SER MISSIONÁRIO EM CAMPO DE RISCO

 

O MISSIONÁRIO EM CAMPO DE RISCO


A discussão sobre saúde emocional e ética como algo que se faz necessário a qualquer missionário que se dispõe à obra do Senhor tem em vista um ministério bem sucedido, pois pesa em seus ombros a responsabilidade de ser representante de Cristo, ao ser portador da palavra de salvação. 

Em países onde há conflitos (guerra civil por ex.), campos com alta taxa de subdesenvolvimento, insegurança pública crônica e os de acesso criativo, o missionário poderá se deparar com pressões extraordinárias, que exijam um equilíbrio emocional sólido. Sobre essa questão, cabe tratar de algumas situações que podem ocorrer nesses campos, para que os missionários e os envolvidos diretamente, como familiares, igreja e amigos estejam cientes e preparados, caso ocorra. 

Acidentes e criminalidade são possibilidades sempre presentes na vida de cada ser humano, e o missionário não é exceção. O missionário transcultural deve ter ciência destes possíveis desafios bem como comunicar tal quadro aos seus familiares, igreja e mantenedores. 

Em certas condições, o atendimento de emergência é precário, o que aumenta a probabilidade de conseqüências graves e perenes na área de saúde. Tal risco deve ser levado em conta, antes mesmo da partida ao campo. Inclusive a possibilidade de não poder retornar do campo em vida, e mesmo a inviabilidade de retorno do corpo. 

Em certos campos faz-se imperativo o uso constante de certa medicação. Caso o missionário decline tal prática, ele deve estar disposto a assumir as conseqüências de tal postura. Em instâncias nas quais o motivo é de alergia ou outro impedimento médico, um acordo claro e documentado deve ser realizado entre o obreiro e a liderança no campo. 

Missionários devem ser prudentes e sábios em suas comunicações eletrônicas, pois a privacidade de tal meio de comunicação pode ser prejudicada em certos campos. Conversas, mesmo ao telefone, e cartas-relatório, precisam ser cuidadosamente escrutinizadas, tendo em vista a possibilidade de perda da privacidade.

As orientações da Igreja, Junta ou Agência Missionária relativas à segurança de vida e aos cuidados médicos devem ser seguidas a risca. 

Em certos campos, uma preparação ética especial será exigida. Em alguns, haverá restrições (ou mesmo perseguição), ao testemunho cristão, o que demandará um comportamento todo particular, em face dos possíveis resultados negativos caso certas normas não forem obedecidas. Imprudência e insensatez nunca são combustíveis espirituais de martírio cristão. 

Missionários devem evitar a todo custo envolvimento e partidarismo religioso e político no campo. É mesmo ao retornar por certos períodos do campo, devem se abster de declarações e conversas públicas a respeito da situações delicadas do campo onde servem. 

Em campos de risco, o missionário deve estar preparado para morrer durante seu ministério, por isso, tratando-se de casais com filhos, tal possibilidade precisa ser conscientemente levada em conta. 

 

O MISSIONÁRIO E AS FINANÇAS

O missionário deve pesar bem os custos financeiros envolvidos no engajamento ministerial que o espera no futuro. Condições de vida e o custo necessário para mantê-la, levando em consideração a família (educação de filhos, transporte, etc.). 

O missionário deve refletir e compreender bem a política de habitação a ele determinada pela Igreja enviadora, da Junta ou Agência de Missões para o campo. Custos menores podem trazer implicações indesejadas, tais como moradia muito modesta ou compartilhada, talvez até em áreas sociais precárias e inseguras. 

O sustento precisa ser cuidadosamente organizado e cultivado. Dependendo de quem o administrar, é preciso haver clareza de comunicação e viabilização efetiva do recebimento do mesmo no campo. 

O missionário necessita manter permanente contacto e compartilhamento com igrejas e mantenedores seus. Por vezes isto se fará via a Junta ou Missão, ou tanto pela Missão quanto diretamente com os seus parceiros financeiros. Cartas de oração e testemunhos são essenciais para manter a chama do compromisso acesa, mas com o cuidado de não colocar o próprio ministério em risco pela maneira como se comunica. 

Com relação a filhos e sua educação, pesquisa de campo e viabilização de fundos devem ser previstos antes da partida para o campo. 

Uma análise orçamentária visando ter em mente o novo paradigma socioeconômico e estilo de vida a ser adotado no campo torna se fundamental. Neste caso, tanto o missionário (solteiro) quanto o casado (com filhos ou não) não podem descartar uma mudança radical de forma e maneira de viver. 

Missionários devem ter a disposição para compartilhar e ajudar financeiramente tanto seus colegas com dificuldades inesperadas no campo, bem como seus irmãos nacionais. O serviço missionário não pode excluir o amor prático e às vezes sacrificar em circunstâncias adversas. 

Missionários devem ser bons mordomos de seu dinheiro e procurar ter para dar, e não criar mentalidade ou fama de pedinte. Dividas se contraídas, devem ser quitadas o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, a graça e a misericórdia devem estar presentes no terreno das finanças. 

Missionários devem pensar seriamente sobre o futuro, em termos de respaldo logístico de vida. Caso seja imperativo um retorno prematuro do campo, ou mesmo, desistência de tal curso ministerial, algumas opções de sustento e condições de recomeço na vida precisam ser visualizados. A posse de uma profissão e/ou formação útil, até mesmo para o campo, deve estar na pauta existencial do obreiro.

 

O MISSIONÁRIO E O TRABALHO EM EQUIPE 

Novos Missionários precisam lidar com seus impulsos idealistas. Uma vez no campo, eles devem ter uma postura humilde, mansa e observadora. Colegas mais velhos já marcados por várias experiências necessitam de misericórdia e compreensão, pois na maioria dos casos já fizeram tudo ao seu alcance e podem estar bem abatidos e desmotivados. Isto implica que a contribuição do novo missionário precisa ser dosada, de forma e maneira amorosa e no momento certo. 

Da mesma forma que uma só andorinha não faz verão, o missionário precisa entender que uma carreira solo não faz sentido, pois não só ele irá servir aos irmãos nacionais, como precisará ser servido por eles, e esta dinâmica será a mesma com os seus colegas missionários. O trabalho em equipe não inclui a consciência do sentido do Corpo Vivo de Cristo. Somos todos membros uns dos outros e no campo esta realidade cristã é essencial. 

O missionário precisa lidar com seu temperamento e ser sabedor de sua criação, educação, fraquezas, traumas e manias. Deve colocar tudo isto nas mãos do Espírito Santo, procurando sempre glorificar a Cristo em tudo; palavras, ações e omissões, Um bom procedimento é ter um conselheiro ou irmão mais maduro e sábio para compartilhar suas lutas e receber conselhos e orações.

Tomar uma postura de ouvinte sensível ao outro é vital para a construção de um bom relacionamento. Mesmo em discussões e discórdias acerca do trabalho, o respeito e a consideração são indispensáveis no trato com seus colegas. 

Entrementes, o missionário deve ter em mente que temperamentos, certos comportamentos e traços de caráter não mudarão mesmo, e assim ele não tem escolha, necessita suportar as fraquezas de alguns, e os espinhos de outros. Convém lembrar que esta é uma via de duas mãos, os outros também terão que suportar as suas cargas. 

Missionários devem ser conhecidos por sua postura de servos de Deus e dos homens. Assim viveu o maior missionário, Jesus, vindo para servir até o fim, fazendo o bem a todos. Por isso, missionários devem ser exemplos de serviço, amor, perdão e reconciliação, antes de qualquer coisa aos seus colegas, pois “Nisso CONHECERÃO todos que são meus discípulos, Se vos AMARDES uns aos outros.  Que tragédia quando missionários pregam e ensinam aos nacionais algo que nem eles mesmos conseguem vivenciar entre si. 

Missionários devem se submeter a seus superiores por amor a Cristo. Caso haja um problema a ser resolvido, situação na qual a autoridade máxima não estiver presente ou puder ser consultada, caberá ao missionário agir de acordo com os princípios bíblicos, as orientações da Missão Le a sua fé e consciência. Acima de tudo as suas motivações devem ser puras e galgadas no amor e na busca da glória de Jesus. 

Missionários tem necessidade de descanso e refrigério. Desta forma, é de bom tom respeitar a privacidade do colega, e evitar o vício de trabalhar demais. A necessidade e teor de privacidade e carência de lazer variam de pessoa a pessoa, portanto é necessário descobrir e interagir com cada um de acordo com suas características peculiares. É assim que Cristo age conosco. Portanto, devemos imitá-lo. 

Missionários devem evitar todo e qualquer tipo de fofoca, calúnia e depreciação de seus colegas no campo. Desavenças e questões devem ser tratadas face a face, em temor e amor. O Sol, em hipótese alguma, pode se por sob qualquer tipo de ira e toda raiz de amargura deve ser erradicada na nascente. 

Missionários devem por vezes praticar a renúncia a suas preferências, estilo e gostos, em prol da comunhão e companheirismo na equipe, convivência fraterna. É melhor se adaptar e procurar compreender a cultura do outro. Comentários e estereótipos negativos e destrutivos devem ser evitados sempre. O Senhor Jesus será o julgador e avaliador da obra de cada um. O dia designado para isso, já está determinado nos céus. O missionário de Cristo, por ser servo, não tem o direito de menosprezar e julgar o outro servo. 

 

O MISSIONÁRIO E A IGREJA ENVIADORA 

Uma outra orientação importante diz respeito a relação entre missionários e a igreja enviadora ao campo, já que todos estão estreitamente envolvidos do preparo ao envio e sustentação de um missionário no campo, portanto: 

Cabe ao missionário zelar pelos laços de amor e compromisso ministerial com aqueles entre os quais, ele foi reconhecido no seu chamado e vocação espiritual. Tal procedimento se baseia no sentimento mútuo de amor e comunhão, pelo quais ambos os lados abraçam a mesma causa, em nome de Cristo. 

Cristo conclama tanto os que vocaciona quanto os que reconhecem as vocações, a partilharem junta a tarefa missionária, parceiros que são do mesmo Corpo, da mesma igreja, em oração e dependência dele. Quem envia vai junto com quem é enviado, no sentido mais teológico missiológica do termo. 

Tanto a (s) igreja (s) quanto a Junta ou Agência, os quais, na retaguarda respondem pela missão de dar sustentáculo em oração, logística e na constante comunicação de lutas e necessidades, devem merecer toda a atenção e respeito do missionário, pois zelam com denodo para que o empreendimento missionário comum alcance bom êxito. Por isso cartas e relatórios devem ser vistos com carinho, pois mantém o vinculo de entendimento, propiciam a divulgação do trabalho e são usados pelo Espírito para agregar apoio e mesmo despertar novos vocacionados. 

O missionário não pode dispensar a formação de um grupo de intercessão totalmente compromissado com seu ministério, o qual deve ser informado regularmente de suas lutas, desafios, tristezas e vitórias. Este grupo, formado com cuidado, poderá receber certas informações e comunicação mais sensíveis e impróprios a um publico maior. 

Dentro do possível a (s) igrejas (s) enviadora (s) devem ser encorajadas pelo  missionário, a enviar periodicamente irmãos membros do conselho de Missões, ou mesmo da liderança maior da igreja ao campo. A visita e visão in loco do trabalho anima e encoraja o missionário a prosseguir e demonstrará aos irmãos nacionais o amor e a seriedade com os quais a igreja enviadora do missionário o sustenta na sua Missão. 

Caso o sustento do missionário venha apenas de uma fonte (uma só igreja), o missionário correrá o risco de perder o seu sustento ainda no campo, e se ver numa situação difícil. Daí, ser importante, procurar obter uma fonte múltipla de apoio financeiro quando ainda em casa. Igrejas se dividem e novos lideres, por quaisquer razões, podem minar a obra missionária de um obreiro. 

Desde o início faz-se vital um acordo sobre as condições de vida aceitáveis para o missionário, solteiro/a ou caso/s, com filhos ou sem. Estando no campo, tal acordo evitará confrontos e aflições desnecessárias. As condições de vida, mesmo tendo um sustento generoso, poderão ser extremamente difíceis. Certos campos serão marcados por extrema pobreza, atraso, corrupção, insalubridade, falta de recursos médicos e escolas. O missionário não pode e não deve sair para o campo, apenas tomado de utopia. 

A igreja, o missionário e os familiares que ficam devem ter a plena consciência de que todas as intempéries da vida estarão a frente do irmão/a que está deixando tudo para servir a Cristo em terras longínquas, podendo incluir acidentes e morte. O preço a pagar deve ser bem calculado e ser do conhecimento e de comum acordo entre as partes.

 A comunicação entre o missionário e as igrejas sustentadoras deve ser honesta e cristalina, especialmente quando o sustento do missionário é intermediado pela liderança de sua igreja, por Junta ou Agência missionária. Dúvidas, reclamações e mal entendidos precisam ser tratados, obedecendo aos ditames por estabelecidos em um espírito de respeito, amor e benignidade. Transparência, boa vontade e busca de compreensão e entendimento precisam ser as motivações interiores no relacionamento entre as partes. 

Por fim, o missionário precisa ter uma autoridade espiritual (líder-pastor/a), de caráter provado e cheio de amor ao Senhor, o qual poderá em situações extremas de desentendimento e angústia ser seu confidente. Esta pessoa poderá estar no campo, na igreja mãe, na Agência, ou na Junta enviadora. Um acordo de inviolabilidade espiritual deve permear tal comunhão. 

 

O MISSIONÁRIO E SEU RELACIONAMENTO COM OS   NACIONAIS 

Tendo em vista um ministério transcultural, faz-se imprescindível um prévio conhecimento da cultura do povo ao qual o missionário pretende servir. Leituras, quando possível contacto com a nova cultura e preparo transcultural nas áreas de antropologia missionária e comunicação transcultural devem ser realizados antes da chegada ao campo. 

Quando já no campo, um período de busca de conhecimento e compreensão da nova cultura, deve anteceder um engajamento pleno no trabalho missionário. Neste processo, a ajuda e orientação de missionários mais antigos no campo devem ser de imensa valia. Os erros dos últimos podem servir de bússola direcionadora aos novos missionários. 

O novo missionário deve desenvolver a capacidade para distinguir o que é cultural (a sua própria cultura), o evangelho, e a cultura local com seus costumes e tradições. 

A proximidade com os irmãos nacionais, tanto residindo próximo a eles, quanto cultivando amizades sólidas é o caminho correto para conhecer a sua cultura, a riqueza de sua fé, e a maneira certa de se comportar no campo. Tal atitude não exclui a liberdade de ter amigos missionários e outros que Deus poderá enviar ao longo do ministério. Entretanto o missionário precisa desfazer as malas e adotar o máximo possível a cultura e o estilo de vida dos nacionais, o que demonstrará amor e respeito, e propiciará mais e mais abertura para servir a Cristo ao lado deles. 

Ser missionário transcultural implica ouvir e aprender, e isto num processo continuam de serviço abnegado, acertos e erros, correções e a humildade para perdoar e pedir perdão. O missionário deve ter em mente sempre que ele veio para servir e não para dominar e julgar. 

A ordem de fazer discípulos significa que o maior serviço que o missionário poderá prestar no campo será de transmitir aos irmãos nacionais todo o Conselho de Deus e todas as capacidades que ele levar consigo ao campo. Conhecimento e dons não compartilhados não glorificam a Cristo e não transformam vidas nem ministérios. 

No exercício de seu ministério, o missionário deve exercer com toda seriedade o princípio de respeito e submissão às leis do país onde está servindo, bem como se submeter à autoridade eclesiástica sob a qual ele está servindo, bem como se submeter à autoridade  eclesiástica sob a qual ele está servindo, exceto quando obedecer a homens implica em desobedecer a Deus, o missionário deve ser exemplo de civismo, cidadania e ética. 

Finalmente, o missionário deve procurar agir de forma a não causar tropeço na fé dos nacionais. Quando houver necessidade de estudo e discussão a respeito de temas controversos tanto teológicos quanto éticos, ele deve guiar os irmãos a quem ele está servindo, a refletir à luz da Palavra de Deus acerca dos prós e contras, mediando um estudo e reflexo pacífico e construtivo. As decisões devem ficar a cargo da liderança local e nunca devem ser impostas pelo crivo do missionário.

 

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