O QUE SIGNIFICA SER MISSIONÁRIO NO CONTEXTO BRASILEIRO?
Por: Pastor David Botelho
Infelizmente o termo missionário está totalmente
deturpado no contexto brasileiro: um evangelista de televisão é chamado de
missionário, o mesmo título é dado à esposa de pastores e às intercessoras ou
lideres de reuniões ou círculos de oração.
Creio que é necessário diferenciarmos missionários
de missionários transculturais.
Assim teremos condições de mostrar a realidade do
trabalho transcultural aos não alcançados que recebem somente 0,5% dos recursos
financeiros das igrejas no mundo.
Em nossas pesquisas, realizadas com mais de 15.000
pastores e líderes de igrejas, não encontramos nenhuma igreja que invista mais
de 50% de suas entradas em missões, enquanto a Igreja dos Povos de Toronto,
Canadá, chegou a investir mais de 78%; os Irmãos Morávios tinham um missionário
para cada 12 membros, segundo Patrick Johnstone em seu livro A Igreja é maior
do que você pensa. Creio que eles podem servir de modelo.
Não é necessário muito esforço para sermos modelo
ou transtornarmos o mundo, como fizeram os crentes primitivos (At. 17.6).
Se cada crente brasileiro investir em média R$
30,00 mensais em missões transculturais, que seria 200 vezes mais que o
investimento atual, poderia multiplicar a força missionária em 200 e atender a
demanda dos 6800 povos que não conhecem Jesus… Isto é sacrifício? …É isto
utopia?
Somente chegaremos aonde nossa fé alcançar.
Pensando nisto nos lembramos do texto de II Rs. 13. 14 a 19 que fala do
encontro do profeta Eliseu com o rei Jeoás. Ao visitá-lo Jeoás recebeu a
palavra para que abrisse a Janela do Oriente, onde estava o maior desafio do
povo de Israel. Parece que podemos fazer um paralelo em nossos dias, quando
olhamos para a Janela do Oriente, a Janela 10-40, onde está o mundo muçulmano
árabe. Eliseu disse para Jeoás que pegasse o arco e as flechas do livramento do
Senhor que seriam as flechas de livramento contra os sírios. Ele tinha o local
determinado para a vitória decretada pelo Senhor. Jeoás recebeu a ordem de
pegar as flechas e simbolicamente ferir a terra. Ele poderia fazê-lo 5 ou 6
vezes e este número seria o final do inimigo do povo de Israel. Mas Jeoás o
fez, somente 3 vezes e causou indignação no velho profeta.
Alguns teóricos, considerados experts em missões,
têm tido uma preocupação muito grande e desnecessária com o Islamismo,
Hinduísmo, Budismo, Nova Era, etc, considerando um ou outro como o maior perigo
para a Igreja.
Creio que o maior perigo para a
igreja está dentro da própria igreja: a apatia, a indiferença, a indolência, o
conformismo e o materialismo modernos, que resultam na Grande Omissão.
A Palavra de Deus diz claramente que se a
nossa esperança fosse somente nesta vida, seríamos os mais miseráveis dos
pecadores.
Vejo que a egoísta Teologia da Prosperidade tem
afetado tremendamente os crentes brasileiros, pois a Bíblia diz que o Senhor
quer nos abençoar para que sejamos uma bênção para as nações.
A distorção é tão grande, que hoje é normal que
cantores e artistas decadentes converterem-se por causa do grande mercado
evangélico.
Outros aproveitam a oportunidade de se apresentarem
nas igrejas cobrando cachês absurdos, às vezes em dólares. Tais somas chegam a
alcançar 30 mil dólares. Enquanto isso, missionários desenvolvem trabalhos
sacrificiais e normalmente recebem ofertas de R$ 100.00, quando recebem.
Muitos líderes induzem os crentes a darem uma
oferta missionária para o ministério de um palestrante que chegam a ultrapassar
o valor de R$ 1.000,00, mas, no final, a maior parte fica para a obra local.
Outros convidam missionários e os usam para tirar ofertas para algum obreiro da
própria igreja. Creio que estes que praticam tais aberrações não sejam
verdadeiros pastores, mas sim lobos devoradores. Isto aconteceu com freqüência
com nossos missionários.
Falamos do que vivemos, pois visitamos em média
anual, como organização missionária, mais de 2000 igrejas.
Cantores e artistas nada cristãos estão se
aventurando no mercado evangélico com o apoio e encorajamento destes mesmos
pastores.
Um destes artistas é conhecido na mídia por mostrar
somente as nádegas, mas conta com a simpatia de vários líderes, pois atrai
multidões. Isto é inconcebível.
Há algum tempo estive numa destas igrejas em São
Paulo e um jogador de futebol teve a oportunidade para trazer a Palavra. Foi um
Aimaas da vida (II Sm. 18. 23-29), pois não tinha nenhuma mensagem a trazer
àquele povo. Foi só gritaria e perda de tempo. Após a “mensagem”, o pastor
trouxe uma profecia dizendo que Deus o tinha levantado para manifestar Sua
Glória e que aquele jogador de futebol iria tomar o lugar de um outro atleta,
que não teria sido fiel, segundo a “profecia” do pastor. Na realidade este
atleta tem dado um bom testemunho.
Alguns meses depois o jogador-palestrante apareceu
na mídia por ter suas fotos publicadas numa famosa revista gay brasileira. Nas
fotos ele estava nu.
(...) Nos Estados Unidos o Projeto Josué foi
levantado para adotar os 1739 povos menos alcançados, com uma população acima
de 10.000 habitantes. Mudou sua liderança e, em seu último boletim, a ênfase
para oração era dada à famosa Universidade de Boston, que foi fundada por
evangélicos. Escrevi aos líderes, lembrando-os do objetivo da formação do
projeto. Até hoje não recebi nenhuma resposta. Digo isto sem desprezar a
necessidade de orar pelos estudantes daquela universidade, mas por que a
finalidade desse projeto era direcionar esforços para os povos menos alcançados
e negligenciados do mundo.
Hoje existem cerca de 2.000 povos sem nada
traduzido da bíblia; há somente 2,8 missionários para atendera cada um milhão
de muçulmanos no mundo; a população de muçulmanos no mundo ultrapassa a casa de
1.7 bilhão, embora muitos deles sejam apenas muçulmanos nominais ou
sincretistas.
A maioria das escolas brasileiras de ensino
religioso tem copiado currículos estrangeiros e submetido os estudantes a uma
realidade diferente da nossa. A Horizontes fez uma mudança radical em seu
treinamento missionário e alcançou resultados extraordinários. O treinamento
missionário passou a ser composto pela parte formal, não formal e informal, a
fim de desenvolver o candidato em várias áreas: caráter cristão, trabalho em equipe, conhecimentos de
primeiros socorros, treinamento bivocacional, inteligência emocional,
sentimental, mental, prática, transcultural prévia, mobilização missionária,
lingüística, visão global, etc.
Já no segundo ano o candidato deixava o Brasil para
dar continuidade aos seus estudos em um país de língua espanhola, em uma de
seus trabalhos na América Latina.
Também desenvolveu um método em que todos estejam
comprometidos com uma visão de despertar a igreja brasileira para cumprir seu
destino de fazer missões.
(...) Infelizmente no Brasil, hoje, somente 5% dos
que se dispõem para serem treinados para ir aos campos transculturais têm o
apoio parcial de seus pastores. A parte restante vem de recursos levantados
através de literatura, vídeos, bazares, etc.
Tudo isto é promovido em parceria com estudantes,
voluntários e obreiros da Horizontes. Isto tem mais que dobrado o numero de
candidatos e também levantado uma força missionária para os não alcançados.
(...) Oswald Smith, famoso escritor e pastor de uma
igreja com mais de 800 missionários, afirmou com muita coragem, conhecimento:
“O primeiro e maior obstáculo para missões são os
pastores”.
Ele tinha experiência no assunto. Os pastores têm a
incumbência de descobrir vocacionados, orientá-los, treiná-los, enviá-los aos
campos não alcançados e sustentá-los dignamente. Posso dizer, por experiência,
que, na prática, a maioria se opõe a tudo isso.
A frase de George Peters diz uma verdade
incontestável: “O mundo está mais preparado para receber o Evangelho do que os
cristãos para propagá-lo”.
O filme Jesus é, hoje, o filme mais pirateado no
mundo muçulmano. Ele foi apresentando na época do Natal em duas nações
muçulmanas. Vários muçulmanos tiveram sonhos com Jesus e pedem missionários que
os discipulem nos caminhos do Senhor, mas onde estão? Um presidente de uma
nação muçulmana pobre pediu obreiros brasileiros a Horizontes.
Parece que chegou o tempo em que as pedras estão
clamando…
Estou vivendo a mesma experiência de Jeremias e não
posso me calar diante de tantos fatos. É hora para acontecer algo radical…
Fiquei impressionado e admirado pelo Senhor ter me
feito entender que a visão dada a organização da qual faço parte de
conscientizar e despertar a igreja brasileira de sua letargia para missões
transculturais. A princípio isto me trouxe uma certa decepção, mas compreendi
que se a igreja não tem visão missionária, não adianta preparar obreiros e
enviá-los à Fortaleza de Satanás. Seria como enviar Urias ao front e tirar todo
o apoio provocando sua morte.
Se os líderes tiverem visão missionária, os
recursos, obreiros, treinamento, envio e apoio digno aos valentes soldados
deste novo milênio, virão como consequência.
Gostaria de enfatizar que, com um treinamento
adequado pode-se formar bons obreiros. Líderes da Junta de Richmond, batistas
dos Estados Unidos, acompanhou obreiros do Projeto África Sahel por quase
quatro anos e viram que latinos bem preparados podem ajudar no término da
tarefa na evangelização mundial. Os 96 radicais que entraram na Janela 10-40
causaram boa impressão a missionários europeus e norte-americanos e há uma procura
por mais obreiros latinos.
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David Botelho é conhecido como estrategista de
Missões Transculturais aos Povos Não Alcançados. Escreveu vários livros e é
articulista de vários jornais e revistas. Botelho é diretor da HORIZONTES
AMÉRICA LATINA que já treinou mais de 4.300 alunos presencial e a distância.
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