ACULTURAÇÃO NO CAMPO MISSIONÁRIO PARTE 3
MARCHANDO
RUMO À ADAPTAÇÃO
Viver
em uma nova sociedade e se tornar bicultural exige grandes doses de atenção,
renúncia e flexibilidade. O bom senso e o reconhecimento dos próprios limites
devem ser aliados de todos aqueles que encaram um processo de adaptação.
Em
nossa missão de encarnação, ao lidarmos com a assimilação da cultura local
nosso alvo jamais será o de perder a nossa identidade cultural ao longo do
processo. Todo esforço será empreendido no sentido de mantê-la enquanto
assimilamos a nova, combinando assim as duas.
É
ser brasileiro e viver numa segunda cultura, assimilando a cultura local, sem
deixar de ser brasileiro e ministrando em caminhos que o povo reagente é capaz
de compreender. Por qual razão em que nos encontramosʔ Pela causa do evangelho!
Um dos passos
decisivos nesse processo é sairmos da nossa “zona de conforto” e desenvolvermos
o maior número possível de relacionamentos com os nacionais. Em vez de nos
limitarmos somente às reuniões de oração entre missionários, devemos ampliar as
nossas fronteiras e interagir com a comunidade. Como diz um provérbio africano.
“Amizade se faz com os pés”!. Logo, se desejamos criar amigos no novo contexto,
precisamos pôr o pé na estrada.
Um comportamento que tem facilitado bastante o
processo de imersão cultural de missionários recém-chegados em seus campos de
trabalho é o de morar temporariamente com uma família nacional. Essa
experiência proporciona ao obreiro o privilégio de conhecer a cultura de perto
favorecendo a observação de comportamentos, hábitos costumes e tradições do
povo. Essa é uma ferramenta estratégica também para o rápido desenvolvimento do processo de
aquisição lingüística.
É ponto pacífico
entre missionários mais experientes que o segredo para causar impacto genuíno
em determinada comunidade é se tornar
parte dela. Sendo assim, caso desejemos realmente nos adaptar, conquistar o
povo e influenciar o novo contexto cultural, a proximidade, o relacionamento e
a integração com os nacionais devem ser o nosso alvo.
Os missionários
com mais chances de serem bem sucedidos são aqueles que desenvolvem a
capacidade de se entrosar, ou seja, de estar em contato com o povo e de fazer
amigos facilmente.
Devemos
empreender todo o nosso esforço em criar amigos entre os nacionais. Somente
assim iremos nos divertir enquanto trabalhamos com eles. Devemos conhecê-los em
suas casas e na igreja também. Devemos nos sentar com eles e conversar,
desfrutando, dessa forma, da comunhão social. O envolvimento social ajuda no
aprendizado da língua e evita aborrecimentos desnecessários.
Por outro lado,
quando o missionário não se relaciona com o povo ele está se isolando em vez de
se proteger e assumindo uma posição vulnerável. Sistematicamente, uma enorme
barreira está sendo erigida entre as duas culturas e quem mais sofrerá nesse
processo é o próprio missionário. Em lugar de se adaptar, de aprofundar seu
conhecimento da língua e da cultura de desenvolver uma vida normal estará se
afastando. Com isso, não terá uma rede considerável de amigos e padecerá de
saudades excessivas do seu ambiente de origem.
Os
relacionamentos na nova cultura são fundamentais e num primeiro momento o
estrangeiro é o mais beneficiado por eles.
Durante a nossa
segunda estada no Timor Leste, chegamos a conclusão de eu se não fosse por meio de relacionamentos não
teria sido possível conquistar qualquer tipo de
credibilidade para comunicar a nossa mensagem entre o povo local.
Se vivêssemos
distante dos nossos vizinhos e amigos e somente visitássemos a comunidade de
vez em quando, entendemos que não teríamos causado o mesmo impacto.
Ao viver entre a
comunidade local aprendemos a observar a vida do povo em detalhes, ao
mesmo tempo em que eles observavam a
nossa. Privacidade foi um dos aspectos mais
difíceis em nossa caminhada, mas, sem dúvida alguma, importante em nosso
processo de adaptação e missão de proclamação.
Caso os tropeços culturais representem o principal
motivo que esteja nos impedindo de avançar, será necessário investir tempo a
fim de reconhecê-los e corrigi-los. Quando isso acontecer, as chances de
sucesso futuro serão maiores. Mas se forem perpetuados por longa jornada, o
povo nos verá sempre como estrangeiros e jamais como parte da sociedade local.
É importante
lembrar a esta altura que o lugar onde servimos será apenas mais um lugar se
ele não se tornar a nossa casa. Porém,
se tornará a nossa casa ao desenvolvermos profundidade de relacionamentos. Uma
vez que casa é o lugar onde estão os nossos amigos e a nossa família.
APROVEITANDO OS
ASPÉCTOS FAVORÁVEIS
Viver numa
diferente atmosfera pode produzir reações negativas no missionário, como a
perda do apetite, surgimento de alergias, caspa, queda de cabelo,
envelhecimento precoce, etc. Contudo, um comportamento sugerido em nossa tarefa
de tornar o processo de adaptação possível é permanecermos atentos aos aspectos
simpáticos no novo ambiente que despertam o nosso entusiasmo e nos fazem sentir
confortáveis. Com o passar do tempo, esses aspectos vão se tornando mais
evidentes.
Durante meus anos
de ministério, tenho aprendido que, em cada país, não encontramos apenas
pluralidades e surpresas, mais também
inúmeras similaridades, vantagens e objetos de admiração. E esses aspectos
positivos podem estar relacionados ao clima, à alimentação, à geografia, à
cultura, dentre outras áreas da vida do povo. É importante observar e
aproveitar as oportunidades.
Quando minha esposa
e eu estivemos no Timor Leste, aprendemos a admirar a generosidade do povo, fatos que, em pouco tempo, fez
nascer em nosso coração o amor e o respeito por aquela terra. Um dia pegamos
uma lotação que seguiu para o caminho errado. Ao percebermos que estávamos
perdidos, explicamos o problema ao motorista. A forma como agiu nos
surpreendeu, ele desviou do caminho, estacionou num ponto apropriado, parou
outro veículo que ia para a direção correta e anda, pagou as nossas passagens.
Não é imprescionanteʔ
EVITANDO
PROBLEMAS DESNECESSÁRIOS
Outra atitude que
trabalhará a nosso favor será evitar comparações. É verdade que até nos
adaptarmos à nova culinária, por exemplo, será um árduo exercício (missão quase
impossível) não comparar a comida local com a que estávamos acostumados em
nossa terra natal: coxinha de galinha, pão de queijo, pastel, feijoada, etc.
O contraponto é
que, se as comparações não forem evitadas,
sobretudo em
público, corremos o risco freqüente de
criar situações d constrangimento no
relacionamento com o povo e de erigir barreiras emocionai perfeitamente
dispensáveis, dificultando ainda mais o processo de adaptação.
Não há dúvidas a
esse respeito ou o missionário procura se acomodar à cultura em contato ou ele
vai viver uma vida confusa, entre dois mundos. Ele não se adapta bem ao novo
contexto nem se desprende do que ficou para traz, aquele que, pelo menos
temporariamente não faz mais parte do seu dia-a-dia.
Se alguém espera
pensar e agir numa outra cultura da mesma maneira como o faz em sua cultura de
origem, seria melhor permanecer em casa. As normas de vida são diferentes em
outras culturas e precisamos estar preparados para aprender e utilizar o
sistema do povo local.
Até atingirmos
uma posição confortável no processo de adaptação e nos sentirmos parte da
comunidade, é normal acumularmos alto nível de estresse, fator que,
conseqüentemente, resulta em choque cultural.
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