VIDA MISSIONÁRIA
Inicio esta reflexão lembrando o que
Paulo ensinou ao jovem pastor Timóteo: “É
necessário que o bispo governe bem a sua própria casa, criando os filhos sob
disciplina, com todo o respeito pois, se alguém não sabe governar a própria
casa, como cuidará da Igreja de Deus? (1 Tm 3.2a;4,5).
A vida do missionário começa em casa.
É no lar que ele tem ou não tem autoridade espiritual. Este é o calcanhar de
Aquiles de muitos obreiros. Focam o trabalho missionário e a comunidade em
volta, bem como as amizades, mas se esquecem de duas coisas essenciais: a vida devocional e a vida
familiar.
Aqui estão os dois pilares da vida
missionária. O insucesso de muitos obreiros está ligado a falta de compromisso
na intimidade com Deus e na família. Isto é muito sério. Deve haver sempre
coerência entre a vida de dentro e de fora do lar. As pessoas estão de olho na
vida do obreiro que labuta no campo missionário.O missionário é referência e
formador de opinião.
R.
Kent Hughes faz algumas considerações muito pertinentes: O ministério é
desgastante. Consome muito tempo. A vida do obreiro é bastante sobrecarregada.
O ministério tem enorme potencial para a dissonância, dissensão e a hipocrisia,
e para transformá-lo num fanfarrão eclesiástico, se você não se apropria das
verdades que prega. E isso dá margem para a destruição do casamento do
missionário.
O ministério no campo pode ser uma
ocupação solitária. A congregação nem sempre compreende a nossa vida. Ficamos
vulneráveis. Paulo retrata muito bem a luta dos que levam o ministério na perspectiva
bíblica: “Pois, quando chegamos à Macedônia, não
tivemos nenhum descanso, mas fomos atribulados de toda forma: conflitos
externos, temores internos” (2 Co 7.5).
Ultimamente, muitas mulheres de
missionário vêem o ministério do marido como algo separado da vida em família:
‘esse trabalho é dele. Eu tenho os meus próprios interesses e objetivos. Outras
não percebem o ministério como ‘chamado’, mas meramente como uma profissão
comum... Ele tem a profissão dele e eu a minha.
Há igrejas que devoram seus obreiros,
verdadeiras “orcas eclesiásticas”. Se o
obreiro é inexperiente ou ingênuo pode ser comido vivo e, ao mesmo tempo,
assistir à deglutição de seu relacionamento mais precioso. De acordo com uma
pesquisa realizada por um seminário nos Estados Unidos da América há alguns
anos atrás, um em cada cinco obreiros era divorciado, o que corresponde
aproximadamente a 24% da população geral.
No espectro do casamento, devemos ter
cada um, o CORAÇÃO CARINHOSO, que valorize
publicamente um ao outro cada vez mais com o passar dos anos, como fez Winston Churchill com sua Clementine.
Numa ocasião memorável, Churchill foi a um banquete formal em Londres, ocasião
em que foi proposta uma questão aos dignitários: “Se você não fosse quem é,
quem gostaria de ser? ”Naturalmente, todos estavam curiosos para saber o que
Churchill, sentado ao lado de sua amada Clemmie, diria. Afinal, não se
esperaria que ele respondesse Julio César ou Napoleão. Quando finalmente chegou
a vez do ex primeiro-ministro britânico, o homem idoso, o último a responder à
pergunta, levantou-se e disse: ‘Se pudesse ser quem não sou, gostaria de “ – e
aqui ele fez uma pausa para segurar a mão da esposa – “o segundo marido da sra.
Churchill”.
O casamento saudável de um obreiro
exige que ele e a esposa tenham CORAÇÃO
INTERCESSOR um pelo outro [...]. O ministério é profissão de
servir. Servimos a Deus e o seu povo. Mas também é chamado para cuidar um do
outro com nobre CORAÇÃO SERVIL.
Esse cuidado, esse sacrifício e essa dedicação devem estar no centro do
casamento de um ministro do evangelho, para que nossa vida não seja apenas
apoio recíproco, mas também seja testemunho da realidade de Cristo para a
Igreja e o mundo. Algumas dicas para melhorar o casamento:
a) Tirem um dia de folga;
b) O dia de descanso tem de ser
inviolável;
c) Namorem;
d) Tirem férias;
e) Vão para a cama juntos [...].
Há uma palavra preciosa de Tedd Tripp
que precisamos considerar: “O
lar é um microcosmo da igreja. As qualidades da vida espiritual que dão
credibilidade ao obreiro em casa fornecerão a mesma medida de confiança às
pessoas que ele serve no campo [...] A vida familiar é a fornalha na qual as
características do missionário serão forjadas.
As
qualidades da vida espiritual que dão credibilidade ao obreiro em casa
fornecerão a mesma medida de confiança às pessoas que ele serve na igreja”. A nossa
vida no lar é a medida da nossa autoridade.
Como missionário, devo ser um líder
espiritual em casa e na igreja, um marido e pai, bem como um protetor. A nossa
espiritualidade definirá que tipo de líderes somos em casa e na igreja. Deus
nos chamou à coerência de Cristo, o nosso Supremo Pastor.
O missionário que tem sua família bem
estruturada é um homem que dá um excelente testemunho do evangelho de Cristo.
Na contramão desta verdade, Eli, sacerdote em Israel, cuidava do sacerdócio,
mas não foi enérgico com os seus filhos.“Eram,
porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não se importavam com o Senhor [...]
Era, pois, mui grande o pecado destes moços perante o Senhor, porquanto eles desprezavam
a oferta do Senhor” (1 Sm 2.12,17).
A nossa casa é o primeiro templo onde
devemos cultuar ao Senhor com todos da família. Se falharmos em casa,
falharemos na igreja. Se não temos autoridade em casa não a teremos na igreja.
A qualidade do nosso ministério
dependerá da nossa qualidade em casa. Se não somos enérgicos em casa como
seremos no campo ou na Igreja? Se não levamos a sério a disciplina no lar, como
será na igreja? Se não cuidamos do nosso pequeno rebanho, como o faremos com o
grande? Não é a lei de causa e efeito? O lar deve ser sempre o fator que causa
as mudanças relevantes na congregação. Há uma retroalimentação aqui.
O Dr. Maylue cita um bestseller sobre
o ministério pastoral que contém um capitulo intitulado ‘Alerta: O Ministério Pode Ser Uma
Ameaça para Sua Família’. Por mais chocante que seja, o titulo
reflete com precisão a realidade do ministério pastoral hoje. Uma pesquisa
pastoral realizada há alguns anos atrás, publicada em um jornal importante,
descobriu as seguintes dificuldades significativas que produzem problemas
conjugais nas famílias de pastores:
81% tempo insuficiente em conjunto;
71% uso do dinheiro;
70% nível de renda;
64% dificuldades de comunicação;
63% expectativas da congregação;
57% diferenças quanto ao lazer;
53% dificuldades na criação dos
filhos;
46% problemas sexuais;
41% rancor do pastor com relação à
esposa;
35% diferença quanto à carreira
ministerial e;
25% diferenças quanto à carreira da
esposa”.
Estas pesquisas apontam para uma
realidade pior nos dias de hoje. Aumenta sensivelmente as separações em nossas
igrejas, inclusive de líderes. Uma série de fatores corrobora para esta triste
realidade.
Como líderes, não temos sido
cuidadosos, prudentes na relação familiar. Não temos sabido conciliar os
compromissos do lar com os demais. Sentimo-nos pressionados, muitas vezes, pela
opinião publica, pelo desempenho, pela cultura
pragmática (que privilegia o mérito humano; a política de
resultados; o desempenho; a produtividade em si). Deus, família e igreja são o
trinômio fundamental na vida do homem de Deus.
Richard L.. Maybue nos alerta,
dizendo o seguinte: “A única maneira de
reverter o declínio geral da qualidade das famílias dos pastores é voltar aos
princípios espirituais (fazermos uma releitura da Bíblia sobre este assunto)
para o casamento e a família. Entendo que, quaisquer que sejam as pressões hoje
vigentes, elas já tiveram equivalentes no passado e terão paralelos no futuro
[...]. Portanto, a família do pastor deve ser uma prioridade em sua vida”.
O Dr. A. R. Crabtree nos
alerta: “De todas as influências que ajudam ou que prejudicam a vida
ministerial do obreiro, talvez a do seu lar seja a mais poderosa. Certamente a
influencia da família seja inseparável do seu serviço pastoral. Se fracassar
como marido ou como pai é impossível que seja eficiente como missionário,
embora tenha os dons naturais e o melhor treinamento para a sua vocação”.
Cuidar
de nós mesmos (cercar-nos de mentores); cuidarmos da família; cuidarmos da obra
de Deus, são desafios tremendos para nós, líderes espirituais. Precisamos ser
os guardas das fontes. Como nos ensina magistralmente o apóstolo Paulo,
cuidarmos de nós mesmos e do nosso ensino (1 Tm 4.16).
Desenvolvermos
uma agenda que contemple a nossa intimidade com o Pai e o nosso relacionamento
saudável com a família e a Igreja. Estudarmos a Palavra sob a orientação do
Espírito, crescermos na compreensão do próximo e trabalharmos de forma
criativa, exercendo o sacerdócio com entusiasmo, com profunda alegria no
Senhor. E, acima de tudo, glorifiquemos o Seu nome.
Oswaldo
Luiz Gomes Jacob – pastor da Segunda Igreja Batista em Barra Mansa. Casado com
Eliane 34 anos; pai de três filhos, duas filhas casadas e um filho solteiro.
Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Mestre em Missiologia pelo Southeastern Baptist Theological Seminary,
Wake Forest, North Caroline, USA. Professor do Seminário Teológico
Batista Sul Fluminense, Volta Redonda, RJ.
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