A IMPORTÂNCIA DA PARCERIA NA OBRA MISSIONÁRIA - PARTE 1


A OBRA MISSIONÁRIA PRECISA DE PARCERIA

Filipenses 4.10-23

O propósito deste texto é agradecer a dádiva que Epafrodito (2.25-30) trouxe ao apóstolo Paulo em Roma (4.18). Paulo chega a uma das principais razões por que está escrevendo: expressar sua gratidão pela oferta que Epafrodito lhe trouxera da igreja de Filipos.

O apóstolo a reservou para o fim com o objetivo de dar-lhe ênfase. Nesse tributo de gratidão, Paulo dá um belo testemunho de sua relação com a igreja de Filipos na realização da obra missionária. Destacamos, aqui, dois pontos a guisa de introdução:

1. A cooperação é o melhor caminho para a realização da obra missionária (4.14);

Paulo não poderia levar a cabo tudo o que fez sem o apoio e a ajuda da igreja de Filipos. Essa igreja deu-lhe suporte financeiro e sustentação espiritual.

Aqueles que estão na linha de frente precisam ser encorajados por aqueles que ficam na retaguarda.

“… porque qual é a parte dos que desceram à peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes iguais” (1Sm 30.24).

Deus chama uns para irem ao campo missionário e aos demais para sustentar aqueles que vão.

A obra missionária é um trabalho que exige um esforço conjunto da igreja e dos missionários. Neste texto vemos claramente como essa parceria funciona.

2. O missionário precisa estar vinculado a uma igreja e a igreja precisa estar comprometida com o missionário.

A relação de Paulo com a igreja de Filipos era de parceria. Paulo estava ligado à igreja e a igreja o apoiava. Havia uma troca abençoadora entre o obreiro no campo e os crentes na base. A igreja não apenas enviava ofertas ao missionário, mas estava efetivamente envolvida com ele.

A falta de vínculo entre o missionário e a igreja local é um dos grandes problemas da missiologia moderna. As agências missionárias assumiram o papel das igrejas.

Os missionários vão para os campos, mas perdem o contato com as igrejas. As igrejas enviam ofertas aos missionários, mas não se envolvem com eles no sentido de dar e receber. Assim, os missionários ficam solitários nos campos e as igrejas alheias aos resultados que acontecem nos campos. Falta aos missionários o encorajamento das igrejas e, às igrejas, as informações dos missionários.

A RESPONSABILIDADE DA IGREJA COM O MISSIONÁRIO

1. Sustento financeiro sistemático (4.10,17).

A igreja precisa cuidar do obreiro e não apenas da obra. A igreja demonstra cuidado com o obreiro na medida em que lhe dá suporte financeiro para realizar a obra. Todos os recursos para a realização da obra de Deus já foram providenciados; estão nas mãos dos crentes.

Paulo não recebeu salário de algumas igrejas para proteger-se dos críticos de plantão que tentavam distorcer suas motivações e atacar seu apostolado.

Por outro lado, algumas igrejas, como a igreja de Corinto, deixaram de pagar o que lhe era devido, precisando das igrejas da Macedônia, inclusive da igreja de Filipos, enviar-lhe sustento enquanto ele trabalhava em Corinto (2Co 8.8,9; 12.13).

De forma particular a igreja de Filipos deu suporte financeiro a Paulo, mesmo quando estava ainda na região da Macedônia, no início do processo de evangelização da Europa (4.16).

A igreja de Filipos jamais teve falta de interesse de ajudar o apóstolo; teve sim, circunstâncias desfavoráveis para fazê-lo. Hoje, muitas igrejas têm oportunidade para ajudar os missionários, mas falta-lhes interesse.

A sustentação financeira aos missionários precisa ser sistemática, pois as necessidades dos obreiros são diárias. Não é suficiente enviar ofertas esporádicas. A contribuição precisa ser metódica, suficiente e contínua.

2. Sustento espiritual nas tribulações (4.14).

A igreja de Filipos não apenas enviava dinheiro para Paulo, mas também consolo. Ela não apenas supria suas necessidades físicas, mas também emocionais e espirituais.

Os filipenses haviam renovado sua bondade de dois modos: ajudando o apóstolo financeiramente e partilhando-lhe a aflição. Era uma igreja que contribuía para a obra missionária não apenas por um desencargo de consciência, mas, sobretudo, por um profundo gesto de amor ao missionário. A igreja de Filipos enviou Epafrodito não apenas com uma oferta, mas como a oferta para Paulo.

A expressão grega synkoinoneim “associando-se” significa associar-se não somente a Paulo como indivíduo, mas, sobretudo, associar-se em sua obra apostólica. A igreja era parceria do apóstolo e também da obra. A igreja se importava com o obreiro e também com a obra.

3. Reciprocidade na relação com o obreiro (4.15).

A igreja de Filipos tinha um lugar especial na vida de Paulo. Desde o início, ela tornou-se parceria do apóstolo e continuou assim até o final.

Era uma igreja constante no seu compromisso com Deus e com o apóstolo.

Há igrejas que têm picos de entusiasmo pela obra missionária por um tempo, fazem conferências especiais, enviam o pastor para congressos missionários e fazem levantamento de provisão para os obreiros que estão no campo, mas depois abandonam essa trincheira e abraçam outras prioridades. A igreja de Filipos era uma igreja fiel no seu envolvimento e engajamento com o missionário e com a obra missionária.

A relação da igreja com o apóstolo era uma avenida de mão dupla. Ela dava e recebia. Ela investia bens financeiros e recebia benefícios espirituais (1Co 9.11; Rm 15.27). Ela investia riquezas materiais e recebia riquezas espirituais. De Paulo, a igreja recebia bênçãos espirituais; da igreja, Paulo recebia bênçãos materiais. Ela ministrava amor ao apóstolo e recebia dele gratidão.

4. Faz das ofertas ao missionário um sacrifício vivo a Deus (4.18).

A igreja de Filipos não ofertava com pesar nem por constrangimento. Ela fazia da oferta ao apóstolo um culto a Deus. Ela enviava o sustento de Paulo com alegria tal como se estivesse oferecendo a Deus um sacrifício aceitável e aprazível.

A contribuição missionária era um ritual de consagração, um tributo de louvor a Deus feito com efusiva alegria e, uma liturgia que subia ao céu como um aroma suave e agradável a Deus.

O apóstolo usa palavras que fazem do dom dos filipenses não um presente para Paulo, mas um sacrifício para Deus. A alegria de Paulo em receber oferta não está no que esta significava para ele, mas no que significava para eles. Não que Paulo deixasse de apreciar o valor do dom em seu favor, nem que ele desestimulasse o que eles faziam por ele; mas o que mais o alegrava é que esse mesmo dom era uma oferta agradável a Deus.

Paulo não poderia ter tributado melhor louvor aos doadores. Os donativos são “aroma de suave perfume”, uma oferenda apresentada a Deus, grata e muito agradável a ele. São comparáveis à oferta de gratidão de Abel (Gn 4.4), de Noé (Gn 8.21), dos israelitas quando no estado de ânimo correto apresentavam seus holocaustos (Lv 1.9,13,17) e dos crentes em geral ao dedicar suas vidas a Deus (2Co 2.15,16), como fez Cristo, ainda que de uma maneira única (Ef 5.2).

4. Faz ofertas não das sobras, mas apesar das necessidades (4.19)

A igreja de Filipos tinha o coração maior do que o bolso. Eles davam não do que sobejava, mas das suas próprias necessidades. Eles ofertavam sacrificialmente. Eles eram pobres, mas enriqueciam a muitos. Eles nada tinham, mas possuíam tudo. Eles olhavam a contribuição não como um peso, mas como uma graça, como um dom imerecido de Deus (2 Co: 81). 

Eles não apenas davam com generosidade, mas também com sacrifício (2 Co: 8.2), pois ofertavam não apenas segundo suas posses, mas voluntariamente ofertavam acima delas (2 Co: 8.3). Eles ofertavam não apenas para Paulo, o plantador da igreja, mas também para irmãos pobres que eles jamais tinham visto (2 Co: 8.4). Eles deram não apenas dinheiro, mas a eles mesmos (2 Co: 8.5).

William Barclay corretamente afirma que nenhuma dádiva faz o doador mais pobre. A riqueza divina está aberta para os que amam a Deus e ao próximo. O doador não se faz mais pobre, senão mais rico, porque seu próprio dom é a chave que lhe abre os dons e as riquezas de Deus


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