PREPARO TEOLÓGICO DO MISSIONÁRIO

 


 

O conhecimento teológico direcionado à missiologia é uma área que exige preparo. É interessante frisar que não se trata de conhecer apenas meros conceitos sistemáticos sobre as doutrinas bíblicas e tentar transplantá-los de uma realidade para a outra.

É preciso que esses conceitos tenham correspondência prática na vida de quem os ensina, principalmente no campo missionário, onde poderão existir circunstâncias que exigirão "provas" daquilo que se prega.

Toda  teoria que não for cientificamente provada continua sendo uma "boa" teoria e nada mais. O ensino bíblico não pode ficar apenas no campo teórico. Se não for acompanhado de evidências, terá pouco resultado.

Há países ou etnias cujo arcabouço religioso está construído sobre outras bases, sem qualquer vinculação, nem mesmo nominal, com o Cristianismo.

São outros conceitos e formas de cultos, até mesmo milenares, com raízes já consolidadas pela tradição no coração do povo. Em muitos casos, o Cristianismo é uma idéia completamente nova e sem correspondente histórico. 

Como falar de Cristo em outro contexto onde não há nenhum referencial a seu favor?

 

Vamos avaliar genericamente algumas situações. Usemos como exemplo, a Índia. É difícil para a mente de o hindu admitir a existência de um Deus único diante de suas convicções já arraigadas na existência de milhares de deuses, segundo as tradições religiosas de  seu país. Seu coração já foi condicionado a crer desta forma.

Fica claro que não bastam conceitos bem urdidos e sistematizados pelo melhor academicismo  teológico. 

É preciso "provar" que o único Deus a quem o missionário prega é o Todo Poderoso. Esta prova depende, no mais das vezes, da intervenção divina no dia a dia do hindu para que ele entenda que os deuses aos quais adora não têm nenhum valor. Moisés e Arão se viram numa situação parecida. Leia o texto de Êxodo 7.10-12. 

Outro caso difícil de confrontar teologicamente foi o descrito pelo missionário Don Richardson, e que ocorreu em determinada tribo nas ilhas do Pacífico. Ao pregar sobre a pessoa de Cristo, ele não deixou de mencionar, em contexto secundário, a traição de Judas, já que o centro da mensagem era o Salvador. Para sua surpresa, o povo elegeu Judas como herói e não deu a mínima importância para Cristo. 

Intrigado com o fato, ele descobriu que naquela tribo a traição era o padrão ético de mais alto valor entre eles. Uma pessoa que traísse a outra era tratada com toda deferência pelas demais. Logo, Judas ganhou a simpatia de todos.

Foi preciso algum tempo para Don Richardson encontrar o ponto de aproximação, usando uma circunstância dramática no relacionamento daquela tribo com outras tribos, para inverter o quadro e colocar Cristo como centro de atenção. 

Aqui fica uma ADVERTÊNCIA: O missionário transcultural não pode ficar na expectativa de que ele vai conseguir, de imediato, mudar a mentalidade do povo ao qual vai pregar.

Não fica bem tomar atitudes drásticas como alguns gostam de fazer. Matar vacas na Índia, um animal divinizado pelos hindus, ao invés de livrar o país da ira de Deus, vai, ao contrário, provocar a expulsão imediata do pretenso missionário. 

É preciso contar, antes de tudo, com o momento adequado e a estratégia certa para ensinar as verdades bíblicas, esperando que a diferença ocorrida com Moisés e Arão se manifeste.O poder de convencer é do espírito Santo. Os dons espirituais são muito importantes neste caso, principalmente o de discernimento de espíritos. São ferramentas de primeira mão no campo missionário.

ANOTE BEM ESTE CONCEITO: 

Não basta ao missionário ter conhecimento teológico. Este preparo deve revestir-se da visão transcultural para que ele possa encontrar em cada etnia o instrumento próprio para aplicar os ensinos bíblicos na vida do povo. 

O QUE É BÍBLICO, EXTRABÍBLICO E ANTIBÍBLICO 

Afirmamos que a cultura abarca, também, as crenças de uma sociedade, às quais, muitas vezes, colidem com a fé cristã. Mais adiante, falamos sobre a importação de "modelos" de outros contextos culturais, observando que as situações contrárias às nossas convicções espirituais devem ser resolvidas no próprio contexto cultural, à luz dos princípios bíblicos. 

Qual deve ser a bússola para guiar o missionário em casos como estes? Ele precisa Ter em mente três parâmetros para encontrar a resposta correta. Em outras palavras, ele precisa discernir o que é bíblico, extra bíblico e antibíblico. 

à O que é BÍBLICO reporta-se àqueles costumes que, mesmo diferindo de uma etnia para outra, como foi mencionado reiteradas vezes no decorrer da lição, expressam com a mesma  grandeza e se nenhuma distorção os princípios da Palavra de Deus, que são imutáveis e têm caráter universal. 

à O que é EXTRABÍBLICO relaciona-se com aquelas áreas nas quais a Bíblia não interfere especificamente, a favor ou contra, dependendo da consciência de cada um para julgar o que é lícito e o que não é lícito. A Palavra de Deus não determina as cores das roupas que devemos usar e nem o melhor tipo de calçados para os nossos pés. São, portanto, questões extra bíblicas. Aqui prevalecem o bom senso e a orientação do apóstolo Paulo: (veja 1 Coríntios 10.23). 

à O que é ANTIBÍBLICO refere-se àquelas situações que colidem frontalmente com a fé cristã, exigindo do missionário um posicionamento decidido, mas ao mesmo tempo prudente, no sentido de encontrar a estratégia correta para mudar esse tipo de circunstâncias; É preciso graça de Deus, discernimento espiritual e aguardar o tempo certo, pois nem tudo se muda da noite para o dia. 

Exemplo disso é a poligamia em países africanos, tradição que passa de geração para  geração e que demanda da parte do missionário não entrar em choque para que as portas não se fechem, mas em Ter atitude decidida para influenciar a mudança de comportamento, sempre à luz dos princípios bíblicos e doutrinários.

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