ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA PRÁTICA

 


ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA

 

 A ciência da antropologia social deve ser reconhecida como disciplina essencial no treinamento missionário” (Edwin Smith, 1924).

 

INTRODUÇÃO

Meu objetivo neste artigo é expor a aplicação específica do conhecimento antropológico no ambiente missionário em processos que envolvem encontro de culturas que aqui denominarei de antropologia missionária.

Por antropologia missionária não me refiro à antropologia produzida por um segmento religioso ou uma antropologia missional - direcionada pelos valores teológicos da missão - mas sim ao estudo derivado do processo de utilização dos elementos antropológicos aplicados ao ambiente de interculturalidade envolvendo ações missionárias.

Desejo também levantar alguns assuntos a partir da relação da antropologia com a missiologia (e antropólogos com missionários), suas mútuas contribuições, distinções, preconceitos e também possibilidades

 

ANTROPOLOGIA APLICADA ÀS AÇÕES MISSIONÁRIAS

O estudo e uso da antropologia nas ações missionárias é relativamente novo e possivelmente recebeu seu primeiro forte impulso a partir da publicação do artigo de Malinowski intitulado Practical Anthropology   (Antropologia Prática) em 1929, ironicamente ele mesmo um opositor à atuação missionária, com algumas exceção.

Um dos pioneiros no incentivo do uso da antropologia nas ações missionárias foi Edwin Smith (1876-1957), filho de missionários e nascido na África do Sul, tendo servido também como missionário entre 1902 e 1915 entre o povo Baila-Batonga na Zâmbia.

Apesar de se considerar apenas um antropólogo amador, sua constribuição nesta área junto aos movimentos missionários foi marcante, bem como o reconhecimento que recebeu da comunidade antropológica internacional da época, sendo membro da Royal Anthropological Institute of Great Britain de 1909 até sua morte e tendo atuado por alguns anos como presidente da mesma.

Nos Estados Unidos da América a publicação do periódico com o mesmo título – Practical Anthropology – em 1953 serviu à comunidade missionária evangélica pela iniciativa de Robert Taylor no Wheaton College. 

Esta publicação gerou um crescente interesse e uso da antropologia no treinamento missionário e associaram-se a ela os escritos de Eugene Nida, William Smalley, William Reyburn e Charles Taber, entre outros (WHITEMAN, 2004).

Enquanto o estudo do homem pelo homem encontra suas raízes nos primórdios da sociedade, a antropologia, como ciência social, manifesta seu desenvolvimento teórico nos séculos 19 e 20 sob a influência de um ambiente de transformação social, descobertas científicas e exposição das ideias de Karl Marx, Emile Durkheim, Max Weber e outros pensadores. 

A partir daí a antropologia passa a ser construída pelo estruturalismo de Lévy-Strauss, o culturalismo de Franz Boas, a proposta interpretativa de Clifford Geertz e a abordagem pós-moderna de James Clifford, entre diversas outras influências, moldando variadas abordagens sobre o mesmo objeto de estudo, o homem, e a busca por conhecê-lo em sua multiforme área de vivência.

A divisão incipiente da Antropologia em física e cultura  não resulta puramente dos métodos usados para estudá-la, mas de sua própria história no desenvolvimento de teorias físicas (biológicas) e culturais (sociais) na pesquisa do homem, sua existência e comportamento (BARRETT, 2009, pp. 5-10).

Tradicionalmente a Escola Americana divide a antropologia em físicaculturalarqueológicalinguística, demarcando mais amiúde suas áreas de pesquisa.

A antropologia cultural, bem como outras, possui uma ampla variedade de aplicações e pesquisa como a arte, saúde, educação, alimentação, comunicação, religião, imagem, etnicidade e outras, em franca demonstração da necessidade dos óculos antropológicos na abordagem acadêmica ou prática de qualquer área de experimentação e interação humana.

É nesta esteira da busca pela compreensão do homem que algumas obras influenciaram profundamente o treinamento missionário incorporando ao mesmo o estudo antropológico.

Marvin Mayers, Ph.D. em antropologia, publicou Christianity Confronts Culture: A Strategy for Cross-Cultural Evangelism em 1974 contribuindo para a construção de uma ponte entre a evangelização e a sensibilidade cultural. Charles Kraft, com treinamento em antropologia, publicou Christianity in Culture em 1979, demonstrando o quanto a cultura influencia a maneira de compreendermos a teologia.

Apesar dos questionamentos teológicos à sua obra houve uma positiva influência no treinamento missionário e na observação das influências culturais.

Paul Hiebert, antropólogo, missiólogo e missionário, defendeu em seu livro Anthropological Insights for Missionaries, em 1985, que o missionário precisava conhecer as Escrituras, para entendê-la e interpretá-la, e conhecer o homem, para se comunicar com ele.

Ao longo de seus 10 livros e 150 artigos expôs a necessidade de uma antropologia aplicada ao contexto, necessidades e ações missionárias, e é provavelmente a maior influência nesta geração quanto ao uso da antropologia no treinamento missionário.

Diversas conferências evangélicas com a intenção de valorizar o uso da antropologia no meio missionário ganharam forma desde meados do século 19.

As mais conhecidas foram as de Nova York em 1854, a de Liverpol em 1860 e a de Londres em 1888, esta com 1.600 pessoas representando 53 sociedades missionárias.

Porém, neste período o marco de despertamento para o estudo da antropologia no meio missionário ocorreu em Edimburgo em 1910: “Edimburgo é importante porque mostra que missionários lutavam com todas as críticas que antropólogos faziam” (WHITEMAN, 2004, p. 40). O resultado desta conferência foi um amplo e crescente envolvimento com o estudo antropológico no meio missionário mundial.

Podemos aqui propor que a antropologia missionária visa o estudo do homem como ser biológico e cultural com a finalidade de desenvolver relações interpessoais equilibradas e comunicação inteligível em um ambiente de partilha das verdades de Cristo e envolvimento com a sociedade abordada, suas virtudes e desafios.

 

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