O CORAÇÃO DE UM MISSIONÁRIO
Grande
parte dos missionários (como nós também) procura passar para os irmãos e
igrejas somente as bênçãos, frutos da Fidelidade e Bondade de Deus, bem como
das orações dos irmãos.
Mas,
em poucas vezes, os missionários sentem-se a vontade para abrirem seus corações
e compartilharem também outros sentimentos, como tristezas e decepções.
Existem
vários motivos para que isso aconteça, mas quero analisar apenas alguns aspectos
que partem de idéias erradas de irmãos e igrejas com relação a pessoa do
missionário.
Primeiro,
alguns pensam que o missionário é um super-homem (ou super-mulher) e que caso
ainda não seja deve ser, e como tal não tem necessidades emocionais,
espirituais ou físicas. Expor os sentimentos do coração, na visão destes, é sinal
de fraqueza ou falta de fé.
Segundo,
alguns pensam que o missionário é um pobre coitadinho, e o tratam como o assim
fosse. Abrir o coração, na visão destes, é somente a confirmação de que um
missionário é um pobre coitadinho da vida.
Mas
o que a Bíblia fala a respeito disso?! A Bíblia mostra e maneira muito clara
que o missionário não é um super-homem (ou super-mulher) e nem um pobre
coitadinho, mas sim um servo do Deus vivo e Verdadeiro chamado e vocacionado
por Deus para uma missão que Ele mesmo designou. É um embaixador de Deus! Mas,
ainda assim um ser humano, com sentimentos e emoções como também foram muitos
grandes servos de Deus na Bíblia.
A
Bíblia é um livro maravilhoso, e mostra não somente os grandes feitos de homens
e mulheres usados por Deus mas também seus sentimentos e até falhas. Muitas
vezes pensamos que eles foram pessoas especiais, super-homens e super-mulheres,
mas na verdade não eram.
Eram
pessoas tão comuns como eu e você, e que fizeram grandes coisas pelo simples
fato de obedecerem a Deus. Era Deus a sua fonte de fortaleza e sucesso! Mas,
ainda assim tinham também suas fraquezas e falhas, frutos de sua natureza
humana. A
completa perfeição só alcançaremos nos céus (Ef 4:13).
Dentre
estes homens e mulheres que foram grandemente usados por Deus estão: Abraão,
Elias, Paulo e muitos outros. Mas longe de serem super-heróis e eram homens a
nossa semelhança, como está escrito a respeito de Elias e se aplica a todos
outros.
Elias
era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse
e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o
céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto." (Tg 5:17,18).
Elias é um exemplo que mesmo depois de grandes vitórias, podem acontecer
momentos de decepção. Depois da grande vitória sobre os profetas de Baal, a
rainha Jesabel intenta matar Elias e ele foge para o deserto e debaixo de uma
árvore mostra-se decepcionado e pede a Deus para morrer.
Mesmo Abraão, conhecido pela sua fé, demonstrou certa incredulidade quando
descendo ao Egito disse que Sara era sua irmã, temendo que alguém o matasse por
causa da beleza de sua esposa (Gn 12:11-13).
Paulo,
o grande apóstolo e que escreveu quase que a totalidade dos livros doutrinários
do NT, teve os mesmos sentimentos que os atuais missionários e em diversas
ocasiões abriu seu coração mostrando seus sentimentos, tão humanos quantos os
nossos.
São
do apóstolo Paulo as seguintes palavras: "Que tenho grande tristeza e
contínua dor no meu coração.
(Rm 9:2);
Porque
em muita tribulação e angústia do coração vos escrevi, com muitas lágrimas, não
para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que
abundantemente vos tenho.(2 Co 2:4).
Com
estes exemplos não quero menosprezar a nenhum desses grandes homens de Deus,
mas destacar que les tinham os mesmos
sentimentos que qualquer um de nós. Eles não só riam, mas também choraram; não
só tiveram fé para realizarem grandes obras para Deus, como também em alguns
momentos demonstraram certa incredulidade diante de algumas dificuldades; não
só consolavam, mas também em alguns momentos precisavam do consolo. Eram homens
como nós, com fraquezas e limitações, mas que ousaram confiar em Deus
e obedecê-Lo, e é nisto que está o segredo de suas vidas.
O
próprio Jesus no Getsemane, poucas horas antes da crucificação
abre seu coração para seus discípulos nos momentos
que antecediam o calvário:
Então
lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e
velai comigo. (Mt 26:38). Como
estes grandes servos de Deus do passado, os missionários atuais também têm
sentimentos e emoções.
O
missionário sente alegria quando as almas vêm para Cristo, mas também sente
tristeza quando apesar de todo esforço e sacrifício ele não vê as almas se
convertendo; quando mesmo perseverando na semeadura ele não vê a semente caindo
em terra boa; quando ansiando por cartas com palavras de apoio, incentivo e
encorajamento dos irmãos e igrejas do seu país, estas não chegam e as poucas
cartas quando chegam não trazem encorajamento e sim apenas pedidos de
relatórios; quando apesar de terem deixado tudo por Cristo e para servir na
obra missionária, algumas vezes, não são tratados com adignidade que merecem e
infelizmente são vistos por alguns como, alguém que tem de ficar a mendigar e a
comer das milhas que caem dos grandes banquetes de certas igrejas que relegaram
à obra missionária apenas o resto; além de muitas outras coisas que poderiam
ser acrescidas aqui.
Um
outro problema na hora do missionário abrir seu coração,
e porque talvez poucas pessoas realmente entenderão o que ele está sentido. Não
é fácil para uma outra pessoa que não tenha experimentado as mesmas condições
(ou próximas) entender muitas vezes os sentimentos e necessidades de um missionário.
Seria algo parecido como tentar explicar uma dor de dente para alguém que nunca
na vida sentiu dor de dentes. Dentre os muitos diferentes aspectos ou situações
estão:
*
Solidão, principalmente em culturas totalmente diferentes (incluindo a língua)
o que dá uma sensação para alguns de se estar perdida, como um peixe fora água;
*
Saudade - num nível mais elevado da palavra e que pode envolver pessoas,
lugares, língua e até comidas, dentre outras;
*
Diferenças culturais - que vão além da maneira de vestir, mas também inclui a
maneira de pensar e ver as coisas (cosmovisão) de uma maneira totalmente
diferente ao que está acostumados.
*
E muitas outras situações, que podem incluir: problemas financeiros, de saúde,
burocráticos (Governo do país onde se está), etc.
Estes
são apenas alguns dos fatores que com certeza contribui para que muitos
missionários não se sintam com liberdade para abrir seus corações, pois em
muitas vezes ao invés do encorajamento o que recebem é incompreensões, desabafos
e até repreensões. Infelizmente existem muitos bravos soldados feridos, e
outros que estão carregando ressentimentos e amarguras em seus corações por não
terem encontrado pessoas com que pudesse abrir seus corações, apenas
ouvirem-nas... Apenas as entenderem... Apenas estar do lado... Apenas ser
amigo! Que remédio celestial!
Algumas
vezes fico pensando se o apóstolo Paulo teria sido o que foi sem o apoio,
incentivo e encorajamento que recebeu de Barnabé (chamado filho da consolação
ou encorajamento) no inicio de sua fé cristã. Um estudo mais profundo demonstra
como foi importante, mais do que imaginemos a principio, a influência de
Barnabé na vida e ministério de Paulo.
Que
Deus levante mais Barnabés, que tenham o coração disposto a ouvirem,
entenderem, que estejam ao lado e que ministrem consolação e encorajamento para
os missionários nos dias atuais.
Graças
a Deus pelos Barnabés atuais, irmão e igrejas, que tem verdadeiramente sido
usados por Deus para ministrar consolo e encorajamento para os missionários e
com os quais os missionários podem abrir sem reserva seus corações.
Ora,
o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os
outros, segundo Cristo Jesus (Rm 15:5).
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