VERSÍCULOS RESSALTAM É A RESPEITO DO CARÁTER DAQUELES QUE REALIZARÃO ESSA MISSÃO.
Somos
chamados para ser como Cristo no mundo. Temos que assumir a nossa missão assim como Jesus assumiu. Precisamos ser como Aquele a quem estamos
representando.
QUEM FOI CHAMADO PARA ESSA MISSÃO?
Você e eu. A tarefa de todo aquele que é Igreja de Jesus Cristo é o de
testemunhar aos outros sua própria
experiência do amor perdoador revelado na
vida, morte e ressurreição de Jesus
Cristo.
A Igreja do século XXI não deve se esquecer de sua
principal tarefa. O Cristo que a igreja reconhece como Senhor é o Senhor de todo o universo, e, é nesta afirmação de seu senhorio universal, que a
igreja encontra a base para sua missão (1
Coríntios 9.16-23).
A MISSÃO
DEVE SER REALIZADA PARA GLÓRIA DE DEUS, EM CUMPRIMENTO DO IMPERATIVO, ANTES DE
SE VER A NECESSIDADE DO MUNDO.
O que se espera de nós em relação à Missão?
Espera-se
que a Igreja continue a missão de evangelizar o mundo (Mateus 28.18-20;
Marcos 16.15; Lucas 22.47,48; João 20.21,22;
Atos 1.8). Paulo, a quem Deus constituiu apóstolo,
sublinha sua missão, que é evangelizar (Rm 15.16; 1 Co 10.17).
Na
verdade, missionário devemos ser todos nós, o chamado é para todos, como citação a seguir:
ser missionário é tarefa de
alguns, mas fazer missões é tarefa de
todos os cristãos. (1 Pedro 2.9,10). O Senhor nos
capacita para a missão e devemos viver de maneira digna a
vocação que
recebemos. (Efésios 4.1-16).
QUEM É O
QUE CHAMA OU CONVOCA PARA A MISSÃO CRISTÃ?
O Deus
missionário. O Deus que revelou em Jesus
Cristo a Sua obra de redenção para a humanidade. George W. Peters cita Douglas Webster: “Nós
começamos, então, onde a missão começa: com Deus”. Ele enviou muitos homens e
mulheres com tarefas específicas.
Vejamos alguns exemplos:
1. Deus enviou José para salvar Israel da fome: “Diante deles enviou um
homem, José…” (Sl 105.17);
2. Deus enviou Ananias a Saulo: “Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber,
o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a
vista, e fiques cheio do Espírito Santo” (At 9.17);
3. Deus enviou o seu próprio Filho para resgatar os pecadores arrependidos
(Jo 3.16).
4. Deus é quem manda trabalhadores para a Sua seara (Lc 10.2; Mt 9.37,38);
Vejamos
agora, seguindo o esboço de Betty Bacon, o plano-mestre de Deus para a missão:
1. Deus o elaborou “antes da fundação do mundo”: “… do cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8);
2. Deus o centralizou em Jesus Cristo: “isto é, Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens os seus pecados, e nos
confiou a palavra da reconciliação” (2Co 5.19);
3. Deus leva ao máximo da história mundial: “será pregado este evangelho a
todas as nações. Então virá o fim” (Mt 24.14);
4. Deus toma as iniciativas: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que
condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3.16,17);
5. Deus usa instrumentos para executar o Seu plano grandioso:
6. a) Todas as coisas (Sl 19.1-2);
7. b) A história e cultura de todos os povos (Am 9.7; At 17.26,27; Ap
21.24);
8. c) Seu Filho (Jo 3.16,17);
9. d) Seus servos (1Pe 1.21; Sl 68.11; Mt 21.15,16);
10.
e) Sua Palavra (Jo 17.8; At 6.2; 2Tm
4.2).
QUAL O PAPEL DA IGREJA?
A igreja
não pode se esquivar dessa missão, pois ela faz parte da sua essência, da sua
razão de existir aqui na terra como povo de Deus que vive para glorificar a
Deus e proclamar a sua salvação a todos os povos da terra. “Não é que Deus
tenha uma missão para a sua igreja, e sim que ele tem uma igreja para a sua
missão”, (Christopher J. H. Wright, “A Missão do Povo de Deus”).
Seu propósito para a igreja, portanto, não pode ser
separado de seu propósito para o mundo. A igreja somente é entendida corretamente quando for vista como o sinal do Reino universal
de Deus, sendo ela, os primeiros frutos da humanidade redimida.
O sentido
exato em que o Reino de Deus veio pode ser visto na história da obra de Jesus, que se desenvolve em seguida ao anúncio do Reino. Nele e por meio dele o Reino de Deus tornou-se uma
realidade presente.
Em parte
alguma no Novo Testamento, a Igreja é
apresentada como o equivalente do Reino de Deus, mas também em nenhuma parte são
apresentadas como opostos entre si. A Igreja é a
comunidade reunida em volta de Cristo e reunida por Cristo. Ela não é em si mesma o Reino, mas é sua manifestação e forma.
A Missão da Igreja é cumprir a Missão de Deus. A Igreja é também um meio pelo qual Deus leva a efeito Seu propósito missionário. “Não existe nenhuma outra igreja senão a Igreja
enviada ao mundo, nem há outra missão a não ser a da Igreja de Cristo” (BLAUW,
1966.).
BIBLIOGRAFIA
BOSCH, David J. Missão Transformadora: Mudanças de paradigma na teologia
da missão. Tradução de Geraldo Korndörfer e Luís Marcos Sander. São
Leopoldo/RS: Editora Sinodal, 2002.
Carriker, C. Timóteo. (2005). O Caminho Missionário de Deus, uma
teologia bíblica de missões. Brasília, DF: Editora Palavra.
Hoover, Thomas Reginald. (1993). Missões, o Ide Levado a Sério. Rio de
Janeiro, RJ: CPAD.
Padilla, C. René. (2009). O Que é Missão Integral? Viçosa, MG: Editora
Ultimato.
Peters, George W. (2000). Teologia Bíblica de Missões. Rio de Janeiro,
RJ: CPAD.
Pino, Carlos del. (2004). O Evangelho Para O Mundo. Goiânia, GO: Editora
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Piper, John. (2001). Alegrem-se os Povos, A Supremacia de Deus em
Missões. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
Queiroz, Edison. (2009). A Igreja Local e Missões. São Paulo, SP: Vida
Nova.
Shedd, Russell P. (2003). Missões, Vale a Pena Investir? São Paulo, SP:
Shedd Publicações.
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