O QUE É IMPORTANTE SABER SOBRE O CHAMADO MISSIONÁRIO

 


ANTES DE CHEGAR AO CAMPO MISSIONÁRIO

 

Este artigo tem por objetivo destacar a importância da fase pré-campo na vida do missionário. Desde o seu chamado até o momento de sua chegada ao campo missionário, existem etapas a serem cumpridas e responsabilidades a serem partilhadas.

O treinamento adequado, propiciando ao missionário a possibilidade de executar seu trabalho com muito mais eficiência e eficácia, o levantamento de sustento apropriado também é abordado, devido à sua relevância.

Por último, mas não menos importante, tanto o momento do envio quanto o compromisso firmado pela igreja local (enviadora) são analisados.

Os resultados desta pesquisa demonstram a importância dessa fase que antecede à chegada ao campo e as consequências dela na vida do futuro missionário.

INTRODUÇÃO

É totalmente genuína a preocupação com aquilo que os missionários devem saber antes de chegar aonde Deus os enviou como Seus embaixadores. Por esta razão é que tantos se dedicam a instruí-los, treiná-los e prepará-los para essa maravilhosa e divina empreitada.

Contudo, a decisão de elaborar uma grade adequada de assuntos a serem abordados durante a fase preliminar para a formação do missionário ainda é motivo de debate.

O que é realmente relevante durante a fase de preparo deve ser levado em consideração de forma exaustiva. Tudo pode até começar com a chamada missionária, mas não termina nela.

Muitas vezes o caminho é longo até que se dê a chegada ao campo missionário. O treinamento formal e informal, proporcionando ao candidato um conhecimento prévio, mesmo que limitado, daquilo que supostamente encontrará no campo é de grande valor e imprescindível.

A necessidade do bom preparo é uma realidade, pois há muitos missionários que estão servindo em campos transculturais que levaram entre 5 e 10 anos para se prepararem adequadamente.

Foram capacitados na igreja local, como também em instituições teológicas visando um preparo missiológico.

Antes de chegar ao campo missionário apropriado, existe também o cuidado que se deve tomar em não queimar etapas.

Se olharmos para a realidade missionária latino-americana, reconheceremos rapidamente que nosso “calcanhar de Aquiles” reside naquilo que chamamos de imediatismo.

Na verdade, aqui no Brasil, este costume junta-se a outro fator que podemos denominar de “jeitinho brasileiro”, que se traduz como aquele comportamento muito comum de realizar as tarefas que temos em nossas mãos no último momento, quando não, fora do tempo determinado.

Desta maneira, se junta a rapidez inconsequente a uma inusitada irresponsabilidade no desenvolvimento cronológico das nossas tarefas.

Da mesma forma que se entende a necessidade do preparo, entende-se também a necessidade de se evitar a procrastinação no envio do missionário. As consequências da demora podem ser desastrosas, levando, inclusive, o vocacionado a abandonar seu chamado porque sua igreja deixou de observar algumas etapas que deveriam ser cumpridas no tempo determinado.

A CHAMADA

Indubitavelmente, todo aquele que tem um encontro pessoal com o Senhor Jesus, passando pela experiência do novo nascimento (Jo 3.3), ou seja, conversão, e decide tornar-se um de seus seguidores (Jo 3.67-69), recebe uma chamada.

Esta chamada é para apresentar e representar Jesus diante das pessoas (At 1.8), fazendo com que todos O reconheçam como seu Senhor e Salvador pessoal.

A chamada missionária, entretanto, apresenta um acréscimo na responsabilidade e comprometimento com a evangelização mundial por ser mais específica, como o próprio apóstolo Paulo salienta (1Co 9:17).

Faz-se necessário dizer que a chamada missionária é, antes de qualquer outra coisa, uma chamada direta do Espírito Santo. Este foi o caso de Paulo e Barnabé (At 13:2), por exemplo, e de qualquer outro que se declare comissionado pelo Senhor.

Entretanto, este texto não revela como esta chamada se deu. O mais provável é que Deus tenha falado à igreja através de seus profetas (At 13.1).

Porém, também se aventa a possibilidade de que esta chamada tenha sido interna, e não externa, ou seja, através do testemunho do Espírito em seus corações e mentes.

Por outro lado, alguns cristãos colocam grande relevância no significado de uma chamada específica recebida em uma data e local específicos.

Contudo, missões estão fundamentadas em uma base mais forte do que em apenas um senso subjetivo de chamada de Deus.

Sem sombra de dúvida, a chamada missionária é mais complexa do que se pode imaginar. Por esta razão, uma compreensão do significado bíblico-teológico do que é a chamada missionária se faz tão necessária.

A importância de compreender com exatidão o que é vocação missionária é real e há uma perspectiva sobre seu conceito tanto no Antigo Testamento (AT) quanto no Novo (NT).

Como exemplo de chamada no AT, destaca-se a de Abraão (Gn 12.1-3). Essa chamada “torna-se praticamente um referencial clássico para tudo aquilo que viria acontecer na história do povo de Israel”.

Em contrapartida, é de bom tom recordar que, em consequência dessa chamada, Abraão teve que romper seus laços familiares e deixar sua terra e seus amigos para trás, dentre outras coisas.

Ao se olhar para o NT, vê-se nos relatos de Mateus, Marcos e Lucas, em relação ao chamado dos discípulos, o sentido de uma “convocação imperiosa a um indivíduo ou a um grupo existente e mais ou menos bem definido como os discípulos”.

Já em Atos, pode-se ver um processo natural de desenvolvimento de chamadas. Essa convocação mencionada acima estaria sempre vinculada à comunidade dos santos, a saber, a igreja.

A possibilidade de acontecer auto chamamentos não existe, segundo a perspectiva divina. Contudo, é a teologia paulina que provê a fundamentação teológica do sentido de vocação missionária no NT.

Paulo encarnou de forma plena o sentido bíblico-teológico da vocação missionária que lhe foi concedida pelas seguintes razões:

1) Afirma que não vive mais para si mesmo, mas para Aquele que o salvou e chamou (Gl 2.20);

2) Disponibiliza-se para se preparar devidamente (Gl 1.17);

3) Dispõe-se a ser enviado por uma igreja local (At 13.1- 3);

4) Demonstra um estilo de vida que condiz com o de um missionário (Fp 4.11, 12).

5) Está disposto a sofrer por amor a Cristo (2Co 11.24-27);

6) Propõe-se a prestar contas de suas atividades (At 14.27).

O QUE CONSTITUI UM CHAMAMENTO MISSIONÁRIO?

Poucas vezes acontece algo como “um relâmpago caindo do céu”. O mais frequente é a chamada se manifestar como uma convicção profunda e crescente, baseada em princípios bíblicos sólidos, testemunhada no interior pelo Espírito Santo e confirmada no exterior pela Igreja.

Contudo, essa perspectiva a respeito da chamada missionária não é consenso. Outros autores compartilham de uma visão um tanto diferente e afirmam que a Bíblia não apresenta, de forma clara, uma base bíblica para a chamada missionária.

Dizer que há uma base bíblica para missões é subestimar toda a mensagem da Bíblia. Ao invés de argumentar a respeito da base bíblica de missões, deveríamos vê-la de outra forma – o trabalho de missões é a razão para a Bíblia.

Púlpitos evangélicos, salas de aula de seminários e livros teológicos reconhecem de forma crescente e proclamam esta verdade.

A Palavra de Deus ensina que Ele é um Deus missionário com um coração pelas nações. À medida que estudamos Sua Palavra e O conhecemos mais, veremos a Missio Dei (missão de Deus) entrelaçada ao longo dela do começo ao fim.

Apesar desse claro retrato de Seu coração pelas nações, Deus não define claramente a chamada missionária em nenhum lugar da Bíblia. Nós gostaríamos muito de ter uma lista de cinco qualidades, requisitos ou passos para discernir uma chamada missionária. Infelizmente, este não é o caso.

Entretanto, na verdade, a Bíblia nos ensina sobre a chamada missionária. À medida que crescemos em nosso conhecimento de Deus através de Sua Palavra, nosso coração começa a entrar em ressonância com o Seu próprio coração.

Embora a Bíblia não forneça uma definição de chamada missionária, ela fornece um meio através do qual se pode ver o desejo de Deus pelas nações e como Ele chama pessoas para levar adiante Seus desejos.

O autor defende a tese de que os exemplos bíblicos não são prescritivos, mas sim descritivos. Não devem ser vistos como precedentes aos quais se devam comparar experiências de chamadas posteriores. Ao invés disso, tais exemplos devem demonstrar o que aconteceu quando Deus chamou pessoas em tempos diferentes na história bíblica.

O amor e o despertamento por missões são outros aspectos fundamentais no processo de chamada de um cristão.

O relacionamento do discípulo com o Senhor Jesus é um relacionamento baseado em amor. O próprio Jesus declarou isso, afirmando que, se existisse amor por parte dos discípulos, a obediência aos Seus mandamentos seria uma consequência (Jo 14.15, 21; 15.10).

Portanto, a obediência à Grande Comissão deve também ser consequência desse relacionamento de amor com Jesus. “Se demonstrarmos amor e integridade através de uma vida justa e santa, estamos testemunhando de Cristo de maneira poderosa, seja qual for nossa vocação”.

Sendo assim, é o amor que deve impulsionar o discípulo à realização da obra missionária, pois, existindo amor pelo Senhor da obra, existirá amor pela obra do Senhor.

Entretanto, este amor por Jesus e por Sua obra deve conduzir os seguidores de Cristo ao envolvimento com a obra missionária, seja indo ou ficando na retaguarda para sustentar o empreendimento missionário. “Grande é a responsabilidade da Igreja e do crente na promoção da obra missionária. Todos os crentes, através de suas igrejas, têm de sustentar e promover a obra”. 

Como em qualquer empreendimento, a missão de Deus também se fundamenta em várias verdades motivacionais. Mas, nenhuma dessas verdades é maior do que a verdade teológica da salvação de Deus como motivação missionária. Todos aqueles que são agradecidos por sua própria salvação ficarão motivados a unirem-se a Deus em Seu empreendimento missionário.

Jesus entregou quatro diretrizes que fundamentam o mandato missionário da igreja. Essas diretrizes desafiam os seguidores de Jesus com uma chamada para envolverem-se em missões e elas servem como manual para o ministério missionário. Estas mesmas diretrizes, ou mandamentos, ainda estão em vigor para a igreja hoje: “somos enviados” (Jo 20.19-21); “a todos os povos”. Antes de chegar ao campo missionário “com uma mensagem” (Lc 24.46-48); “capacitados pelo Espírito Santo” (At 1.6-8).13

 

O TREINAMENTO

Dentro do processo de chamada para ir ao campo, uma etapa de crucial relevância é a fase de treinamento do vocacionado. Agências e juntas missionárias investem recursos financeiros e humanos para que seus missionários cheguem aos mais variados campos preparados para executar a missão que o próprio Deus lhes comissionou e entregou.

Na atualidade, existe uma facilidade muito grande para que alguém chegue ao campo missionário. Entretanto, a permanência no campo missionário ainda se apresenta como um grande desafio para a maioria dos missionários.

PODE DEUS USAR NO CAMPO MISSIONÁRIO ALGUÉM QUE POSSUA POUCO OU NENHUM TREINAMENTO?

Certamente que sim! Contudo, a ideia de ser um cooperador de Deus não significa ficar sentado, numa atitude passiva, e deixar que Deus faça todo o trabalho. Mesmo Filipe, que foi conduzido de maneira sobrenatural para ministrar ao eunuco etíope (At 8), era alguém com experiência prévia comprovada e tinha um ministério frutífero.

Jesus lembra que quem é fiel no pouco, será encarregado de muito (Mt 25.21,23).

No entanto, antes mesmo do treinamento e eventual envio do missionário, faz-se necessária uma seleção criteriosa.

1) Experiência de novo nascimento, ou seja, conversão;

2) Motivação correta;

3) Chamado genuíno de Deus;

4) Caráter cristão e maturidade espiritual;

5) Bom relacionamento com outros;

6) Capacidade de lidar com tensões;

7) Bom conhecimento bíblico;

8) Treinamento missiológico;

9) Formação profissional;

10) Reconhecimento como ser humano.

 Obviamente esses critérios podem variar de autor para autor. Por outro lado, mesmo concordando com o fato de que o treinamento inadequado anterior ao campo seja um dos motivos para o retorno prematuro nos NPE (Novos Países Enviadores), “fica evidente que mais da metade são fatores espirituais e de caráter.

Isto significa que o treinamento formal e não formal anterior ao campo precisa dar ênfase na formação do ser”.

O TREINAMENTO MISSIONÁRIO SE APRESENTA EM TRÊS CATEGORIAS:

Treinamento formal, que garante ao candidato seu credenciamento acadêmico;

Treinamento não formal, tipo de formação que se caracteriza por se dar fora da sala de aula, levando o candidato ao aprendizado através da experiência;

Treinamento informal, que caminha na direção de ensinar o candidato no ambiente da própria instituição de ensino, dando ênfase à convivência entre alunos e professores. Este último não é tão difundido como os anteriores.

O conhecimento necessário para estar preparado a ir ao campo missionário continua sendo motivo de controvérsia entre os missionários e também juntas e agências missionárias.

Contudo, há consenso em se dizer que não é admissível enviar ao campo missionários que não tenham o mínimo de informação sobre o povo a quem vão ministrar, a cultura e a cosmovisão do povo e o tão temido idioma local.

Contudo, conhecer a própria cultura faz com que haja uma possibilidade maior de conhecer a cultura do campo onde o missionário está inserido e relacionar-se com ela.

Referindo-se estritamente ao contexto norte-americano, o que se ensina, se aprende e se aplica sobre a fé é levado ao exterior como Evangelho cultural.

Podemos pensar que já entendemos nossa própria cultura, mas geralmente não a entendemos até que entramos em outra cultura e então olhamos para a nossa. Uma das primeiras coisas que você aprende no campo é como olhamos para as outras pessoas.

Os africanos nos chamam de “ofensivos” porque assoamos o nariz e guardamos o resultado no bolso.

Os asiáticos pensam que somos “bagunceiros” porque guardamos nosso lixo dentro de casa e o levamos para fora uma vez por semana.

Os latino-americanos dizem que somos “loucos” porque permitimos que nossos cachorros durmam em nossas camas.

Os dominicanos da zona rural veem os cristãos como “imorais” porque permitem que homens e mulheres nadem juntos.

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