SOMOS CHAMADOS PARA QUÊ?
SOMOS CHAMADOS À ESPIRITUALIDADE
Jesus chama esses frágeis e pecadores “para estarem com ele”. É um
chamado à intimidade, à espiritualidade. É um chamado para conhecer o mestre,
pois a medida que o conhecemos, somos transformados por Ele.
Estou cada vez mais convencido que nosso crescimento espiritual está diretamente
ligado à compreensão das nossas próprias fragilidades e pecados. No sermão do
monte (Mt 5 e 6), Jesus nos abre os olhos para diferentes níveis de pecados.
Abaixo dos pecados de ação (como assassinato, adultério…), estão os pecados de
intenção (como ira, desejos…) e num nível mais subjacente estão os pecados de
motivação (como temor aos homens).
A medida que nos aproximamos de Cristo e de Sua Palavra é que o Espírito
Santo vai trazendo à nossa consciência os pecados mais ocultos da alma,
alojados nas zonas escuras do coração. Assim, é provável que a reatividade de
Pedro tivesse por trás autossuficiência, a ambição de Tiago e João fosse
resultante de autojustiça, o fanatismo de Simão conseqüência de altivez, sendo
tudo isso subprodutos do orgulho.
A relação corrompida de Mateus e Judas com o dinheiro certamente
resultava da ganância e esta é filha da idolatria, assim como as dúvidas de
Tomé eram resultantes da incredulidade.
Mas Cristo quis chamar esses caídos para perto d’Ele e fez do Pedro
inconstante uma das colunas da igreja de Jerusalém, deu ao Tiago ambicioso o
privilégio de ser o primeiro mártir, fez do João impulsivo o apóstolo do amor,
usou o Mateus corrupto para escrever um evangelho, o Simão nacionalista como
missionário no Egito, Cirenaica, Mauritânia, Líbia e Ilhas Britânicas, bem
como, o Tomé incrédulo como missionário na Índia.
Nosso primeiro chamado é para estar com Cristo, onde seremos
transformados, e não de maneira pontual, mas processual, assim como Pedro que
mesmo tempos depois ainda tinha áreas reprováveis em seu caráter (G 2.9). Esses
somos nós, missionários, vistos por muitos como heróis mas de fato, pecadores
em processo de santificação.
Nosso maior desafio no campo missionário não é aprender línguas
complexas, compreender culturas exóticas, nos adaptar a ambientes para nós
desconfortáveis, mudar hábitos e gostos alimentares, morar em palhoças ou
casebres, embrenhar por florestas traiçoeiras, navegar por rios inóspitos ou
peregrinar por desertos causticantes.
Também não é encontrar espaço em sociedades pós-modernas, comunicar uma
mensagem religiosa para mentes secularizadas, sermos rechaçados como
retrógrados, tidos como inconvenientes e discriminados como supersticiosos.
Nosso maior desafio no campo missionário é, sim, enfrentar as mazelas da
nossa alma, encarar a feiura do nosso próprio coração, romper com as amarras que
nos prendem, guardar o coração da vaidade frente aos elogios, do abatimento
frente às críticas, do descontentamento frente às frustrações, amar o colega de
equipe, amar o povo ao qual servimos, sermos mais servos e menos senhores, mais
amigos e menos patrões, mais tolerantes e menos exigentes. Sem a graça, esse é
um desafio inatingível e talvez por isso mesmo o Senhor nos chama para estar
com Ele.
Texto
escrito por Cácio Silva
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