SUGESTÃO DE CURRICULO PARA OS CURSOS DE TREINAMENTO MISSIONÁRIO
Em
continuação ao assunto que compartilhamos na postagem anterior, quero afirmar
que, o currículo de missões, não precisa ser tão carregado de assuntos que
tenham afinidades com o trabalho missionário, mas precisa ser abrangente,
embora conciso.
Ou seja, é importante que contenha uma boa introdução
às diversas áreas da missiologia, possibilitando aos candidatos ao campo missionário
prosseguir adiante no processo de aprendizagem.
Existem, é claro, algumas áreas que é
impossível aprofundarmos na matéria, como é o caso por exemplo da Antropologia
Cultural. Entretanto é perfeitamente possível que se possa fazer uma análise
cultural em qualquer contexto.
Não
podemos ignorar que apesar da limitações em relação ao conhecimento de uma nova cultura, a
verdadeiro aculturação acontecerá quando o missionário chegar ao campo.
Quanto
aos conhecimentos teológicos, é muito importante que o candidato já tenha um
curso, pelo menos básico.
VISÃO
MISSIONÁRIA
O ensino
deve enfatizar a importância de transmitir aos candidatos ao campo, uma visão holística
da obra missionária. A dicotomia entre o trabalho evangelístico e o trabalho social
tem causado extremos na tarefa missionária e a perda de elementos fundamentais
na implantação de igrejas em culturas receptoras.
Em muitas
partes do mundo, não se pode ignorar as necessidades sociais que submete ao
povo sofrimento e opressão impostas por estruturas políticas e econômicamente
injustas.
Não é mais admissível que nos tempos atuais se
veja a prática da ação social apenas
como assistencialismo, ela faz parte do evangelho integral. Nossos futuros
missionários precisam refletir sobre estas questões, mesmo os que nunca irão
atuar diretamente na área social.
Na força missionária brasileira há um
crescente número de profissionais voltados para a área de saúde e de ação
social.
A perspectiva destes missionários precisa
ser de um evangelho integral e da implantação de igrejas locais através do
trabalho realizado, seja evangelístico ou social.
Muitas vezes perdemos o foco principal no treinamento missionário.
Desejamos preparar obreiros capacitados para tarefas específicas com o máximo
de habilidade e conhecimento na área. Porém, se perdemos de vista o alvo principal
que é plantar igrejas autóctones, que evidenciem um evangelho total e marquem a
presença do reino de Deus no meio do seu povo, teremos feito apenas um bom
trabalho filantrópico.
A VALORIZAÇÃO DO TEXTO BÍBLICO
Sendo a
base da nossa fé e pelo menos na teoria, o nosso guia de viver e agir, a Bíblia
contém os princípios que devem nortear o trabalho missionário.
Ao valorizarmos os textos bíblicos passamos
para os alunos um modelo de lidar com as questões, buscando em primeiro lugar
no texto sagrado as soluções. Além, naturalmente, de levar tanto o aluno quanto
o professor a ler e estudar os textos propostos.
UM TREINAMENTO EXEGÉTICO.
Interpretar
um texto bíblico pode ser difícil e ainda mais aplicá-lo a uma situação
concreta. Mesmo tendo o treinamento nos cursos teológicos, o método proporciona
uma excelente oportunidade para fazê-lo num sentido missiológico.
Levar em consideração o contexto geral do
texto bíblico é uma condição para uma exegese correta e a discussão sobre a
aplicação das palavras divinas numa situação transcultural enfatiza esta
necessidade.
BASE PARA A MISSIOLOGIA
Freqüentemente a tarefa missionária é questionada e
tentamos apresentar razões culturais, antropológicas, sociais, etc. É claro que
elas também existem, mas a melhor base para tudo o que fazemos na área
missionária é a palavra de Deus.
REFORMULANDO O CURRÍCULO DE MISSÕES
Nosso objetivo é chegar a conclusões práticas sobre a formação ou reformulação de
um currículo de missões. Já afirmamos que não é viável tentar determinar para todos em todas as circunstâncias
e épocas, qual o currículo ideal.
Precisamos ter um
cuidado em não sacralizar métodos e apenas importar, seja do exterior ou mesmo
dentro do país, cursos sem avaliar a relevância para aquilo que é o nosso alvo.
Entretanto gostaria
de sugerir um modelo básico de matérias que, salvo surjam outras ideias ou
pensamentos, faria bem se estivesse presente em todos os cursos de missões e logo
um exemplo de currículo integrado para um curso intensivo de missões.
MATÉRIAS BÁSICAS PARA O CURSO DE MISSÕES
Pressupondo
que o candidato tenha feito um curso básico de teologia onde matérias
como hermenêutica, teologia bíblica, exegese bíblica, eclesiologia, história da
igreja, teologia contemporânea e sistemática, evangelismo e outras, foram estudadas.
Se este não é o
caso, o candidato precisa complementar seus estudos com um bom curso teológico.
Emergencialmente, o curso de missões pode oferecer algumas destas matérias, mas
dificilmente terá condições de dar a base teológica necessária para o futuro
missionário.
Creio que um bom
currículo de missões que abrange tanto a parte cognitiva como a prática, deve
conter as seguintes matérias:
MATÉRIAS MISSIOLÓGICAS
TEOLOGIA DE MISSÕES — Uma base bíblica para a missão da Igreja incluindo tanto o Antigo como o Novo Testamento. Carga horária mínima - 64 h/a;
INTRODUÇÃO A MISSÕES — Contendo definições e informações sobre a situação atual no mundo
missionário. Carga horária - 16 h/a;
HISTÓRIA DE MISSÕES — Desde a Igreja Primitiva até os nossos dias, com ênfase no movimento missionário latino e os acontecimentos mais recentes. Carga horária - 32 h/a;
ANTROPOLOGIA CULTURAL — Descrevendo a análise de uma cultura, definindo termos e valorizando os
aspectos peculiares de cada cultura. Carga horária - 48 h/a;
CONTEXTUALIZAÇÃO — Aplicando os conceitos da Antropologia Cultural no confronto e na adaptação do missionário e da mensagem à cultura receptora. Carga horária - 32 h/a;
MISSÕES TRANSCULTURAIS — Elucidando as facetas próprias do trabalho missionário transcultural em termos de contextualização, vida do missionário, relacionamentos no campo, etc. Carga horária - 32 h/a;
ESTRATÉGIA MISSIONÁRIA — Buscando princípios para uma estratégia aplicável no contexto transcultural e como planejar o trabalho a ser realizado. Carga horária - 16 h/a;
FENOMENOLOGIA — Um estudo específico dos fenômenos religiosos e culturais, a partir da cultura do próprio aluno e visando uma compreensão destes aspectos na nova cultura. Carga horária - 32 h/a;
COMUNICAÇÃO TRANSCULTURAL — Como comunicar o evangelho e os conceitos cristãos para uma nova cultura. Carga horária - 32 h/a;
RELIGIÕES E SEITAS — Um estudo sobre cosmovisões e sobre as grandes religiões vivas e as seitas predominantes, incluindo a questão do confronto com o Cristianismo. Carga Horária - 32 h/a;
MISSÕES E AÇÃO SOCIAL — A integração da ação social no trabalho missionário, analisando
critérios para o envolvimento social numa estratégia missionária e os problemas
típicos de países em desenvolvimento. Carga Horária - 16 h/a; e
LINGÜÍSTICA — Uma noção de aprendizado de um
novo idioma, incluindo fonética e fonologia. Carga Horária - 32 h/a.
MATÉRIAS
PRÁTICAS E ESPECIALIZADAS
Podem ser acrescentadas matérias práticas ou especializadas, dependendo da situação prevista e necessidade de cada missionário.
Exemplos são: Noções de enfermagem, mecânica,
eletricidade, construção civil, contabilidade, computação, documentação, etc.;
e Idiomas como Inglês, Espanhol .
A carga horária destas matérias deve variar em função do aluno e da estratégia missionária utilizada por sua missão, mas não exceder, no seu total, 25% do curso.
MATÉRIAS VOLTADAS À FORMAÇÃO PESSOAL
VIDA CRISTÃ — Estudando os conceitos básicos da vida cristã a partir do novo nascimento e do compromisso pessoal com Deus. Carga horária - 32 h/a;
DISCIPULADO — Princípios de autoridade e de relacionamento dentro do corpo de Cristo e de transmissão de vida cristã a outros. Uma continuação da matéria anterior. Carga horária - 16 h/a;
LIDERANÇA — Quais as características de um bom líder e como formar novos líderes. Carga horária - 16 h/a;
VIDA DO MISSIONÁRIO — Um aprofundamento da matéria Missões Transculturais (sendo estudada antes dela), com ênfase na pessoa do missionário, seus relacionamentos, habilidade de conviver com stress e pressão, problemas de isolamento, saudade, solteirismo, solidão, retorno ao país de origem (choque cultural reverso), etc. Carga horária - 32 h/a; e
TRABALHO EM EQUIPE — O trabalho em conjunto numa equipe missionária, a convivência em grupo. Carga horária - 16 h/a.
MATÉRIAS PARA ESTUDO INDIVIDUAL
Há uma série de pesquisas e estudos que o candidato a missões pode fazer por conta própria tendo a orientação de um professor ou missionário experiente:
ESTUDO SOBRE O PAÍS DE TRABALHO — Uma análise histórica, geográfica, sociológica, econômica e religiosa do país para onde o candidato pretende ir. Pode ser o trabalho final do curso apresentado para a classe. Carga horária - 64 h/a;
Em
todas estas matérias é possível
combinar a teoria com a prática. Quando dadas em classe, a utilização de
pequenos grupos e de trabalhos em grupo é
importante e motivador. O uso de material didático, que felizmente se
torna cada vez mais disponível, é recomendado.
CONCLUSÃO
Um
currículo de missões precisa ser flexível e adaptável às novas circunstâncias e
necessidades, assim como às estratégias empregadas no campo missionário.
O
reino de Deus e o mundo não alcançado merecem o melhor de nós. A tendência
comum em nosso meio de nivelar por baixo os padrões e as exigências, contraria
todos os conceitos de boa
mordomia de recursos e de princípios missiológicos.
Se Deus vem
usando os missionários brasileiros para abençoar as nações e muitos dos
obreiros são bem sucedidos e frutíferos no trabalho, somos motivados e chamados
para melhorar a cada dia o treinamento dos enviados.
O potencial de
missionários existente em nossas igrejas é tremendo e podemos apenas ter uma
vaga idéia do que aconteceria se as igrejas, como um todo, despertassem para
missões e colocassem seus recursos à disposição da obra missionária.
Entretanto, se
não houver um bom preparo destes obreiros, por mais recursos que tenham, a
porcentagem de abandono de campo continuará alta (e ainda maior) e o evangelho
corre o risco de ser envergonhado e confundido.
Os centros de
treinamento missionário que temos no Brasil certamente não são suficientes para
a crescente demanda e novos terão que ser organizados.
Cabe a nós,
professores de missões, avaliar o que temos e melhorar naquilo que é possível
ao mesmo tempo que incentivamos a formação de novos cursos, principalmente em
regiões onde não há.
Outro
desafio é o da formação de
professores de missões. Ainda dependemos fortemente de professores que apesar
das boas intenções no ensino missiológico carecem de experiência no campo
missionário.
O tempo irá
providenciar a experiência, porém precisa haver uma conscientização da
necessidade e um estímulo para o estudo e para a análise crítica de missões.
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