TESTEMUNHO DE UMA MISSIONÁRIA NA ÍNDIA



CHAMADA MISSIONÁRIA

Sou brasileira nordestina, nascida no  Estado do Rio Grande do Norte;

Aos seis anos de idade meus pais resolveram fixar residência na bonita e turística cidade de Fortaleza, no Estado do Ceará. Ao longo do litoral cearence encontramos uma bonita e distinta paisagem, formada por extensas praias e dunas.

Paralelo a essa beleza natural, eu também contava com o aconchego de uma calorosa, unida, religiosa e tradicional família.

Somos uma numerosa família de nove filhos. Todos nós fomos batizados ainda em tenra infância, na Igreja Católica, frequentamos catecismo, fizemos primeira comunhão e, também fomos crismados. Quando adolescente fui líder carismática e coordenadora da pastoral na comunidade onde morávamos.

Dirigi círculos bíblicos em diversos lares, e participava ativamente dos trabalhos de evangelização em presídios, asilos e orfanatos. Nunca pensei em ser freira, pois sentia-me vocacionada a maternidade. O hábito da leitura das Sagradas Escrituras cultivado pelos meus pais, desde a minha infância, ajudou-me na compreensão de que eu era uma pessoa extremamente religiosa, porém sem vida com Deus. Eu sempre acreditei que precisávamos “fazer alguma coisa”, tais como as boas obras que eu vinha realizando, para ganhar o favor de Deus e irmos para o céu. Na verdade quase todas as religiões acreditam nisso também!

Tentamos chegar a Deus à nossa maneira e entendimento... Fui evangelizada por uma amiga na Universidade e a partir daí, percebi a discrepância entre o meu discurso e a minha prática de vida. Vi que apesar da vida religiosa eu vivia em pecado. Era uma pessoa sem domínio próprio, portanto, entregue aos desejos e cobiças carnais.

Por mais que me esforçasse, não conseguia conservar o meu espírito e a minha carne dentro dos limites da moralidade, por não conseguir, também me abster de vícios físicos, emoções e pensamentos vis. Sempre fui uma pessoa manipuladora. E em tudo queria tirar vantagens.
Mas, agora a vida irrepreensível daquela minha amiga me constrangia e me conduzia com ternura a uma séria reflexão sobre a minha própria vida.

Foi então, quando entendi que ela havia experimentado aquilo que a Bíblia nos fala acerca do novo nascimento. Minha amiga começara a mostrar-me um Jesus que até então, eu não conhecia. Um Deus pessoal que estava bem mais interessado em mim do que em meu “trabalho para Ele”. O Deus vivo e que desejava ser meu melhor amigo.

Conduzida desta forma pelo Espírito Santo de Deus em dezembro de 1991 percebi minha condição de pecadora carente da graça de Deus; reconheci, também, que o meu egoísmo separava-me da convivência com esse Deus Santo. E com entendimento e firmeza de convicção entreguei o senhorio da minha vida a Cristo numa decisão consciente, e portanto, em nada emocional e alienante.

A despeito do preço do discipulado a que Jesus nos chama, e fascinada pelo brilho da emoção que começava a desfrutar nessa nova relação com Jesus, gradualmente vi minha vida sendo transformada. De fato, o conhecimento da verdade liberta!

Obedecer aos mandamentos de Jesus se constitui a minha maior ambição, desde aquele maravilhoso dia. E, assim em 1993 participando de uma Conferência Missionária na Igreja Betesda em Fortaleza, ouvi o Espírito de Deus me desafiando a fazer parte da Comissão de Seus discípulos espalhados pelos confins da terra testemunhando de Jesus! Nessa época, eu era funcionária da Universidade Federal do Ceará.

Apesar de ainda estar no quadro administrativo, já havia logrado êxito no Concurso interno da Universidade e aguardava o chamado para assumir posição no quadro docente do Departamento de Pedagogia, e assim, realizar o meu sonho profissional de tornar-me professora universitária.

Paralelo a essa atividade, eu também estava bem engajada nas atividades da Betesda, tais como: professora da Escola Bíblica Dominical; discipuladora de novos convertidos; evangelismo no Presídio Feminino de Fortaleza e líder na mocidade. Tudo isso me conduzia a uma vida bem estável.

Mas a convicção daquele chamado me desafiava a renunciar tudo e seguir a Cristo! E de forma profética em julho de 1994 durante uma vigília de oração o Espírito Santo delimitou em meu coração os limites geográficos, a cultura e as tradições do povo indiano, me orientando para o centro da vontade de Deus. Deus ama os indianos e eu poderia ser um canal ou instrumento em Suas mãos para fazer circular Seu cuidado e amor por essa gente.

Em Janeiro de 95 eu já estava pisando no solo indiano e assim iniciando o processo de concretização da vontade Divina para a minha vida.

Tomar essa decisão não foi fácil! O que poderá me acontecer na Índia? Poderei ser mordida por uma dessas grandes cobras que vemos a serviço dos inúmeros encantadores nas esquinas desse país? O que terei que fazer para adaptar-me ao tempero picante deles? Essas eram algumas das dezenas de perguntas que me atormentavam a mente frente ao desafio de vir morar na Índia. Hoje, passados quase 7 anos, quando olho para trás vejo que isso era a soberana mão de Deus me guiando. Suas promessas para todos aqueles que incondicionalmente Lhe obedecem, tornaram-se uma realidade na minha vida! A Bíblia nos diz em I Coríntios 2:9 que “...nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam”.

Viver na Índia não tem sido fácil para mim. Claro que eu nunca fui mordida por nenhuma cobra encantada ou qualquer outra coisa parecida; apesar de ter enfrentado muita dificuldade  na adaptação à pimenta nos primeiros meses, as massalas (tempero indiano) e especiarias da cozinha indiana já conquistaram definitivamente o meu paladar.

E ao retornar de férias ao Brasil, já enfrento o choque cultural de reverso e sinto dificuldade nos primeiros dias ao degustar nossa “doce” comida brasileira. Fora a isso muitas outras benções têm fluído na minha vida! Por exemplo, em setembro de 1998 em outro passo de fé e obediência à Ele, casei-me com um comprometido e consagrado cristão indiano.

Em maio de 2000 fomos abençoados com o nosso primeiro filho - Asaph Raj . E, no início desse ano (2002) vemos novamente Suas promessas se cumprindo nas nossas vidas, pois estou grávida de dois meses. 

com muita gratidão a Jesus desfrutamos dessa fase novamente, já consagrando essa vida ao louvor do nome D’Ele nesse País.

Nosso casamento tem sido uma benção e temos visto o nome de Deus ser glorificado através das nossas vidas e relacionamento.

Continuamos confiando Nele em todos os desafios. Dependemos de Sua liderança e  conselho em todas as decisões e empreendimentos que realizamos. Gostaria de encorajar a todos vocês a buscarem o mesmo para suas vidas. Lembrem-se que Deus nos fala através de Sua Palavra - a Bíblia Sagrada. Sua Palavra é Sua carta de amor para todos nós. Seu filho amado Jesus, deu Sua vida para nos salvar. Se o recebermos como Senhor e Salvador pessoal, Seu Espírito Santo vem fazer morada em nossos corações e, nos capacita a andar em Seus caminhos e vivermos como Ele aqui viveu. Isso é processo real. Não há fórmula, ou oração mágica que nos garanta resultados e bençãos repentinas. É preciso gastarmos tempo na Sua presença O conhecendo e aprendendo a ouvir a Sua voz com temor e obediência. Caio Fábio, conhecido escritor brasileiro, falou certa vez, “Seguir a Jesus, é verdadeiramente, o mais fascinante projeto de vida” . Eu posso garantir isso!

A VIDA NA ÍNDIA

Estou na Costa Ocidental da Índia há 6 anos e 7 meses e com auxílio do Senhor, já me sinto bem aculturada. Os costumes, alguns hábitos e tradições já se confundem com os meus e, me vejo pensando dentro da mentalidade indiana, mesmo estando de “férias” no Brasil.

As imagens, as cores e o cheiro do Brasil (com todas as suas cebolas...) já não me vêm à mente com tanta facilidade! As lembranças que antes eram tão fortes e doloridas, já começam a ficar embotadas na minha memória. No tocante às dificuldades de adaptação, uma merece destaque: a alimentação! O indiano adora pimenta tipo malagueta. E quase tudo se come com pimenta na Índia; para vocês terem uma ideia, até certos biscoitos têm pimenta... Os seis primeiros meses não foram fáceis! Enfrentei uma séria gastrite e até fui hospitalizada, mas depois de poucos meses de tratamento eu estava completamente curada! Quando Deus chama, Ele envia, unge, cura e abençoa!

Como já falei anteriormente, hoje passados quase 7 anos já me sinto “bem indianizada”. Mas isso era inevitável, pois durante esse tempo todo, muita coisa aconteceu na minha vida.

Vejam: estive morando em comunidade por quase dois anos. Éramos seis moças morando em uma pequena casinha com apenas três cómodos. Nosso quarto era milimetricamente dividido para comportar nossas três beliches.

Depois desse tempo, senti o Senhor dirigindo os meus passos para estar sozinha, uma vez que o grupo se dividia e cada uma seguia o “mover da nuvem de Deus”.

Permaneci na Costa Ocidental da Índia por orientação divina e, confesso que meu coração desejava voltar para o Brasil. Mas a graça de Jesus superabundou na minha vida para que eu permanecesse fiel à visão inicial recebida. Assim, morei dois anos sozinha; em setembro de 1998, por orientação clara de Deus entendi Seu plano para a minha vida pessoal e casei-me com o engenheiro electrônico indiano António Francisco; e, abril/99 concluí meu mestrado numa universidade indiana, pois antes do meu casamento, meu Visto era de Estudante e, eu precisava estudar para ter uma razão legal para permanecer na Índia.

Em Maio de 2000 o Senhor nos abençoou com o nosso filhinho – Asaph Raj. E atualmente, ao lado do António Francisco, dirijo uma pequena congregação, que chamamos de “Igreja Caseira”.
Tentamos expressar nessa igreja o retrato fiel dessa cultura, sem no entanto, permitir que nossa postura se oponha ou fira os princípios bíblicos e a moral.

Depois de todas essas experiências, era natural que eu me sentisse já “meia indiana”, não é verdade?

Fazer tudo para adaptar-me aos indianos, tem sido o meu grande desafio desde que aqui cheguei em Janeiro/95.

Algumas  ezes isso é fácil e indolor. Outras vezes não! Mas graças a Deus, tenho alcançado vitórias em muitos aspectos. Já não mais faço comparações entre os costumes desse povo e os nossos no Brasil.

Agora já me sinto bem mais confortável e, até mais elegante em nossos bonitos punjabs.

Comer de talher tem sido um hábito abandonado por mim, uma vez que percebi que os indianos estão com a razão, pois comer à mão é de fato mais gostoso! Passado esse tempo já compreendo melhor a língua e a mentalidade deles. Aprendizagem esta, de grande importância para a comunicação do Evangelho para essa gente.

Ah... Não pensem que tenho assimilado tudo, não! Pois ainda não “me libertei” do papel higiénico.... (risos). No entanto, estando em casa de indianos, passo sem ele sem problema; pois de fato eles não usam papel higiênico. Até mesmo na casa das pessoas pertencentes às castas mais favorecidas.

A higiene é feita com água utilizando a mão esquerda e, por essa razão essa mão é considerada imunda.

Portanto, saibam que cumprimentar um indiano com essa mão, pode ser considerado um insulto para ele. Quando aqui cheguei, não encontrávamos papel higiénico com facilidade, e somente as farmácias o vendiam. Hoje com a invasão dos estrangeiros e o “avanço das facilidades” para atrair os turistas, já encontramos papel higiénico, internet, cabines telefónicas e fax em qualquer esquina ou mercearia, até mesmo nas aldeias mais modestas.

Bem... Queridos, o que estou tentando dizer é que, apesar de ser próprio da nossa natureza preservarmos tudo o que pertence à lembrança e memória da nossa Pátria, não devemos introduzir nada mais além da nossa fé ao povo que Deus tem nos dado por herança.

Pois tenho visto “in loco” que quando o missionário ataca os costumes locais, ele geralmente provoca alienação e revolta.

Aqui fica a minha “deixa” para sua reflexão e oração pelos missionários que você conhece em terras distantes.

MOTIVOS DE ORAÇÃO:

1. Quebrando as fortalezas das trevas: A Índia foi o berço de muitas religiões pagãs, desde o hinduísmo ao budismo nas suas diferentes formas.

Há quem considere o hinduísmo, a maior religião da Índia (82% da população), não propriamente como uma religião, mas uma família de religiões, um complexo de crenças onde podem escolher entre o panteísmo, politeísmo, monoteísmo, agnosticismo e até o ateísmo. Embora acreditem em três deuses principais, Brahma o criador, Vishnu o preservador e Shiva o destruidor do mal, têm muitos mais deuses, cujo número não se conhece ao certo, por estarem sempre abertos a aceitar mais um.

O hinduísmo mostra-se tolerante para com as outras religiões afirmando que há em todas elas, pontos de semelhança e muitas vezes afirmam que há muitas maneiras de se olhar para um objecto, nenhuma das quais nos dará uma visão total, embora cada uma seja inteiramente válida em si mesma. 
No entanto, na prática, nem sempre esse pacifismo tem funcionado devido a certos extremistas hindus.

Neste ambiente, proclamar o Deus único, para um hindu culto, soa a alguma coisa de bárbaro de incivilizado, pois se trata dum novo deus que o hinduísmo se oferece para receber no seu seio e em paga dessa hospitalidade, quer correr com todos os outros.

Mas talvez isto não seja muito diferente do primitivo cristianismo em relação dos deuses da antiga Roma e Grécia.

2. Cobertura espiritual para os missionários: Não é fácil ser mensageiro de Jesus nesta nação com uma cultura tão diferente da brasileira. Orem por protecção espiritual; integração cultural;

capacidade de renúncia e identificação com o povo; aprendizagem das línguas (há uma infinidade de dialectos na Índia); e por suprimento vindo de Deus, nas diferentes áreas e necessidades da vida espiritual, material e emocional.

3. Por estratégia de trabalho e obreiros: Nós sabemos que somos como gotas d’ água no imenso oceano, e que dificilmente os missionários transculturais irão evangelizar esta nação com diferentes culturas. Mas os próprios indianos poderão ganhar Índia para Jesus! Creio que a nossa grande contribuição será no treinamento desses indianos; no preparo para a divulgação da mensagem de Jesus; e no fortalecimento da Igreja local. E nesse sentido, vejo que nossa contribuição pode ser de grande valor!

4. Livraria evangélica: É uma das duas únicas pequenas livrarias no Estado em que nos encontramos e funciona como um verdadeiro Centro de Evangelismo. Lá nos reunimos para discipular os novos convertidos; realizamos reuniões de oração e criamos oportunidades de acesso à Palavra de Deus. E para tanto, temos como meta principal abençoarmos a todo os visitantes que lá apareçam com um folheto evangelístico e se esse visitante manifestar interesse por uma Bíblia ou livro qualquer, não tendo condições de pagá-lo, nós o apresentamos! O Senhor tem nos confiado este ministério e suprido todas as nossas necessidades.

Ressaltamos, para finalizar que aceitamos doações de Bíblias, livros e folhetos evangelísticos em português ou inglês.

Sem mais e no temor do Senhor
Carinhosamente

Missionária Rúbia Lopes


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